Pfa (parte2)

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Vertente Projetual trabalho realizado individual

Joana Braz達o



/4 habitaçþes nas Amoreiras


100. Fotografias da zona 4


101.

zona 4


Localização / justificação

A escolha da zona 4 recaiu sobre as potencialidades do local. A presença do Centro Comercial das Amoreiras, desenhado pelo arquiteto Tomás Taveira na década de 80, e do Amoreiras Plaza, criam grandes contrastes de cérceas na malha urbana envolvente. Perante estes edifícios de construção moderna encontramos outro tipo de construção, mais antiga e degradada, a Vila Sérgio e a Vila Lusitano, mas que ao mesmo tempo geram a possibilidade de reestruturação e requalificação do tecido edificado. Outra forte característica da zona é a “mancha verde” do Clube de Golfe das Amoreiras, nos terrenos da EPAL, e a magnífica tela de fundo: a Serra de Monsanto. A área eleita mantem uma grande relação com a estratégia defina pelo grupo de trabalho. Uma vez que aproveita a situação do futuro metro nas Amoreiras que trará uma nova dinâmica ao local. Deste modo, é manifestado o interesse no espaço expectante que resulta da relação das vilas com o Centro Comercial Amoreiras Plaza e com a rua Carlos Alberto da Mota Pinto, uma via marcada pelo intenso fluxo de trânsito.


102.

103.

105. 102. relação de cérceas 103. edifício a demolir na rua Silva Carvalho 104. relação da área de intervenção com as Amoreiras 104.

105. relação da área de intervenção com a envolvente


Ao construir nesta zona é pretendido oferecer aos moradores habitações próximas de grandes superfícies comerciais, com restauração, supermercado e lojas em geral, em parte refletido na organização dos espaços no interior das habitações, como exemplo são as cozinhas de pequenas dimensões e reduzidas ao equipamento básico. Igualmente a zona é bem servida de transportes públicos, facilitando o “desapego” ao transporte privado e incentivando ao uso dos transportes públicos. Situando-se numa zona central, onde são visíveis as diversas alturas dos edifícios, reflete-se sobre as possíveis volumetrias e cotas das novas habitações, procurando redesenhar este “ pedaço de cidade”. Ao nível da implantação as habitações se assumem na frente do terreno, sem tocar nos edifícios envolventes, pretendendo quebrar a barreira física que atualmente existe no local, permitindo a permeabilidade para o núcleo do quarteirão, mas sem que seja perdida a ideia de limite entre a rua e o interior.

….Construir para uma sociedade do futuro Tendo como base a sociedade delineada pelo grupo de trabalho a “inovação” revela-se no interior das habitações: uma sociedade que procura o seu espaço privado, mas que ao mesmo tempo tem a necessidade de um espaço exterior partilhado, onde possa conviver com os seus vizinhos e que consiga se distanciar do resto da população. A habitação se desenvolve sobre esse princípio, atravessando de uma zona privada para uma zona social até “alcançar o topo da montanha”, ou seja, a cobertura, um espaço transitável e partilhado por todos os moradores. As habitações propostas são direcionadas a arrendamento temporário para jovens e jovens casais. Como tal e a pensar numa população que passa mais tempo fora de casa e que a usa mais como dormitório e nos tempos livres do fim-de-semana há uma inversão dos espaços no interior da habitação, mais próximo da entrada se encontram os quartos e mais perto da cobertura a sala de estar. Outra característica do interior é os espaços não serem encerrados, com exceção das instalações sanitárias, os compartimentos como os quartos, o escritório, a sala de jantar, a cozinha e a sala de estar são abertos uns para os outros, sendo a privacidade dada pela altura das paredes/muros. Grandes vãos quadrados, rompem a fachada de betão à vista, material de eleição, iluminando naturalmente a maioria das divisões. Sem dúvida a personagem principal é a escada, onde a casa cresce a partir dela, quer as fachadas exteriores em que é claramente visível a presença da imponente escadaria, quer a organização interior como já foi referido.


/desenhos



106. Planta de localização


4.35

7.50 23.70

107. Planta de fundação

2

3

1

1 3

2

108. Planta à cota 2.30 m

4

4

5

6 3

109. Planta à cota 3.50 m


4

5

9

8

7

6 3 4

110. Planta à cota 5.10 m

12

6

5

8

7 10 11

3 9 12

111. Planta à cota 9.35 m LEGENDA: 1 - arrecadação 2 - entrada 3 - quarto 4 - instalação sanitária 5 - zona de preparação de refeição 6 - zona de refeição 7 - zona e trabalho 8 - sala de estar 9 - varanda 10 - instalação sanitária social 11 - arrumos 12 - acesso à cobertura 13 - zona de estar

13

9

112. Planta de cobertura



113. Perfil da rua Carlos Alberto Mota Pinto



114. Alรงado Norte | Interior de quarteirรฃo



115. Alรงado Sul | Interior de quarteirรฃo



116. Alรงado Norte | Interior de quarteirรฃo


117. Corte aa


118. Corte bb


120. Corte cc


121. Corte dd


122. Corte ee


123. Corte ff


124. Corte gg


125. Corte hh


1 2 3 4 5

8 P.1

10

6 7 9 11 12 13

P.2

P.3

14 15 16 17

126. P.1

LEGENDA:

1 – capeamento metálico 2 – reboco 3 – 30 mm de isolamento térmico 4 – manta geotêxtil 5 – murete de betão armado 6 – 40 mm de lajetas de betão 7 – 60 mm de argamassa 8 – camada de selagem betuminosa 9 – 70 mm de isolamento (roofmate) 10 – barreira de vapor 11 – acabamento de betonilha 12 – 1800 mm de laje de betão 13 – estuque 14 – placa de pladur 15 – estrutura de fixação em perfis ómega 16 – 60 mm de isolamento de lã rocha 17 – 2500 de parede de betão 18 – revestimento de resina epoxy 19 – 60 mm de piso radiante e camada separadora 20 – 30 mm de isolamento acústico de pavimento 21 – 1500 mm de laje de betão 22 – caixilho metálico para vidro duplo

18 19 20 21 13

14 15 16 17 22

127. P.2


Pormenores Construtivos

14 15 16 17

128. P.3

34 35 36

23 – 2500 mm de laje de betão 24 – 50 mm de betonilha de regularização 25 - 30 mm de isolamento térmico (floormate) 26 – 120 mm de camada de bagacina 27 – 330 mm de camada de brita 28 – prisma de seixo rolado 29 – manta de proteção 30 – 50 mm de isolamento 31 – tela de impermeabilização 32 – sapata de betão armado 33 – tubo de drenagem em PVC, r. 10 cm 34 – pedra de calçada de granito 35 – camada de areia 36 – camada de regularização

18 19 20 23 24 25 26 27 4 28 29 30 31 32 33 24 25 26 27


129.


Perspetivas AxonomĂŠtricas

130.


Modelo Tridimensional das Habitaçþes

131.

132.


133.

134.


Maquetas

135.

136.


137.

138.

139.

140.



/espaço público nas Amoreiras


Estratégia Urbana / memória descritiva

Entre Vilas, habitação em altura e centros comerciais encontramos um espaço que foi deixado ao abandono e onde apenas a vegetação selvagem tirou partido do lugar. O que ocorreu na zona 4 reflete a imagem de muitas zonas de Lisboa que ficaram esquecidas. Face a esta “ferida” a intervenção tenta estabelecer ligações e “coser” diferentes tecidos da cidade. De modo a completar a proposta das habitações e responder aos problemas locais é estabelecido um espaço público que unifica a estrutura envolvente através de atravessamentos e de espaços de permanência, complementando e dando respostas às carências do território. Uma vez que o local é tão rico em comércio e outro género de instalações optouse pela não construção e estando sempre enraizada na proposta urbana definida pelo grupo de trabalho, a proposta para zona 4 passa igualmente pela “libertação do solo” para que entre edifícios de elevadas cérceas este espaço intersticial possa respirar. A proposta individual para o espaço público da zona 4 centra-se na criação de um atravessamento longitudinal e outro transversal no interior o quarteirão. Para permitir a passagem pretendida é “rasgado” o edifício mais a sul, as vilas e o Amoreiras Plaza, ao nível térreo, e é ainda efetuada a demolição de um edifício degradado, na rua Silva Carvalho, possibilitando a ligação com a rua Carlos Alberto Mota Pinto. Aproveitando a proposta da futura estação de metro nas Amoreiras e a topografia do local, é criado um acesso ao metro a partir do interior do quarteirão, formando um discurso coeso e coerente quanto à intervenção individual com a proposta do grupo. Dentro deste conceito a proposta urbana se integrará com a malha da cidade, oferecendo um novo espaço “nas franjas” do percurso definido pelo grupo. A intervenção do acesso ao metro e a permeabilidade para/no interior do quarteirão vai de encontro a outro aspeto defendido pelo grupo: um espaço recolhido, no centro da cidade, com características privadas mas disponíveis a todos. “A riqueza civil e arquitectónica, urbanística e morfológica de uma cidade, é a dos seus espaços colectivos, a de todos os lugares onde a vida colectiva se desenrola, se representa e se recorda. (...) espaços que não são nem públicos nem privados mas os dois à vez. Espaços públicos absorvidos por usos particulares ou espaços privados que adquirem uma utilização colectiva.” 1

1

Solà-Morales, Ignasi de (2002), Territórios, Barcelona, Gustavo Gili,


Neste sentido, as habitações existentes como as habitações propostas abrem-se para um novo centro e beneficiam de um novo cenário, partilhado pelo resto da cidade. O espaço em questão é marcado por diferentes pavimentos e pelos seus diferentes usos, sendo um dos principais alicerces da proposta: pedra calcária, atualmente existente nos passeios e que se prolonga para o novo espaço, dando uma leitura homogénea e a continuação de um percurso; lajetas de betão existentes na área de esplanada do Amoreiras Plaza e que definem uma área comercializada, e deck que se encontra nos espaços destinados à permanência das pessoas e no lugar do edifício demolido, embora as tábuas de madeira estejam orientadas em sentidos diferentes de modo a proporcionar uma versatilidade aos espaços. Todos os materiais se conjugam pela paleta de tons claros. Assim como na proposta de grupo, a estrutura verde faz parte da proposta e encontra-se apenas nas zonas de permanência (onde o pavimento é deck). As árvores presentes são: Magnólias e Tílias-Prateadas. A sua escolha deveu-se a serem árvores de tronco fino, muito coloridas e com flores (a flor da Magnólia resiste a longos períodos), são árvores aromáticas, e não necessitam de grande manutenção e que se adaptam bem ao clima de Lisboa, e ao mesmo tempo integram-se com a estrutura verde optada pelo grupo. As zonas de permanência, para além do pavimento diferente e das espécies arbóreas, distinguem-se ainda pelo mobiliário urbano, bancos de betão pré-fabricados, que se harmonizam perfeitamente com as habitações projetadas pela semelhança de materialidade. Por fim a acompanhar todo o percurso longitudinal desde as vilas até ao Amoreiras Plaza foi criada uma estrutura metálica de pérgola, que em dias solarengos pode ser coberta por uma estrutura de ripado de madeira ou em dias mais chuvosos por toldos, podendo ainda ser deixada à posse da vegetação.


141. Relação dos macros e microcentros e do percurso de grupo com a proposta individual



142. Planta de localização



143.

145.

144.

146.

143. 144. Derman Verbakel Architecture, Bat-Yam Biennale of Landscape Urbanism, Israel 145. Antonio Blanco Montero, Reorganization of the Victoria Kent Park, Espanha 146. Aspect Studio, Pirrama Park, AustrĂĄlia 147. Atelier Kempe Thill, Urban Podium, Holanda

ReferĂŞncias 147.


\

148. Espaço público sem a pala

149. Espaço público com a pala



Materialidade

150. Esquema de materialidade



151. Perfil do interior do quarteir達o


P.2

1

P.1

78

9

10

2 3 4 5 6

152. P.1


LEGENDA: 1 – banco de betão pré-fabricado 2 - deck compósito 3 – estrutura de fixação em perfis ómega 4 – camada de regularização e assentamento 5 – camada de gravilha 6 – solo compacto 7 – remate de pavimento 8 – barra de remate de caldeira 9 – seixo rolado branco 10 – terra vegetal 11 – calçada portuguesa de pedra calcária assente em traço de cimento 12 – cantoneira em “L” 13 – camada de cimento e areia 14 – relva

Pormenores Construtivos

7 2 3 11 12 13 5 6

153. P.2

14


154.


155.


156.


157.


158.




Maquete

159.

160.



/exercício 4


Um novo espaço / memória descritiva

No seguimento de todos os exercícios realizados na colina das Amoreiras, sentiu-se a necessidade de um outro espaço que conseguisse consolidar todas as propostas de grupo e individuais como também as propostas já existentes. Para tal, optou-se pela implantação de um terceiro volume que remata a frente do quarteirão, juntamente com as habitações. As fachadas seguem a mesma linha de betão à vista, com um grande vão que tem como cenário a Serra de Monsanto. Esta nova construção faz a transição das cotas dos edifícios mais altos com as vilas, ao mesmo tempo que limita o espaço público e confere um interior de quarteirão mais reservado. O edifício foi projetado com a intenção de acolher uma pequena empresa, ou até mesmo um espaço de apoio e atendimento ao cliente do novo metro das Amoreiras, com apenas um balcão de informações, duas salas/escritórios, instalação sanitária e uma zona de refeições, pois acredita-se que o movimento de trazer a refeição pronta de casa que atualmente começamos a assistir irá crescer, chegando a ser quase obrigatório a presença de um espaço para esse fim. O interior assemelha-se ao das habitações: uma escada que atravessa todo o edifício até à cobertura, onde está agregada toda a organização, deixando a ideia que as habitações propostas têm a capacidade de se transformar em nicho de empresas. Uma outra intervenção surge abaixo do solo. Uma larga escadaria rasga o terreno e permite o acesso ao metro. Mas é mais que isso, nas franjas deste espaço é possível estudar, ler, e até ir ao cinema. Acredita-se que um percurso como este que nos leva até ao metro pode servir como um meio de socialização e de outras atividades que normalmente não estamos acostumados a ver nestes locais. Na proposta encontramos uma zona de projeção de filmes, que aproveita as escadas para “sentar a audiência”, uma sala de leitura e uma sala multimédia com vãos de vidro para a escadaria/bancada, e ainda uma sala de estantes com livros e dvd’s, em que é possível o visitante escolher o filme a projetar.


/desenhos



\

161. Planta de localização


b

b

a

a 162. Planta de cobertura

b

b 1

a

a 163. Planta à cota 5.15 m

b

a

1 – sala de reuniões 2 – escritório 3 – entrada/ receção 4 – instalação sanitária privada 5 – zoa de refeições 6 - sala de leitura 7 – sala multimédia 8 – sala de estantes 9 – informações 10 – escadaria/ bancada 11 – cafetaria 12 – esplanada 13 – cozinha 14 – i.s. masculina 15 – i. s. feminina

b

2

LEGENDA:

3

a 164. Planta à cota 1.80 m


....enquanto que abaixo do solo…

12

11

7

6 10 b

b 4

5

a

a

8

9

12 165. Planta à cota – 2,50 m

166. Planta à cota – 4,50 m

12

11 13

b

b

a

a 14

12

15



167. Corte aa


168. Corte bb



169.



170.



171.



/GENIUS LOCI


/GENIUS LOCI

























Vertente Teórica

A HETEROGENEIDADE DE UM BAIRRO ECONÓMICO DO ESTADO NOVO - Estudo do Bairro de Caselas -



/introdução


Objetivo e Objeto de Estudo A presente dissertação visa dar a conhecer o trabalho realizado no âmbito do Laboratório de Sociologia da disciplina de Projeto Final, do 5º ano do Mestrado Integrado em Arquitetura do ano curricular 2012/2013. O trabalho teve por base o exercício de grupo elaborado no primeiro semestre, "Caselas, os dias de hoje num Bairro Económico do Estado Novo". O objetivo, e ao mesmo tempo a questão que orientou a dissertação, é compreender como é que um bairro económico do Estado Novo originalmente pensado como um bairro homogéneo destinado a classes mais necessitadas, se transforma num bairro heterogéneo habitado por classes distintas. Para tal serão analisadas transformações das moradias, relativamente à apropriação do espaço exterior dos lotes, alterado com anexos ou aumentos do espaço doméstico, assim como as modificações dos interiores das casas, por parte dos proprietários das moradias do Bairro Económico de Caselas. Deste modo será possível descrever a evolução das moradias desde o ano da sua construção até a atualidade. É pretendido ainda aprofundar o tema do Programa das Casas Económicas do século XX, uma iniciativa do Estado Novo, dando continuidade e aprofundando o trabalho iniciado no semestre anterior, comparando as ideologias do programa com as transformações efetuadas. Refletindo desde a origem do bairro num contexto histórico e social até a atualidade com os novos equipamentos e uma nova classe de moradores. Assim o objeto de estudo é o Bairro de Caselas, construído em 1949, com as respetivas moradias e equipamentos. Foram eleitas nove moradias para casos de estudo, analisando as transformações arquitetónicas e a organização funcional (zona de serviços, zona comum, zona privada e circulação).


Estrutura A dissertação divide-se em quatro capítulos: No Capítulo I é apresentado um quadro teórico sobre a Política de Habitação Programa de Casas Económicas, para no Capítulo II ser feita a aproximação ao objeto de estudo, o Bairro Económico de Caselas e o seu enquadramento histórico e situação atual. O segundo capítulo apresenta uma parte importante do trabalho: 1ª) É exposto o projeto original das moradias, com base em desenhos originais e documentação escrita que faculte a caracterização dos primeiros moradores; 2ª) É analisada a passagem de renda resolúvel para propriedade, a sucessão de moradores (dado que inicialmente a propriedade só podia ser passada para descendentes diretos, e só mais tarde passou a ser admitido o sistema de venda ou mesmo arrendamento); No Capítulo III são estudados os casos de estudo individualmente. Em cada um foram levantadas as várias plantas de transformações, desde a primeira planta da moradia até a atual; foram avaliadas as alterações de tipologia e de programa funcional, como as designações dos moradores para os espaços; Por fim o Capítulo IV da investigação apresenta as considerações finais uma reflexão sobre um trabalho teórico que teve uma importante componente prática.



/capítulo I Contextualização da Política de Habitação de 1933



As casas económicas do Estado Novo O aumento demográfico nas grandes cidades (gráfico 01), tal como o aumento do número de trabalhadores foram resultado de uma revolução industrial tardia em Portugal, que levou ao abandono do meio rural na procura de melhores condições de trabalho. Os grandes centros urbanos viam-se confrontados com o problema de excesso de população em relação ao baixo número de habitações dignas e acessíveis. Desde o início do século XX que a República de Sidónio Pais1 procurava dar resposta a tais preocupações de modo a oferecer condições de conforto e de salubridade a classe trabalhadoras. A ideia de desenvolver habitação acessível às classes com reduzidas capacidades económicas começava a dar os primeiros passos, com o apoio de iniciativas privadas. Pela primeira vez, em 1918, surgiu a definição de casas económicas, descrita no Artigo 1º do Decreto-Lei 4137: “ são consideradas casas económicas, para efeitos da aplicação dêste decreto, as casas que se destinarem ao alojamento das classes menos abastadas, construídas nos centros de povoação, arrabaldes ou praias, e que satisfaçam as condições de salubridade e preço abaixo designados.”. É exatamente onde a iniciativa anterior apresentava fragilidades que nasceu uma nova, em que o Estado entrou com grande valor financeiro, “em colaboração com as câmaras municipais, corporações administrativas e organismos corporativos”2. O Programa de Casas Económicas foi retomado e alterado com a Constituição de 1933, e teve como " mestres da ideologia e da política do Estado Novo, Salazar, Duarte Pacheco (ministro das Obras Públicas) e Pedro Teotónio Pereira (sub-secretário de Estado das Corporações e Previdência Social)" (Gros, 1982 : 107).

1

Sidónio Pais (1872-1918) teve como último cargo político Presidente da República, sendo conhecido como “Presidente-Rei” pela alteração de algumas normas importantes portuguesas. 2 DL n.º 23 052, art.º 1º


Dados Demográficos

700 000 591 939

600 000 484 664

500 000

431 738

400 000 356 009

300 000 200 000 100 000 0 1900

1911

1920

1930

População Residente na Capital

Gráfico 01

Quadro 01) Fonte: revista Sociologia - Problemas e Práticas n.º 15, 1994, pp.53 - 77

Gráfico 01) Crescimento demográfico em Lisboa nas primeiras décadas de 1900; Quadro 01) Os dez concelhos mais populosos em Portugal entre 1864 e 1930


O Decreto-Lei n.º 23052 de 1933 deu corpo a uma política de habitação centrada na salubridade da casa unifamiliar para as classes mais carênciadas, possibilitando "aos moradoresadquirentes o acesso à propriedade plena" (Baptista, 1999 : 48). O valor mensal das casas não seria o pagamento de uma renda mas sim a amortização da compra da moradia, dividida em 240 prestações (25 anos) avaliadas mediante o salário do agregado familiar. Igualmente os moradores ficavam abrangidos por seguros, que asseguravam o pagamento das prestações em caso de morte do chefe de família, doença ou desemprego. Os destinatários das casas económicas usufruíam dos seguintes seguros: de vida, de invalidez para o trabalho, contra o desemprego, contra doença e contra incêndio. As casas seriam atribuídas consoante o rendimento familiar a famílias que se comprometessem a constituir um "casal de família". Deste modo viam-se obrigadas a garantir a transmissão da propriedade em caso de falecimento do chefe de família. Ao mesmo tempo as casas funcionavam como forma de o Estado conservar e defender a instituição familiar. Assistimos então a um ciclo que Cachulo da Trindade (1951, citado por Baptista, 1999 : 57) deixa claro ao referir que o morador-adquirente só pode constituir casal de família quando a moradia é propriedade sua e por sua vez esta só pode ser entregue a famílias que assegurem a instituição do casal de família. Contudo as dúvidas do autor neste tema surgem no facto de morte do chefe de família, anterior ao pagamento de todas as prestações. " o morador-adquirente de casa económica só é proprietário absoluto depois de paga a última prestação e não pode, portanto, instituir com a sua moradia o casal de família (1951 : 22). E isto porque «o casal de família só pode instituir com os bens imobiliários que pertençam ao instituidor (art. 18º do Decreto n.º 18 551, 1951 : 22)


Cartazes de Propaganda do Estado Novo

Imagem 01; Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/06/ensinoprimario.html

Imagem 02; Fonte: http://tomarsanta-rem.olx.pt/portugal-onteme-hoje-folheto-de-propaganda-doregime-do-estado-novo-iid236849852

Imagem

03; Fonte: http://acortenaaldeia.blogspot.pt/2013/02/o-fascismo-sotrouxe-miseria-e.html

Imagem

04; Fonte: http://acortenaaldeia.blogspot.pt/2013/02/o-fascismo-sotrouxe-miseria-e.html

Imagem 01) Cartaz da campanha de alfabetização de adultos, sem referência do ano; Imagem 02) Folheto de propaganda do regime do Estado Novo; Imagem 03) Cartaz de propaganda do Estado Novo da União Nacional, 1939; Imagem 04) Panfleto Político do Estado Novo


(...) admitindo que o morador-adquirente tenha conseguido instituir o casal de família com a moradia económica (que não é ainda absolutamente sua, repetimos) e tenha assegurado a transmissão por sua morte, em cumprimento estrito do n.º 3 do artigo 2º do Decreto-Lei 23 052, surge a iniquidade da lei para os fins pretendidos (1951 : 23). " (Chaculo da Trindade, 1951, citado por Baptista, 1999 : 57, 58). Quatro décadas mais tarde, em 1975, a formação do casal de família foi anulada.

A Cidade-Jardim 3 Portuguesa Inspirados no antigo modelo das Cidades-Jardim, os Bairros de Casas Económicas refletiam a “necessidade de estruturar aldeias na cidade e faziam da política das casas económicas um veículo institucional de fixação das populações, social e geograficamente, num certo destino urbano” (Baptista, 1999 : 172). Para implantação dos bairros eram privilegiados espaços que conseguissem edificar um razoável número de casas perto dos centros, facilitando a deslocação dos moradores, e quanto possível evitar gastos em transportes. Cabia à câmara o procedimento de expropriação dos terrenos, procurando dar resposta aos seguintes factos (Janarra, 1994, citado por Pereira, 2012) : "i) conquistar vastas áreas no interior da cidade; ii) financiar a própria câmara através da venda desses terrenos a posteriori; iii) atacar certos poderes dos pequenos e médios proprietários fundiários; iv) garantir a exequibilidade dos planos de urbanização; v) controlar os preços dos solos e evitar o seu encarecimento; vi) obter terrenos a módico preços para satisfazer as demandas dos vários regimes habitacionais propostos para construção". Contudo, nem sempre foi possível a localização dos bairros nos centros ou proximidades das cidades dado os elevados preços dos terrenos. A opção passaria pela implantação em áreas mais afastadas e consequentemente mais baratas. 3

Teorizada pela primeira vez em 1898 pelo pré-urbanista Ebenezer Howard, que tentou dar resposta a problemas como a falta de salubridade e a poluição através da união da cidade com o campo


Mapa dos Bairros Económicos de Lisboa

Fonte: Baptista, Luís V. (1999), Cidade e Habitação Social, Oeiras, Celta

Mapa 01) Mapa dos Bairros Económicos em Lisboa: 1- Bairro da Ajuda (1934); 2- Bairro do Arco do Cego (1935); 3- Bairro do Alto da Ajuda (1938); 4- Bairro Alto da Serafina (1938); 5- Bairro Terras do Forno (Belém; 1938); 6- Bairro Madre de Deus (1944); 7Bairro do Alvito (1944); 8- Bairro da Encarnação (1945); 9- Bairro da Calçada dos Mestres (Campolide; 1946); 10- Bairro de Caselas (1950); 11- Bairro do Vale do Escuro (1952); 12- Bairro do Restelo (1954); 13- Bairro Santa Cruz de Benfica (1958)


Os agrupamentos residenciais procuravam então pontos estratégicos, onde fosse possível oferecer às casas e aos moradores ambientes saudáveis e ventilados. Contudo este afastamento em relação às cidades, nem sempre foi vantajoso. A falta de oferta e os altos custos dos transportes públicos, que abrangiam os territórios periurbanos levou a que estes espaços se tornassem superfícies segregadas e pouco atrativas aos olhares da população. Dezassete anos após o estabelecimento da política de habitação das casas económicas, em 1950, contavam-se oito bairros económicos em Lisboa, cerca de 3797 habitações que alojavam 8343 pessoas. Ao fim de duas décadas do programa tinham sido abrangidos aproximadamente 16200 moradores na capital para um total de 780 mil habitantes, revelando a fraca capacidade de resposta às carências habitacionais da maioria das famílias (Baptista, 1999). Lisboa e Porto eram as cidades em que o Programa de Casas Económicas tinha maior expressão.

