O peregrino

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John Bunyan _____________________

Capítulo 15 Cristão e Esperança, vendo-se rodeados de consolação e de paz, caem em negligência, e, tomando por caminho errado, são aprisionados pelo gigante Desespero; mas, tendo invocado o Senhor, recuperam a liberdade por meio da chave de promessas. Iam os nossos peregrinos seguindo o seu caminho, quando os vi chegar a um belo rio, a que o rei Davi chamou “rio de Deus” e João “rio da água da vida” (Salmos 65:9; Apocalipse. 22:1; Ezequiel 47:1-9). Tinham de passar este rio. Grande foi a consolação que sentiram, e maior ainda quando, tendo aplicado seus lábios à água da vida, acharam que ela era agradável e refrigerante para os seus espíritos fatigados. Nas margens do rio cresciam árvores frondosas, que produziam toda a qualidade de frutos, e cujas folhas serviam para prevenir aquelas doenças que ordinariamente atacam as pessoas que, por terem andado muito, sentem exaltação no sangue. De um e de outro lado do rio havia formosos prados ornados de viçosos lírios, que todo o ano se conservavam verdes. Chegados a um destes prados, deitaram-se e adormeceram, porque neste lugar podiam descansar com segurança (Salmos 23:2; Isaías 14:30). Quando despertaram, comeram dos frutos das árvores, tornaram a beber da água da vida, e adormeceram outra vez. E assim fizeram por alguns dias que permaneceram neste lugar. O prazer de que estavam possuídos era tanto que exclamavam: _ “Bendito seja o Senhor, que preparou estas águas cristalinas para os peregrinos que por aqui passam. É suave a fragrância que exalam estes prados, que com grande delícia nos convidam. Aquele que provar estes frutos ou mesmo folhas destas árvores, da melhor vontade venderá quanto possui para comprar esta terra”. Como ainda não tivessem chegado ao fim da sua viagem, resolveram partir, depois de terem comido e bebido. Vi então no meu sonho que, logo ali perto, se separavam o caminho e o rio, circunstância que não deixou de contristá-los. Apesar disso, não se atreveram a abandonar a estrada. Esta quanto mais se afastava do rio, tanto mais áspera se tornava, e como os pés dos peregrinos estavam muito sensíveis, em conseqüência da grande marcha que tinham feito, entrou em suas almas um grande abatimento (Números 21:4). Não obstante, seguiram seu caminho, posto que desejassem um prado, ao qual davam acesso umas pranchas de madeira; tinha o nome de “Prado do caminho errado”. Disse então Cristão ao seu companheiro: Se este prado continuasse paralelo ao caminho, poderíamos ir por ele. E, aproximando-se das pranchas, para melhor examinar, viu um atalho que seguia ao lado da estrada, do outro lado do muro. Esperança – E se nos perdermos no caminho?

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