Trecho do livro pétalas são asas dormentes

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PÉTALAS SÃO ASAS DORMENTES Jeferson Bandeira


Que tuas pĂŠtalas, leitor, possam despertar.


...quando a poesia (me) desadormece.


POEXISTENCIALIDADES Cada poexistencialidade surgiu de uma nova forma de tentar olhar para o cotidiano e suas nuances. São rebentos sem título, frases escavadas na rocha dos dias e quase nada lapidadas. Fique à vontade para batizá-las e quem sabe lançá-las a outros mares. Poexistencializar é preciso!


Todo amor tem seu próprio manual de incursões.

Como fazer sentir quem aprendeu a contabilizar?

Poema: jasmim que brota nas covinhas desse sorriso.

Você é puro veneno para meu romantismo incurável.

Sucesso é estanque. Asas são inerentes à poesia.

Eu ainda te desarmo essas asas que me fazem flutuar.

Mulheres de ouro não se medem com prata.

Flertar com a poesia é tirar o lugar das coisas.


Quem toca tua poessência atraca a alma nas nuvens.

Se folk, aqui jazz. Morreu delirando com um blues.

Se não vier com poesia, não quero nem prosa.

Todo novo horizonte me verticaliza.

Perde o estribo. Ouvido bate o martelo para a libido.

Não me padronize. Multiplico-me em cada crise.

Como dorme com tanta poesia dentro desses olhos?

Achar-me com o que escrevo? Ah, é pura perdição!


MINHAS ASAS TÊM OS VEIOS E A SEIVA DE TUAS FOLHAGENS

Twittada por twittada, a infância segue no desutilizar a vida adulta.


Talvez caiba ao poema pseudomumificar a poesia entranhada na palavra. #sublimares

Ser poeta é sentir a poesia dando corda no reloginho da infância. #sublimares

Teus olhos serenos agora enlutam o dia que no horizonte jaz. #sublimares

Tua voz traz o espanto das coisas acordando para o mundo. #sublimares

Sobre escrever, me entendo comigo. A fama é contigo. #sublimares

Não há mulher que não primavere, em floressências raras, ao toque de um poeta. #sublimares


Manhã lacrimal. Tua alma observa a chuva que bate no vidro de teus olhos. #sublimares

Mulher, para que a agonia? A idade só aumenta ou desenha curvas onde não havia. #sublimares

Poros são estômatos da fina folha epidérmica. Quando sobe a temperatura, liberam poesia. #sublimares

Seca humanidade. Entre os pingos de chuva vagava um pingo de gente. #sublimares

Ela tatuou o corpo inteiro. Foi a única forma de cobrir meus beijos. #sublimares

O poeta corta os pulsos e não encontra o alívio da poesia. #sublimares


ARREPÉTALAS À FLOR DA PELE Tudo que se julga estático pode se mover. Poesia é tudo que me (co)mover.


Os olhos de meu avô eram meu baú de infancionices. * Viver fácil. Seguir sem nem sentir os próprios passos. * Arrebatou-me a brisa de teu mar de poesia. * Gracioso, lança-se dardo no centro das pétalas. * Vem, primavera meu outono. Vivamos um intenso verão. Deixemos os outros morrendo de inverno. * Toda mulher nasce cingida pela arte. Basta desfilar toda a simplicidade do seu ser incomum. * Os traços da poesia são como os traços do poeta. * Como sustentar se tudo parece conspirar contra?


* Lapidando, baixam-se as vestes, uma a uma. Poesia? O que é senão a nudez consentida das palavras? * Pelo espetáculo do horizonte, enfrentemos qualquer que seja a condição em que estiver a estrada. * Ser humano é revelar e compreender sua real tristeza. * Se obsoleto, qualquer fagulha de originalidade é vã. * Torna-se mais bela se passa pelo filtro da poesia. * Vê tudo em letras garrafais. Fica ébrio de mensagens. *


POESIA É TODO E CADA AMANHE-SER A poesia tem das suas manhas e manias. Jogue com ela, brinque à vontade. Não há limite de idade, não será repreendido. Ela só tem olhos para a infância de sua alma.


Na cama, corpos suados, resfolegantes. Colados e retorcidos no eixo. Braรงos e pernas entrelaรงados. Eram a imagem do infinito no espaรงo de um orgasmo.


Ela gosta dos velhos ditados, dos velhos costumes, dos velhos filmes, das velhas histórias. Sempre muito instruída e atenta, muito mais essência do que aparenta. Da juventude guardou a filosofia da avó: “Não se acostume, a flor pode até ser bela, mas todo mundo lembra mesmo é do perfume”.


Não disse que viria e me traria um presente? Aqui estou! Por que demorou tanto e ainda de mãos vazias? Estava a pensá-lo e a forjar os ingredientes para seu preparo. Sabe que sou ansiosa e me vem com surpresa? Não fala nada, só segura minha mão. Dá-me a poesia de teu sorriso e espera que meus olhos floresçam. As flores terão as pétalas da cor da espera que se findou.


DESENCANTOS E DECANTAÇÕES


Ela foi se preparando para encontrá-lo. Aquecendo-se lentamente, colocando-se em infusão naquelas águas. Quando se julgou apta, lançou para ele seus olhos cúmplices e solícitos, estendeu-lhe as mãos e trouxe-o para junto de si. Ele veio soberbo, julgando-a uma fácil conquista. Seus olhos estavam virados para dentro, para a imagem que dela forjou e que satisfaria seu desejo. Ao tomá-la nos braços com todo seu presunçoso arsenal de sedução, ela surpreendeu-o. Nunca havia dado chance para outra ser, já que lhe impunha sempre um exacerbado ter, ou era ela que não se deixava levar por uma implantada carência? Sentiu-se desguarnecido, quis desgarrar-se com altivez. Não pôde. Ela foi se avolumando, fervilhando, já podia sentir a ação dela sobre seu corpo. Tudo que havia planejado era aos poucos refutado. Ela daria as cartas, tinha suas próprias leis. Ele se debatia por dentro, mas por fora um certo constrangimento o mantinha inerte. Mesmo seduzido, tentava se desvencilhar. Parece que previa o resultado: não conseguir corresponder a todo o trabalho dela. Ela e sua renitência. Custasse o que custasse, queria equilibrar a solução. Quebravam-se moléculas de crenças petrificadas. Almejava-se homogeneizar a química dos corpos. Ele clamou, seus olhos gritavam que parasse. Ela não podia se conter, o feitiço se apossou da feiticeira. Ele foi sucumbindo. De seus olhos vertia-se uma espera acre e ocre. Uma penumbra engoliu a cena. Ela foi sentindo uma leveza triste e vazia entre as mãos. Maldita ou inexperiente? O desencanto a decantou. Ele então se despediu, solúvel, instantâneo: um acelerado processo de evaporação.


DE REPENTE POESIA...


A poesia é o ápice de sua nudez humana. ... Para ela, poesia é colher aquilo que ninguém racionalmente teve o intuito de plantar. ... Derradeiro vento. A velhice iludiu a ressequida folha com um espírito de borboleta. ... De que vale revirar a casca e nunca provar o fruto? ... Não queira ser pérola para quem julga ostras. ... Capricha no tempero. Os sentidos são apurados. ... Quando meus lábios pousam em ti, meu sorriso voa.


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