As Tipologias das Casas Tipologicamente as casas apresentavam-se hierarquizadas segundo classes (diferentes classes para diferentes rendimentos familiares) e tipos (consoante o agregado familiar). Quanto maior era o rendimento, maior era a casa e tinha melhores condições. Na primeira década do programa foram estabelecidas duas classes de moradias: classe A e classe B; que segundo o Decreto-Lei 28 912, de 12 de Agosto de 1938 1200 habitações pertenciam à classe A, cada uma com quatro a seis divisões, e 800 da classe B, com seis a oito divisões. Todas as moradias possuíam um amplo quintal, que tinham entre 100m2 a 200m2 e que possibilitava a ampliação da habitação caso o agregado familiar aumentasse, garantindo a permanência definitiva da família. Os bairros deveriam manter uma proporção de aproximadamente o dobro da classe A em relação à classe B. Dentro de cada classe distinguiam-se três tipos – tipo I, II, III–, atribuídos a diferentes modelos de famílias, mediante o rendimento das mesmas.


Quadros Referentes ao Número e Áreas das Casas Económicas

Fonte: Decreto-Lei n.º 28 912, Art.º 3º

Fonte: Decreto-Lei n.º 33 278, Art.º 6º

Quadro 02) Distribuição das casas económicas pela classe e tipo; Quadro 03) Áreas médias efetivas ocupadas pelas moradias e respetivos quintais


O Tipo I era destinado a jovens casais sem filhos ou com apenas um filho. Por sua vez o Tipo II era concedido a famílias com filhos todos do mesmo sexo, e pouco numerosos, enquanto que o Tipo III era entregue a agregados numerosos, com filhos do mesmo sexo ou de sexos diferentes. Mais tarde, no ano de 1943 foram introduzidas mais duas classes, C e D, com áreas mais generosas e edificações mais nobres, dirigidas para as classes médias que se encontravam fora da distribuição do Programa inicial (quadro 03). Passavam a existir quatro classes de casas económicas, cada uma delas com três tipos.

" É com Certeza uma Casa Portuguesa " Nos finais do século XIX e início do século XX surgiu o desejo de encontrar um tipo de casa que refletisse a identidade nacional, com espírito bem português e com caráter conservador, preservando os valores históricos e o gosto pela tradição. O Estado viu em Raul Lino o grande interlocutor para esta busca pela arquitetura popular, iniciando assim o Movimento da Casa Portuguesa, adaptado às necessidades da vida moderna. Inspirado pela sua passagem e pela arquitetura de países estrangeiros, Raul Lino estabeleceu uma linguagem arquitetónica mediterrânea, respondendo às várias morfologias do terreno, e aos diferentes planos e estilos das regiões do país. As semelhanças do Programa das Casas Económicas com o Movimento da Casa Portuguesa são claras: ambas procuravam uma linguagem nacionalista com elementos arquitetónicos e decorativos (no caso da Casa Portuguesa) ao gosto tradicional português; procuraram dar respostas às carências da população, numa escala mais humanizada, integrando, sempre que possível, a habitação com a restante cidade.


Casas de Raul Lino

Imagem 05

Imagem 06) Fonte: http://local.pt/centro-cultural-regional-desantarem-visita-casa-dos-patudos/

Imagem 07)

Imagem 08) Fonte:

Fonte:http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=618335

http://doportoenaoso.blogspot.pt/2010/12/os-bairros-sociais-noporto-iii.html

Imagem 05) Projeto de casa para os arredores de Lisboa, in A Nossa Casa (c. 1918; 3.ª edição, c. 1923); Imagem 06) Casa dos Patudos, Alpiarça, 1904; Imagem 07) Casa Branca, Azenha do Mar, 1920; Imagem 08) Moradia do bairro económico de Montemor-o-Novo 1940


Ao nível da arquitetura as duas iniciativas também partilhavam algumas características, entre elas destacamos as seguintes: 1) o alpendre; 2) a telha portuguesa; 3) o beiral; 4) os jardins que ladeavam a casa e funcionavam com espaços mediadores entre o público-privado e o exterior-interior. A Casa Portuguesa apresentava ainda inspiração nas construções alentejanas na caiação a branco ou a cores, nas cantarias, nas chaminés ou até mesmo nas decorações com azulejos, introduzindo características vernaculares. O ideal de casa confortável, repleta de simplicidade e de uma alegre hospitalidade, cheia de luz e arejamento natural, integrava-se na vida e na paisagem portuguesa. " a boa casinha portuguesa tem de ser encarada no conjunto da paisagem à qual se liga com tôda a naturalidade. (...) É nestas horas palpitantes, doiradores e calmas, em que nos sentimos imbuídos não sabemos de que sentimento de paz e conciliação, que essas simpáticas casinha à beira da estrada, ou entre os campos, melhor nos revelam o seu português sentido. Que alegres no seu variado matiz, que acomodadas nas proporções; que graça, que modéstia e contentamento não respiram! não têm de forçado ou de menos seguro efeito; tudo parece ter nascido do próprio lugar com toda a naturalidade " ( Lino, Raul, 1933, citado por Ribeiro, 2004 : 12).

Os Destinatários do Programa Com o objetivo declarado de acolher as classes carenciadas, as casas eram "distribuídas, dentro das preferências fixadas e em regime de propriedade resolúvel, aos chefes de família, empregados, operários ou outros assalariados, membros dos sindicatos nacionais, funcionários públicos, civis e militares, e operários dos quadros permanentes de serviços do Estado e das câmaras municipais, que se responsabilizem pelo pagamento de determinado número de prestações mensais nas condições estabelecidas " (art.º 2º do Decreto-Lei 23052). O acesso à habitação funcionava como "prémio" aos filiados nos sindicatos nacionais e aos funcionários públicos. De modo a que o Estado conseguisse o maior número de


Quadro das Profissões dos habitantes por bairros

Fonte: Baptista, Luís V. (1999), Cidade e Habitação Social, Oeiras, Celta


fidelizações era atribuída uma maior percentagem de casas aos sócios dos sindicatos, que se assumiam como chefes de família e preenchiam os requisitos de “cidadãos portugueses, de ambos os sexos, em plenos exercício dos seus direitos cívicos, que sejam casados ou que, não o sendo, tenham a seu cargo um ou mais descendentes, irmãos ou descendentes destes.” (Decreto n.º 18551). Uma vez estabelecido o quadro geral dos morados, eles eram repartidos do seguinte modo pelas classes: Classe A – 75% eram concedidas aos sindicatos nacionais, e 25% a funcionários e operários do Estado e de Câmaras Municipais; Classe B – eram destinadas aos sindicatos nacionais e a funcionários e operários em partes iguais. Contudo foi ainda estabelecido que quando o número de candidatos fosse inferior ao número de moradias, podiam ser considerados outros pretendentes que apresentassem todas as condições necessárias para a aquisição da residência. Com base nestes conhecimentos depreendemos a existência de uma hierarquização dos moradores consoante a sua profissão, em que trabalhadores com salários desiguais pagam prestações diferentes de moradias de uma determinada classe que ocupa uma localização específica no bairro. Ao mesmo tempo verificamos a importância de algumas profissões em relação a outras pela predominância em bairros económicos (quadro 04).

O Declínio de um Programa Os anos 30 foram marcados pelo início de um programa de intervenção que procurava dar uma rápida resposta à problemática da habitação que se fazia sentir em Portugal. A falta de habitação digna e ao mesmo tempo "barata" que servisse as classes mais carenciadas e o crescente número de imigrantes despertou nos dirigentes a urgência de agir na cidade. Duarte


Bairros Económicos em Lisboa até 1950

Fonte: Baptista, Luís V. (1999), Cidade e Habitação Social, Oeiras, Celta

Quadro 05) Bairros de casas económicas distribuídos até 31 de dezembro de 1950


Pacheco e Teotónio Pereira foram os principais mentores do Programa das Casas Económicas. Na década de 30 e 40 viu-se concretizada a ideia de moradias económicas em regime de propriedade plena. Contudo dez anos após a implantação do programa deparávamo-nos com a situação dos altos custos dos terrenos, projetando para áreas periféricas um grande número de bairros económicos que se erguiam em torno da recente construção da mata de Monsanto. A partir de 1950 a política de casas económicas começou a perder expressão e a sua construção era cada vez mais reduzida. Em parte este facto deveu-se ao aparecimento de novas políticas que davam resposta ao mesmo problema e ao ideal de construção em altura como forma de rentabilizar o terreno, e conscientemente moderar os custos. A existência de vários programas habitacionais refletia a "impotência do regime para pôr a funcionar eficaz e articuladamente todos os programas propostos" (Baptista, 1999 : 108). A construção dos bairros de moradias económicas acaba por desaparecer entre a segunda metade dos anos 60 e o início dos anos 70. No entanto a "ideia de casa própria, essa, permanece a mais almejável" (Baptista, 1999 : 97), assim como o reconhecimento da capacidade de realização de um programa sistemático.

"O trabalho de desmontagem de uma iniciativa pública de intervenção no campo habitacional, Programa de Casas Económicas, ia, pois, já então num momento terminal. Resta desta iniciativa a experiência, transferida para as novas formas organizacionais, resultado da redefinição da orientação da política habitacional, e resta ainda a presença física dos bens socialmente produzidos num contexto determinado e que são um dado incontornável do sentido que colectivamente as cidades, e em particular Lisboa, vão tomando." ( Baptista, 1999 : 81)


Ideias Síntese:

aumento demográfico salubridade

aldeia na cidade

ruralidade

política de habitação

classes carenciadas

membros dos sindicatos nacionais e corporações diferentes família

rendimento familiar casal de família

homogeneidade

moradia unifamiliar habitação acessível

renda resolúvel

propriedade plena

bairros económicos

ideologias

tipologias

instituição família hierarquização

casa portuguesa

chefe-de-

equipamentos


/capĂ­tulo II Estudo do Bairro de Caselas



Um bairro chamado Caselas " Traçar a História desta terra é um exercício que quase se aproxima de ficção. Pouco povoada desde sempre, a falta de gentes por esta zona ocidental de Lisboa também não contribui muito para esclarecer como se viveu neste agradável pedaço de colina durante séculos. " (Barradas, 2001 : 9) Desde a sua origem este lado da cidade encontrava-se segregado, marcado por uma forte ruralidade. As várias quintas, casais e moinhos (alguns ainda existentes) que pontuavam este "pedaço de terreno" desenhavam uma paisagem apelativa à nobreza. Outros factos fizeram com que a "zona ocidental de Lisboa" (Barradas, 2001 : 9) fosse ocupada ao longo de vários séculos por ordens religiosas e por ordem régia, são exemplos os desembarques das caravelas que partiam daqui para os Descobrimentos ou a construção do Mosteiro dos Jerónimos na antiga praia do Restelo. Apesar de tudo estas ações algumas vezes não eram bem aceiteis pela população por se encontrarem à margem da cidade. No século XVIII com o terramoto (1755) que arrasou grande parte de Lisboa, a região da atual freguesia de São Francisco Xavier viu crescer o número de habitantes que procuravam abrigo nesta zona que não tinha sido tão afetada (embora não registasse uma demografia alta como o núcleo central da cidade). Deste modo os "sete vizinhos em Caselas, outros tantos em Monsanto e mais 30 em Alcolena" (Consiglieri et al, 1996 : 41, citado por Barradas, 2001 : 40) viram-se rodeados pela aristocracia e pelo povo. Com o decorrer dos séculos Caselas foi perdendo a imagem de aldeia e ganhando caraterísticas mais urbanas. A inauguração da estrada de circunvalação no século XIX permitiu a fixação de novos moradores, uma vez que a estrada possibilitou a integração de Caselas com o resto da cidade. Não obstante, o baixo número de famílias com transporte privado e a reduzida percentagem de transportes público mantiveram nesta zona a calma do campo, eleita para veraneio de algumas famílias lisboetas mais endinheiradas.


Mapa de Localização e Vista Aérea do Bairro de Caselas

Mapa 02) Mapa com a localização do bairro de Caselas em relação ao resto da cidade

Imagem 09) Vista aérea do bairro de Caselas


Mas a maior intervenção e que transformou por completo o aspeto desta região começou nos anos 30. Regista-se a florestação de um "pulmão da cidade", a Mata de Monsanto em 1934 e a conclusão do Bairro de Casas Económicas de Sagrada Família de Caselas em 1949, implantado próximo de um aglomerado de casas que existia desde o século XVIII. Os dois projetos deveram-se à operação urbanística e arquitetónica de Duarte Pacheco.

Conhecendo o Bairro Projetadas pelo arquiteto Couto Martins foram construídas ao abrigo do Programa de Casas Económicas 159 moradias geminadas de dois pisos. Situado numa área periférica, devido aos baixos preços que eram atribuídos a estas localizações, o bairro beneficiava do ambiente salubre dada a proximidade com a Mata de Monsanto, e a par com a vontade de estender a cidade para oeste foram edificadas num segundo momento mais 179 moradias unifamiliares, num total de 338 habitações. No entanto a questão da mobilidade não havia sido considerada, as ligações com o resto da cidade tinham sido esquecidas e os transportes públicos falhavam pelo fraco serviço, uma vez que apenas iam até Ajuda e Algés. Este foi um dos principais motivos para numa primeira fase o bairro se encontrar pouco povoado. Apenas mais tarde com a extensão destes transportes para ocidente, o acesso ao bairro tornou-se mais fácil e as habitações foram todas ocupadas.4 Desde a sua origem o bairro estava dividido em duas zonas. Uma a oriente, atravessada pela rua da Igreja – rua principal que marca uma das entradas do bairro, e segue até a Igreja da Sagrada Família – e outra a ocidente, cruzada pela rua do Miradouro – quase que uma continuação da Rua da Igreja e rematada por um largo. A zona de união das duas partes apresenta um ligeiro declive e faz a relação com a zona a Sul (no sentido do Restelo).

4

Situação semelhante à do bairro da Encarnação (1945) referida no discurso do chefe de Secção das Casas Económicas ( 1946) : " Estavam construídas e prontas a ser distribuídas 648 moradias. Verificou-se, porém, no final do concurso que o número de concorrentes era muito inferior ao das moradias; julga-se que pela falta de meios de transportes que permitissem o fácil acesso ao bairro. (...) Uma vez estabelecidas as carreiras dos autocarros para o bairro, deu-se um tal afluxo de requerimentos solicitando casas (...)" (in Boletim do INTP, Ano XIII, n.º 24, 31/12/1946 : 520, citado por Baptista, 1999 : 139).


Fotos do Bairro de Caselas

Imagem 10) Vista da Av. das Descobertas para o bairro, 1950

Imagem 12) Vista aĂŠrea do bairro de Caselas

Imagem 11) Vista da rua da Igreja com a igreja ao fundo, 1950


Pela análise de documentação sobre o bairro é possível afirmar que a construção se orientou neste sentido (de oriente para ocidente), a comprovar pela antiga toponímia das ruas que eram numeradas em vez de nomeadas, sendo a rua 1 a primeira a ser construída e assim sucessivamente. A decomposição por zonas revela a intenção do Estado de proceder à estratificação do planeamento urbanístico do bairro. Juntamente com a edificação das moradias foi realizado um plano territorial, segundo uma malha retangular de ruas retilíneas e com duas ruas principais no sentido longitudinal ("espinha dorsal do bairro"5) atravessadas por oito ruas secundárias que desenham quarteirões de diferentes dimensões, aproveitando ao máximo o terreno para construção. Depreendemos que os arruamentos organizavam todo o bairro de modo a valorizar as infraestruturas públicas, visto que equipamentos como as praças, a escola ou a igreja faziam o remate. Ao mesmo tempo estes eixos viários apontavam para o desejo de integração com a malha viária da cidade. De igual forma foram definidas as localizações das moradias que segundo as tipologias (duas) admitiam um zonamento. Assim as moradias de maior área encontravam-se nos lugares mais disputados no bairro, adjacentes às ruas principais e nos cruzamentos, enquanto que as moradias com dimensões mais pequenas situavam-se entre as ruas estreitas nos interiores dos quarteirões. Esta descrição permite verificar a organização social hierarquizada que o Estado Novo tanto pretendia.

"Deus - Pátria - Família" A juntar aos planos já referidos os bairros económicos do Estado Novo caracterizavam-se pela concentração de alguns equipamentos e infraestruturas públicas, de modo a criar pequenas cidades fechadas sobre si próprias.

5

Cardoso, 2009 : 48


Fotos dos Equipamentos

Imagem 13) fotografia da autora

Imagem 14) fotografia da autora

Imagem 15) fotografia da autora

Imagem 16) fotografia da autora

Imagem 13) Igreja da Sagrada Família; Imagem 14) Caselas Futebol Clube; Imagem 15) Escola Primária; Imagem 16) Espaço verde com mobiliário urbano


Assente na trilogia "Deus - Pátria - Família" era possível encontrar nos bairros equipamentos que refletissem a exaltação e o poder do Estado. Geralmente a igreja (Deus) tinha lugar central e situava-se no eixo de uma das ruas principais. Em Caselas a igreja localizava-se numa área privilegiada, com grande afluxo de pessoas, ganhando individualidade e destaque na malha urbana, rodeada por jardins que afirmavam a salubridade do bairro. Ao mesmo tempo o equipamento religioso e a estrutura verde promoviam as relações de vizinhança. Outro equipamento fundamental e que em Caselas não era exceção era a escola primária pois era importante criar um país minimamente alfabetizado capaz de ouvir e cumprir as ordens do Estado, e conhecedor dos heróis e feitos da Pátria. Em Caselas a escola localizava-se, como ainda hoje, descentralizada do grande núcleo habitacional e refugiada das ruas com mais movimentadas, visto ser um equipamento direcionado para as crianças. Por último a Família era premiada com um equipamento residencial onde mais tarde seria sua propriedade. Aquando da edificação do bairro de Caselas foi consolidado outro equipamento direcionado ao lazer dos moradores, o Caselas Futebol Clube, que aproveitou esta a construção de 1944 para implantar a sua sede junto aos moradores. Atualmente o clube resiste graças ao esforço dos habitantes que fazem deste um espaço lúdico para a angariação de fundos de modo a manter viva esta instituição original. Juntamente com estes equipamentos públicos e de lazer articulam-se espaços verdes com chafariz e mesinhas de jogos que mantinham e ainda mantem um ambiente saudável e aprazível ao bairro. Com a projeção destes espaços o Estado procurava promover espaços vividos e de sociabilidade. Atualmente o bairro apresenta mais equipamentos do que os originais. Contam-se restaurantes, mercearias, cafés, uma drogaria, um colégio com creche e ensino básico, um centro de investigação de ressonância magnética, um centro social e um centro de dia, um novo equipamento residencial de cooperativa (o CaselCoop), novos espaços verdes com mobiliário de jardim que nasceram da requalificação dos espaços expectantes. Um variado leque de infraestruturas que foi crescendo com a evolução do bairro e como resposta a algumas carências dos moradores que se apropriavam da rua e do espaço contíguo ao lote para edificar novos espaços que beneficiassem o bairro.


Quadros Referentes às Divisões e Áreas das Classes de Caselas

Classe A Classe B Tipo 3 Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3

Tipo 2

zona serviços cozinha 1 1 arrumos zona comum 1 sala comum sala de jantar sala de estar hall zona privada 1 quarto duplo quarto casal 1 quarto banho 1 total de divisões 6 9 Quadro 06) desenho da autora

1 1

1 1

1 1

1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1 8

2 1 1 9

3 1 1 10

1

2 1 1 7

Classe A Classe B Tipo 2 Tipo 3 Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 zona serviços m2 cozinha 5,16 6,65 5,16 6,58 6,25 arrumos zona comum m2 10,39 6,35 sala comum 9,66 9,35 9,98 sala de jantar 7 9,13 7,42 sala de estar hall 4,9 3.82 3 zona privada m2 quarto duplo 8,84 17,56 9,75 16,58 25,01 8,84 9,82 12,17 10,2 8,61 quarto casal quarto banho 2,09 3,61 5,26 3,8 4,04 total m2 35,32 6 43,99 7 53,9 8 59,46 9 64,31 10 9 Quadro 07) desenho da autora10

Quadro 06) Divisões por classe e tipo; Quadro 07) Área por classe e tipo


As Diferentes Moradias de Caselas Apesar da construção do bairro ter sido posterior ao Decreto-Lei que dava a conhecer duas novas classes, o bairro de Caselas conta apenas com a classe A com aproximadamente 150m2, e a classe B com cerca de 200m2, distribuídas por dois pisos. A partir da documentação escrita analisada foi percetível que cada classe continha três tipos. Contudo na documentação consultada no Arquivo Intermédio de Lisboa para os casos de estudos, foi possível confirmar a existência das seguintes classes e respetivos tipos: classe A tipo 2; classe A tipo 3; classe B tipo 1; classe B tipo 2; classe B tipo 3; os quais iremos apresentar. As duas classes distinguiam-se pela organização interior . A classe A em comparação com a classe B apresentava divisões com áreas mais modestas, os quartos eram mais pequenos, como o espaço destinado à higiene pessoal era reduzido, a área do banho era mínima, resumindo-se a um pequeno chuveiro, enquanto que a classe B já possuía uma banheira. As moradias da classe B dispunham de um hall de entrada e pela separação entre a zona de estar e a de refeição, enquanto que na classe A essas funções estavam confinadas ao mesmo espaço, a sala comum. Contudo as diferenças registavam-se também ao nível das fachadas. Uma vez que a classe B destinava-se a famílias com mais capacidades económicas do que as famílias que habitavam na classe A, as casas ganhavam área em relação ao lote, apresentando fachadas mais largas. Comuns às duas classes eram as dimensões dos vãos. Todas as divisões interiores dispunham de ventilação natural, o que conferia fachadas (principal e posterior) com janelas iguais alinhadas vertical e horizontalmente com a moradia geminada. As janelas que iluminavam as escadas do alçado principal, que (quando existente) na classe A encontram-se relativamente a meio e com dimensões mais pequenas que as restantes, enquanto que na classe B são compridas marcando a transição para uma zona privada. As janelas dos quartos de banho era identificadas na fachada por serem também mais pequenas, mas alinhadas pelo topo das outras janelas e/ou da porta. Funcionalmente os alçados também divergiam, pois a porta que ligava diretamente a cozinha ao logradouro caracterizava o alçado posterior como uma fachada mais doméstica e



informal. Outra característica que diferenciava a fachada principal da fachada posterior eram as pequenas floreiras por baixo das janelas do alçado frontal, inexistente nas janelas sobre o logradouro. Ao nível do espaço exterior privado todas as casas eram idênticas: um pequeno jardim dianteiro afastando a moradia da rua pública e circunscrito por um baixo muro de vedação em madeira que delimitava o lote, e um logradouro nas traseiras bem maior do que a própria casa, destinado à implantação de uma horta recordando a imagem agrícola. No entanto as áreas dos lotes variavam consoante a classe e o tipo. - Classe A, tipo 2 De todas as classes das moradias do Bairro de Casas Económicas de Caselas a Classe A do Tipo II apresenta-se por ser a mais pequena de todas, não chegando aos 4m de largura e aos 8m de comprimento. A escada disposta no centro da casa divide-a simetricamente. No R/C, orientada para a rua, encontrava-se a sala que teria a função espaço para refeições, dispensando uma zona específica de receção. Era este espaço que fazia a receção da casa. Através de um pequeno corredor, o habitante tinha serventia a um espaço partilhado entre a cozinha e o quarto do banho, com janelas para o quintal. Devido a serem habitações mínimas a única zona de arrumos existente era no vão das escadas. Subindo ao piso superior, e último, havia apenas lugar para dois quartos, um para um ou dois filhos, com vista para as traseiras, e um segundo para o casal, com janela para a rua de entrada. As zonas mais nobres da casa (a sala e o quarto do casal) estavam alinhadas verticalmente e situavam-se na fachada principal, a da rua, enquanto o quarto de dormir das crianças, era alinhado com a cozinha e com o quarto de banho. O quarto de banho, já mencionado, era no piso térreo e dava apoio a toda a moradia, sendo usado tanto pelos moradores como pelas visitas. A passagem para o grande quintal nas traseiras da moradia, podia ser pela cozinha e pelo exterior, por um caminho lateral à casa.


