Jaimir Conte & Oscar Federico Bauchwitz - O que é metafísica

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místico especulativo, não é uma casualidade histórica e nem mesmo uma simples ilustração, mas sim uma exigência do que se está a pensar. Na metMora se expressa o limite do discurso lógico, apontando para uma dimensão que, por si mesma, vela-se à compreensão cotidiana orientada pela racionalidade discursiva. Por essa razão, rendo em vista o que se investiga, rorna-se guase irrelevante saber quando e como Heidegger teve conrato com a merMora. Trata-se, isto sim, d e aproximar Heidegger e Nicolau de Cusa, a panir da medfora, na perspectiva de que um e outro, nos permitam contribuir para seu esclarecimento. Com esse propósito d emarcamos três momentos nesta exposição: 1) A metáfora no contexto heideggeriano; 2) A metáfora no contexto cusano e 3) A tentativa de uma convergência do sentido, por nós efetuada, enrre os dois pensadores.

1 A metáfora no contexto heideggeriano No dia 27 de junho de 1945, a comunidade universitária da Faculdade de Fi losofia da Universidade de Freiburg encontra-se refugiada em um castelo, aguardando pelas forças de ocupação. Ali, nesse contexto de incertezas e perigos, Heidegger se propõe a comentar uma sentença de um poeta que é para ele o poeta do poetizar, o poeta de tempos indigentes, Holderlin. Trata-se de um pequeno texto, chamado A Pobreza (Die Armut)l. O título por si só, pode criar a expectativa de uma compreensão prévia do que teria sido abordado, como se f~lar da pobreza, nas circunstâncias extremas nas quais se encontram a Alemanha derrotada e o próprio Heidegger, fosse algo redundanre ou, o que é pior, urna constatação inevitável do fracasso histórico de um projeto político que, no fim das contas, teve, em seu momento, o engajamento de um povo e de um pensador. A ruína alemã, no enmnro, não é o rema da conferência de Heidegger, {execro na medida e m que a história alemã e a história do ocidente encontram-se no mesmo vigor destinai do esquecimento do ser). O tema é a Pobreza, pensada desde a perspectiva da estranheza dela mesma vir a ser tematizada, já não desde a obviedadc de alguma resposta disponível e "evidente" por si

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A conferência foi publicada c m H eidegger Studics, v. I O, Berlim, Ounke r und Humbolt, 1994; perte nce a "'A Essência da questão. uma série de manuscriros para o Acomccimemo (Ereignis)", Vol. 73 da Gt'samtrmsgnbe (Zum Ereignis-Denken) .

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