Keynes os economistas

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OS ECONOMISTAS

rarmos a venda de um investimento como um investimento negativo, isto é, como um desinvestimento, minha própria definição está de acordo com a de uso popular, visto que as transações ocorridas nos investimentos antigos forçosamente se anulam. Naturalmente temos de ajustar o caso com vista à criação e à liquidação de débitos (incluindo as variações da quantidade de crédito ou de moeda); mas, embora para a comunidade em seu conjunto o aumento ou a diminuição no saldo do crédito agregado seja sempre exatamente igual ao aumento ou à diminuição do saldo do débito agregado, esta complicação se neutraliza também quando se trata do investimento agregado. Por conseqüência, admitindo-se que a noção popular de renda coincide com a minha de renda líquida, o investimento agregado no sentido corrente corresponde à minha definição de investimento líquido, ou seja, à adição líquida a toda espécie de equipamentos de capital, após dedução das variações no valor dos equipamentos de capital velhos que entram no cálculo da renda líquida. O investimento, assim definido, inclui, portanto, o aumento do equipamento de capital, quer ele consista em capital fixo, capital circulante ou capital líquido, e as principais diferenças entre as definições (abstraindo-se da distinção entre investimento e investimento líquido) são devidas à exclusão de uma ou de várias destas categorias. Hawtrey, por exemplo, que atribui grande importância às variações do capital líquido, isto é, aos aumentos (ou às diminuições) involuntários do estoque de produtos não vendidos, propôs uma definição de investimento de onde são excluídas as variações dessa natureza. Neste caso, um excesso de poupança sobre o investimento seria o mesmo que um aumento involuntário no estoque de produtos não vendidos, isto é, um aumento do capital líquido. Hawtrey não me convenceu de que seja este o fator preponderante, visto pôr toda a ênfase na correção das variações não previstas no início, comparativamente às que, bem ou mal, foram antecipadas. Hawtrey considera que a diferença entre a escala de produção fixada todos os dias pelos empresários e a escala do dia anterior depende das variações sofridas pelo estoque de produtos não vendidos. Sem dúvida, no caso dos bens de consumo, estas variações desempenham papel importante em suas decisões. Entretanto, não vejo motivo para excluir a influência exercida sobre essas decisões por outros fatores, e prefiro, portanto, dar ênfase à variação total da demanda efetiva e não apenas à parte da variação que reflete o aumento ou a diminuição dos estoques não vendidos no período anterior. Além disso, no caso do capital fixo, o aumento ou a diminuição de sua capacidade não utilizada corresponde, em seus efeitos sobre as decisões de produzir, ao aumento ou à diminuição dos estoques de bens não vendidos; e não vejo como o método de Hawtrey possa lidar com este fator pelo menos tão importante quanto o outro. Parece provável que a formação de capital e o consumo de capital, 102


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