Alçados da Classe A, Tipo 2

Alçado A2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Alçado A2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

Alçado A2.1) Alçado principal; Alçado A2.2) Alçado posterior


Plantas da Classe A, Tipo 2

1

2

4

3 4

Planta A2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo

Planta A2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo

Intermédio de Lisboa

Intermédio de Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

Planta A2.1) Planta do rés-do-chão; Planta A2.2) Planta do piso 1; 1) cozinha, 2) quarto de banho, 3) sala, 4) quarto



- Classe A, tipo 3 As moradias da Classe A3 distinguiam-se por serem as maiores da Classe A. Tal como as outras moradias do bairro, contavam apenas com dois pisos, o térreo e um superior. A entrada principal encontrava-se na fachada da rua e era feita através de uns degraus que elevavam a casa em relação ao terreno, uma vez que por baixo passava um lençol de água, salvaguardando de possíveis cheias. No rés-do-chão, logo à entrada, existia a sala que comunicava com um pequeno quarto e com a cozinha, com uma janela para o quintal. As pequenas dimensões da casa e o facto de corresponder ao tipo 3 (para agregados numerosos) justificavam a localização de um quarto de dormir duplo neste piso. Este dado conferiu ao résdo-chão uma tripartição dos espaços (serviço-social-privado) diferente da classe A tipo 2 acima referida. “A cozinha era um corredor de passagem da sala para o quintal, e os arrumos eram por baixo da escada. Era um espaço que não dava para duas pessoas lado a lado.” Relata uma moradora de uma moradia original. As escadas levavam a dois quartos de dormir e a um quarto de banho que servia toda a habitação. O quarto maior equivalia à área da sala e disponha-se no mesmo alinhamento desta, enquanto o quarto mais pequeno do piso superior tinha a mesma área e localização do quarto no piso inferior. O quarto de banho possuía as condições mínimas e as dimensões eram muito reduzidas, a banheira era pequena e a sanita e o lavatório eram quase colados de modo a que a porta tivesse espaço para abrir. A zona de serviço da moradia (cozinha no piso inferior) e o quarto de banho (piso superior) eram orientados para as traseiras onde tinha lugar o quintal, encontrando-se estrategicamente alinhados, sendo o quarto de banho praticamente metade do tamanho da cozinha.


Alçados da Classe A, Tipo 3

Alçado A3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Alçado A3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

Alçado A3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado A3.1) Alçado principal; Alçado A3.2) Alçado posterior

Alçado A3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa


Plantas da Classe A, Tipo 3

1

4

4

2

4

3 4

4

Planta A3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta A3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

Planta A3.1) Planta do rés-do-chão; Planta A3.2) Planta do piso 1; 1) cozinha, 2) quarto de banho, 3) sala, 4) quarto



Foi privilegiado o espaço exterior relativamente ao interior. A casa era recuada em relação à frente de rua criando uma espécie de alpendre que antecipava a entrada. Na parte detrás, como já foi referido, era o quintal, muito maior que a própria moradia, projetado para pequenas hortas. O acesso ao mesmo podia ser feito pelo interior da residência, através da cozinha, ou por um corredor exterior que a distanciava da moradia vizinha.

- Classe B, tipo 1 As moradias da classe B distinguem-se das da classe A por apresentarem divisões com áreas maiores. No entanto o tipo 1 da classe em questão é o mais pequeno por se destinar a famílias mais reduzidas. A distribuição em dois pisos permitiu individualizar os espaços. Assim no piso térreo localizavam-se as áreas de serviço e sociais enquanto que no piso 1 dispunham-se as áreas privadas. Ao nível da fachada exterior a porta de entrada assumia uma posição central, enquanto que interiormente, dada a espessura das paredes e a organização espacial, encontrava-se descentralizada. Ao ingressar na habitação deparamo-nos com a primeira inovação em relação à classe já estudada, o hall. Depois deste existia um pequeno corredor de distribuição que conectava com outros dois compartimentos e com um pequeno arrumo no vão da escada. Com a introdução deste novo espaço as escadas de acesso ao piso superior eram projetadas para um canto da habitação. A segunda inovação estava na criação da sala de estar, aberta para o hall e com ligação à sala de jantar. Na fachada posterior situava-se a cozinha e a sala de jantar, aproximados pelas suas funções, de confeção de comida e de refeição. A cozinha tinha acesso ao quintal nas traseiras, novamente por estarem associados à preparação de comida, uma vez que o quintal era usado para a implantação de hortas que permitiam a continuidade das práticas rurais de produção dos bens alimentares a consumir pela família.


Alçados da Classe B, Tipo 1

Alçado B1.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B1.1) Alçado principal; Alçado B1.2) Alçado poster

Alçado B1.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa


Plantas da Classe B, Tipo 1

1

2

3

5

4

6

5

Planta B1.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B1.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

Planta B1.1) Planta do rés-do-chão; Planta B1.2) Planta do piso 1; 1) cozinha, 2) sala de jantar, 3) sala de estar, 4) hall, 5) quarto, 6) quarto de banho



Relativamente ao piso superior a organização não divergia muito das outras moradias. Ocupando quase toda a fachada principal situava-se o quarto do casal, enquanto que na fachada oposta fixavam-se o quarto de banho, único e que servia toda a moradia, e um segundo quarto mais pequeno. Os dois quartos eram distintos em tamanho e na localização, privilegiando o espaço de repouso do “chefe-de-família”. Todos os compartimentos estavam fortemente ligados com o exterior, pela presença de janelas sobre a rua ou sobre o quintal, revelando também uma preocupação com a iluminação natural. A última inovação diz respeito a este aspeto, as escadas deixaram de ser um espaço escuro e tornaram-se numa zona de transição bem iluminada pela abertura de uma janela vertical que atravessava do rés-do-chão ao piso 1.

- Classe B, tipo 2 Com dimensões mais generosas, a tipologia B2 era destinada principalmente a famílias com filhos do mesmo sexo. Entre a rua e a entrada da moradia existia um pequeno pátio privado, que circunscrevia um lado da casa, permitindo o acesso ao logradouro. Este destinava-se à implantação de árvores de pequeno porte (apesar de ser dotado de uma boa área não permitia ter árvores de grandes dimensões) ou de uma horta ou havia mesmo quem tivesse criação de animais. Novamente construída a relativa elevação do terreno, a moradia dividia-se em dois pisos. As escadas interiores foram remetidas para uma extremidade da casa, permitindo a criação de um hall de entrada. No nível térreo existia um movimento circular na organização dos espaços, pois a sala abria para o hall e também para o corredor de distribuição, permitindo essa circulação. O mesmo corredor ligava a cozinha à entrada e à sala de jantar, igualmente na fachada das traseiras. O logradouro podia ser igualmente acedido pela cozinha, por uma porta de serviço no eixo da porta principal. Por fim existia neste piso um espaço de arrumos no vão da escada.


Alçados da Classe B, Tipo 2

Alçado B2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B2.1) Alçado principal; Alçado B2.2) Alçado posterior


Plantas da Classe B, Tipo 2

5

1

2

5

5

3

6

4

Planta B1.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B1.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

Planta B2.1) Planta do rés-do-chão; Planta B2.2) Planta do piso 1; 1) cozinha, 2) sala de jantar, 3) sala de estar, 4) hall, 5) quarto, 6) quarto de banho



Havia assim uma divisão clara dos espaços. Na fachada principal situava-se a zona de receção, a sala de estar, enquanto na fachada oposta era a zona de serviço, a cozinha associada à sala de jantar pela sua função. A configuração do piso superior era feita à semelhança da inferior. Existiam três quartos todos alinhados com as divisões do rés-do-chão, em que dois quartos tinham áreas iguais e um era menor, e encontrava-se por cima da cozinha. Este último quarto pelo seu tamanho reduzido seria destinado a apenas uma pessoa. Sobre o hall, neste piso situava-se o quarto de banho, único em toda a casa. Diferente das outras classes, a Classe B2 apresentava o quarto de banho orientado para a rua principal.

- Classe B, tipo 3 As moradias da classe B3 eram as maiores do bairro: dispunha de quatro quartos e possuía mais área permeável, novas divisões e a organização era diferente de todas as outras. Os traços gerais da moradia não divergiam: 1) entrada recuada, criando um jardim de separação entre a rua e a casa; 2) logradouro nas traseiras com acesso pelo exterior e pela cozinha; 3) dois pisos com as divisões alinhadas. Ao ingressar no piso de entrada o habitante deparava-se com o hall em forma de “T” com o corredor distribuidor. Alinhada com a porta principal encontrava-se as escadas para o piso superior, com espaço de arrumos por baixo. De frente para a sala de jantar era a cozinha (as duas divisões encontravam-se na fachada posterior), mantendo ambas uma relação quase direta. A cozinha continuava a estabelecer um importante contacto com o quintal. Este piso contava ainda com


Alçados da Classe B, Tipo 3

Alçado B3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Alçado B3.1) Alçado principal; Alçado B3 .2)Alçado posterior

Alçado B3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa


Plantas da Classe B, Tipo 3

2

1

4

4

5

4

4

4

Planta B3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

Planta B3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

Planta B3.1) Planta do rés-do-chão; Planta B3.2) Planta do piso 1; 1) cozinha, 2) sala de jantar, 3) sala de estar, 4) quarto, 5) quarto de banho


Quadro das Profissões dos Moradores Originais de Caselas

Profissões

Classe A

Classe B

10

3

7

4

Comércio e Serviços

25

19

Construção Civil

21

3

Act. Escritório e Banca Act. Marítima

Forças Armadas e Militarizadas 20 21 3 F. Ministeriais e Camarários 10 20 6 Ofícios 26 21 3 20 6 Operadores e Emp. da Indústria 9 3 10 28 21 Profissões Liberais 13 20 6 9 10 Transportes e Comunicações 2 21 3 10 28 9 10 20 6 TOTAL 147 10 28 3 920 10 6 21 Quadro 08) Fonte: Baptista, 28 Luís V. (1999), Cidade e Habitação Social, Oeiras, Celta 10 21 3 20 6 21 3 Quadro 08) Profissões dos moradores em cada classe

6 28 7 10 3 4 87


um quarto, da dimensão da sala de estar, uma vez que esta tipologia abrigava famílias muito numerosas, dando a possibilidade do quarto ser partilhado. A posição deste quarto dispunha-se na fachada principal. No primeiro piso distribuíam-se os restantes três quartos, todos com dimensões diferentes. O maior seria o quarto do casal, que tinha o tamanho da sala de estar mais o hall; o quarto ao lado deste era igual ao do piso inferior, e o último sobreponha-se à sala de jantar. O quarto de banho ganhou área em relação às outras moradias, sendo da dimensão da cozinha. As zonas de serviço (escadas, arrumos, cozinha) e quarto de banho eram “arrumados” num quadrado de 3,30m x 3,30m, com janelas para o logradouro. Enquanto as zonas de lazer (quartos de dormir, sala de estar e sala de jantar) desenhavam um “L” com a fachada principal.

Os Moradores Originais No bairro de Caselas era visível a predileção de chefes-de-família empregados nas "forças armadas e funcionários ministrais e camarários" (Baptista, 1999 : 159), aos quais era atribuída maioritariamente uma moradia da classe B, em relação aos que trabalhavam em "actividades de escritório e bancárias e profissões liberais" (Baptista, 1999 : 161) (quadro 05). Estes factos revelam a hierarquização social na atribuição e pagamento das prestações das moradias. Atualmente a população que habita no bairro corresponde maioritariamente a uma classe média/ média alta, distinguindo-se dos pressupostos iniciais de ser um bairro dirigido para classes mais carenciadas. Ao todo, segundo os dados obtidos pelos Censos de 2011, residem 632 habitantes que pertencem a 240 famílias. É ainda possível verificar que grande parte da população se encontra entre os 25 e os 64 anos, sendo alguns indivíduos herdeiros dos moradores originais, outra faixa etária com grande relevância o bairro são os moradores com mais de 65 anos, possivelmente pertencem ainda à população que habitou o bairro pela primeira vez.



/capĂ­tulo III 9 Casos de Estudo


Metodologia

Para a primeira fase do trabalho foi muito importante o trabalho realizado no primeiro semestre, que instigou à elaboração da problemática, e que serviu de “luz” para a construção da pergunta de partida. A seleção dos estudos de caso foi feitas a partir do conhecimento do terreno e do levantamento fotográfico de todas as moradias, fundamentadas a partir do diagnóstico "impressionista" do nível de alterações exteriores das habitações, apresentado de seguida e realizado em grupo no trabalho do semestre anterior, "Caselas, os dias de hoje num Bairro Económico do Estado Novo". O trabalho de grupo resultou na compreensão de que as casas se apresentam na sua maioria transformadas exteriormente e neste registo foram identificadas as alterações das fachadas das moradias e avaliadas numa escala de 1 (as menos transformadas) a 5 (as mais transformadas). Na alteração Tipo 1 foram consideradas as moradias que permanecem o mais fiel à moradia original, que apenas alteraram os muros de vedação e os portões de entrada. A percentagem deste tipo no bairro é baixa, 4%, e a maioria das casas apresentam um fraco estado de conservação. As alterações Tipo 2 localizam-se principalmente no miolo dos quarteirões. As casas apresentam alteração da cor da fachada, substituição dos caixilhos originais e algumas obras de beneficiação. A sua proporção em relação às moradias do resto do bairro é de 14%. A alteração Tipo 3 é a segunda maior alteração das moradias, 39%. Estas habitações dispõem de um telheiro sobre a entrada e de pequenos anexos. A alteração que ocorre com mais frequência é a Tipo 4, representando 42% do bairro das casas económicas, sendo as mais afetadas as moradias da classe A (por serem as mais pequenas), caracterizando-se pela ampliação da área da habitação.


Por último a alteração Tipo 5 é a mais transformadora uma vez que os alçados foram reconstruídos, apagando a ideia de moradia económica. Contudo é a menos encontrada no bairro, com apenas 1% das moradias. A realização desta sistematização das alterações revelou-se importante para a escolha dos casos de estudo que serão apresentados no capítulo seguinte.


Mapa de diagnóstico do nível de transformações exteriores das habitações

alteração Tipo 1

alteração Tipo 2

alteração Tipo 3

Mapa 03) Mapa do bairro com o nível de transformação das moradias

alteração Tipo 4

alteração Tipo 5


Exemplos de Moradias dos Diferentes Tipos de Alterações Alteração Tipo 1:

Imagem 17) moradia n.º 10 da rua Casal da Raposa

Imagem 18) moradia n.º 20 da rua da Igreja

Alteração Tipo 2:

Imagem 19) moradia n.º 10 da rua Cruz de Caselas

Imagem 20) moradia n.º 42 da rua Casal da Raposa


Alteração Tipo 3:

Imagem 21) moradia n.º 10 da rua Alice Pestana

Imagem 22) moradia n.º 8 da rua Cruz a Caselas

Alteração Tipo 4:

Imagem 23) moradia n.º 12 da rua da Igreja

Imagem 24) moradia n.º 8 da rua Carolina Ângelo


Alteração Tipo 5:

Imagem 25) moradia n.º 10 da rua da Igreja

Imagem 26) moradia n.º 7 da rua do Gabarete

Imagem 26) moradia n.º 7 da rua do Gabarete

Alteração Tipo 5: Imagem 27) moradia n.º 6 da rua da Igreja

Imagem 28) moradia n.º 8 da rua Carolina Ângelo


Após a escolha dos nove casos de estudo das moradias do Bairro Económico de Caselas e procedeu-se à recolha de documentação escrita e desenhada presente nas obras do Arquivo Intermédio de Lisboa, permitindo a investigação das plantas originais e acompanhar a sua evolução ao longo do tempo. Posteriormente foi feita a análise, caso a caso, numa perspetiva cronológica, percebendo todo o tipo de transformações, do exterior ao interior. Ao mesmo tempo procurou-se realizar entrevistas aos moradores dos casos de estudo, mas apenas dois moradores mostraram-se disponíveis (das moradias do Caso 01 e do Caso 05), assim, uma das maiores fragilidades sentidas na análise foi a ausência de informação relativa à composição dos agregados familiares nas várias fases e respetivo perfil social. Esta limitação foi, no entanto, colmatada com a recolha da maior quantidade de informação possível relativa à habitação. O guião das entrevistas permitiu conhecer a visão do habitante relativamente ao bairro e à moradia, e foi possível obter informação sobre a composição das famílias (como a caraterização do agregado familiar, suas profissões ou as suas rotinas e expetativas de habitação). Sempre que possível pretendeu-se manter o mais fiel possível o nome das divisões presentes nas plantas e memórias descritivas analisadas. No último Capítulo são apresentadas as conclusões extraídas a partir da análise em conjuto dos nove casos de estudos, analisando as transformações das moradias por décadas, tendo em vista a identificação das regularidades em matéria de transformações que caracterizam as diferentes épocas e estudando o efeito de contágio existente no bairro.


Caso 01

Imagem 29) fotografia da autora

Imagem 29 e 30) Moradia n.Âş3 da rua Carolina Ă‚ngelo

Imagem 30) fotografia da autora


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 04) Mapa do bairro com a localização do lote em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua do Gravato

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 01

Rua Sara Afonso


O Caso 01 diz respeito à moradia n.º 3 da rua Carolina Ângelo. Inicialmente denominada por Rua 1, por ter sido a primeira a ser construída no bairro, atualmente a rua deve o seu nome à primeira médica-cirurgiã em Portugal. Encontra-se na Zona Ocidental do bairro, e o acesso pelo exterior ao mesmo é feito através da Avenida das Descobertas. O edificado tem exclusivamente a função de habitação, pertencendo parte deste à cooperativa local, CaselCoop. As moradias são da classe A, antiga classe das casas económicas, do Tipo 2 de um lado da rua, e do Tipo 3 do outro lado. A escolha da moradia n.º 3 recaí sobre esta ser a única da alteração Tipo 4 (alteração com maior proporção no bairro), nas moradias de Classe A3 localizadas à esquerda de quem sobe a rua. Cronologia das Transformações construção de alpendre nas traseiras

obras de modificação e ampliação

obras de modificação

1998

1974

1972

1959

obras de beneficiação

1983

alteração na fachada principal construção no logradouro construção de garagem

1984

1979

2013

1973

1949

construção da cave construção do alpendre na fachada principal alteração da cor alteração do muro na frente rua


Plantas de Transformações do Caso 01

1

Planta 01.1

2

Planta 01.2

elementos acrescentados

Planta 01.1) Ano: 1974; Alteração: alteração do muro de vedação na frente rua; : julga-se que a construção do alpendre nas traseiras data de 1972; Planta 01.2) 1) garagem, 2) arrumos; Ano: 1977; Alteração: alteração muro de vedação da frente de rua, escadas de acesso, garagem e arrumos no logradouro


Cronologia da Transmissão da Propriedade

Transmissão da moradia sem referência do meio de aquisição

1983

2013

1958

1949

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções O histórico de intervenções na moradia remete ao ano de 1959, prolongando-se até 1998. Dez anos após a conclusão da construção do bairro, a moradia Caso 01 necessitou de obras de beneficiação, para reparação de algumas infiltrações na cobertura, sendo substituídas algumas telhas. Na mesma data a pintura da moradia foi retocada, mantendo-se fiel à cor original, creme. Por obras de beneficiação o Portal da Habitação define “aquelas de não estando tipificadas nas de conservação servem para melhorar ou beneficiar os imóveis ou frações correspondentes. Mais-valia acrescentada a um imóvel em virtude de qualquer alteração à sua estrutura ou aparência (beneficiação directa) ou da melhoria da sua envolvente urbana (beneficiação indirecta).”6 Pela análise das plantas, supõe-se que em 1972 tenha sido construído de um alpendre nas traseiras. Um ano depois deram início a novas obras de beneficiação, de substituição da cor creme para rosa velho forte. No mesmo ano a Câmara Municipal de Lisboa emitiu a

6

Informação acedida no sítio da Internet http://www.portaldahabitacao.pt/pt/portal/glossario/detalheVocabulo.jsp?seq_codvocabulo=143, a 31/05/2013


Plantas de Transformações do Caso 01

1

2

3

4

6

3

5

Planta 01.3

6

Planta 01.4

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 01.3) Planta do R/C; Planta 01.4) Planta do piso 1; Ano: 1983; Alteração: projeto de ampliação e modificação dos compartimentos e anexo; 1) arrumos, 2)garagem, 3) wc, 4) cozinha, 5) sala comum, 6) quarto


autorização para a licença de alteração da cor para vermelho ferrugem, idêntica à moradia geminada. Dois anos depois, em 1974, o morador realizou obras de alteração do muro de vedação, relativamente à sua altura, modificou as escadas de acesso à casa, e construiu arrumos no logradouro, acrescentando ao pedido uma garagem nas traseiras. Os anexos solicitados somavam 22m2 ao total da área do lote. No fim da década de 70, movido pelo espírito de contágio, o proprietário ergueu um alpendre na entrada principal, em tijolo, igual aos já existentes no bairro, com cobertura de telha tipo “campo”. Foi em 1983 com a venda da casa, que o novo proprietário procedeu ao maior projeto de modificação e ampliação dos compartimentos da moradia e anexos, pois a casa não apresentava as condições necessária da família, constituída pelo casal, a filha e também por um parente idoso. Foram construídos mais 20,8m2 passando para 80,5m2 de área coberta, e a casa cresceu quase o dobro, ocupando parte do quintal. “ As divisões eram mínimas, não cabia lá nem uma cama”, conta a filha do casal, que era ainda criança quando mudou para a moradia n.º 3 da rua da Carolina Ângelo, mas que sempre residiu no bairro embora noutra rua. No ano seguinte, foi feita a cave, com uma sala de estar, um quarto e uma pequena instalação sanitária. E parte da cobertura foi transformada em terraço. A par destas obras a moradora considera a cave uma das melhores alterações, pois “antigamente nos verões muito quentes as pessoas nem conseguiam dormir, lembro-me as ruas cheias até as 2h da manhã. Mas tem uma coisa muito boa que são as caves fresquinhas. A parte térmica das casas era muito má.” As últimas alterações datam do ano de 1998: foram demolidas algumas paredes interiores do rés-do-chão e do primeiro piso; foi edificada uma casa de banho social na cave; o terraço foi fechado e modificado para sótão devido a infiltrações; a garagem e o anexo no quintal foram eliminados de modo a aproveitar o espaço exterior.


Plantas de Transformações do Caso 01

4

1

2

3

Planta 01.5

Planta 01.6

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 01.5) Planta da cave; Planta 01.6) Planta de cobertura; Ano: 1984; Alteração construção da cave, transformação da cobertura em terraço; 1) wc, 2) quarto, 3) sala, 4) terraço


Na Procura de Novos Espaços Como se compreende da análise das plantas, com o passar dos anos a moradia foi conquistando espaços distintos, nomeadamente à zona social/serviços e à zona privada, resultado da divisão da casa em diferentes pisos. O quarto originalmente existente no rés-dochão foi remetido para o piso superior, ficando o piso térreo de cariz unicamente social e o primeiro piso de cariz privado. Nota-se que espaços como a sala e a cozinha ganharam área, devido aos aumentos de área bruta acima referidos, mas também pela supressão de paredes divisórias que confinavam os compartimentos e ao mesmo tempo criavam corredores de circulação. Na maior transformação de todas, em 1986, é visível que os novos proprietários tiveram a necessidade da edificação de mais uma instalação sanitária no rés-do-chão, distinguindo deste modo a instalação sanitária social da instalação sanitária privada, mais íntima, a qual possuía banheira e localizava-se no piso superior, o piso dos quartos, servindo apenas os moradores. Posteriormente a instalação sanitária social foi eliminada, talvez pela criação de uma outra na cave, continuando a habitação com duas instalações sanitárias mas agora em pisos alternados. Este facto redimensionou a cozinha, uma vez que o compartimento eliminado encontrava-se ao seu lado, na fachada posterior. Na visita à moradia foi possível observar que a cozinha é também espaço para as refeições, apesar de existir outra zona destinada ao mesmo fim, logo à entrada. A porta principal abre diretamente para chamada sala de jantar. Embora estes espaços tenham a mesma função diferenciam-se pela sua localização: o da cozinha funciona para refeições diárias, enquanto que a sala de jantar funciona para jantares mais formais. Relativamente à distribuição funcional no piso 0 encontram-se a zona social, relacionada com a fachada principal , e a zona de serviço, orientada para o quintal nas traseiras. É possível afirmar que pelo uso que a atual família residente dá à cozinha, esta tornou-se numa zona mais social que de serviços,


Plantas de Transformações do Caso 01

1

3

4

5

2

4

Planta 01.7

Planta 01.8

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 01.7) Planta do R/C; Planta 01.8/) Planta do piso 1; Ano: 1998; Alteração demolição de algumas paredes; 1) cozinha, 2) sala de estar + sala de jantar, 3) instalação sanitária, 4) quarto, 5) escritório


"(...) a cozinha, por todos os motivos. Quando recebemos visitas para comer estamos mais na cozinha, mas se são visitas mais ao final da noite juntamo-nos na sala. Mas muitas vezes recebo as visitas na cozinha." afirmou a moradora quando confrontada com a pergunta de qual a divisão eleita para convívio quer da família quer de visitas. Relativamente ao piso superior, permaneceu como zona privada, com a instalação sanitária recolhida na fachada posterior, e com o quarto maior (dos dois existentes) no alçado oposto, relação idêntica à original. Na divisória referida é interessante a partilha do espaço do quarto, um lugar destinado ao repouso, com o escritório, geralmente associado ao trabalho. A cave, novo piso, tem um caráter misto, possui uma zona social, a sala, e uma zona privada, nomeadamente um quarto e uma instalação sanitária. Contudo esta parte da habitação é direcionada para as visitas temporárias, não sendo tão usufruída pelos moradores.


