Revista SescTV Abril

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entrevista

‘Há pouco espaço para se arriscar’ Foto: ED Figueiredo

Qual sua formação e como foi sua trajetória no audiovisual? Fiz Comunicação na FAAP. No meio do curso, fui passar um ano na França, acompanhando os trabalhos do Instituto Nacional do Audiovisual, que tem um importante acervo. A França vivia a transição das TVs públicas para as TVs privadas, processo em que surgiram canais como a ARTE, por exemplo. Eu acompanhava as séries que eram feitas em coprodução com vários países da Europa. Eram produções interessantes, dirigidas por grandes nomes, como Polanski e Godard. Projetos muito ousados, com produções bem trabalhadas e a preocupação de formar um acervo. Voltei para o Brasil muito animada em trabalhar com TV, mas nessa linha de programas de acervo, de arte, mais autorais. Só que veio a era Collor e tudo parou. Naquela época, a produção independente estava só começando, era embrionária. Como eu tinha a ideia de trabalhar o vídeo incorporado a outras artes, eu me identifiquei com o documentário. Fiz uma série chamada Encontro com Artistas e fui convidada a trabalhar na direção de cinema e vídeo do Itaú Cultural, onde permaneci por sete anos. Depois, abri minha própria produtora, cujo primeiro trabalho foi a produção do documentário Do Outro Lado do Rio [em exibição em maio no SESCTV], dirigido por Lucas Bambozzi, e feito na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. Qual o papel do produtor no processo de realização de uma obra audiovisual? Essa é a grande questão do momento. Acho que o produtor é um cara com olhar, com formação, e tem de ser um pouco artista também para trabalhar em parceria com uma equipe de criação de uma obra audiovisual. É fundamental que o produtor se constitua como tal nesse processo. O que é muito difícil de acontecer com um sistema de financiamento como é o do Brasil, no qual não é o produtor que define os projetos, mas um patrocinador ou uma comissão montada para um edital. Esses processos valorizam mais o projeto do que o produtor. Uma das consequências disso é que o produtor acaba tendo de investir em várias frentes, mais lidando com a diversidade do que criando uma linha editorial mesmo: literalmente atirando para todos os lados. O produtor no Brasil configura-se

Daniela Capelato é produtora e roteirista de audiovisual para cinema e televisão, com enfoque no gênero de documentário. Há três anos, vem divulgando as obras brasileiras no exterior como correspondente no Brasil do FIPA, Festival International des Programmes Audiovisuels, realizado anualmente em Biarritz, na França.

“O produtor é um cara com olhar, com formação, e tem de ser um pouco artista também para trabalhar em parceria com uma equipe de criação”

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