Jamilla Barroso - Personalidade de Cada Caso

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Foto: Bertrand Linet


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A Personalidade de Cada Caso e Características Próprias das Peças Dentárias


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ão importante quanto os caminhos e soluções para o tratamento com seu diagnóstico e o planejamento é a montagem estética de cada caso. Especificamente, o que vem a ser isso? Uma reabilitação radical de granTratando-se das artes cênicas, de porte sugere que o paciente passou precisamos lembrar que esse paciente por vários tratamentos ou perdeu opor- irá trabalhar muito com as emoções e tunidades para cuidar de sua saúde e, isso, em geral, aumenta a sobrecarga assim, foi perdendo as características de nos ligamentos. Logo, as regras para o suas peças dentárias. Detalhes de posi- profissional de Odontologia correm à cionamento e distribuição, assim como margem e ao mesmo tempo, com eleipeculiaridades inerentes a cada ser, ao ção de critérios, tendo sempre em mensexo, biótipo, temperamento, personali- te que cada caso é único. Cada paciente dade, miscigenação, até mesmo tendên- possui características próprias; isso cias regionais que atuam influenciando transforma o bom profissional num sáa aparência. Levar também em conside- bio. O saber está aí. ração a profissão do paciente, o meio em que ele vive e sua classe social. O questionamento poderá surgir: como vou distribuir as peças dentárias? E o design? E a cor?

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As proporções craniofaciais carregam o código das peças dentárias, independentemente de fórmulas aritméticas convencionais. Devemos encontrar esse código, já que o posicionamento e as sutilezas dos nossos dentes não podem ser medidos dentro de uma fórmula ou de um número convencional, a exemplo da proporção áurea ou do número de ouro.

A proporção áurea é válida para darmos a partida quando outras pistas não existem. Particularmente, acho perigoso esse caminho caso não façamos a configuração com os dados que a ossatura facial e as características morfogenéticas estão fornecendo. Se assim procedermos, chegaremos próximos à perfeição.

Vamos ficar atentos ao diâmetro dos colos das raízes, principalmente da bateria labial. Esse diâmetro informa o tamanho do dente e, ainda, a sua posição no arco. Esse dado é muito importante, os dentes da bateria compõem e completam o tipo de face do paciente. Ficar muito atento à disposição das raízes, precisamos manter essa disposição, cuidando para preservar o eixo das mesmas. Poderíamos pensar: “Estou corrigindo, como vou manter os dentes mal posicionados no arco?”

A pergunta é oportuna. Manteremos sim, o roteiro daquele posicionamento e, ao mesmo tempo, corrigiremos. É possível executar absolutamente todo e qualquer protocolo sem descaracterizar o modelo original de cada paciente. Como se faz isso? Corrigindo o que necessário for e mantendo toques sutis das referências originais do paciente. Outros fatores importantes são: a gengiva, os contornos gengivais, a linha de sorriso e a morfologia dos lábios.

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Os dentes possuem uma adequação aos lábios, e estes se apresentam exatamente de acordo com a disposição das peças dentárias. Precisamos analisar, ou melhor, possuímos uma armação que poderá apresentar distintas formas. O aspecto final irá depender dessas formas, já que os lábios e tecidos adjacentes são o revestimento dessa armação (arcabouço ósseo). Analisar a maxila e a morfologia do osso malar.

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A forma dos arcos vai ditar a disposição dos dentes. Não importa se esses apresentam disparidades genéticas; essa abrangência é ampla e, por isso mesmo, salienta essa questão. A combinação genética de cromossomos produz distintos tipos de crânio e maciço facial. Assim, muitas vezes, as peças dentárias estão inadequadas à ossatura em questão. Por esse motivo, a complexidade é tão grande e as fórmulas, conseqüentemente, ajudam pouco.

Precisamos conhecer – novamente, afirmo isso com veemência – a Anatomia. Conhecendo-a e fazendo uma sucinta análise facial, conseguiremos montar nossos casos com sucesso. A característica genética do ser é informada na largura, no comprimento e, também, na espessura óssea. A disposição da malha muscular estará condicionada a essa questão. Os tecidos moles, como já mencionado aqui, são o revestimento. Os dentes são tecidos duros que compõem o esqueleto.

A análise das peculiaridades de cada paciente, como esse se apresenta, o estágio em que se encontram as peças dentárias, a percepção de sua aparência dentofacial são fatores importantes e devem ser considerados dentro do contexto do tratamento. As proporções faciais estão preservadas? Precisamos considerar as linhas da face, as referências horizontais e verticais, tendo como diretriz e importância primordial que essas linhas são ditadas pela malha muscular, ocorrendo assim uma inter-relação entre as partes, já que traçamos linhas imaginárias para chegarmos a um consenso de linhas, planos e pontos faciais.

Conseguimos, dessa forma, organizar nosso planejamento para os resultados finais da imagem facial do paciente. Levamos em consideração as linhas horizontais e verticais, assim delimitando o contorno da face e a inter-relação das estruturas internas (ATM), objetivando o posicionamento do globo ocular, pirâmide nasal, linha dos cabelos, das sobrancelhas e das comissuras labiais.