Plantas Originais

3

Planta A3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta A3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta A3.1) Planta original do R/C; Planta A3.2) Planta original do piso 1; Planta 05.a) Planta da cave; Planta 01.7a) Planta do R/C; Planta 01.8a) Planta do piso 1; Ano: 1998; Alteração demolição de algumas paredes; 1) cozinha, 2) sala de estar + sala de jantar, 3) instalação sanitária, 4) quarto, 5) escritório


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 01

1

3

3

5

2

4

4

4

2

Planta 01.5a

Planta 01.7a

Planta 01.8a



Caso 02

Imagem 31) fotografia da autora

Imagem 32) fotografia da autora

Imagem 31 e 32) Moradia n.ยบ6 da rua da Igreja, fachada principal e fachada posterior


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 05) Mapa do bairro com a localização do lote em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 02

Rua Sara Afonso


A moradia n.º 6 da rua da Igreja constitui o Caso 02. A rua da Igreja é considerada por grande parte dos moradores como a rua principal do bairro: por ser a maior da zona oriental, porque o ingresso pelo exterior é direto e sobretudo porque termina num dos principais equipamentos do bairro, que dá o nome à rua, a Igreja. A rua possuí duas habitações da alteração tipo 5 e as moradias dos quarteirões mais próximo da Avenida das Descobertas são as que se encontram mais alteradas ou mais bem conservadas, por serem as moradias de “receção” da localidade. A moradia selecionada, da antiga Classe B2, forma um lote em gaveto, com a rua Carolina Ângelo, sendo a entrada para os carros feita por aí, enquanto que a das pessoas é realizada pela rua da Igreja. Pela sua importante localização a moradia apresenta uma maior preocupação relativamente às fachadas, situando-se dentro das alterações tipo 5, sendo a justificação da sua escolha.

Cronologia das Transformações

obras de conservação obras de beneficiação

demolição

alteração da cor

construção de garagem

construção nova

1981

2008

obras de beneficiação

1966

1959

construção de alpendre nas traseiras

2013

1994

1949

obras de ampliação construção da cave


Plantas de Transformações do Caso 02

1

2

3

6

7

4 4 5

Planta 02.1

6 7

Planta 02.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 02.1) Planta do R/C; Planta 02.1) Planta do piso 1; Ano: 1981; Alteração: construção da garagem e casa das máquinas, obras de alteração no interior, obras de beneficiação e conservação; Observação: apesar de haver conhecimento da construção de cave e do sótão não foram encontradas plantas das mesmas; 1) garagem e casa das máquinas, 2) sala comum, 3) cozinha, 4) arrumos, 5) hall, 6) quarto, 7) quarto de banho


Cronologia de Transmissão da Propriedade

1994

Transmissão da moradia aquisição por compra

Transmissão da moradia sem referência do meio de aquisição

2008

1980

2013

1958

1949

Transmissão da moradia aquisição por compra

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções A moradia do Caso 02 é das que apresentam mais intervenções, quer ao nível da fachada quer ao nível dos espaços interiores. Atualmente quase irreconhecível como casa económica, a primeira alteração foi realizada em 1958. O segundo proprietário procedeu à construção de um alpendre de acesso ao quintal, demolindo o pequeno patamar com degraus na porta de serviço da cozinha. Nos documentos consultados no Arquivo Municipal Intermédio, de Lisboa, é feita a descrição de construção nova, que “consiste na execução de projecto de obra nova: edifício, muralha, muro…”. Em 1966, após o vizinho da casa geminada ter procedido à pintura das paredes de verde clara, das portas e aros de castanho e dos caixilhos das janelas de brancos, o morador do caso em estudo executou obras de beneficiação para pintar a sua habitação idêntica à outra.


Plantas de Transformações do Caso 02

3

1

2

4

5

7

7 1

6

Planta 02.3

Planta 02.4

elementos acrescentados

8

Planta 02.5

elementos eliminados

Planta 02.3) Planta da cave; Planta 02. 4) Planta do R/C; Planta 02.5) Planta do piso 1; Ano: 1994; Alteração: obras de alteração; aumento de área ; Observação: apesar de haver conhecimento do sótão não foram encontradas plantas do mesmo; 1) arrumos, 2) arrecadação, 3) sala de estar, 4) sala de refeições, 5) cozinha, 6) hall, 7) quarto, 8) instalação sanitária


A memória descritiva presente no processo 38135 relativa às alterações de 1981 refere que: “No r/c das duas salas existentes far-se-á apenas uma, aproveita-se o vão da escada para instalar aparelhos sanitários e na cozinha modifica-se a posição do lava-loiça e doutros elementos. No primeiro piso passará a haver dois quartos com casa de banho privada e um acesso ao sótão. O acesso destina-se a arrumos e sala de brinquedos. A edificação a construir no logradouro destina-se a garagem e casa de lavagem. O muro existente, em madeira e já bastante deteriorado, será substituído por um muro de alvenaria de tijolo com dois portões de ferro. Os elementos novos serão pintados da cor dos existentes.” No ano de 1994, depois de a casa ter crescido em altura, começou a crescer em profundidade, e ocupou grande parte do logradouro, para uma sala de estar do piso térreo. O edifício sofreu mais obras de alteração em todos os andares, incluindo a cave. Em 2008 com a compra e venda da casa, esta foi completamente demolida, sendo feita uma nova construção de raiz. A moradia manteve os quatro pisos: cave, rés-do-chão, primeiro piso e sótão. Por serem estas as últimas plantas presentes no processo 38135 do Arquivo Intermédio de Lisboa julga-se que esta tenha sido a última intervenção realizada, e que moradia mantém a mesma estrutura e organização até aos dias de hoje.


Plantas de Transformações do Caso 02

1

2

4

6

2 7

3 5

Planta 02.6

8

Planta 02.7

10 12

13

10 9 11

Planta 02.8

Planta 02.9

Planta 02.6) Planta da cave; Planta 02. 7) Planta do R/C; Planta 02.8) Planta do piso 1; Planta 02.9) Planta do sótão; Ano: 2008; Observação: moradia antiga foi demolida e foi feita uma construção de raiz; 1) adega, 2) arrumos, 3) área de lavagem de roupa, 4) cozinha, 5) área de tratamento de roupa, 6) sala, 7) casa de banho social, 8) suite, 9) casa de banho privada, 10) quarto, 11) casa de banho comum, 12) estúdio, 13) área técnica


A caminho do Open Space Desde o início das intervenções verifica-se que havia a intenção de separar a zona de serviço/social da zona privada por pisos. Pelas plantas depreende-se que no início dos anos 80 houve a adaptação para sala comum, um espaço único com a função de sala de estar e de sala de jantar apenas divididos por uma lareira. Posteriormente cada uma das áreas referidas se individualizou pelo prolongamento do rés-do-chão para as traseiras. A antiga sala comum se transformou em sala de refeições e a nova parte em sala de estar, com uma forte relação com o exterior, proporcionada por portas de correr, que quando abertas estendiam a sala de estar para o quintal. Em 2008 o piso térreo tornou-se o piso "mais social", uma espécie de open space bastante permeável, com áreas amplas e articuladas, bem iluminadas naturalmente por janelas e por um grande vão para o jardim nas traseiras, promovendo a continuidade espacial interior-exterior. Ainda neste piso a zona de serviços é partilhada pela cozinha, a Norte (as traseiras) e pela área de tratamento de roupa a Sul, estes espaços estão organizados num único compartimento intersetado pela caixa de escadas que faz a passagem entre os dois. O hall, a sala de refeições e a sala de estar, formam a zona social, não compartimentada, em que o volume da casa de banho social e das escadas joga com a compressão/ descompressão na transição entre eles. O piso superior conservou sempre o caráter privado, e a casa económica que se distinguia por ter o maior número de quartos (um no rés-do-chão e três no primeiro piso) viu-se ao longo das alterações reduzida a três com áreas mais generosas do que as originais. O quarto na fachada das traseiras sempre se distinguiu por ser o maior, em 1981 pela inclusão de um quarto de banho e arrumos, em 1994 pela eliminação dessas mesmas divisões, somando o quarto 15,30m 2 em comparação aos 10,80m2 do outro quarto. Atualmente no piso 1 encontram-se os dois quartos singulares com casa de banho comum, e um em suite. Todas as divisórias abrem-se para o hall das escadas e possuem um vão que permite a entrada de luz natural, incluindo a própria escada iluminada por luz zenital. As pequenas dimensões da moradia e a falta de espaços de arrumação levaram à edificação da cave no nível das fundações, com área igual aos pisos superiores e destinada a arrecadação e arrumos. Na última transformação (aquando da construção de raiz) parte da cave



foi aproveitada para adega. A área de lavagem de roupa foi transposta para este piso subterrâneo, afastando assim a confusão e ruído das máquinas para uma área técnica. Com o mesmo propósito, de obtenção de mais área, e aproveitando a cobertura foi erigido um estúdio em água furtada, como também uma área técnica com sistema de painéis solares na cobertura, manifestando uma preocupação ecológica por parte dos proprietários. Exteriormente houve uma procura por um lugar de estacionamento. Primeiramente foi construída uma garagem a Norte, que atualmente foi substituída por um lugar descoberto.


Plantas Originais

Planta B2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta B2.1) Planta original do R/C; Planta B2.2) Planta do piso 1; Planta 02.6a) Planta da cave; Planta 02. 7a) Planta do R/C; Planta 02.8a) Planta do piso 1; Planta 02.9) Planta do sótão; Ano: 2008; 1) adega, 2) arrumos, 3) área de lavagem de roupa, 4) cozinha, 5) área de tratamento de roupa, 6) sala, 7) casa de banho social, 8) suite, 9) casa de banho privada, 10) quarto, 11) casa de banho comum, 12) estúdio, 13) área técnica


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 02

Planta 02.6a

Planta 02.7a

Planta 02.8a

Planta 02.9a



Casos 03 e 04

Imagem 35) fotografia da autora

Imagem 36) fotografia da autora

Imagem 37) fotografia da autora

Imagem 35) Moradias n.ยบ10 e 12 da rua do Miradouro; Imagem 36) Aumento de รกrea da moradia n.ยบ10 (caso 03); Imagem 37) Alรงado lateral da moradia n.ยบ12 (caso 04)


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 06) Mapa do bairro com a localização dos lotes em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 03 e do Caso 04

Rua Sara Afonso


Pelas suas caraterísticas morfológicas, a rua do Miradouro assemelha-se à rua da Igreja: promove a centralidade, o seu eixo é horizontal e termina num largo agradável com árvores e bancos, destinado aos moradores. Todas as moradias da rua em questão têm a função de habitação e estão em bom estado de conservação, mesmo as que não sofreram grandes transformações, uma vez que as alterações vão do Tipo 2 ao Tipo 4. Novamente as moradias em estudos revelam proximidade com a cooperativa CaselCoop. As escolhas do Caso 03 e 04 devem-se: a serem duas moradias geminadas da mesma classe, B2; ao seu tipo de alteração ser o mesmo, tipo 4; e por apresentarem transformações diferentes uma da outra, perdendo a imagem de “moradia gémea”.

Caso 03 Cronologia das Transformações obras de alteração obras de ampliação

construção no logradouro

construção de garagem subterrânea

1997

1979

construção da cave

2013

1986

1949

obras de beneficiação alteração da cor


Plantas de Transformações do Caso 03

6

7

8

9 1

2

4 3

2 5

Planta 03.1

Planta 03.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 03.1) Planta da cave; Planta 03. 2) Planta do R/C; Ano: sem informação; Alteração: obras de alteração e aumento, construção de garagem ; 1) despensa, 2) arrumos, 3) wc, 4) cozinha, 5) vestíbulo, 6) jardim, 7) pátio, 8) garagem, 9) cobertura da garagem


Cronologia da Transmissão da Propriedade

1949

2013 sem referência

Histórico de Intervenções O Caso 03 é interessante pois em termos de fachada mantém a memória de em tempos ter sido uma casa económica, com as três janelas e a porta nas posições originais, mas apresenta uma implantação e plantas de interiores muito transformadas. A primeira intervenção documentada data de 1979 e relata a autorização da construção da cave para arrecadação e despensa. Sobre este aumento dos pisos o morador declarou que “1) a altura que a referida cave já tinha , cerca de 1,5m de pé direito, era já de si um convite à sua abertura. 2) o número de pessoas do agregado familiar do morador adquirente, ocupavam todas as divisões, não permitindo qualquer espaço livre para arrecadação de malas e outros objectos de uso não diário. 3) por estas razões e dada a circunstância de não ter outro local para arrecadação das referidas malas e objectos e bem assim de batata, feijão e vinho que o morador trás para seu consumo da sua aldeia, pareceu-lhe que a cave seria a melhor forma de resolver o problema para que as restantes divisões da moradia não deixassem de ter a sua função própria e se mantivessem em estado de asseio e higiénicas.”. Em 1986, foram realizadas obras de beneficiação geral da moradia, como a pintura da habitação igual à vizinha (o qual não há conhecimento da cor) e também a reparação da cobertura e da cave, danificadas por fatores ambientais.


Plantas de Transformações do Caso 03

8

6

1

2 10

9

3 10 7

4

7

5

Planta 03.3

11

Planta 03.4

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 03.3) Planta do R/C; Planta 03.4) Planta do piso 1; Ano: 1997; Alteração: obras de alteração, projeto de aumento; 1) sala comum, 2) cozinha, 3) instalação sanitária, 4) escritório, 5) vestíbulo, 6) pérgola, 7) garagem, 8) quarto de casal, 9) casa de banho privada, 10) quarto duplo, 11) casa de banho


No ano de 1997 foi aprovado o projeto de aumento e de alterações da casa. O rés-dochão passou a ter as seguintes divisões: sala comum, escritório, cozinha, copa, instalações sanitárias e vestíbulo; o primeiro piso manteve os três quartos e a instalação sanitária, um dos quartos foi acrescentada uma casa de banho privada. A área do espaço exterior ficou reduzida com esta ampliação. Foi desenhado um lugar de estacionamento na frente da moradia, substituindo a antiga garagem. De modo a vencer a diferença de cota do quintal nas traseiras foram construídas umas escadas. Pelo estudo das plantas é possível verificar que casa estendeu-se para o logradouro, ocupando todo o comprimento. Na cave foi edificada uma garagem subterrânea e o piso superior permaneceu sem transformações. Pelas visitas ao bairro foi possível verificar que a implantação da moradia mantêm-se como descrita na última transformação.

A Apropriação do Logradouro À semelhança dos casos já analisados, a moradia em estudo apresenta a partir de 1998 uma segregação dos espaços íntimos (os quartos), concentrando-os no primeiro piso, libertando o piso 0 desta função. Anterior a essa data não foi possível apurar a função nem o nome de todos os compartimentos do piso térreo, dada a ausência de definição nas plantas da obra 39137 do Arquivo Intermédio de Lisboa, correspondente à moradia. Pelo que não é possível afirmar com certeza que tal individualização da distribuição funcional por pisos já era caraterística das primeiras transformações. refeições para um espaço de trabalho. A unificação da sala de estar e da sala de jantar reflete a valorização dada à zona social e a construção de um espaço aberto sem paredes divisórias. O volume que "acolhe" a sala comum tem aproximadamente a mesma área que o piso térreo original, reforçando a valorização deste espaço.



O ingresso ao interior é feito pelo vestíbulo que permite o acesso ao piso superior, à cave e à zona social . Esta espécie de ante-sala encaminha os visitantes diretamente à sala comum sem que tenham contacto com as zonas de serviço. Apesar da inexistência de porta, o acesso não direto à cozinha e ao escritório tornam a vivência destes espaços mais privados aos visitantes. Novamente (como no Caso 02) o número de quartos (quatro) foi reduzido (três), aumentando a área de cada um. Os dois quartos na fachada principal receberam a denominação de quartos duplos e o da fachada posterior de quarto do casal, sendo claramente maior que os outros. O número (três) e a localização (uma no r/c e duas no primeiro piso) das instalações sanitárias tornam mais forte o conceito e individualização e privatização, por duas razões: 1) a instalação sanitária do piso térreo ganha um caráter social, por não possuir duche e por não ser necessária a presença de pessoas exteriores à habitação no piso mais íntimo da moradia; 2) o quarto de casal dispõe de casa de banho privada, enquanto que os quartos duplos partilham uma casa de banho no mesmo piso, caraterizadora da tipologia de privatização conjugal contígua (Pereira, 2012). A pequena cozinha e a falta de espaço para arrumação proporcionaram a abertura da cave, de área ligeiramente mais pequena que os pisos superiores e com três compartimentos, dois deles destinados a arrumos e um a despensa de alimentos. Atualmente a fachada posterior tem maior importância relativamente à fachada principal, dada pelos vãos maiores, pelos compartimentos que aí se situam, (o quarto de casal e a sala comum) e pelo desalinhamento deste volume em relação ao resto da habitação. O espaço exterior neste caso sempre foi depreciado,quer pelo prolongamento do casa para Norte, ocupando e reduzindo o quintal, quer pela construção da garagem a Sul.


Plantas Originais

Planta B2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta B2.1) Planta original do R/C; Planta B2.2) Planta original do piso 1; Planta 03.3a) Planta do R/C; Planta 03.4b) Planta do piso 1; Ano: 1997; 1) sala comum, 2) cozinha, 3) instalação sanitária, 4) escritório, 5) vestíbulo, 6) pérgola, 7) garagem, 8) quarto de casal, 9) casa de banho privada, 10) quarto duplo, 11) casa de banho


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 03

8

6

1

2 10

9

3 10 7

4

7

5

Planta 03.3a

11

Planta 03.4b



Caso 04 Cronologia das Transformações

obras de alteração construção de anexo

2004

obras de beneficiação

1986

aumento do muro de vedação

1972

1958

construção do alpendre na fachada principal

construção da cave

2006

2013

1988

1949

demolição construção nova

Cronologia da Transmissão da Propriedade

2013

2006

1949

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções As transformações da moradia n.º10 da rua do Miradouro tiveram início muito antes da moradia geminada, sendo a primeira em 1958 com a construção de um alpendre na porta principal.


Plantas de Transformações do Caso 04

1

2

Planta 04.1

3

Planta 04.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 04.1) Planta de implantação; Ano: 1958; Alteração: construção de alpendre na porta principal e na porta para o logradouro Planta 04.2) Planta da cave; Ano: 1989; Alteração: construção da cave; 1) arrecadação, 2) casa de máquinas, 3) arrumos


Na procura de manter a casa o mais fiel ao projeto original, foram realizadas obras de conservação e de beneficiação. Prova de tal facto foi o projeto de melhoramento do telhado em 1986, em que as telhas foram substituídas, reparando as quatro águas do telhado. No interior, os espaços permaneciam iguais e pequenos, com a exceção da substituição da sala de jantar para sala de estar, e da antiga sala de estar para sala de visitas. O artigo 2º do Decreto-Lei nº 555/99, de 16 de Dezembro de 1999 descreve obras de conservação como “as obras destinadas a manter uma edificação nas condições existentes à data da sua construção, reconstrução, ampliação ou alteração, designadamente as obras de restauro, reparação ou limpeza”. À semelhança de muitas moradias no bairro, em 1988, resultado de obras de alteração, a casa ganhou mais um piso. A cave destinava-se a lugar de arrumos, arrecadação e casa das máquinas. Anterior à venda da moradia (possivelmente associando as obras à procura de comprador), em 2004, foram executadas obras para o aumento da cave, deixando de ser tão compartimentada. Já o piso térreo foi bastante modificado, contrariamente ao piso 1, em que apenas o espaço de banho ficou ligeiramente maior e em um dos quartos foi edificada uma escada de acesso ao sótão. No exterior foi construído um anexo, em que a única informação conhecida diz respeito à sua altura, que ultrapassava o pé-direito do rés-do-chão. Com a compra da moradia em 2006, a nova proprietária optou pela demolição total e por uma construção nova. Relativamente ao novo projeto, não estava disponível documentação escrita ou desenhada.

Mais Pisos, Novas Divisões Da análise das plantas verificamos uma partição funcional diferente em cada piso da habitação: a cave uma zona técnica/serviços, o rés-do-chão uma zona social/serviços e primeiro piso uma zona privada. Há conhecimento de mais um piso, o do sótão, com um


Plantas de Transformações do Caso 04

1

3

2

4

5 6 7

Planta 04.4

Planta 04.3

8

8

8

9

Planta 04.5

elementos acrescentados

Planta 04.6 elementos eliminados

Planta 04.3) Planta da cave; Planta 04.3) Planta do R/C; Planta 04.5) Planta do piso 1; Planta 04.6) Planta do sótão; Ano: 2004; Alteração: obras de alteração; 1)arrumos, 2) casa de máquinas, 3) sala de jantar, 4) cozinha, 5) sala de estar, 6) instalação sanitária social, 7) vestíbulo, 8) quarto, 9) instalação sanitária


compartimento único, o qual nas plantas da obra 39137 do Arquivo Intermédio de Lisboa, referente à moradia não havia descrição da função. O piso 1 manteve a mesma organização e função original, com três quartos e instalação sanitária comum a todos. Relativamente às alterações da instalação sanitária, a mesma aumentou e o equipamento foi substituído revelando questões de salubridade e higiene, que na construção das moradias não eram tão consideradas. O quarto na fachada principal teve a sua área reduzida devido à caixa de escadas de acesso ao sótão. Este facto confere a esta fachada os elementos de transição de todos os pisos. A sala de jantar e a sala de estar que existiam no rés-do-chão deram lugar a uma sala única e a cozinha a uma instação sanitária social. A cozinha e a sala de jantar cresceram para o logradouro, encontrando-se lado a lado e abertas entre si. Atualmente a cozinha é maior que a original, de modo a que fosse possível a inclusão de novos equipamentos. Este piso foi designado como zona social/serviços pois a eliminação de paredes e a colocação de portas de correr entre o vestíbulo, sala de estar, sala de jantar e cozinha permitiu a fusão dos espaços e a unificação funcional. A cozinha tem acesso directo ao quintal nas traseiras e este acesso é alinhado com o acesso à rua, sendo considerada uma entrada de serviço. Os grandes vãos envidraçados da fachada a Sul possibilitam a continuidade da casa para o logradouro. Assim, interior/ exterior e zona social/zona de serviços fundem-se num só espaço permeável ao nível do solo. Inicialmente compartimentada, a cave do caso em estudo foi sempre destinada a arrumos e casa das máquina, com uma pequena janela orientada a Norte e outra a Sul. A projeção de um recinto para as máquinas, referida também no Caso 02, "abafa" o barulho dos electrodomésticos e outros, afastando-o da zona social. Com o crescimento do piso do rés-do-chão a cave também cresceu, mantendo a mesma função num espaço menos compartimentado. Apesar do aumento de área útil no interior da habitação, o espaço exterior é ainda considerável, com um quintal nas traseiras e outro mais pequeno na fachada principal. Ao nível da rua do Miradouro a moradia conserva a morfologia inicial, apenas na rua transversal é percetível o prolongamento da casa .


Planta B2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta B2.1) Planta original do R/C; Planta B2.2) Planta original do piso 1; Planta 04.3a) Planta da cave; Planta 04.3a) Planta do R/C; Planta 04.5a) Planta do piso 1; Planta 04.6a) Planta do sótão; Ano: 2004; Alteração: obras de alteração; 1)arrumos, 2) casa de máquinas, 3) sala de jantar, 4) cozinha, 5) sala de estar, 6) instalação sanitária social, 7) vestíbulo, 8) quarto, 9) instalação sanitária


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 04

1

3

2

4

5 6 7

Planta 04.4a

Planta 04.3a

8

8

8

Planta 04.5

9

Planta 04.6



Caso 05

Imagem 38) fotografia da autora Imagem 38 e39) Moradia n.Âş12 da rua JosĂŠ Calheiros

Imagem 39) fotografia da autora


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 07) Mapa do bairro com a localização do lote em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 05

Rua Sara Afonso


José do Quental Calheiros dedicou serviços como médico no Centro Social de Caselas, motivo pela Rua 13 ter sido nomeada rua José Calheiros. Assim como a rua da Igreja e a rua Sara Afonso, apresenta todos os tipos de alterações nas moradias, sendo estas as únicas ruas que registam tal situação. Durante as visitas ao Bairro foi possível verificar que a habitação que formava a esquina da rua com o largo foi demolida por inteiro, permanecendo um vazio no seu lugar. Na parte Norte funciona um departamento da Junta de Freguesia de São Francisco Xavier, e a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas desde 1999. A moradia do Caso 05 encontra-se no centro do quarteirão mais a Sul e é idêntica à geminada, ou melhor a habitação em causa é a "cópia" da vizinha, uma vez que a outra iniciou as obras de transformação primeiro. Na época do Estado Novo a moradia pertencia à Classe A2, no entanto existiam na rua moradias da Classe B. Por ser uma das casas mais pequena acabou por ser bastante modificada, incluindo-se na categoria de alteração Tipo 5. O Caso 05 foi o segundo caso o qual foi possível realizar a entrevista ao proprietário, permitindo maior recolha de informação sobre a moradia e a família.


