Christian Laval - Nova Razão do Mundo

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Esse auto-governo tem um nome: entrepreneurship. Essa dimensão supera a capacidade calculadora e maximizadora da teoria econômica padrão. Todo indivíduo tem algo de empreendedor em si e a economia de mercado tem como característica liberar e estimular essa capacidade empreendedora. O puro espírito de mercado não precisa de nenhuma dotação inicial porque se trata de explorar uma possibilidade vender mais caro um bem que não se comprou. O empreendedor não é um capitalista, não é um produtor, não é o inovador schumpeteriano que modifica sem cessar as condições da produção e constitui o motor do crescimento. É um ser dotado de um espírito comercial, em busca de toda ocasião de ganho que se apresenta para ele e que ele pode agarrar graças às informações que ele detém e que os outros não têm. Ele se define unicamente pela sua intervenção específica na circulação dos bens. Para Mises, o empreendedor é o homem que age para melhorar sua sorte utilizando os espaços de preços entre os fatores de produção e os produtos. O espírito que ele desenvolve é o da especulação, mesclando risco e antecipação. O homem que quer melhorar sua sorte deve constituir quadros de fins e de meios nos quais ele deverá fazer suas escolhas. A pura dimensão de empreendedorismo, a vigilância para a ocasião comercial, é uma relação de si mesmo para si mesmo que está no princípio da crítica da interferência. Somos todos empreendedores, ou mais exatamente aprendemos a ser, formando nos pelo jogo do mercado só a governar a nos mesmos como empreendedores. O que quer dizer também que, se o mercado é olhado como um livre espaço para os empreendedores, todas as relações humanas pode ser afetadas por essa dimensão empreendedora, constitutiva do humano. O mercado é um processo de aprendizagem contínua e de aprendizagem permanente. O sujeito de mercado está engajado numa experiência de descoberta onde ele o que ele descobre primeiro é que ele não sabia que ele ignorava. Essa descoberta do que não sabíamos não se confunde com uma busca deliberada de conhecimento que supõe que saibamos antecipadamente o que não sabemos. A descoberta permitida pela experiência de mercado repousa sobre o fato de que não sabíamos que ignorávamos, que ignoramos o que ignorávamos. É essa ignorância, não sabida como tal que é o ponto de partida da análise do mercado. A surpresa, a descoberta ao acaso, desencadeia a reação dos que são mais alertas, os empreendedores.


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