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Esse planejamento matemático precisa ser executado seguramente, esse é o momento de maior complexidade, já que para conseguirmos esse objetivo vamos caminhar muito. Sendo este a base do bom e perfeito trabalho. Precisamos entender, de uma vez por todas, que as fórmulas e gráficos preestabelecidos existem, ajudam, fornecem uma idéia, para iniciarmos o desenho, o croqui da face na qual estaremos trabalhando. A concretização do projeto acontecerá, de fato, com nossa atenção às questões da Articulação Temporomandibular. 287


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Buscamos harmonizar a linha interpupilar com o plano incisal das peças dentárias; o contorno da margem gengival deverá ser paralelo a essa linha. As linhas das sobrancelhas são acessórios em conjunto com as linhas da comissura labial. Esse roteiro é uma diretriz básica de situações hipotéticas. O importante é encontrar um caminho harmônico, agradável e compatível a cada paciente. Não acredito em mandamentos rígidos para questões de trabalho com gente. O idealismo e as proporções são ferramentas utilizadas para chegarmos a um objetivo. Logo, a cautela precisa ser grande, uma vez que podemos criar formas dentárias ideais, perfeitas e belas do ponto de vista do dente. Não haverá valor nesse trabalho se a peça dentária, mesmo bela, não traduzir o tipo de rosto, de personalidade, de sexo e de idade de cada um. Alguns requisitos básicos devem ser respeitados. A grande maioria dos pacientes procura por uma imagem que preencha as exigências determinadas por uma sociedade que clama cada vez mais beleza. A mídia impõe padrões e costumes, e os pacientes, por sua vez, se esforçam para enquadrarem-se neles. Precisamos, ainda, levar em consideração as variantes culturais; diferenças na mídia dos continentes ditam as preferências nos tempos modernos.

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Sorriso Côncavo

Esse tipo de sorriso requer habilidade excepcional para idealizar e realizar, com sucesso, o caso. A convexidade nos bordos incisais envelhece enormemente a face e é resultante do trabalho e de como o sistema está funcionando. A complexidade do caso leva a uma investigação profunda, acompanhada de cuidados para não modificar a personalidade, ou melhor, inserir as características do paciente nos dentes, suavizando o visual, dar juventude, tornando-o mais bonito, mais leve (essa observação vale para qualquer trabalho de recuperação do design e da montagem das peças dentárias). Tal resultado foi absolutamente alcançado. Conseguimos tornar os incisivos dominantes removendo a concavidade dos bordos incisais superiores. O sorriso côncavo é provocado pela atuação da força maior na bateria, fazendo com que aí o trabalho seja maior do que na região dos posteriores.

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perfil introral do sorriso côncavo após a correção

sorrisso retangular

As guias de canino trabalhando em posição incorreta. Observar angulagem levando as peças dentárias a um movimento de fechar o posicionamento dos arcos à força, incidindo na face vestibular dos posteriores. Essa imagem mostra o trabalho de aperfeiçoamento das dimensões faciais com o objetivo de corrigir o sistema estomatognático, ampliando os arcos e desfazendo a sensação de quadratura do sorriso. 290


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sorriso em diagonal

O quadrante direito apresenta neste caso forte abrasão provocada pelo trabalho na diagonal provocado pelo desequilíbrio de força. Nesses tipos de má oclusão, quando a força é totalmente desviada por um dos quadrantes do arco, culmina sempre nesta forma diagonal nos bordos dos dentes. A diagonal parte da guia canina do lado oposto aquele onde a força está sendo exercida com maior vigor, caminhando até os molares. Esse trabalho provoca a excursão assimétrica dos côndilos, já que os dentes, nesse caso, estão bem mais curtos no quadrante esquerdo do que no direito.

sorriso com dentes apinhados

Os apinhamentos no arco superior causam um aspecto ovóide ao sorisso. A desarmonia oclusal severa modifica a linha dos lábios, sua abertura e forma 291


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Os dentes naturais, restaurados, substituídos, ou mesmo nas próteses totais, não podem fugir à identidade do paciente. É necessário que ele se encontre no espelho, e que esse encontro seja surpreendentemente agradável e as imagens armazenadas em seu cérebro venham à tona, imprimindo um padrão de comportamento com toques de juventude e alegria que o tempo estava apagando.

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Para criar formas compatíveis com a face do paciente, o grau de dificuldade era muito grande. A desorganização da distribuição das peças dentárias, aliadas à importante perda de dimensão vertical, projetou a maxila excessivamente, colocando o alinhamento da bateria em condição desfavorável. O grande desafio era o tamanho das peças dentárias e a ausência de incisivos laterais.

É importante salientar que o artifício usado para a composição dos espaços entre dentes foi a redistribuição das peças, dando abrangência de volume aos pontos de contato. Fui bastante cuidadosa com o design e a cor. O jogo de luminosidade das peças dentárias foi escolhido com bastante critério; contei com esse recurso para suavizar e dar leveza.

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