Plantas de Transformações do Caso 05

13

3 8

12

4 5

1

9

6

11

7

10

2

Planta 05.1

Planta 05.2

Planta 05.3

Planta 05.4

Planta 05.1) Planta da cave; Planta 05.2) Planta do R/C; Planta 05.3) Planta do piso 1; Planta 05.4) Planta do sótão; Ano: 2009; Alteração: construção nova; 1)sala de jogos, 2) casa de máquinas, 3) sala comum, 4) entrada, 5) casa de banho social, 6) despensa, 7) cozinha, 8) escritório, 9) quarto, 10) suite, 11) casa de banho privada, 12) casa de banho, 13) varanda


Cronologia das Transformações

obras de beneficiação

demolição construção nova

1973

2009

aumento do muro de vedação

2013 1974

1949

alteração da cor

Cronologia da Transmissão de Propriedade

2013

1981

2007

1949

Transmissão da moradia aquisição por herança

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções O Caso 05 até a sua demolição em 2009 nunca sofreu grandes alterações. O interior nunca havia sido alterado e os espaços possuíam as mesmas dimensões e funções. Ao longo dos anos houve apenas a manutenção da fachada e de estruturas.


“ Em baixo era uma cozinha, uma sala, um hall com a porta de entrada, depois subíamos e tinha os dois quartos, sem cave e sem sótão. Encontrava-se bem conservada”, descreve o proprietário na entrevista realizada. A primeira intervenção foi em 1973, e foram realizadas obras de alteração relativamente ao muro de vedação na frente de rua, resguardando a habitação e o jardim. Um ano mais tarde a casa foi pintada de branco. Até então mantinha a cor creme original, e nas ombreiras das janelas e da porta principal foi colocada pedra mármore, idêntica à moradia geminada. Em 1981, foram realizadas novas obras de beneficiação geral. Desta vez foram substituídos os estores das janelas por persianas, e a porta principal foi trocada para o mesmo material. Com a demolição em 2009 a moradia adquiriu uma nova organização, a sua área bruta aumentou, assim como foram acrescentados dois pisos, a cave e o sótão. O espaço exterior ficou menor e no corredor lateral foi criada uma porta de ligação para a moradia vizinha pertencente à mãe da proprietária que atualmente tem a casa arrendada. Em relação às alterações o morador apenas lamenta ter sido obrigado por lei a respeitar o desenho da fachada principal. “Mas por dentro foi dada a total liberdade, tendo em atenção a área permeável, teve de ser guardada x área lá fora e de lado para área permeável”. As razões para a nova construção eram evidentes para os novos proprietários, que contam que “a casa era pequena, e como eu e a minha mulher queremos um dia mais tarde ter filhos, e por causa de tudo mais, optamos por ampliar. E para ter também a casa à nossa maneira. A grande razão é ter espaço para as coisas”. A nova casa é o dobro da moradia original, construção que foi possível porque os quintais eram muito grandes.


A Permeabilidade de Espaços Partilhados A análise da única transformação realizada permite verificar que houve uma nova distribuição espacial, promovida pela criação de novas divisões. A moradia Caso 05 não apresenta diferentes funções por pisos, o que quer dizer que cada piso partilha mais que uma função, à exceção do sótão que até a data da entrevista o proprietário ainda não tinha dado utilização. Houve uma inversão dos espaços. Anteriormente a zona de serviços encontrava-se na fachada posterior, atualmente esta posição é ocupada pela sala comum, que se relaciona diretamente com o quintal, pela existência de fachada cortina no rés-do-chão e pelo alpendre. Sem paredes a dividir os espaços, o próprio mobiliário faz a distinção da sala de estar e da sala de jantar. A cozinha dispõe-se na fachada principal, ocupando toda a sua largura. Entre estas divisões localiza-se a entrada, recuada em relação à fachada principal, tornando mais forte a separação da zona de serviços (cozinha e arrumos) e da zona social (estar/comer), estando mais ligada à última pela permeabilidade visual permitida pela presença de um móvel aberto (uma espécie de grelha da altura do pé-direito). A existência de casa de banho neste piso revela uma prática comum na arquitetura moderna. A colocação de uma instalação sanitária social salvaguarda a intimidade dos moradores dos olhares das visitas. "A sala, é a divisão maior da casa e a mais nobre e quando está bom tempo vamos ali para o quintal. E é a mesma divisão quando recebemos visitas. Apesar de também ter a cave, que foi transformada numa segunda sala de estar, com consolas e jogos para os miúdos, assim podem estar mais à vontade e não chateiam ninguém e podem fazer barulho, como é uma cave absorve mais o barulho, embora a principal seja a sala de estar." Os espaços íntimos concentram-se no piso superior da moradia, incluindo os quartos, instalações sanitárias e o escritório. O quarto na fachada principal, tem a configuração de suite, com casa de banho privada, dada a necessidade de individualizar esta divisão íntima conjugal, da outra casa de banho (comum) utilizada pela filha da proprietária. Contudo apesar dos dois compartimentos na fachada posterior (quarto e escritório) partilharem a casa de banho, são privilegiados com o contacto direto com o exterior pela varanda.


Plantas Originais

Planta A2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo

Planta A2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo

Intermédio de Lisboa

Intermédio de Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta A2.1) Planta original do R/C; Planta A2.2) Planta original do piso 1; Planta 05.1a) Planta da cave; Planta 05.2a) Planta do R/C; Planta 05.3a) Planta do piso 1; Planta 05.4a) Planta do sótão; Ano: 2009; Alteração: construção nova; 1)sala de jogos, 2) casa de máquinas, 3) sala comum, 4) entrada, 5) casa de banho social, 6) despensa, 7) cozinha, 8) escritório, 9) quarto, 10) suite, 11) casa de banho privada, 12) casa de banho, 13) varanda


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 05

13

3 8

12

4 5

1

9

6

11

7

10

2

Planta 05.1a

Planta 05.2a

Planta 05.3a

Planta 05.4a



Casos 06 e 07

Imagem 40) fotografia da autora

Imagem 41) fotografia da autora

Imagem 40 e 41) Moradia n.ยบ 22 (caso 06) e n.ยบ24 (caso 07) da rua Casal da Raposa


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 08) Mapa do bairro com a localização dos lotes em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 06 e do Caso 07

Rua Sara Afonso


Caso 06 e Caso 07 A rua Casal da Raposa sita-se na parte oriental do bairro, marcada pela presença de edificado com única função de habitação. As moradias apresentam diferentes estados de conservação. Algumas delas, mais à direita da rua (nos quarteirões próximos da rua Carolina Ângelo), encontram-se num fraco estado de conservação, com as fachadas a necessitar de nova pintura e as janelas e portas de serem substituídas. A par destes pontuais casos, em geral é possível verificar que as moradias foram recentemente reabilitadas, com estacionamento no interior dos lotes. A escolha das moradias n.º 22 e 24, caso 06 e 07 respectivamente, da alteração tipo 4 e ambas da classe B1, devem-se a três razões: 1) no estudo da planta do bairro a moradia n.º 24 mostra grande ampliação em forma de "L" ocupando grande parte do quintal nas traseiras, 2) as fachadas principais são quase o espelho uma da outra, se não fosse a existência de uma janela a mais na moradia n.º 22, 3) no levantamento das plantas, no Arquivo Intermédio de Lisboa, descobriu-se que as duas moradias tinham sido transformado numa única.

Caso 06 obras de beneficiação

Cronologia das Transformações

obras de reparação obras de alteração

demolição parcial

1989

1969 1970

1966

obras de ampliação

obras de beneficiação construção no logradouro construção de garagem construção de alpendre na fachada principal alteração do muro de vedação

1996

2013

1971

1949

fusão com a moradia geminada


Plantas de Transformações do Caso 06

1

2

3

Planta 06.1

Planta 06.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 06.1) Planta de implantação; Ano: 1970; Alteração: desaterro do logradouro; 1) logradouro Planta 06.2) Planta de implantação; Ano: 1971; Alteração: anexo no logradouro; 2)lavagem de roupa e estendal, 3) garagem


Cronologia da Transmissão da Propriedade

Transmissão da moradia aquisição por compra

sem referência do ano

Transmissão da moradia aquisição por compra

Transmissão da moradia aquisição por compra

2006

1988

2013

1969

1949

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções As primeiras alterações efetuadas na moradia n.º 22 da rua Casal da Raposa foram realizadas pelo primeiro proprietário em 1966. Não foram efetuadas transformações ao nível do interior da habitação, mas apenas manutenção da pintura das fachadas. Novamente, como já relatado em outros casos, as condições climatéricas e a fraca estrutura da casa, levaram a infiltrações na cobertura obrigando ao procedimentos de obras de reparação, em 1969, sendo reforçado o vigamento de duas divisões do piso superior (um quarto e a casa de banho). Foi no ano de 1970, com o segundo proprietário, que começaram a surgir alterações em planta, a primeira diz respeito ao exterior. O logradouro passou a ter dois níveis, efeito do dessatero do terreno. A parte imediatamente depois da moradia manteve a mesma cota, enquanto que a parte mais interior do logradouro encontrava-se elevada. Apesar de consultados todos os processos correspondentes à moradia em estudo não foi possível apurar as razões para esta partição do logradouro, que se revelou temporária. No ano seguinte foram


Plantas de Transformações do Caso 06

1

3

4

5

2

6

Planta 06.4

Planta 06.3

8

8

6

9

3

7

Planta 06.5

Planta 06.6

Planta 06.3) Planta do R/C; Planta 06.4) Planta do piso 1; Planta 06.5) Planta do sótão; Planta 06.6) Planta de cobertura; Ano: 1989; Alteração: obras de alteração e aumento; 1)sala comum, 2) cozinha, 3) wc, 4) wc privado, 5) suite, 6) quarto, 7) arrumos, 8) terraço, 9) solário


desempenhadas obras de beneficiação geral e de transformação, resultando em melhorias arquitetónicas. O espaço exterior do lote foi nivelado à cota mais baixa mantendo a permeabilidade exterior/interior. Desta transformação foi edificado um anexo nas traseiras destinado a lavagem de roupa (tanque e estendal de roupa) e a garagem. A fachada principal também sofreu alterações no mesmo ano. Foi erigido um alpendre resguardando a entrada da moradia e foi alterado o muro que marginava a via pública. A última transformação como moradia isolada data de 1989. O proprietário procedeu à demolição parcial da casa, conservando apenas a morfologia da fachada principal, mesmo a localização das escadas de acesso do rés-do-chão ao piso 1 foi alterada. Como alterações regista-se a ampliação da área do piso do rés-do-chão e do primeiro andar e o aproveitamento da cobertura para sótão. No piso 0 foi construído uma sala comum com cozinha integrada e uma garagem com acesso interior através da cozinha. Enquanto que no piso 1 foram feitos dois quartos e duas casas de banho, uma delas privada, e no sótão foi criado mais um quarto, outra casa de banho, um compartimento de arrumos. Este quarto superior dispunha de um terraço para o logradouro. A próxima transformação que a casa veio a sofrer foi com a nova proprietária, relativamente à fusão com a moradia geminada, propriedade da mesma.

A Valorização dos Espaços Comuns A distribuição funcional resistiu às apropriações feitas pelos diferentes proprietários. No piso do rés-do-chão dispunham-se a zona comum e de serviços, com a cozinha recolhida no interior da moradia, e no primeiro piso organizavam-se as zonas privadas com quartos a Sul e os wc na fachada a Norte. Da análise das plantas percebe-se a valorização dada aos espaços comum, que ganharam área em relação aos outros espaços (serviço e privado).



No caso em estudo o piso do rés-do-chão é marcado "por um grau muito elevado de permeabilidade que é realizado através de: i) inexistência de hall e colocação da porta de entrada a dar directamente para a sala; ii) abertura total entre a cozinha e a sala (...)" (Pereira, 2012 : 122). Tal permeabilidade é tão visual quanto física, em que a cozinha e a sala comum são um espaço único. Assim a zona de serviço e a zona comum criam um todo. O piso térreo adquiriu a composição de open space. O único vão existente na fachada principal ao nível do rés-do-chão é a porta, as janelas foram todas projetadas para a fachada posterior, havendo uma troca de importância das fachadas. Os compartimentos do piso superior localizam-se na fachada posterior e na fachada lateral direita, libertando o centro, que pelas suas dimensões possui um caráter de espaço comum do que de distribuição. O quarto na fachada posterior foi compartimentado de modo a criar uma instalação sanitária. Assim o quarto deu lugar a uma suite, e a instalação sanitária privada permitiu maior privacidade aos proprietários. Contudo a outra instalação sanitária existente neste piso é a única instalação sanitária social de toda a habitação. Contrariamente ao piso inferior, este encontra-se bem iluminado com luz natural, valorizando este tipo de luz para espaços de dormir. É possível compreender a tentativa de uniformização dos espaços centrando-se nos espaços comum, sejam de estar/comer (piso 0) ou de passagem (piso 1). As questões ecológicas e económicas foram igualmente tidas em consideração com a colocação de painéis solares na cobertura. Estes painéis têm a capacidade de converter a energia da luz solar em energia eléctrica. O estacionamento originalmente feito no exterior do lote, foi transportado para o interior e integrado na construção da moradia, uma vez que o primeiro piso cobre o lugar para o automóvel.


Plantas Originais

Planta B1.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B1.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta B1.1) Planta original do R/C; Planta B1.2) Planta original do piso 1; Planta 06.3a) Planta do R/C; Planta 06.4a) Planta do piso 1; Planta 06.5a) Planta do sótão; Planta 06.6a) Planta de cobertura; Ano: 1989; Alteração: obras de alteração e aumento; 1)sala comum, 2) cozinha, 3) wc, 4) wc privado, 5) suite, 6) quarto, 7) arrumos, 8) terraço, 9) solário


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 06

1

3

4

5

2

6

Planta 06.4

Planta 06.3

8

8

6

3

9

7

Planta 06.5

Planta 06.6


Caso 07 Cronologia das Transformaçþes


Caso 07 Cronologia das Transformações

obras de ampliação

1989

1966

obras de beneficiação

2013

1996

1949

fusão com a moradia geminada

Cronologia da Transmissão de Propriedade

Transmissão da moradia aquisição por herança

2006

2013

1988

1949

Transmissão da moradia aquisição por compra

Histórico de Intervenções A moradia n.º 24 da rua do Casal da Raposa é das moradias estudadas a que apresenta maior ampliação, ocupando grande parte do logradouro a Norte. À semelhança da moradia geminada a primeira intervenção data de 1966, referente a obras de beneficiação ao nível da pintura das fachadas, respeitando a cor original.


Plantas de Transformações do Caso 07

7

8

6

4

3

7

8

5 1

2

Planta 07.1

8

Planta 07.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 07.1) Planta do R/C; Planta 07.2) Planta do piso 1; Ano: 1987; Alteração: obras de alteração e aumento; 1) vestíbulo; 2) cozinha, 3) zona de comer, 4) zona de engomar , 5) arrumos, 6) sala, 7) casa de banho, 8) quarto


Em 1987 o novo proprietário procedeu a obras de ampliação, acrescentando cerca de 59m2 à habitação. O alçado tardoz avançou o comprimento inteiro do lote desenhando um "L", que delimitava o lote. O novo corpo manteve a organização em apenas um piso e juntamente com o volume já existente ocupava aproximadamente 60% do lote, enquanto que o máximo recomendado pelas Normas a Observar na Ampliação de Casas Económicas (Normas do Fundo de Fomento de Habitação) era 45%, não estando a planta da casa dentro da predominância das casas do bairro. Houve uma troca de posição entre a cozinha e sala, e foram criados novos compartimentos no piso 0. A ligação que havia entre o vestíbulo e a sala (dada por um vão aberto) foi quebrada pela existência de uma parede cega. Ao contrário dos outros casos, não foram suprimidas paredes, surgiram novas paredes que aumentaram o número de divisões. O rés-do-chão contava com os seguintes espaços: 1) na moradia original - vestíbulo, cozinha, zona de comer, zona de engomar; 2) no novo corpo - sala, casa de banho, quarto. No piso superior o quarto e a casa de banho da fachada principal foram substituídos por um quarto, o maior da habitação. O quarto mais pequeno foi transformado em casa banho, enquanto que o terceiro que existia neste piso manteve a mesma posição e a sua única transformação foi o avanço de uma parede para Sul, aumentando ligeiramente a área do quarto. Assim em vez de três quarto e uma casa de banho, o piso organizava-se em dois quartos com áreas mais generosas, e uma casa de banho também maior.

O Reconhecimento da Luz Natural A distribuição funcional da moradia original foi completamente transformada, principalmente no piso térreo. De acordo com o projeto original apenas o hall manteve a mesma posição, embora com área maior e encerrado, adquirindo um caráter de zona comum em vez de circulação. Da análise feita e do estudo das plantas compreendemos que existe uma tripartição do piso 0 da moradia, organizando o espaço em zonas de serviços, comuns e privadas.



A sala que se encontrava na fachada principal deu lugar à cozinha que se relacionava diretamente com a zona de comer (antigo quarto) pela aproximação de funções. Onde era a cozinha permaneceu um espaço de serviço, nomeadamente a zona de engomar. O novo corpo da moradia era ocupado maioritariamente por zonas comuns, a sala ligada à zona de comer, e uma zona de canto cuja função não foi possível de confirmar sabendo apenas que era um espaço de exceção pela sua forma e pelo rebaixamento de cota (dois degraus). Ainda no rés-do-chão dispunham-se um quarto e uma casa de banho de apoio a todo o piso. Os dois compartimentos foram remetidos para o interior da moradia, conferindo a privacidade que estas divisões exigiam. Relativamente ao piso superior, seguiu a organização funcional original : espaços isolados e privados, respectivamente dois quartos e uma casa de banho comum. Mais uma vez a existência de duas casas de banho, uma em cada piso, revelam uma privatização do piso 1 dedicado somente a espaços íntimos. Assim a casa de banho do piso em questão é usufruída pelos moradores e a do piso inferior utilizada pelas visitas. A iluminação natural também teve um papel importante na organização dos espaços. A maioria dos compartimentos eram bem iluminados naturalmente, através de vãos para o quintal. No piso térreo a sala, o quarto e a zona de engomar relacionavam-se diretamente com o quintal, que pela memória descritiva na obra 36926 do Arquivo Intermédio de Lisboa referente à moradia em causa,eram feitos por portas envidraçadas. Igualmente, o espaço de circulação entre a sala e o quarto era iluminado por luz zenital, marcando a passagem de uma zona social para uma zona íntima.


Plantas Originais

Planta B1.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta B1.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta B1.1) Planta origina do R/C; Planta B1.2) Planta original do piso 1; Planta 07.1a) Planta do R/C; Planta 07.2a) Planta do piso 1; Ano: 1987; Alteração: obras de alteração e aumento; 1) vestíbulo; 2) cozinha, 3) zona de comer, 4) zona de engomar , 5) arrumos, 6) sala, 7) casa de banho, 8) quarto


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 07

7

8

6

4

3

7

8

5 1

Planta 07.1

2

8

Planta 07.2


Plantas de Transformações do Caso 06/07

1

elementos eliminados

elementos acrescentados

Planta 06/7.1 8

7

6

11

11

5

9 4

3

2

Planta 06/7.2

12

8

10

12

7

7

8

8

Planta 06/7.3

Planta 06/07.1) Planta da cave; Planta 06/7.2) Planta do R/C; Planta 06/7.3) Planta do piso 1; Ano: 1996; Alteração: união das duas moradias; 1) casa das máquinas e arrumos; 2) cozinha, 3) zona de comer, 4) zona de engomar , 5) sala de jantar, 6) escritório, 7) casa de banho, 8) quarto,9) sala, 10) atelier, 11) piscina, 12) estacionamento


Caso 06/07 No ano de 1996 as moradias n.º 22 e 24 da rua Casal da Raposa foram compradas pela por uma única proprietária, que procedeu a obras para união das duas habitações.

Cronologia das Transformações

1996

fusão das moradias

2013

2000

1949

obras de alteração

Histórico de Intervenções Ao nível da implantação as duas moradias permaneceram iguais relativamente a quando eram independentes. Contudo, a moradia n.º 22 foi a que apresentou mais transformações, uma vez que foi demolida e reconstruída de raíz, que possibilitou a abertura da cave, para arrumos e casa de máquinas. Relativamente à moradia n.º 24 as alterações foram poucas. No piso do rés-do-chão a parede entre a zona comum e o jardim, avançou ligeiramente em relação ao exterior, respeitando os vãos existentes. Ao mesmo tempo a parede que separava a antiga sala do espaço de canto foi eliminada assim como os dois degraus que distinguiam os espaços, este "canto" foi transformado em escritório.


Plantas de Transformações do Caso 06/07

11

7

7

8

12

10

8

8

Planta 06/7.4

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 06/07.4) Planta do piso 1; Ano: 2000; Alteração: obras de alteração; 7) casa de banho, 8) quarto,9) sala, 10) atelier, 11) piscina, 12) estacionamento


O corredor de circulação após o hall, foi prolongado até "rasgar" a parede que divide as duas moradias, fazendo a fusão das mesmas. No piso superior, a janela por cima da porta da fachada principal foi encerrada e foram abertos dois vãos, uma janela estreita e comprida que ilumina as escadas entre os dois pisos e outra janela no quarto. A união das duas moradias no piso superior foi feita pela eliminação da parede mais a Norte, comum às duas casas. A compartimentação deste piso é idêntica nas duas moradias, um quarto na fachada principal (dois no total) e na fachada posterior três divisões, uma central comum às duas habitações e que separa as outras duas divisões. No ano 2000, o piso 1 sofreu algumas transformações, resultando numa nova divisão na moradia à esquerda. Foram mantidas as duas entradas e no interior existem duas escadas de acesso ao primeiro piso, como ainda se tratassem de duas moradias independentes. Como já foi referido a fachada principal é praticamente simetrica, com quatro janelas ao centro, duas janelas compridas em cada escada e as portas entre as janelas, a diferença está na janela que encima a porta à esquerda. No quintal das traseiras foi construída uma piscina, aproveitando a grande área exterior. Apesar de ser o único caso estudado, pela vista aérea do bairro é possível observar que mais moradias contam com este tipo de construção. O espaço exterior deste lote foi ainda aproveitado para estacionamento no interior. A união das duas moradias verifica-se também pela eliminação do muro de vedação que existia entre elas, tornando o exterior um espaço único e permeável.

Quando Duas Moradias se Transformam Numa A organização funcional não diverge da organização anterior: o rés-do-chão apresenta uma tripartição dos espaços (serviços-comum-privado) e no piso superior existe uma bipartição (privado-comum).


zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta 06/07.1a) Planta da cave; Planta 06/7.2a) Planta do R/C; Planta 06/7.3a) Planta do piso 1; Ano: 2000; Alteração: união das duas moradias; 1) casa das máquinas e arrumos; 2) cozinha, 3) zona de comer, 4) zona de engomar , 5) sala de jantar, 6) escritório, 7) casa de banho, 8) quarto,9) sala, 10) atelier, 11) piscina, 12) estacionamento


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 06/07

1

Planta 06/7.1a 8

7

6

11

11

5

9 4

3

2

7

12 7

7

Planta 06/7.2a

8

12

10

8

8

Planta 06/7.3a


A grande transformação no piso térreo foi a substituição da sala na moradia n.º 24 para sala de jantar, e a antiga sala de jantar foi transformada numa segunda zona de comer, mais pequena e próxima da cozinha (que se manteve na fachada principal). Estas duas divisões destinadas a refeições são diferenciadas pelas suas dimensões, em que a maior possuí um caráter mais formal que a outra, e mantem um relação com o quintal. O rés-do-chão da moradia n.º 22 é preenchido pela sala e a única divisão existente é a casa de banho social. Apesar de não ter sido possível visitar a moradia, pelo estudo das plantas compreendemos que o piso 0 da moradia n.º 22 é o centro dos espaços sociais, posição reforçada pela porta de entrada diretamente para este espaço. A configuração de open space e o grande vão a Norte permitem uma forte relação visual desde a entrada com as traseiras, onde se encontra a piscina. No piso superior os quartos maiores ocupam a fachada principal enquanto que as casas de banho localizam-se na fachada oposta. Os seis quartos que se contavam nas moradias originais foram reduzidos, ao contrário do número de casas de banho que aumentou. Este facto revela uma maior dedicação aos espaços de higiene pessoal, reforçados também pela separação de casas de banho por pisos. O espaço central do primeiro piso, apesar das transformações ocorridas seguiu sempre a mesma organização funcional de espaço comum, neste caso um atelier que recolhido neste piso ganha um caráter mais íntimo, mesmo que destinado a trabalho/lazer.


Caso 08 e 09

Imagem 42) fotografia da autora

Imagem 43) fotografia da autora

Imagem 44) fotografia da autora

Imagem 42) Moradia n.ยบ 41 da rua Padre Reis Lima (caso 08); Imagem 43 e 44) Moradia n.ยบ 25 da rua Padre Reis Lima (caso09)


Rua do Miradouro

Rua do Gabarete

Mapa 09) Mapa do bairro com a localização dos lotes em estudo Rua Olga Morais Sarmento

Rua do Pai Calvo

Rua António Janeiro

Rua dos Margiochis

Rua do Manuelzinho de Arcolena

Rua Quinta do Paizinho

Rua José Calheiros

Rua Casal da Raposa

Rua da Igreja

Rua Carolina Ângelo

Rua Leonor Pimentel

Rua Alice Pestana

Rua Virgínia Quaresma

Rua Padre Reis Lima

Localização do Caso 08 e do Caso 09

Rua Sara Afonso


Desde a sua origem que o bairro estava extremamente ligado à igreja, não se tratasse este de um bairro do regime do Estado Novo orientado segundo a trilogia: Deus, Pátria, Família. A par destas benfeitorias realizadas pelo padre Reis Lima na década de 50 a Câmara de Lisboa nomeou a antiga Rua 5 de rua Padre Reis Lima, que atravessa o Largo da Igreja. É uma das mais extensas ruas do bairro, de caráter unicamente habitacional, encontrando-se as em geral as moradias bem conservadas. A rua é encimada pela cooperativa habitacional CaselCoop, e termina no Caselas Futebol Clube. No seu cruzamento com a rua da Igreja forma um largo com paragens de transportes públicos, uma vez que antigamente os moradores queixavam-se da falta de transportes públicos no bairro. O caso 08 pertence à classe A2 e localiza-se na parte norte da rua, acima da igreja. Enquadra-se no tipo 4 de alterações. Por outro lado o Caso 09 situa-se na parte sul, após o largo, da Classe A3, e igualmente da alteração tipo 4.

