Tese de Mestrado

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121 escapar de ser responsabilizado pelos seus atos. O discurso do trabalho em equipe, por seu foco no momento imediato e por sua fuga à resistência e ao confronto torna-se útil no exercício da dominação. Assim, o líder que declara que todos são vítimas da época e das mudanças necessárias dominou a arte de exercer o poder sem ser responsabilizado. E Sennett conclui: "Em lugar do homem motivado, surge o homem irônico. Ricardo Rorty escreve, sobre a ironia, que é um estado de espírito em que as pessoas jamais "são exatamente capazes de se levar a sério, porque sempre sabem que os termos em que se descrevem estão sujeitos a mudança" (...) Uma visão irônica de si mesmo é a conseqüência lógica de viver no tempo flexível, sem padrões de autoridade e responsabilidade. (...) Tampouco a ironia estimula as pessoas a contestar o poder."219 Existe, evidentemente, o outro lado da moeda. Segundo David C. Korten220, muitos executivos enfrentam conflitos crescentes entre seus valores pessoais e aquilo que suas funções na corporação lhes exigem. É uma afirmação extraordinária a de que os profissionais mais privilegiados e mais bem pagos do mundo necessitem de bônus de milhões de dólares para sentirem-se motivados a fazer seu trabalho. Na realidade, segundo ele, devem receber tais somas para se Ter certeza de que colocarão os interesses de curto prazo dos acionistas acima de todos os outros interesses que poderiam sentirse tentados a levar em conta – como os dos funcionários, da comunidade e até da viabilidade da própria corporação a longo prazo. É uma outra visão da mudança permanente para fugir do caos! "Os gerentes que haviam sido treinados para construir agora são pagos para destruir. Eles não contratam; eles demitem. Não gostam de suas novas funções, mas a maioria chegou a compreender que isso não vai mudar. Essa conscientização torna diferente a rotina: o trabalho não mais revigora; ele esgota. Nessas circunstâncias parece até imoral considerar o trabalho prazeroso. Assim eles se tornam mal humorados e cautelosos, temendo ser varridos para longe na próxima onda de demissões. Entretanto, eles trabalham mais arduamente e por mais tempo para compensar a labuta daqueles que partiram. A fadiga e o ressentimento começam a acumular-se.‖221

219

SENNETT, op. cit., p. 138. KORTEN, David C.: Quando as corporações regem o mundo, Editora Futura 1996. 221 "Os chefes exaustos", em Fortune 24 julho 1994, citado por Korten. 220


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