Maurício - A História que Não Está no Gibi

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hora. Às vezes elas ficavam quietinhas, olhando atentas como se desenhava. Mas, de repente, Mariangela, com quase 5 anos, Mônica a caminho dos 4 e Magali, dos 3, já estavam fazendo sua própria arte, correndo, se escondendo sob a mesa da sala, se arrastando entre as pranchetas. Aquela não era uma situação ideal para ninguém, mas não havia o que fazer no momento. Numa manhã, saindo da Folha, vi que estavam colocando placas de “Vende-se” e “Aluga-se” em um prediozinho recém-construído, colado ao jornal, na alameda Barão de Limeira. Abordei o corretor na hora. Pedi para ver. Fazia algum tempo que eu vinha bolando um plano de expansão para os negócios, que só seria executável se tivesse um lugar adequado para tal. E agora ele estava ali na minha frente. De início, pensei em alugar, mas as condições para comprar eram muito boas, com uma entrada minúscula, coisa de dois meses de aluguel. Valia mais a pena pegar um financiamento, comprar as salinhas e me virar para pagar as prestações. Fiz uma proposta para ficar com quatro salas pequenas no quinto andar. Incrivelmente, aceitaram. O prestígio dos meus quadrinhos pode ter influenciado, embora uma análise de crédito dependa de garantias, e não de boas histórias. De qualquer forma, para uma pessoa que precisou apelar ao dono do jornal para conseguir fiador na chegada à capital, era um avanço considerável ser aprovado sozinho para a compra de um imóvel. A burocracia era muito menor naquele tempo. Animado com o que seria a sede própria da Bidulândia, corri para conseguir a documentação exigida e pedi para a imobiliária providenciar a papelada quanto antes. Fui para casa almoçar e dar a boa notícia à Marilene. Ela ficou contente, pela conquista do meu primeiro imóvel e também por voltar a ter a sala de casa só para nossa família. As meninas, porém, talvez não tenham comemorado tanto. Elas realmente gostavam de nos ver desenhando, além de ter o pai sempre por perto. Na última garfada do almoço, tocaram a campainha. Era um diretor da Folha. Estranho. Jamais alguém do jornal tinha me procurado em casa. Convidei-o a entrar temendo que dissesse que alguém tinha morrido. Mas não era nada disso. Com ar muito sério, ele daria outro tipo de má notícia: – Mauricio, soube que você está querendo comprar umas salas no prédio novo do lado do jornal. Vim fazer um pedido. Por favor, desista. A Folha quer comprar


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