Caso 08 Cronologia das Transformações

construção no logradouro

1994

1980

1973

alteração do muro de vedação obras de ampliação obras de obras de alteração beneficiação

construção do anexo obras de ampliação

1987

2013

1977

1949

obras de ampliação


Plantas de Transformações do Caso 08

1

2

3

4

4

5 1

Planta 08.1

4

Planta 08.2

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 08.1) Planta do R/C; Planta 08.2) Planta do piso 1; Ano: 1977; Alteração: construção de anexo; 1) sala, 2) wc, 3) cozinha, 4) 4) quarto, 5) quarto de vestir


Cronologia da Transmissão da Propriedade

1949

2013 sem referência

Histórico de Intervenções As intervenções na moradia n.º41 da rua Padre Reis Lima começaram quase duas décadas depois da construção do bairro. Talvez seja um dos casos registados em que as alterações tenham sido mais tardias. A primeira obra foi em 1973 com a demolição do muro de madeira e a construção de um muro de vedação mais alto e da cor da moradia, confinante à rua, proporcionando maior privacidade aos moradores. Em 1977 o espaço exterior diminuiu com a construção de um anexo na lateral da habitação, que abrigava a sala de jantar no rés-do-chão, até então inexistente, e no piso superior um quarto de dormir e respetivo quarto de vestir. Dois anos mais tarde o desejo de aumentar a moradia permaneceu, e foi feito um terraço na retaguarda do primeiro piso. O quarto de vestir privado foi transformado em quarto de dormir assim o piso superior somava três quartos de dormir. O quarto de dormir orientado para o logradouro, do projeto inicial, foi eliminado, e passou a existir um quarto de banho e um espaço de hall com arrumos. No início da década de 80 foram realizadas obras de alteração na fachada principal, à qual foi introduzido um arco abatido, que nos dias de hoje não restam memórias, e o muro de vedação foi “quebrado” para tornar possível um lugar de estacionamento no interior do lote. Foram também executadas obra de beneficiação para o arranjo de algumas fenestrações que se encontravam danificadas. Em 1987 foi projetada a ampliação. No piso térreo foram desenhados novos espaços, como um escritório e instalação sanitária, existente na moradia original mas que com as sucessivas transformações


Plantas de Transformações do Caso 08

7

1

3

4

5

6

4 2

Planta 08.3

4

Planta 08.4

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 08.3) Planta do R/C; Planta 08.4) Planta do piso 1; Ano: 1979; Alteração: obras de alteração, construção de terraço; 1) sala de jantar, 2) sala de estar, 3) cozinha, 4) quarto, 5) instalação sanitária, 6) hall, 7) terraço


havia sido suprimida. O piso superior contava com quatro quartos, em que dois deles, os mais próximos do quintal, partilhavam uma varanda. Com este novo aumento de área o corredor lateral exterior diminuiu. Das plantas consultadas a última referência a alterações é de 1994, contudo pelas visitas feitas ao Bairro é visível que foram efetuadas mais transformações. A moradia atualmente não apresenta a ampliação do piso superior, resistindo apenas a do rés-do-chão.

A Segregação da Zona Privada Da análise das alterações da moradia é possível verificar que evoluíu não só nas suas dimensões mas também em termos do programa funcional. Atualmente o piso do rés-do-chão e o piso 1 encontram-se bastante e igualmente compartimentados. A sala de estar manteve-se na posição original, na fachada principal, sendo o espaço de receção, em que todos os outros compartimentos estão dependentes da passagem por este. A moradia dispensa, ao contrário da maioria dos casos estudados, o hall de entrada. Este facto anula qualquer espaço de transição entre o público-privado e marca uma relativa permeabilidade (Pereira, 2012). A sala de jantar aproximou-se da cozinha na fachada posterior, concentrando-se nesta parte da casa as áreas dedicadas a refeições (preparação e comer). Contudo, a área da cozinha é relativamente maior que a da sala de jantar, por duas razões: 1) necessidade dos novos equipamentos (como máquina de lavar roupa, máquina de lavar loiça); 2) cada vez mais as cozinhas tornaram-se zonas de comer e de convívio ganhando um caráter mais social que de serviços. O escritório na fachada principal favorece de um generoso vão e da localização a poente, revelando a importância da iluminação natural em espaços dedicados ao trabalho. Outro dado importante foi a criação de dois compartimentos , um para a armazenamento de comida e outro para arrumos, a despensa (mais próxima da cozinha) e a arrecadação (no vão da escada) respetivamente. Esta separação reflete questões de higiene e conservação dos alimentos.


Plantas de Transformações do Caso 08

1

2

9

8 8

3

4

3

5 6

8 7

Planta 08.5

8

Planta 08.6

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 08.5) Planta do R/C; Planta 08.6) Planta do piso 1; Ano: 1987; Alteração: obras de alteração; 1) sala de jantar, 2) cozinha, 3) instalação sanitária, 4) despensa, 5) arrecadação, 6) escritório, 7) sala, 8) quarto, 9) varanda


A zona social da habitação encontra-se no piso do rés-do-chão, segregando a zona privada (quartos) para o piso superior. Da evolução das plantas verificamos o aumento de zonas íntimas, um processo inverso do anterior: multiplicação do número de quartos. A introdução do quarto de vestir na década de 70 revela a intenção de "modernizar" esta zona, uma vez que era uma prática pouco comum na época. Na mesma década o quarto de vestir foi alterado e aumentado para quarto de dormir, dada a pouca funcionalidade deste espaço que era comum a todos os quartos. Na planta da última transformação, a moradia da classe mais pequena das casas económicas que possuía apenas dois quartos, passou para o dobro (quatro quartos), sendo os dois quartos a nascente beneficiados com uma varanda comum. Os espaços de circulação e exterior permanecem sem alterações. Apesar do primeiro estar mais reduzido em relação à moradia original.


Plantas Originais

Planta A2.1) desenhos cedidos pelo Arquivo

Planta A2.2) desenhos cedidos pelo Arquivo

Intermédio de Lisboa

Intermédio de Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta A2.1) Planta original do R/C; Planta A2.2) Planta original do piso 1; Planta 08.5a) Planta do R/C; Planta 08.6a) Planta do piso 1; Ano: 1987; Alteração: obras de alteração; 1) sala de jantar, 2) cozinha, 3) instalação sanitária, 4) despensa, 5) arrecadação, 6) escritório, 7) sala, 8) quarto, 9) varanda


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 08

1

2

9

8 8

3

4

3

5 6

8 7

Planta 08.5a

8

Planta 08.6a


Plantas de Transformações do Caso 09

1 2

3

5

3

4

Planta 09.1

6

3

Planta 09.2

elementos acrescentados

Planta 09.1) Planta do R/C; Planta 09.2) Planta do piso 1; Ano: 1967 ; Alteração: anexo no logradouro; 1) capoeira, 2) arrecadação 3) quarto, 4) sala, 5) cozinha, 6) banho


Caso 09 Cronologia das Transformações

construção no logradouro obras de ampliação

1998

1969

1967

construção de alpendre na fachada principal e nas traseiras

2013

1973

1949

aumento do muro de vedação

Cronologia da Transmissão da Propriedade

1949

2013 sem referência

Histórico de Intervenções O histórico de intervenções da moradia n.º 25 da rua Padre Reis Lima conta com 31 anos de alterações, sendo a primeira no ano de 1967 e a última em 1998. Em 1969 a parede que dividia o anexo no logradouro destinado a arrecadação e a capoeira foi alterada, diminuindo o espaço onde os animais estavam confinados. Foram ainda construídos dois alpendres, um na fachada frontal, recolhendo a porta principal, e outro nas traseiras, na porta de acesso da cozinha ao quintal.


Plantas de Transformações do Caso 09

1 2

3

7

4

3

7

5

6 8 7

Planta 09.3

Planta 09.4

elementos acrescentados

elementos eliminados

Planta 09.3) Planta do R/C; Planta 09.4) Planta do piso 1; Ano: 1998; Alteração: obras de alteração e aumento; 1) capoeira, 2) arrecadação, 3) cozinha, 4) instalação sanitária, 5) sala comum, 6) corredor, 7) quarto, 8) abrigo


Em 1973 o muro de vedação na frente da moradia foi substituído por outro mais alto e e semelhante aos já existentes no bairro, proporcionando mais privacidade aos moradores. O muro era apenas aberto para um portão para as pessoas, na mesma direção da porta de entrada da casa, e para um portão de garagem, que permitia o estacionamento dentro do lote. Foi em 1998 que foram procedidas as obras de ampliação do alçado tardoz. Com este crescimento da moradia, no rés-do-chão foi eliminado um quarto e modificada a posição da cozinha, tornando-a maior, assim como a sala. No mesmo piso foi criado um lavabo na nova parte da casa. Em relação ao piso superior a instalação sanitária antiga foi substituída por uma nova, com área mais generosa e no mesmo eixo que o lavado inferior. Em vez dos dois quartos originais e resultado do aumento referido, os três quartos que existiam em toda a moradia foram transferidos para este andar. No geral o exterior manteve uma uniformidade da fachada, de modo a resultar linhas simples e respeitantes as cores originais. O espaço exterior do lote sofreu alterações diferentes em relação aos outros casos em estudo, devido ao desenho do mesmo que difere dos outros. Uma vez que se encontra numa curva a sua configuração é de um losango com os lados todos diferentes.

O Elogio à Circulação Como nos casos anterior as zonas de serviço e social encontram-se no piso do rés-dochão e a zona privada no piso 1. A sala de estar e a sala de jantar tornaram-se num só espaço, a sala comum, com diferentes funções (descanso e comer). Para além da unificação das funções assinaladas, a sala comum tem ainda o caráter de receber as pessoas, pela sua posição na fachada principal. Tornou-se num espaço amplo e aberto, bastante permeável, por duas razões; 1) pela não existência de portas, 2) pela ligações com os restantes espaços, quer pelas escadas, quer pelo corredor de circulação.



A porta de entrada não é centrada interiormente. Quer isto dizer que apesar de no desenho de fachada estar no centro, relativamente ao interior encontra-se no canto da sala comum, com grande ligação ao piso superior pelas escadas e com a zona de serviço (cozinha), pelo alinhamento da porta com o corredor. A cozinha manteve-se como no programa funcional original, remetida para a fachada posterior e com acesso ao quintal nas traseiras. A moradia, assim como muitas das que foram analisadas, possuí duas instalações sanitárias, cada uma em pisos diferente, valorizando a privatização da higiene pessoal dos moradores. Ambas estão orientadas para a fachada posterior. O quartos reúnem-se no piso 1, conferindo ao mesmo uma zona privada mais usufruída pelos habitantes. Os quartos, que não variam muito nas áreas, estão dependentes de uma zona de circulação comum a todos. Como referido, ainda neste piso localiza-se uma instalação sanitária partilhada e com banheira. O espaço de circulação e exterior sofreram alterações. O primeiro ganhou área tornandose mais importante e valorizado, enquanto que o espaço exterior foi diminuindo pelo aparecimento de espaços de arrumação e de estacionamento.


Plantas Originais

Planta A3.1) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Planta A3.2) desenhos cedidos pelo Arquivo Intermédio de

Lisboa

Lisboa

zona de serviços

zona comum

zona privada

circulação

exterior

Planta A3.1) Planta original do R/C; Planta A3.2) Planta original do piso 1; Planta 09.3a) Planta do R/C; Planta 09.4a) Planta do piso 1; Ano: 1998; Alteração: obras de alteração e aumento; 1) capoeira, 2) arrecadação, 3) cozinha, 4) instalação sanitária, 5) sala comum, 6) corredor, 7) quarto, 8) abrigo


Organização funcional de acordo com a última intervenção do Caso 09

1 2

3

7

4

7

5

6 8 7

Planta 09.3a

Planta 09.4a

3


Quadro de Anรกlise Comparada




/capítulo IV Considerações Finais


A partir da análise realizada dos casos de estudo é possível compreender que as moradias do antigo bairro económico sofreram diversas transformações, quer arquitetónicas, quer estéticas, apresentando alterações exteriores ao nível das fachadas e do espaço exterior adjacente à moradia, e interiores ao nível da planta. As respostas à questão exposta no início da dissertação, como é que um bairro económico do Estado Novo com pressupostos de ser um bairro homogénio destinado a classes mais necessitadas, transformou-se num bairro heterogéneo habitado por classes distintas?, torna-se clara: as dimensões exíguas das moradias que não correspondiam às exigências das família, a vontade de modificar a casa para que esta ficasse diferente das outras do bairro, ou para que pelo menos não ficasse "apagada" pela moradia geminada, ou por vezes a excêntricidade dos proprietários (que pintam as fachadas de preto ou verde vivo), são as razões principais para as sistemáticas transformações.. O aaaaaO ar saudável de Caselas, com as suas casinhas envolvidas numa calma que era/é difícil de encontrar no centro de Lisboa, atrairam uma nova faixa de moradores que procuravam/procuram um espaço dentro da cidade mas que ao mesmo tempo dela se distancie.

... e sobre as transformações ... São várias as transformações comuns a todos os casos estudados e que apontam para princípios de contágio presentes no bairro desde a década de 50. A construção do alpendre na fachada principal confirma o anteriormente referido, seu aparecimento data de fins da década de 50, prolongando-se até 60 e intensificando-se nos anos 70. Igualmente, o fator contágio verificasse na pintura das fachadas. Todos os casos, assim como as visitas ao bairro é possível afirmar que a maioria das habitações, alteraram a sua cor. O caso 01 é um dos exemplo que mudou várias vezes de cor, sendo atualmente diferente da moradia geminada. Os casos 02, 03, 04, 05, 06, 07 nos dias de hoje apresentam uma pintura idêntica à casa "colada", ao contrário dos casos 08 e 09. A mudança da cor original, nos casos


analisados começou nos anos 60 até aos 70, com exceção do caso 03 cuja mudança foi apenas na década de 80. Quase é excusado dizer que devido às áreas mínimas todos os casos registam a ampliação da moradia, não sendo possível precisar uma época cujos aumentos tenham sido mais evidentes na malha do bairro. Porém, a partir de 2000 foram realizadas demolições totais de algumas moradias, procedendo a uma construção nova, como no caso 02, 04 e 05. Os casos 06, 07 e 08 também marcam diferença, o último por ter procedido a dois projetos de ampliação (um na década de 70 e o outro na década de 80), e os outros dois por terem sido ampliados pelo processo de fusão das duas moradias (na década 00). Outra prática que foi usual entre todos os casos, principalmente nos anos 70, foi o aumento do muro de madeira que separava o lote da rua, deste modo a privacidade dos moradores era salvaguardada. É portanto o reforço da ideia de propriedade (privada) o que está em causa nesta ação. Muitos proprietários optaram pela substituição por um muro de alvenaria, embora houvesse os que preferiram acrescentar uma vedação em grades sobre o muro. Simultaneamente com esta alteração e também dado o aumento do número de pessoas com transportes privados e sem estacionamento, na década de 70 começaram a aparecer garagem e lugares de estacionamento no interior do lote. Os muros de vedação de todos os casos, excluindo o caso 04, abriram-se para receber esta nova estrutura. Por fim no que respeita às alterações exteriores, as fachadas mantiveram-se morfologicamente iguais, uma vez que, como relata o morador do caso 05, existe a obrigatoriedade de preservar a morfologia das fachadas originais, onde os vãos respeitem a sua posição e tamanho. Interiormente a moradia carenciava de espaços que servissem de apoio às tarefas domésticas, de arrumos e que pudessem "esconder" novos equipamentos. Foram principalmente estes os motivos que levaram a alguns proprietários a acrescentar um novo piso ou às vezes até dois, a cave e o sótão. A construção da cave deu-se primeiro, com início na década de 70 e continuando nas décadas seguintes, com execeção dos anos 90 em que não se registou nenhum caso. Este espaço foi maioritariamente destinado a arrumos e casa de


máquinas (áreas de serviço), somente no caso 01, 02 e no caso 05 essa área foi utilizada para outros fins, um novo quarto (uma zona privada direcionada para as visitas), uma adega e uma sala de jogos, respetivamente. Apenas cinco casos contam com um sótão, aproveitando a cobertura, a partir da década de 80, para arrumos ou mesmo para uma suite (caso 04). Originalmente todas as casas económicas possuiam apenas um compartimento reservado à higiene pessoal, e o mesmo era utilizado tanto pelos moradores como pelas visitas. Salvo na classe A2 todos os quartos de banho encontravam-se no piso 1, obrigando os visitantes a entrar na zona mais íntima da habitação, o piso dos quartos. Desde os anos 80 que a necessidade de privatizar este espaço ganhou forma com a edificação de uma segunda instalação sanitária, denominada de social e projetada no piso térreo. Todos os casos são regra, havendo ainda o caso 06/07 que após a fusão das moradias soma duas casas-de-banho sociais. Na generalidade todos os casos dedicaram um especial cuidado aos espaços sociais. Cinco dos nove analisados optaram pela configuração de sala comum, um espaço único que acolhe as funções de estar e de refeição, possibilitando a prática de diversas funções ao mesmo tempo. A maior parte dos casos da classe A mantiveram a sala comum original e registam-se ainda mais dois casos da classe B2 (caso 02 e 03) que procederam à união da sala de jantar com a sala de estar, agrupando assim as zonas sociais no mesmo espaço, aproximando-se da configuração de open space. Por outro lado os restantes quatro casos, em que apenas um é da classe A2 (caso 08), seguiram a "autonomização das áreas de estar e de jantar" (Pereira, 2012 : 83), preferindo a individualização das funções. O caso 06/07 depois da fusão da moradia apresenta dois espaços de refeição diferenciados pelas suas dimensões, um mais formal e outro mais diário. Já o caso 04 aumentou a área da sala de estar revelando uma maior valorização da zona comum de lazer. A zona de serviços da cozinha foi outro aspeto que requereu investimento pela parte dos proprietários dos casos 01, 04, 05, 06, dado que a pequena cozinha se tornou maior, o que se explica pela introdução de novos equipamentos e por ser também um segundo espaço de refeição. O caso 06 difere de todos por possuir a cozinha aberta para a sala comum, observando uma comunhão de funções aproximadas pelo seu caráter. Os anos 80 trouxeram a introdução de uma nova tipologia de quarto: a suite. Os casos 02, 03, 05 e 06 transformaram um dos quartos do piso 1 em suite, que se distinguem por ter uma


casa de banho privada. Este novo compartimento conferiu aos casais moradores uma maior privacidade. Na década seguinte outra nova introdução reforçou a evolução social em relação aos moradores originais, os casos 03, 05, 06 (após a fusão com o caso 07) e caso 08 ganharam uma zona dedicada ao trabalho (escritório), demonstrando novos hábitos de vida. Relativamente à organização funcional todos os casos, excetuando o caso 07, dedicaram o rés-do-chão a zonas de serviços e sociais e o piso 1 a zonas privadas (quartos e instalações sanitárias), dada pela necessidade de separação funcional por pisos e pela procura de maior privacidade e individualização das divisões. Os casos que pertenciam à classe A3 e que dispunham de um quarto no piso térreo, acabaram por eliminá-lo, contrariamente ao caso 07 que acrescentou um quarto neste piso, projetado para as traseiras da moradia a par da apropriação quase total do logradouro. Verifica-se ainda, excluindo os casos 03, 05 e 07, que a zona de serviços encontra-se na fachada das traseiras, mantendo a localização original. Nos casos referidos a cozinha situa-se na fachada principal, sendo a fachada das traseiras reservada a zonas sociais e privada ( no caso 07 com um quarto), associando o quintal aos espaços de lazer. Em geral todos os casos registam as instalações sanitárias, tanto sociais como privadas, na fachada das traseiras. Por sua vez as instalações sanitárias do piso 1 apresentam áreas maiores do que as originais.

Em suma, depreende-se uma nova organização funcional e espacial resultando numa bi e tripartição do piso térreo e a segregação das zonas íntimas para o piso superior. Na globalidade todos os casos avançaram em relação ao logradouro, quer por aumento da área bruta da moradia quer com construções de anexos, justificados pelas pequenas dimensões das casas.



/anexo



GUIÃO DE ENTREVISTA 1

Bairro de Casas Económicas de Caselas Rua: Carolina Ângelo n.º: 3 I)

Caracterização do morador

Sexo: Feminino Nacionalidade: Português Idade: 41 Grau de escolaridade: Licenciada Profissão: Responsável dos Recursos Humanos II) 1)

2)

O seu agregado familiar é composto por quantas pessoas? (marido/ esposa; número de filhos) Três O agregado doméstico que mora atualmente na residência é o mesmo que o inicial? Não - Se não, quem já não mora? Pode apontar as razões? O meu avó, que já faleceu.

III) 3)

Caracterização da família

Relações de vizinhança

Tem familiares que morem no bairro? Sim.


4)

E pessoas amigas? Sim - Se sim, essa relação já existia antes de morarem no bairro? Sempre morei e nascei cá.

5)

Onde é normal encontrarem-se no bairro? Nas ruas, eu não vou aos cafés, não tenho tempo.

6)

Se tem filhos eles costumam brincar com outras crianças do bairro?

7)

Como descreve as suas relações de vizinhança? São boas.

IV)

Descrição da moradia

8)

Vive no bairro desde que ano? Sempre vivi no bairro

9)

Antes desta moradia morava no bairro? Sim, vim para esta moradia tinha 12 anos. - Se sim, em que rua? Qual era o tipo de casa? Numa moradia mais abaixo, perto do Caselas Futebol Clube, mas era arrendada. - Se não, onde morava?

10)

Em que condição ocupa a moradia? (proprietário/ inquilino) A casa é propriedade dos meus pais. - Se é proprietário como obteve a casa? (compra, herança, outro)

11)

O que o levou a escolher esta casa? (localização, segurança, tipologia, outros) Os meus pais gostavam muito do bairro


12)

Quantas divisões tem a moradia? 11

12a) Quais são essas divisões? Como as denomina? - N.º de quartos 2, 1 na cave - Cozinha 1 - N.º de instalações sanitárias; há alguma IS em algum quarto 3 - N.º de salas; quais? 2 , sala com mesa de jantar, sala na cave - Despensa/ arrumos barracão no quintal - Casa de máquinas/ lavandaria um barracão no quintal - outros

V) 13)

Apropriações do espaço doméstico

A moradia foi alterada? Sim, bastante.

SE SIM: 13a) Que alterações foram realizadas? Ampliação de outra metade, em termos de ocupação de quintal cresceu quase o dobro - Obras de manutenção - Novas divisões no interior da casa Sim, - Aumento das divisões existentes; dentro da casa? Sim Para o exterior? Sim - Eliminação de alguma divisão A cozinha era um corredor no vão da escada - Aumento da área bruta da moradia Sim - Novos espaços no exterior da casa


13b) Porquê? As divisões eram mínimas, não cabia lá nem uma cama - Privacidade - Aumento do agregado familiar - Má distribuição da planta antiga - Individualização dos espaços (pais/filhos) - Outro, qual? 13c) As alterações foram feitas na mesma fase ou em fases diferentes? Assim que compramos fizemos as obras, normalmente ninguém fica com a casa original 13d) Em que ano foi a feita a última alteração? Qual foi? A última foi à 10 ou 15 anos. Tiramos uma parede, fizemos uma casa de banho na cave, fechamos o terraço por causa de infiltrações, tínhamos uma garagem e tiramos para aproveitar o quintal, antigamente os meus vizinhos tinham todos capoeiras com galinhas, todos os quintais eram aproveitados para hortas ou para ter animais.

SE NÃO: 13a) Se não fez alterações, porquê? 13b) Mas se pudesse faria alterações? - Se sim, quais?

VI) 14)

Modos de habitar

Como descreve a sua vida na casa? Quais são as atividades que realiza na casa, e onde? E a sua família? - Tarefas domésticas (limpeza da casa, refeições, outro)


- Trabalho - Receção de visitas - Outros, quais? Eu venho aqui dormir, praticamente é um dormitório. Os meus pais não param em casa, gostam de ir as compras. Não somos de ficar em casa, mesmo no inverno, e no verão gostamos de estar no quintal a ler. Os vizinhos as vezes também se juntam aqui, fazemos umas sardinhadas. Agora parar em casa o dia todo, ver televisão ou estar no computador, não dá. 15)

Recorre a ajuda externa para a realização das tarefas domésticas? (cozinhar, limpeza da casa, outro) Sim.

16)

Qual é a divisão da casa eleita para descansar? O quarto.

17)

Qual é a divisão onde são realizadas as refeições? (cozinha, sala de jantar, alpendre; pequeno-almoço, almoço, jantar) Na cozinha, agora tem muito espaço e é bastante agradável.

18)

Qual é a divisão de convívio da família? Pode dizer que esse é o espaço mais utilizado pela família? E quando recebe visitas? Porquê é eleito essa divisão? A sala, mas até acho que é mais a cozinha, por todos os motivos. Quando recebemos visitas para comer estamos mais na cozinha, mas se são visitas mais ao final da noite juntamo-nos na sala. Mas muitas vezes recebo as visitas na cozinha.

