Vamos falar sobre quadrinhos? Retratos teóricos a partir do Sul

Page 109

VAMOS FALAR SOBRE QUADRINHOS?

conclusão aproximar-se daqueles que propunham primordialmente o aproveitamento do nacional livre e exescravos no mercado de trabalho, Taunay terminava concitando a todos a apoiar a imigração européia”.32 As ilustrações de A Ventarola parecem reforçar essas condições, por outro lado, é importante considerar que o periódico festejou, cerca de um ano após a publicação desta história, a Abolição dos Escravos e também denunciou em suas páginas crimes cometidos contra ex-escravos em Pelotas.33 O autor dos desenhos não identifica o espaço geográfico no qual a história se desenvolve. Se o objetivo do artista era abordar uma cena caseira em Pelotas, mas que certamente era comum em muitas outras cidades do Brasil Imperial escravista, é possível apontar que não faltavam modelos à construção de seus personagens. Pelotas se notabilizou pelo emprego da mão de obra escrava na sua economia, portanto, parte significativa de sua população era formada por negros.34 Ao mesmo tempo em que se registrava essa presença significativa, vários imigrantes estavam se estabelecendo na cidade e na zona rural, sobretudo nas últimas décadas do século XIX. Além da forte presença dos portugueses, alemães, italianos e franceses constituíam parte importante da população de origem europeia que passava também a contribuir com a economia da cidade.35 32 33

34

35

AZEVEDO, 2004, p.72. Pelotas aboliu a escravidão em 1884 e todos os escravos do município passaram a ser identificados como contratados. Na prática pouco se alterou em relação a situação dos negros. Um dos crimes denunciados no periódico foi da contratada Pórcia, assassinada com requintes de crueldade por suas senhoras. Sobre o caso ver: GUEDES, Geza. Criminalidade feminina: homicídios em Pelotas (1880-1890). Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas-RS, 2014. Ver, entre outros, GUTIERREZ, Ester. Negros, charqueadas, olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas: Editora da Universidade/UFPEL/Livraria Mundial, 1993. ANJOS, Marcos Hallal dos. Estrangeiros e modernização. A cidade de Pelotas no último quartel do século XIX. Pelotas: Ed.da Universidade/UFPel, 2000.

107


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.