Passo a Passo Sebrae-MG Ed. 147

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ineiro de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, Robério Oliveira Silva ocupa, atualmente, o principal posto da Organização Internacional do Café (OIC), cuja sede é em Londres, na Inglaterra. Ao conquistar o cargo de diretor executivo da entidade, em novembro de 2011, o Brasil fez valer sua força como o maior produtor mundial de café. A OIC é uma organização intergovernamental formada por 77 países produtores da commodity (45 exportadores e 32 importadores), responsável por defender os interesses da cafeicultura mundial. Além disso, os seus países-membros representam 97% da produção de café e 80% do consumo do grão no mundo. Economista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), antes de chegar à OIC, Robério Silva foi diretor do Departamento do Café, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), onde atuou pela melhoria dos preços no mercado internacional e a retomada do prestígio do café brasileiro junto aos torrefadores internacionais. Com 25 anos de experiência na área de produtos de base, tanto no setor público quanto no privado, ele também foi secretário-geral da Associação dos Países Produtores de Café e da Federação Brasileira dos Exportadores de Café. Nesta entrevista concedida à Passo a Passo, o diretor executivo da OIC fala sobre as tendências mundiais do setor e o potencial do café brasileiro no exterior e afirma que, no futuro, o grande aumento do consumo da bebida virá de países produtores e emergentes, principalmente de lugares sem tradição, como a China.

Quais são as principais tendências mundiais de produção e de consumo do café para os próximos anos? Em vista das atuais tendências dos preços, há cada vez menos incentivo para investir na cafeicultura, e é provável que o uso de insumos como fertilizantes e o emprego de mão de obra se reduzam. Isso poderá ter 72 PASSO A PASSO AGOSTO/SETEMBRO 2013

“Os cafés especiais brasileiros, aos poucos, começam a conquistar seu merecido lugar nas prateleiras dos supermercados, nas cafe­terias e na mesa dos consumidores, em vá­rias partes do mundo. O Brasil sempre foi visto e tido como ‘a terra do café’”

um impacto negativo sobre os volumes e a qualidade da produção nos próximos anos, resultando em maior volatilidade de preços e em uma cadeia de valor agrícola menos sustentável. Embora seja verdade que nenhum mecanismo foi encontrado para eliminar a intensa variação dos preços do café sem criar desequilíbrios perniciosos da oferta no longo prazo, os governos dos países importadores e exportadores precisam tomar medidas para ajudar os milhões de pequenos cafeicultores, que são afetados quando os preços caem para níveis inferiores aos custos de produção. Uma preocupação imediata é com a segurança alimentar, pois os cafeicultores pobres se veem sem dinheiro disponível para garantir nutrição adequada para suas famílias nos meses que antecedem suas próximas colheitas. De igual importância, para que a sustentabilidade tenha um caráter verdadeiramente prioritário, é necessário treinar esses mesmos cafeicultores para transformá-los em pequenos empresários. O consumo continua a indicar um crescimento robusto, principalmente nos países produtores e nos mercados emergentes, onde o hábito de beber café tem crescido muito. Minas Gerais é o maior estado brasileiro produtor de café, e 20% de sua produção são de cafés especiais. Como o cultivo do produto de origem certificada, gourmet, orgânico e fair trade, no Brasil, é visto pelo mercado internacional?

Os cafés especiais brasileiros, aos poucos, começam a conquistar seu merecido lugar nas prateleiras dos supermercados, nas cafeterias e na mesa dos consumidores, em várias partes do mundo. Vale a pena salientar que isso tudo, em grande parte, é preparado e embalado no próprio país antes de ser exportado. O Brasil sempre foi visto e tido como “a terra do café” e é primordial que o setor brasileiro invista cada vez mais para que isso se traduza nos produtos e nos lares do mundo todo. Na sua avaliação, qual é o futuro do mercado internacional do café? Nossa missão é desenvolver, por meio da cooperação entre produtores e consumido-

res, condições e fundamentos para a consolidação da sustentabilidade do setor cafeeiro. Penso que só será possível cumprir esse propósito se for atribuída especial prioridade ao fator da solvência econômica do produtor de café, pois, com remuneração apropriada, ele poderá garantir o fornecimento de um produto de qualidade, cumprindo suas responsabilidades sociais e ambientais. A OIC tem hoje uma nova dimensão, mas continua sempre inspirada por sua razão de ser original e de servir como instrumento para o desenvolvimento e a cooperação entre países produtores e consumidores. Já não se trata de regular o mercado por meio de mecanismos de intervenção, mas de formular políticas e promover ações capazes de www.sebraemg.com.br 73


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