Revista saudebahia ed 04 digital

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Um raio-X do “Mais Médicos” Pouco mais de seis meses depois de implantado o Programa entidades médicas apontam fragilidade e não identificam melhora na qualidade do serviço médico.

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e acordo com o Ministério da Saúde, o Programa “Mais Médicos” terminou o ano de 2013 com 6.658 profissionais atendendo em 2.177 municípios e 28 distritos indígenas. O estado que recebeu o maior número de médicos do Programa foi a Bahia, com 787 profissionais. Contudo, a classe médica alega que o Governo Federal, responsável pelo programa, não emitiu até o momento, dados relativos à qualidade dos atendimentos prestados à população, “o mesmo acontece com a Secretaria de Saúde do Estado, que também não forneceu dados oficiais”, relata o presidente da Associação Bahiana de Medicina (AMB), Antônio Carlos Vieira Lopes. Laje, a 226 km de Salvador, foi um dos municípios do estado beneficiados pelo Programa. Quatro médicos estrangeiros foram direcionados para atender nos postos da cidade. A professora Eliane Souza, usuária do serviço, conta que a atenção médica no município melhorou depois da chegada dos novos profissionais. “Antes do Programa, o governo anterior demitiu uma parte significativa de médicos, deixando a população carente de atendimento. A atual gestão assumiu a prefeitura e já foi incluído o Plano Mais Médicos. Hoje são quatro médicos a mais para atender”, afirma. Ainda segundo Eliane, os estrangeiros atendem os casos de emergência, já consultas normais são feitas por médicos brasileiros. Idioma A dificuldade do idioma, questionada por muitos especialistas, não foi

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Saúde Bahia Abril 2014

Município de Laje. Beneficiado pelo programa Mais Médicos

Foto: Cláudio Lima

um problema no município apurado pela Revista Saúde Bahia. Eliane conta que depois de passar por uma indisposição intestinal, procurou o Posto de Saúde da Família. Foi atendida em tempo satisfatório, por uma médica cubana. “A barreira da língua não foi um empecilho, pois a de origem de Cuba é o espanhol. Apesar do sotaque é possível total compreensão”, conta. A professora descreve ainda a médica como uma profissional prestativa, atenciosa e educada. “Eu avalio que a chegada desses médicos trouxe uma mudança positiva para a saúde local”, declara Eliane. Mas para especialistas a situação não é tão positiva assim. Desde o lançamento, no segundo semestre de 2013,

o Programa vem sendo alvo de críticas das principais entidades médicas, que apontam fragilidade no sistema. Para José Abelardo Garcia de Meneses, presidente do Conselho Regional de Medicina (CREMEB), apesar de uma estrutura jurídica forte e uma boa estratégia de marketing, o programa peca pela improvisação. “Desde o seu anúncio, como tentativa de importar médicos “especializados em atenção básica”, foram executadas modificações na legislação para se adaptar às conveniências. Logo na primeira admoestação do Ministério Publico do Trabalho, o Programa foi transformado em estratégia docente -assistencial. Pergunta-se: onde estão os médicos supervisores e os tutores? Supervisão pressupõe assistência presencial junto ao orientando. Se não há


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