A garota dos pes de vidro - ali shaw

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la observava os vapores se erguerem de turfas, tornados visíveis pelo frio. O branco leitoso do céu refletia-se nos canais e num rato morto no acostamento, com o rabo e as pernas traseiras crucificados por marcas

de pneu. Num confortável silêncio, eles passaram por árvores enroladas em malhas de musgo verde, por poças densas e trilhas de turfa congelada. Toda vez que ela se esquecia da ausência da pele por baixo das meias, se esquecia do vidro preso em suas pernas por fechos feitos por seus próprios ossos, parecia que a tentativa de alguém no sentido de curá-la perturbava aquela serenidade. Midas insistia em visitar Henry novamente, em cruzar os pântanos enquanto os preciosos dias dela se esvaíam. Cura e preservação haviam sido a conversa de Carl. Toda essa baboseira que ele lhe mostrara sobre Saffron Jeuck, falando em termos vagos sobre frear a transformação. A cabana se aproximava, com folhas de hera nas paredes parecendo algemas na brisa. Ela forçou um sorriso fraco para Midas, querendo apenas ficar sentada com ele e passar por paisagens sem fim. Henry não estava em casa. Olhando através da janela suja, viram uma bagunça na cabana. Livros se espalhavam abertos no chão da sala, entre pilhas de papel. Midas coçou a cabeça. "E agora?"


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