19)

Qual é o espaço da casa que considera que passa mais tempo? Que atividade realiza aí? Eu acho que é a cozinha

20)

E qual é o que passa menos tempo? (sala de estar, sala de jantar, sala de tv, quarto, escritório, cozinha, IS, varanda, despensa, área de serviço) Sabe explicar porquê? Na sala, não passo lá tempo suficiente.


21)

Que tipo de visitas recebe? (familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos) Familiares, amigos, vizinhos, tudo! Colegas de trabalho é o menos. Mas é mais vizinhos e os amigos.

22)

Há algum compartimento que as visitas não tenham acesso? Porquê? A cave normalmente não vão, a não ser que durmam cá.

23)

Como descreve as diferenças de um dia da semana na casa, e de um dia no fim-desemana? As diferenças são todas e mais algumas. Ao fim de semana usufruo mais um pouco, almoçamos no quintal, não cumpro horários

VII)

Satisfação residencial e do bairro

RELATIVAMENTE À MORADIA: 24)

Qual é a divisão da casa que mais gosta? E qual a que menos gosta? Porquê? Acho que é a sala a que mais gosto, deve ser a sensação de chegar a casa, o conforto, a pessoa sente-se em casa. Tem a televisão, associamos ao lazer. Acho que é mais a conotação que a sala tem. Por acaso acho que gosto de tudo, talvez a casa de banho, que dá muito trabalho a limpar.

25)

O mais lhe agrada na casa? O que menos lhe agrada? Agrada-me o sítio em si, a localização. O que menos me agrada é o desconforto destas casas, não é como um apartamento, tem muitas divisões e escadas. De inverno são casas muitos desconfortáveis. Antigamente nos verões muito quentes as pessoas nem conseguiam dormir, lembro-me as ruas cheias até as 2h da manhã. Mas tem uma coisa muito boa que são as caves fresquinhas. A parte térmica das casas era muito má.

26)

Qual é o seu grau de satisfação em relação à casa?


Eu não tenho termo de comparação, o meu grau de satisfação é Bom. Mas para quem já vai para uma certa idade as moradias já não são muito práticas. 27)

Considera que a moradia corresponde às suas necessidades? E às da sua família? Penso que sim.

28)

O que alteraria na sua moradia? Porquê? Se comprasse uma nova punha aquecimento central, acho mais confortável. Mais uma piscina, garagem que não tem mas já teve porque não vale a pena. É o razoável

RELATIVAMENTE AO BAIRRO: 29)

Sente-se satisfeito com o bairro? Porquê? Sim, muito.

30)

O que mais lhe agrada no bairro? O que menos lhe agrada? A localização, a segurança. É uma aldeia dentro de Lisboa. O ar puro de Monsanto, eu se for a Baixa fico doente. Acho que o que menos me agrada é o que menos agrada a toda a gente, é o ir dar uma volta às 20h e sentir que o bairro não tem vida, à noite as pessoas ficam em casa. Antigamente era um bairro com muita vida, as pessoas saiam à rua, hoje com os computadores e com a internet, a partir da hora de jantar não vemos ninguém na rua. As pessoas não saem. Também não há cafés ou um sítio de reunião. Há um mau ambiente na parte debaixo do bairro, ao pé do ginásio. Não há movimento como se vê em certas cidades da Europa. Este bairro era muito movimentado nesse especto. É a ausência de pessoas, à noite é uma tristeza. Quando vou fazer uma caminhada não vejo ninguém. Às vezes no pico do verão é diferente, as pessoas juntam-se lá em baixo ou perto do ginásio, nos bancos os mais velhotes. Mas a malta nova não está habituada a conviver.

31)

O que considera que falta no bairro?


Não sei se falta muita coisa, talvez mais comercio. Não temos farmácia, tínhamos uma papelaria mas já fechou. Falta qualquer coisa que ajudasse ao movimento. Umas lojas, mais multiusos 32)

33)

Está a pensar mudar de casa? Estou a pensar mudar de casa há mais de 20 anos - Se sim, para onde? Perto desta zona, não quero sair daqui Pode descrever a sua casa ideal (localização e tipo de casa)? Gostaria de morar num apartamento para ver a diferença. A localização seria com vista para o mar. Um apartamento T3, um apartamento de luxo com serviços de lavandaria e restauração.


GUIÃO DE ENTREVISTA 2

Bairro de Casas Económicas de Caselas Rua: José Calheiros n.º: 12 O entrevistado ao ver as plantas originais: “Reconheço [as plantas] vivi poucos anos quando a casa ainda era assim, porque depois optamos por deitar a casa abaixo e construir uma nova. A casa acaba por ser remodelada recentemente, três/quatro anos que começaram as obras e acabaram para aí há dois, mas antes era muito parecido com estas plantas. Em baixo era uma cozinha, uma sala, um hall com a porta de entrada, depois subíamos e tinha os dois quartos, sem cave e sem sótão. Encontrava-se bem conservada.”

I)

Caracterização do morador

Sexo: Masculino Nacionalidade: Português Idade: 32 Grau de escolaridade: Licenciado Profissão: Técnico de radiologia

II) 34)

Caracterização da família

O seu agregado familiar é composto por quantas pessoas? (marido/ esposa; número de filhos) Três


35)

O agregado doméstico que mora atualmente na residência é o mesmo que o inicial? Sim - Se não, quem já não mora? Pode apontar as razões?

III) 36)

37)

Relações de vizinhança

Tem familiares que morem no bairro? A residir não, mas a casa aqui ao lado é da mãe da minha mulher mas encontra-se alugada neste momento. E pessoas amigas? A melhor amiga da minha mulher mora aqui ao lado, na casa da minha sogra. - Se sim, essa relação já existia antes de morarem no bairro? Já, aliás a melhor amiga da minha mulher morava esta casa antes de ser remodelada.

38)

Onde é normal encontrarem-se no bairro? Nós por acaso aqui no bairro não vamos a nenhum café ou alguma coisa. Nós como estamos mesmo aqui ao lado vamos à casa, as pessoas normalmente não se chateiam umas às outras. Já houve umas vezes, não sei se este ano vai haver, na altura dos Santos Populares às vezes fazem ali no largo da Igreja qualquer coisa por causa dos Santos Populares e as pessoas do bairro vão e convivem. Mas no geral cada pessoa leva a sua vida, podemos conversar, uma conversa de circunstância na rua, mas não é que o pessoal tenha o hábito de se encontrar num café ou num bar, pelo menos aqui nesta rua.

39)

Se tem filhos eles costumam brincar com outras crianças do bairro? A Sofia [enteada] neste momento não tem muito hábito. Passa parte da semana cá e não tem muitas miúdas da idade dela aqui na rua neste momento.

40)

Como descreve as suas relações de vizinhança? Tenho pessoas que acho que são muito boas e outras que podia riscar do mapa. É conforme os casos. Há pessoas que não ligam, outros que são bastante amistosas, umas


que não nos dirigem a palavras e outras que são simplesmente detestáveis. Mas no geral não é nada que me afete, é uma coisa de passagem, ninguém se mete na vida uns dos outros. É calmo como pode ver, parece que nem estamos na cidade. Quando falo de Caselas ninguém sabe onde é, está completamente escondido em Lisboa.

IV) 41) 42)

Descrição da moradia

Vive no bairro desde que ano? 2009 Antes desta moradia morava no bairro? Não - Se sim, em que rua? Qual era o tipo de casa? - Se não, onde morava? Num apartamento na Reboleira

43)

Em que condição ocupa a moradia? (proprietário/ inquilino) A casa é da minha mulher, coproprietário. - Se é proprietário como obteve a casa? (compra, herança, outro) A casa foi oferecida pela família, quando ela ainda trabalhava.

44)

O que o levou a escolher esta casa? (localização, segurança, tipologia, outros) Primeiro porque a mãe já estava aqui ao lado, e num futuro para estarem próximas. Foi pela localização, e também pela qualidade de vida, que é diferente. Na altura a minha mulher queria morar num apartamento, mas depois de vir para aqui já não quer outra coisa. Aliás ela cresceu e foi criada em apartamentos, mas depois…

45)

Quantas divisões tem a moradia? 12

12a) Quais são essas divisões? Como as denomina? - N.º de quartos 2


- Cozinha 1 - N.º de instalações sanitárias; há alguma IS em algum quarto 2 + 1 - N.º de salas; quais? 2 , sala com mesa de jantar, sala de jogos (cave) - Despensa/ arrumos 1 (cozinha) - Casa de máquinas/ lavandaria 1 (casa de máquinas na cave) - outros escritório para futuro quarto, sótão (ainda não utilizado)

V) 46)

Apropriações do espaço doméstico

A moradia foi alterada? Sim, com uma ressalva, que eu por acaso acho mal mas eu também não sei bem como é que isso funciona…por um lado eles querem manter a fachada das casas e não permitem que se altere. Mas aqui a minha vizinha se olhar para a casa ela está diferente, e foram construídas na mesma altura, a dela tem duas janelas e a minha só tem uma, enfim …! Mas por dentro foi dada a total liberdade, tendo em atenção a área permeável, teve de ser guardada x área lá fora e de lado para área permeável.

SE SIM: 13a) Que alterações foram realizadas? Remodelação e ampliação - Obras de manutenção Não - Novas divisões no interior da casa Sim, não havia cave - Aumento das divisões existentes; dentro da casa? Sim Para o exterior? Sim - Eliminação de alguma divisão Não - Aumento da área bruta da moradia Sim, a casa original devia chegar a metade, faz uma grande diferença. Os quintais eram muito grandes - Novos espaços no exterior da casa Não, nem há espaço para isso. Tenho um lugar de estacionamento na rua. Tenho um portão de acesso do carro mas acabo por não usar porque é pouco prático.


13b) Porquê? A casa era pequena, e como eu e a minha mulher queremos um dia mais tarde ter filhos, e por causa de tudo de tudo, optamos por ampliar. E para ter também a casa à nossa maneira. A grande razão é ter espaço para as coisas. - Privacidade - Aumento do agregado familiar - Má distribuição da planta antiga - Individualização dos espaços (pais/filhos) - Outro, qual? 13c) As alterações foram feitas na mesma fase ou em fases diferentes? Tudo na mesma fase 13d) Em que ano foi a feita a última alteração? Qual foi? Início em Janeiro de 2010 e fim em 2012

SE NÃO: 13a) Se não fez alterações, porquê? 13b) Mas se pudesse faria alterações? - Se sim, quais?

VI) 47)

Modos de habitar

Como descreve a sua vida na casa? Quais são as atividades que realiza na casa, e onde? E a sua família? - Tarefas domésticas (limpeza da casa, refeições, outro) - Trabalho - Receção de visitas


- Outros, quais? Trabalho não, aqui é só mesmo para descanso e lazer. O nosso trabalho é realizado noutro lado. Agora cada vez mais fazemos refeições em casa 48)

Recorre a ajuda externa para a realização das tarefas domésticas? (cozinhar, limpeza da casa, outro) Sim , temos empregada duas vezes por semana

49)

Qual é a divisão da casa eleita para descansar? Quarto para dormir, mas para relaxar em família é a sala

50)

Qual é a divisão onde são realizadas as refeições? (cozinha, sala de jantar, alpendre; pequeno-almoço, almoço, jantar) Conforme, normalmente é na cozinha, mas depende dos dias, um dia mais formal ou com mais gente é a sala, ou então é a “belo-prazer” pegamos no tabuleiro e sentamo-nos aqui em frente da televisão

51)

Qual é a divisão de convívio da família? Pode dizer que esse é o espaço mais utilizado pela família? E quando recebe visitas? Porquê é eleito essa divisão? A sala, é a divisão maior da casa e a mais nobre e quando está bom tempo vamos ali para o quintal. E é a mesma divisão quando recebemos visitas. Apesar de também ter a cave, que foi transformada numa segunda sala de estar, com consolas e jogos para os miúdos, assim podem estar mais à vontade e não chateiam ninguém e podem fazer barulho, como é uma cave absorve mais o barulho, embora a principal ser a sala de estar.

52)

Qual é o espaço da casa que considera que passa mais tempo? Que atividade realiza aí? A sala e a cozinha sem dúvida.

53)

E qual é o que passa menos tempo? (sala de estar, sala de jantar, sala de tv, quarto, escritório, cozinha, IS, varanda, despensa, área de serviço) Sabe explicar porquê? Talvez a despensa, que só entramos quando é para ir buscar qualquer coisa.

54)

Que tipo de visitas recebe? (familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos)


Um pouco de cada, por acaso vizinhos a relação de trazermos a casa. Mas colegas, amigos, familiares sim. 55)

Há algum compartimento que as visitas não tenham acesso? Porquê? A casa das máquinas, acho que é escusado lá entrar.

56)

Como descreve as diferenças de um dia da semana na casa, e de um dia no fim-desemana? Em termos de vida ao fim-de-semana há mais lazer, é quando fazemos jantares, é mais social. Enquanto na semana é mais uma rotina, levantar, trabalhar, voltar, dormir, relaxar.

VII)

Satisfação residencial e do bairro

RELATIVAMENTE À MORADIA: 57)

Qual é a divisão da casa que mais gosta? E qual a que menos gosta? Porquê? A mais bem decorada é a sala, modéstia a parte acho que a casa está bem decorada, quando é a gosto é melhor. A que menos gosto são as despensas, também porque é suposto estar fora da vista.

58)

O mais lhe agrada na casa? O que menos lhe agrada? Além da envolvência, é a capacidade térmica, mantem-se sempre uma temperatura confortável, e também está bem isolada em termos de som, o que nos permite receber sempre pessoas. O que menos me agrada é difícil de encontrar, mas por acaso gostava de ter espaço para um outro quarto por exemplo, até se fosse para receber visitas. Por lei não tivemos hipóteses de realizar.

59)

Qual é o seu grau de satisfação em relação à casa? Muito bom, a roçar o excelente. Há sempre coisas que se podem melhorar.


60)

Considera que a moradia corresponde às suas necessidades? E às da sua família? Sim, claramente.

61)

O que alteraria na sua moradia? Porquê? Sim, não muita coisa mas alteraria. Por exemplo em termos de aproveitamento de espaço se calhar faria uma cave maior, para uma arrumação maior, porque a cave não é do tamanho do piso todo de cima. E se calhar o sótão teria outra disposição, neste momento está desaproveitado, é suposto funcionar como escritório e não está a funcionar como tal. Gostaria de expandir, se calhar pôr umas varandas lá em cima.

RELATIVAMENTE AO BAIRRO: 62)

Sente-se satisfeito com o bairro? Porquê? Sim. A envolvência, a calma, há muita calma em termos de ruído, não chateia as pessoas. Há muita natureza à volta, nós estamos enfiado em Monsanto, é um ambiente saudável. E está perto de tudo, estamos quase no meio de Lisboa, temos bons acessos. E estou a 2 minutos do trabalho e a minha mulher a 10.

63)

O que mais lhe agrada no bairro? O que menos lhe agrada? Este bairro está um bocado esquecido pela Câmara. O bairro funcionava numa vertente diferente do que está a funcionar agora, cada vez mais há famílias a comprar casas e a remodelar, e a fazer as coisas com qualidade, só que o ambiente à volta não tem acompanhado, as estradas estão degradadas, ainda há postes com fios de eletricidade e telefones, quando já deviam estar tudo debaixo do chão. Há esgotos de água com canalizações antigas, a água é de excelente qualidade mas só depois de filtrada, não pela água em si mas pelas tubagens. E não sei até que ponto não danifica a própria água da rede com esses metais, ou as roupas quando vão a lavar, ou máquinas e equipamentos.

64)

O que considera que falta no bairro?


Falta manutenção desse tipo de equipamento, acho que deve haver um retorno da parte pública. Até porque melhora e trará mais pessoas. Ainda há muitas casas aqui desocupadas e a precisar de melhorias, agora já não há tantas, há uma casa que está ruída porque não tem ninguém. Aos poucos vão aparecendo pessoas que vão remodelando apenas a face. 65)

Está a pensar mudar de casa? Não, só se fosse por uma questão completamente impossível, estou completamente contente. - Se sim, para onde?

66)

Pode descrever a sua casa ideal (localização e tipo de casa)? Basicamente seria como esta, mas com mais arrumação e garagem. Com acessos e zona envolvente melhorados. E com alguma independência energética, energia solar ou eólica. Mas têm que ser pensados numa casa de raiz.


Mapa 10) Plano de Urbanização de 1935 com a marcação de Caselas (anterior à construção do bairro)


Documento 01) Declaração de autorização para a construção de um muro de vedação e alpendre, na obra 564 referente à moradia n.º 3 da rua Carolina Angêlo


Imagem 45) Fonte: http://livrariaadoc.blogspot.pt/2011/01/licao-desalazar.html

Imagem 46) Fonte: http://frenesilivros.blogspot.pt/2013/05/oproblema-das-casas-economicas.html

Imagem 45) Cartaz da série de cartazes "A lição de Salazar" que marcavam os dez anos do governo de Salazar; Imagem 46) livro "O problema das casas económicas" de António Faria, 1948


Documento 02) Página número dois do Decreto-Lei 23052 de 1933 sobre a política de habitação das casas económicas


Imagem 47) Fonte: http://sitecf.wix.com/caselasfc#!historial

Imagem 48) Fonte: Arquivo FotogrĂĄfico de Lisboa

Imagem 47) Caselas Futebol Clube, no bairro de Caselas, se referĂŞncia da data; Imagem 48) rua da Igreja no bairro de Caselas, 1999


Casas de Raul Lino

Imagem 49) fotografia da autora

Imagem 51) fotografia pertencente ao trabalho de grupo

Imagem 50) fotografia da autora

Imagem 52) fotografia da autora

"Caselas, os dias de hoje num bairro económico do Estado Novo

Imagem 49) Perspetiva da rua da Igreja do bairro de Caselas; Imagem 50) Chafariz no espaço público do bairro de Caselas; Imagem 51) Espaço público e estrutura verde do bairro de Caselas; Imagem 52) Estrutura verde e mobiliário urbano do bairro de Caselas


Imagem 53) Fonte: http://casa.sapo.pt/659750da-0a90-4fc1-85d5-

Imagem 54) Fonte: http://casa.sapo.pt/281926dc-339b-4ca0-

aee992c4b59b.html?pid=MITULA

9193-66e5f8e9fb69.html?pid=MITULACS

Imagem 55) Fonte: http://casa.sapo.pt/7858ca20-fdd2-4a65-

Imagem 56) Fonte: http://casa.sapo.pt/7858ca20-fdd2-4a65b1b8-b4a19869dc64.html?pid=MITULACS

b1b8-b4a19869dc64.html?pid=MITULACS

Imagem 53,54, 55 e 56) Fotografias das apropriações nas traseiras das moradias do bairro de Caselas


Imagem 57) Fonte: Arquivo Intermédio de Lisboa

Imagem 58) Fonte: Arquivo Intermédio de Lisboa

Imagem 57) Desenhos da obra 38135 referente à moradia n.º 6 da rua da Igreja, 1994; Imagem 58) Desenhos da obra 39137 referente à moradia n.º 12 da rua do Miradouro, 1997


Imagem 59) Fonte: Arquivo Intermédio de Lisboa

Imagem 60) Fonte: Arquivo Intermédio de Lisboa

Imagem 59) Desenhos da obra 33802 referente à moradia n.º 41 da rua Padre Reis Lima, 1987; Imagem 60) Desenhos da obra 36929 referente à moradia n.º 22 da rua Casal da Raposa,1990


bibliografia vertente teórica

Baptista, Luís V. (1999), Cidade e Habitação Social, Oeiras, Celta Barradas, Maria e Dulce Dias (2001), Freguesia de São Francisco Xavier: Entre o Monte e o Rio, Lisboa, Edição da Junta de Freguesia de São Francisco Xavier Cardoso, Vasco (2009) Bairros de casas económicas e Grupos de moradias populares: o encontro de duas morfologias de padrão geométrico, “Cadernos do Curso de Doutoramento”, nº 1, Porto, Edições Afrontamento, pp. 33-65 Correia, Sofia (2007), Capital Social e Comunidade Cívica: o Círculo Virtuoso da Cidadania, Edições ISCSP, 1ª edição Gros, Marielle Christine (1982), O Alojamento Social Sob o Fascismo, Porto, Edições Afrontamento Gonçalves, Catarina (2012), Transformação na Configuração e Apropriação da Casa: Estudo de um Edifício na Transição para o Século XX do Bairro de Camões, em Lisboa, Tese de Mestrado em Arquitetura, Lisboa, IST Leal, João (2008), "Arquitectos, Engenheiros, Antropólogos: Estudos Sobre Arquitectura Popular no Século XX Português", Livro Final das Conferências Arquiteto Marques da Silva, Porto, Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva Pereira, Sandra Marques (2012), Casa e Mudança Social: Uma Leitura das Transformações da Sociedade Portuguesa a Partir da Casa, Casal de Cambra, Caleidoscópio Ribeiro, Irene (2004), "Raul Lino Revisitado: Memórias de uma Arquitectura "Arte Novo" portuguesa", Publicação Interactiva Online da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte (APHA), Boletim n.º 2



Anexos Gerais / fuc / enunciados / enunciado do laboratório

FICHA DE UNIDADE CURRICULAR Unidade curricular: Projeto Final de Arquitetura Código: Tipo: letivo; Trabalho de Projeto Nível: 2ºciclo Ano curricular: 2012/2013 Semestre: Anual N.º de créditos: 45 ECTS Horas de trabalho total: Horas de contacto: Língua (s) de ensino: Português Pré-requisitos: precedências requeridas: Projeto de Arquitetura II Área científica: Arquitetura Departamento: Departamento de Arquitetura e Urbanismo Docentes: Paulo Tormenta Pinto (coordenador), José Luís Saldanha, Ana Vaz Milheiro (Lab. Teoria e História da Arquitetura e do Urb.), Sandra Marques Pereira (Lab. Sociologia), Sara Eloy (Lab. Tecnologias da Arquitetura), Pedro Costa (Lab. Economia); Objetivos (conhecimentos a adquirir e competências a desenvolver): Projeto Final de Arquitetura é a Unidade Curricular que encerra a formação no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitetura, adquirindo, por isso, um papel de síntese na consolidação e aprofundamento das competências alcançadas pelos estudantes ao longo dos 4 anos anteriores. Preconiza-se, nesta UC, o incentivo a cada vez maior autonomia, por parte dos estudantes, na resolução dos exercícios propostos e nas decisões de ordem conceptual que venham a adotar. Outro objetivo é a clarificação de um entendimento crítico da expressão da arquitetura definida e enquadrada na transversalidade dos vários saberes. Programa: Como base programática utilizaremos uma temática de fundo, que suportará a orientação dos diversos trabalhos a desenvolver ao longo do ano letivo. Será o “Mundo Novo” (Título inspirado em Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, 1932) o tema central que desenvolveremos em 2012/2013. O programa da UC de Projeto Final em Arquitetura consiste na elaboração de um Trabalho de Projeto, requisito obrigatório para a obtenção do grau de mestre. O Trabalho de Projeto é composto por duas vertentes: uma de âmbito projetual e outra de âmbito teórico. A intenção genérica que será trabalhada junto dos alunos finalista do Mestrado Integrado sustenta-se sobre o paradoxo da impossibilidade de construir um otimismo panfletário no momento contemporâneo, considerandos e que ao inverso de Aldous Huxley. Este tema procura enquadrar o conflito entre os herdeiros da cultura moderna e industrial que confiam no modelo da inovação e da tecnologia, por oposição a outros que creem numa


organização “neorrealista” ambicionando uma maior ligação a um romantismo ligado à ideia da “mãe natureza”. Uma outra vertente que surge agregada a este tema, consiste numa possível revisão da ideia de manifesto. Através dos manifestos ligados às artes e à arquitetura, é possível entender um pressuposto idealista de futuro, associado a uma visão de organização social sempre assente numa ideia de rutura e de edificação de um novo paradigma. Desde Ornamento e Delito (1908) ao Manifesto de De Stijl (1918), da carta de Atenas (1933), ao manifesto de Doorn (1958), do manifesto Situacionista (1960), a Delirious New York (1978). Será a partir da compilação Programs and Manifestos on 20th-century architecture de Ulrich Conrads que se irão estruturar os debates relacionados com esta Unidade Curricular.

