A travessia william p young

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– Sim, Teddy, Ted, Theodore, o ex-namorado de Molly, o pai de Cabby, e sim, ele abandonou Molly e o próprio filho. Tony olhou para Vovó, com os lábios cerrados, comunicando sem palavras sua desaprovação e veredito. – Anthony, você não sabe quase nada a respeito desse homem, só o que supôs a partir de um trecho de conversa. Enquanto você o considera um canalha, eu o considero uma ovelha desgarrada, um filho perdido, ou... – ela meneou a cabeça em sua direção – ... um neto perdido. Ela o deixou refletir sobre o próprio julgamento e debater-se com as implicações de como ele interpretava tudo e todos. Isso o fez sentirse enojado. Estava face a face, no seu íntimo, com outra escuridão gigantesca que guardara preciosamente por anos a fio, e que crescera à medida que ele lutava para se justificar racionalmente. Por mais que fizesse uma ginástica mental ou tentasse ocultar seu impulso inicial de julgar o próximo, ele vinha à tona de forma cada vez mais horrenda e aterrorizante, uma ameaça capaz de destruir nele tudo o que um dia poderia ter sido considerado bom. Tony sentiu a mão de alguém em seu ombro, e isso bastou para tirá-lo de suas reflexões sombrias. O rosto de Vovó estava colado ao seu, e ele sentiu que se acalmava pouco a pouco. – Este não é o momento para autodesprezo, Anthony – ela disse com brandura. – É importante que você perceba que precisou da capacidade de julgar para sobreviver quando era criança. Ela ajudou a manter tanto você quanto seu irmão em segurança. Vocês dois estão vivos hoje em parte porque a capacidade de julgar era uma de suas ferramentas. Porém, com o tempo, esse tipo de ferramenta se torna debilitante e prejudicial. – Mas eu vi o que há dentro de mim. É tão feio. Como posso mudar? – ele perguntou, quase implorando.


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