A saga halo livro 1 halo

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Alexandra Adoretto - Halo sequer em que Gabriel não estivesse à minha espera com o café já sendo preparado. Eu lhe dissera várias vezes que podia prepará-lo eu mesma, mas, como um irmão coruja, ele insistia que gostava de fazer isso. Hoje a mesa estava vazia, e a cozinha, em silêncio. Eu disse a mim mesma que aquilo nada mais era senão um pequeno desvio da rotina. Fui à geladeira para pegar um copo de suco de laranja, mas minhas mãos tremiam tanto que derramei metade na bancada. Peguei uma toalha de papel e limpei a bagunça, lutando contra o medo que apertava minha garganta. Senti a presença de Ivy e Gabriel antes de ouvi-los entrar. Os dois estavam juntos parados no portal, unidos numa con¬denação silenciosa, com os rostos imóveis e sem expressão. Eu não precisava que eles dissessem as palavras em voz alta. Eles sabiam. Teria sido minha agitação que me traíra? Eu já devia ter esperado aquela reação, mas ainda assim ela doía como um tapa no rosto. Por vários minutos, não consegui dizer uma palavra. Queria correr e esconder o rosto na camisa de Gabriel, implorar por perdão e sentir seus braços em volta de mim; mas sabia que não encontraria consolo ali. Embora os anjos fossem vistos como infinitamente amorosos e misericordiosos, eu sabia que havia outro lado, que podia ser severo e implacável. O perdão era reservado aos humanos. Eles sempre eram isentos das responsabilidades. Tínhamos propensão a infantilizá-los, a concluir que os "pobres coitados" não sabiam o que faziam. Mas de mim se esperava mais. Eu não era humana, era um deles, e não havia desculpa. Não se ouvia nenhum ruído, a não ser os pingos da torneira na pia e minha respiração descompassada. Não conseguia aguentar o silêncio. Teria sido mais fácil se eles tivessem esbravejado diretamente, me censurado ou me expulsado de casa; qualquer coisa, menos aquele silêncio ensurdecedor. — Sei como isso deve parecer para vocês, mas tive que contar a ele! — desabafei. A expressão de Ivy se congelou numa máscara de horror, mas a de Gabriel estava impassível. — Sinto muito — continuei. — Não posso evitar sentir o que sinto por ele. Ele significa muito para mim. Ninguém disse nada. — Por favor, digam alguma coisa — implorei. — O que vai acontecer agora? Vamos ser chamados de volta ao Reino? Nunca mais vou vê-lo. Desatei a soluçar sem derramar lágrimas e me agarrei à bancada para me apoiar. Nenhum dos meus irmãos fez menção de me consolar. Eu não os culpava. Foi Gabriel quem quebrou o silêncio. Voltou aqueles olhos cor de aço, incandescentes, em minha direção. Quando falou, dava para ouvir a raiva que inundava sua voz. — Tem alguma ideia do que você fez? — perguntou. — Percebe o perigo em que nos colocou?

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