Vertente Projetual Serão desenvolvidos como arranque desta UC um conjunto de trabalhos de carácter abstrato, procurando-se fixar ferramentas compositivas úteis aos exercícios de fundo que serão desenvolvidos. Posteriormente serão delineados os objetivos concretos da vertente projetual que passam por uma intervenção abrangente que terá como área de estudo o eixo entre o Largo do Rato e a colina das Amoreiras (através da Rua das Amoreiras). Este eixo permite reconhecer diversos momentos urbanos e arquitetónicos que, ao longo do tempo ali se implantaram. Estes extratos temporais serão analisados, não só do ponto de vista morfológico, mas também a partir do pressuposto ético que enquadrou a sua implementação. A marcar um dos extremos deste percurso pode reconhecer-se a cidade do século XVIII, com uma forte referencia no Largo do Rato, quer seja através do seu carácter prévio de terreiro periférico de acesso ao centro da cidade, quer seja como lugar referenciado nas grandes construções infraestruturais, como a mãe de água do aqueduto da águas livres que pontua o ingresso no festo da sétima colina – manifestação fundamental da cidade iluminista. Na outra extremidade desta área de estudo pode observar-se a centralidade contemporânea promovida no entorno do complexo das Amoreiras, de Tomás Taveira, que a partir do final dos anos 80 se somou a intervenções de grande escala já existentes naquele local, tais como os imóveis habitacionais e de escritórios promovidos por arquitetos como Fernando Silva ou Conceição Silva. O eixo urbano em estudo permitirá ainda estabelecer relações com a uma parte da cidade dos anos 30 e 40 na encosta voltada para o Parque Eduardo VII, possibilitando também compreender o início da expansão da periferia urbana e do impacto das vias rodoviárias urbanas. Todas estas layers temporais serão debatidas em função do idealismo lhes está associado. Deste modo pretende estabelecer-se linhas interpretativas que permitam relacionar estes pensamentos prospetivos, com os modelos urbanos associados. A meio do primeiro semestre será também realizado, em período de tempo limitado de 2 a 3 semanas, um workshop na cidade guineense de Bafatá, tendo como base a elaboração de um memorial/centro de estudos, em torno da figura de Amílcar Cabral. Os respetivos enunciados de cada um dos exercícios serão fornecidos aos alunos em formulários distribuídos na sala de aula. Vertente Teórica A vertente teórica da UC de Projeto Final de Arquitetura será desenvolvida, de acordo com a regulamentação expressa no REACC do DAU. Ao início do ano letivo serão propostos 4 laboratórios de investigação, que colocarão linhas de pesquisa autónomas nas áreas científicas de História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo, da Economia, da Sociologia e das Tecnologias de Arquitetura, cada uma destas áreas terá um docente responsável. Os diversos programas de investigação serão lançados na primeira semana letiva, cabendo aos estudantes a escolha de uma das linhas de investigação. Considerando a temática de fundo que orienta o programa desta Unidade


Curricular, abrem-se possibilidades de investigação que serão especificadas e delineadas pelos docentes responsáveis de cada um dos laboratórios. Pretende-se deste modo que os trabalhos teóricos possam assumir-se como instrumentos de aprofundamento dos conteúdos programáticos traçados, em Projeto Final de Arquitetura. Bibliografia básica: HUXLEY, Aldous Admirável Mundo Novo, Livros do Brasil, Lisboa, 1981; (BNP) CONRADS, Ulrich Programs and Manifestos on 20th-century architecture TAFURI, Manfredo - Projecto e Utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo, Presença, Lisboa, 1985; (ISTE-IUL) TAFURI, Manfredo – The Sphere and the Labyrinth - Avant-Gardes and Architecture from Piranesi to the 1970s, MIT Press, Massachusetts, 1987; (ISCTE-IUL) FUKUYAMA, Francis O Fim da História e o Último Homem. Gradiva, Lisboa, 1992; (ISCTE-IUL) CHOAY, Françoise O Urbanismo, Utopias e Realidades - Uma Antologia, editora Perspectiva, São Paulo, 2002; (ISCTE-IUL) THOREAU, Henry David Walden ou a vida nos bosques, 2ª ed. Lisboa: Antígona, 1999 (BNP) SKINNER, B. F. Science and Human Behavior, The Free Press, Nova Iorque, 1965 (ISCTE-IUL) MORE, Thomas A Utopia, Guimarães & Ca, 8ª edição, Lisboa, 1992 (ISCTE-IUL) Bibliografia complementar: AA.VV. Revista AV - Pragmatismo e Paisagem, nº 91 de Setembro/ Outubro de 2001; DELEUZE, Gilles - El Pliegue, Ediciones Paidos, Barcelona, 1989 MONTANER, Josep Maria – Después del Movimiento Moderno – arquitectura de la segunda mitad del siglo XX, 2ª ed., Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1995; MURPHY, John – O Pragmatismo – de Pierce a Davidson, Edições Asa, Porto 1993; SOLÀ-MORALES, Ignasi - Diferencias. Topografía De La Arquitectura Contemporánea, Editorial Gustavo Gili, S.A., Barcelona, 1995; SOLÀ-MORALES, Ignasi – Territórios, Editorial Gustavo Gili, S.A., Barcelona, 2006; Processo de ensino-aprendizagem: O modo como serão estruturadas as aulas e os exercícios seguirá o espírito do Processo de Bolonha, ou seja será incentivada a aquisição de competências, fundamentando a progressiva autonomia dos estudantes. Será contudo fundamental, alicerçar-se um amplo debate sobre os trabalhos em curso, o qual será realizado nas horas lectivas da UC. Estão também previstos um conjunto de seminários temáticos que contribuirão para ampliar criticamente os conteúdos da UC. Processo de avaliação: Será atribuída uma classificação final (de 0 a 20 valores) no final do 2º semestre atribuída em júri. No final do 1º semestre será dada uma classificação intermédia informativa do estado de progressão de cada aluno. As classificações a atribuir terão em linha de conta a qualidade dos trabalhos elaborados. Será dada uma atenção à assiduidade que entrará como parâmetro no processo de avaliação. Todo o processo de avaliação final da UC de Projecto Final de Arquitectura esta explicitado do REACC


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Exercício de Arranque e Aquecimento Título: marca, texto e espaço: O exercício de arranque tem como objetivo enquadrar os estudantes nos pressupostos gerais da Unidade Curricular, funcionando como revisão sumária da formação adquirida nos 4 anos anteriores, para tal será desenvolvido um projeto de carácter abstrato.

Materiais necessários - Objeto de uso comum; - Papel cavalinho A2; - Tinta da China; - Materiais para maqueta a definir em cada caso específico;

Metodologia e tarefas a desenvolver: Os alunos constituem-se em grupos de 5 elementos, no seio de cada grupo deverão ser selecionados objeto(s) de uso comum - algo tão inesperado e acessível que possa ser adquirido na numa grande superfície, achado na rua ou comprado na loja do chinês.... O objeto selecionado deverá ser embebido (total ou parcialmente) em tinta da china, funcionando como carimbo que irá produzir marca(s) no papel cavalinho. O processo deverá ser repetido por diversas vezes, procurando selecionar-se uma marca gráfica que possa ser considerada mais estimulante para o desenvolvimento do exercício. Seguidamente, no contexto do grupo, deverá realizar-se a apropriação de um excerto literário que possa ser ilustrado com a marca anteriormente selecionada (o excerto literário não deverá ser maior que uma folha A4). A preocupação fundamental desta seleção deverá residir numa tentativa de conversão da mancha representada no papel cavalinho, em unidade espacial. Posteriormente, considerando-se um volume de 30 cm3 como limite, será realizada 1 maqueta que fixe a espacialidade, previamente invocada pela marca gráfica e ilustrada pelo texto. Para a elaboração da maqueta deverá definir-se a escala esta irá ser representada. A materialização da maqueta deverá contemplar um dos seguintes sistemas compositivos baseados em: - Planos; - Subtrações; - Adições


A entregar: Marca gráfica em A2, que deverá ser afixada na parede da sala de aula; Caderno com formato 21x21 cm onde se incluí: - impressão digitalizada da marca selecionada - O texto ilustrativo; - Imagens fotográficas da maqueta; - Plantas, cortes e alçados, a escala conveniente da maqueta; - Digitalização de uma sequência de pelo menos 5 esquissos relativos às espacialidades representadas pela maqueta. Estes esquissos deverão ser elaborados por cada elemento do grupo (devidamente identificado); - Deverá ainda ser reservada uma área do caderno para a demonstração do processo de realização de todo o processo em forma de story board, para tal deverá utilizar-se o recurso fotográfico;

Apresentação: Digital tipo Power-point, com exibição da maqueta e marca na sala de aula.

Calendário do Exercício Início – dia 18 de Setembro Entrega e presentação – dia 4 de Outubro


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2ª Workshop – Cidade Guineense de Bafatá 1. Argumento Considerando a proximidade da comemoração dos 90 anos do nascimento de Amílcar Cabral (em 12 de Setembro de 1924) na cidade de Bafatá, pretende-se levar a cabo a edificação de uma estrutura que possa albergar um centro de estudos tendo como base o pensamento e a obra literária do fundador do Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Este centro de estudos deve ser visto na esfera dos estudos pós-coloniais, devendo para tal ser pensado com o propósito do estabelecimento de uma leitura de amplo espectro, não só, em torno das décadas de 50 a 70 em que a ação política dos movimentos independentistas, no mundo colonial português, foi mais ativa, como deve ser capaz de incluir uma leitura sobre o contexto social e político em que germinaram tais movimentos, estendendo-se ainda ao estudo do resultado contemporâneo da afirmação da independência de estados como a Guiné-Bissau. O edifício a construir em Bafatá deve ser projetado com base numa estrutura efémera e de baixo custo, admitindose uma abordagem que integre elementos amovíveis de fácil montagem e desmontagem de modo que se possa considerar a edificação de um equipamento similar em outros locais do país. Pelas suas características programáticas este equipamento deverá abrir-se à cidade, podendo acolher atividades paralelas de interesse comunitário. Este projeto deverá ainda privilegiar toda uma reflexão sobre o ajustamento construtivo do edifício ao clima tropical.

2. Breve descrição da Cidade de Bafatá A cidade de Bafatá situa-se no coração do território da Guiné-Bissau e é banhada pelo Rio Geba. O centro da cidade é fortemente marcado pela presença colonial portuguesa, visível tanto no traçado urbano, como também nos diversos estratos arquitetónicos que a qualificam. É em torno de um boulevard que articula, no sentido Nordeste/Sudoeste, a principal entrada na cidade com o Geba, que o traçado de quarteirões urbanos se organiza. Este grande eixo, estruturante, conecta também os edifícios públicos mais marcantes da cidade. Junto á entrada do núcleo urbano situa-se o hospital, desenhado em 1946 por João Simões, caracterizado por uma composição simétrica de volumetria térrea dando expressão à cobertura, alta, de telha cerâmica, recordando as construções vernaculares do Sul de Portugal. Um pouco mais abaixo situa-se a área mais administrativa da cidade, neste núcleo inclui-se a casa do governador de características fino-oitocentistas e a escola integrando uma construção de aspeto eclético. A completar este


sector urbano, existem ainda edifícios desenhados sob a matriz da arquitetura pública do Estado Novo, tais como a igreja com desenho de Eurico Pinto Lopes de 1950 e o posto de correios, realizado em 1943, por Francisco de Matos. Ao fundo do eixo fundamental da cidade, já na proximidade do Rio Geba, localiza-se um largo, onde foi implantado o busto de Amílcar Cabral. Para este largo convergem edifícios como o mercado municipal delineado sob um tematismo moçárabe, bem como um núcleo de piscinas, possivelmente projetado na década de 60 e que atualmente se encontra em elevado estado de degradação. No contexto dos quarteirões podem observar-se construções de um, ou dois pisos, onde predomina a utilização de grilhagens cerâmicas e áreas alpendradas para sombreamento e ventilação nas construções. É neste núcleo habitacional que se situa a casa onde terá nascido Amílcar Cabral. A cidade de Bafatá encontra-se, de modo geral, num estado depressivo com pouca atividade, situação que contrasta fortemente com a sua periferia, de grande dimensão, agregadora de uma forte atividade comercial.

3. Programa O programa deve incluir: Área bruta Arquivo e Centro de Documentação 150,00 m2 Centro de Estudos e Pesquisas 150,00 m2 Centro de Formação 75,00 m2 Auditório 150,00 m2 Loja 50,00 m2 Total de área bruta 575,00 m2 Nota: Instalações sanitárias e/ou zonas de serviço estão incluídas nos grupos de áreas parciais.

4. Metodologia: - O trabalho será desenvolvido em grupos de 5 alunos; - A implantação do Centro Interpretativo ficará a cargo de cada grupo de alunos; - Como ponto de partida para a definição espacial, cada um dos grupos deverá refletir sobre o exercício de aquecimento, desenvolvido no arranque do ano letivo;


5. Elementos a entregar: - Apresentação em formato PowerPoint para 15 minutos; - Maqueta à escala 1:200 (ou outra a acordar com os docentes) - Caderno 21x21cm, incluindo síntese gráfica e memoria descritiva; - 2 Painéis de formato A1, incluindo simulações do edifício e plantas cortes e alçados;

6. Datas de entrega: - Apresentação dos projetos no dia 15 de Novembro, com base no PowerPoint e maqueta; - Entrega de painéis e caderno 21x21 no dia 23 de Novembro em horário a definir.


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Tema II - Trabalho de Grupo, 1º Semestre. Numa das extremidades da área de intervenção, a Colina das Amoreiras, assumiu, maioritariamente a partir da década de 1980, um protagonismo urbano muito assinalável perspetivando-se para aquele local a implementação de um centro de negócios, à semelhança de outros modelos internacionais que potenciavam, na época, novas centralidades urbanas a partir do conceito de CBD (Central Business District). Esta convicção urbanística permitiu desenvolver naquele local um conjunto de novas inserções rodoviárias na cidade de Lisboa, atraindo outros investimentos que ampliaram os programas de comércio e serviços, à habitação e à hotelaria. Com o final do milénio os investimentos na área oriental da cidade, após a Expo 98, vieram retirar protagonismo urbano deste tecido urbano, sobretudo no que se refere à especialização com que se pretendia afirmar. Passadas cerca de 3 décadas desde a construção do complexo das Amoreiras, é hoje possível lançar sobre aquela envolvente um olhar mais distanciado, dada a estabilização urbanística que atualmente se verifica. O objetivo do Tema II passa pela definição de um conceito síntese caracterizador de leitura e interpretação da área de estudo. Com este exercício pretende também criar-se a base para o reconhecimento das potencialidades da colina das Amoreiras, que servirão de base para a elaboração de um projeto a desenvolver no 2º semestre ao abrigo do Tema III

1ª Fase - Reconhecimento do Território Numa etapa preliminar de aprofundamento da estratégia de intervenção num determinado território torna-se imprescindível o seu reconhecimento. Para esse efeito deverá possuir-se a informação necessária para avaliar as potencialidades dos sítios e os conflitos aí existentes, só assim será possível credibilizar a formulação das propostas. O trabalho de grupo deverá proceder à recolha de informação, nomeadamente em áreas como: Caracterização biofísica da área de intervenção:  topografia, estrutura de espaços verdes, orografia e sistemas de drenagem natural; geologia - hidrologia; orientação e exposição solar.  Evolução histórica da área de estudo:- caracterização do processo de formação do tecido edificado; recolha de plantas de várias épocas; monografias e descrições.  Caracterização da mobilidade, potencialidades e estrangulamentos: caracterização de acessos, da rede viária; Percursos pedonais, etc.  Caracterização da estrutura edificada, da distribuição de funções e dos espaços públicos: - Tipologias de espaços públicos; Estruturas urbanas existentes; Edificado com valor histórico e arquitetónico; Edificado


recente consolidado; Estado de conservação; Espaços vazios; Espaços públicos; Equipamentos públicos e privado, etc.

Planos Urbanísticos condicionantes, projetos mais relevantes para a área de intervenção:- P.D.M.; P.P.; Condicionantes Urbanísticas; Loteamentos; projetos mais relevantes para a área de intervenção.

2 Fase - Programa/Conceito/Proposta Na posse dos dados anteriormente recolhidos proceder-se-á à designação de um conceito síntese caracterizador de leitura e interpretação da área de estudo.

Elementos a entregar:      

Explicitação de um argumento de transformação. Memorando, máximo 6 páginas A4. Planta de enquadramento à escala 1/5000 e ou 1/2000 Planta da estrutura urbana à escala 1/1000 Cortes significativos à escala 1/1000 Esquemas gráficos e ou esquiços que explicitem a proposta e a sua integração na área envolvente. Simulações gráficas da proposta (esquissos, 3ds, fotomontagens)

Entrega intermédia: 25 de Outubro de 2012 (1ºfase) Formato: caderno A3 e CD com o mesmo conteúdo. Entrega Final: 28 de Janeiro de 2012 Formato: Caderno A3 (incluindo o memorando) e CD com Power Point. Discussão e Apresentação do Trabalho: Semana de 29 de Janeiro a 1 de Fevereiro de 2011, em Power Point.


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TEMA I - Trabalho Individual, 1º Semestre.

Tendo por base a área de intervenção estipulada na ficha de unidade curricular, localizada em Lisboa, no eixo entre o Largo do Rato e a colina das Amoreiras, propõe-se a elaboração de um exercício que permita o estabelecimento da relação entre a macro escala (análise estratégica do território) e a micro escala (intervenção arquitetónica detalhada). Pretende-se que este exercício possa desencadear um debate centrado em leituras prospetivas em relação à sociedade. Como tal, em paralelo com a elaboração dos projetos de arquitetura deverá realizar-se, no contexto de cada grupo de trabalho, a definição de um perfil social que se preveja possível num futuro a médio prazo (2 décadas). Para tal algumas perguntas poderão colocadas, como por exemplo: Como a organização económica e politica poderá influenciar os modos de vida e a relação do individuo com a sua comunidade; Em que medida a tecnologia poderá influenciar a organização social; De que modo os recursos naturais poderão influenciar as ações sobre o território e localização e organização do espaço doméstico; O objetivo final do exercício consiste na elaboração de projetos para quatro habitações. Estas habitações serão encaradas como tipologia associadas ao universo social definido pelo debate atrás mencionado. Caberá a cada estudante a decisão de onde implantar as habitações e de que modo estas se organizam, não só em função do espaço doméstico, mas também na sua relação como a envolvente urbana que suporta o exercício. Neste sentido, deverá o estudante ser capaz de estabelecer um discurso que lhe permita relacionar a proposta tipológica e habitacional com o trecho urbano que caracteriza a sua envolvente próxima.

Área de Intervenção: Percurso urbano entre o Largo do Rato e a Colina das Amoreiras

Metodologia: 1. Num primeiro momento, serão constituídos grupos de aproximadamente 5 estudantes; 2. A área de intervenção será parcelada, pela docência da Unidade Curricular, de acordo com planta anexa, tendo como critério os diversos extratos temporais referidos na FUC; 3. Cada um dos elementos, de cada grupo, ficará individualmente afeto a uma das parcelas, anteriormente designadas.


4. Os projectos das habitações serão desenvolvidos individualmente dando seguimento ao âmbito do exercício; 5. Ao mesmo tempo que são desenvolvidas as propostas individuais, deverá ser mantido um debate, no seio de cada um dos grupos, que permita desenvolver uma estratégia de harmonização das várias intervenções.

Entregas e Avaliação: 1ª Entrega intermédia: 25 de Outubro 2012 (caderno em formato A3) + maqueta esc. 1:5000/1:2000 da área de intervenção e sua relação com as habitações; 2ª Entrega intermédia: 13 de Dezembro 2012 (caderno em formato A3) Entrega Final: 28 de Janeiro de 2013 (desenhos e maquetas de escala a determinar pelo aluno, sugerindo-se a 1/1000 e 1/200 ou 1/50; simulações gráficas da proposta; e caderno síntese em formato 21 x 21 cm) Apresentação e Avaliação: de 29 Janeiro a 1 de Fevereiro de 2013

Modelo de Apresentação As apresentações finais das propostas individuais de cada um dos alunos serão realizadas por Grupo, sendo que, deverá apresentar-se a definição do perfil social pedido, associando-se uma a estratégia geral para a área de intervenção.


ISCTE - IUL Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Mestrado Integrado em Arquitetura Projeto Final 2012-13

TEMA III – Trabalho de Grupo, 2º Semestre

Tendo como base os resultados dos exercícios dos Tema I e II, é lançado um novo exercício que tem como objetivo reforçar a estratégia urbana na área de intervenção em estudo, definida pelo eixo entre o Largo do Rato e a colina das Amoreiras. O exercício do Tema III incide na vertente do espaço público, ou seja o espaço de mediação entre as diversas propostas individuais realizadas no 1º semestre. Neste exercício pressupõe-se uma acção concertada, ao nível dos grupos de trabalhos, no sentido da clarificação das intenções de transformação preconizadas para o local. Através deste exercício deverão também intensificar-se os desejos (narrativos), definidos pelos grupos de trabalho, relativos ao perfil social dominante que habitará a colina das Amoreiras num futuro a médio prazo, de duas décadas. Durante o espaço temporal em que decorrerá o Tema III deverão ser realizadas revisões de projeto, tendo em vista a melhoria das propostas individuais realizadas ao abrigo do Tema I, procurando-se o melhor ajustamento dos projetos às estratégias deste novo exercício. Os objetivos do Tema III passam pelos seguintes pontos: 1. Definição de um plano de estrutura da área de intervenção. Neste ponto deverão ser repensados, num primeiro momento, os argumentos que estão na base das escolhas dos locais de intervenção individuais, refletindo sobre os pontos em comum que podem caracterizar as várias propostas. Num segundo momento deverá ponderar-se sobre uma possível centralidade [ou possíveis centralidades] que possam emergir no tecido urbano. Num terceiro momento deve ser definida uma estratégia de mobilidade e de utilização do espaço público; 2. Definição de um projeto detalhado de caracterização do espaço público. Neste ponto serão realizadas propostas concretas de projeto, com detalhes, definindo materiais, mobiliário urbano, espécies vegetais e todos os parâmetros julgados convenientes para o projeto de espaço público. 3. Enquadramento dos projetos individuais, realizados no Tema I, na estratégia projetual para o espaço público. Prevê-se que a estratégia de projeto, concertada em grupo, seja validada em projetos de pormenor na envolvente dos projetos individuais.


Área de Intervenção: Percurso urbano entre o Largo do Rato e a Colina das Amoreiras

Metodologia: 1. Serão mantidos os grupos de trabalhos definidos no 1º semestre com aproximadamente 5 estudantes; 2. O exercício abrange toda a área de intervenção, devendo o grupo definir os momentos mais particulares onde as ações de projeto sobre o espaço público possam ser mais relevantes, agindo nesses locais com maior detalhe. 3. Individualmente, deverá ser detalhada a envolvente dos projetos realizados no Tema I

Entregas e Avaliação: 1ª Entrega intermédia: 21 de Março, (PowerPoint e maquetas esc. 1:1000/1:200 da área de intervenção e sua relação com as habitações); Entrega Final: 23 de Abril de 2013 (desenhos e maquetas de escala a determinar pelo grupo, sugerindo-se a 1/1000 e 1/200 ou 1/50; caracterizações dos ambientes propostos; e caderno síntese em formato 21 x 21 cm) Apresentação e Avaliação: 23 de Abril 2013

Modelo de Apresentação As apresentações finais das propostas serão realizadas em Grupo, sendo montado um júri para comentar os projetos.


ISCTE - IUL Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Mestrado Integrado em Arquitetura Projeto Final 2012-13 TEMA IV – Trabalho Individual, 2º Semestre.

Como conclusão do ano letivo será realizado um trabalho individual que visa o estabelecimento de uma síntese em relação ao percurso de cada um dos estudantes. Este trabalho, pensado para ser desenvolvido no espaço do último mês de aulas, pressupõe a realização de um tema livre a enquadrar pelo próprio estudante. Condiciona-se apenas o desenvolvimento deste último Tema ao estabelecimento de uma relação em torno dos exercícios elaborados no curso do ano letivo. Como linhas orientadoras são lançadas algumas pistas: 1. Aplicação direta de um ensaio extraído a partir do trabalho desenvolvido nos laboratórios; 2. Elaboração de projetos de extensão em relação ao programa lançados ao longo escolar; 3. Exercício específico de representação ou performativo em torno do projeto das habitações.

Os objetivos do Tema IV passam pelos seguintes pontos: 1. Desenvolvimento de competências ao nível da problematização em torno da arquitetura produzida por cada estudante. Este exercício será uma oportunidade para construir um enredo discursivo em torno do trabalho de projeto, enriquecendo os pressupostos de base com que cada proposta foi realizada 2. Consolidação da autonomia dos estudantes em relação aos temas desenvolvidos durante o ano letivo. Ao solicitar-se que cada estudante construa o seu próprio enunciado, procura estimular-se a autonomia em relação ao acompanhamento e orientação dos docentes da UC de PFA. 3. Melhoria e credibilização das propostas individuais iniciadas no 1º semestre. Este exercício deve ser visto como oportunidade para retomar e solidificar as decisões de projeto inicialmente lançadas no âmbito dos exercícios anteriores, nomeadamente do exercício do Tema I.

Área de Intervenção: Área de intervenção atribuída em contexto de grupo a cada um dos estudantes;


Metodologia: 1. O trabalho deverá ser realizado individualmente; 2. Cada estudante deverá socorrer-se dos meios que julgar conveniente para o desenvolvimento deste exercício; 3. O trabalho deverá evidenciar quer a autonomia, quer a capacidade de problematização de cada estudante.

Entregas e Avaliação: O resultado deste exercício deverá ser integrado no contexto da entrega final de PFA

Modelo de Apresentação A decisão do suporte em que o exercício é desenvolvido fica a cargo de cada estudante, devendo contudo ser realizado relatório a integrar o caderno de formato 21x21 cm


ISCTE - IUL Departamento de Arquitetura e Urbanismo – Mestrado Integrado em Arquitetura Projeto Final 2012-13

Laboratório de Sociologia Docente: Sandra Marques Pereira Ano Letivo: 2012/2013

Enunciado: No primeiro semestre será realizado um trabalho de investigação de grupo centrado no tema - Tradição e Modernidade: (co) habitações em territórios metropolitanos - a desenvolver num dos territórios seguintes: Mouraria, Carnide Velho ou Bairro de Caselas. Este trabalho segue o formato já experimentado noutros anos e tem como objetivo o ensaio partilhado de diversas competências de investigação: definição da pergunta de partida, enquadramento, metodologias de recolha e análise de informação, entre outras. Trata-se de um momento de experimentação e preparação dos alunos para o trabalho individual a realizar no segundo semestre.


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