Coleção Rumos Itaú Cultural Teatro 2010-2012

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aqueles em que um coletivo plural busca a concretização de um projeto comum. A artista e gestora Maria Tendlau reflete sobre espelhos e espelhamentos, sobre relações de identificação, desidentificação, afirmação de identidade e desconstrução de identidade a partir dos encontros vividos e de suas manifestações. Para compor a segunda parte – Encontro – foram convidados os artistas e teóricos da cena José Fernando Azevedo e Matteo Bonfitto; a curadora e psicanalista Suely Rolnik; o estudioso da performance e da dança contemporânea André Lepecki e o filósofo José Gil. Informados sobre o contexto da publicação, cada autor criou seu próprio recorte para discutir o tema em questão. José Fernando Azevedo reflete sobre teatro de grupo e vida política brasileira para propor uma “estética do despertar”, pois “não basta repetir o clichê fundador segundo o qual o teatro é encontro”: “Se ainda falamos de encontro, trata-se de um encontro político mediado pela interrogação poética materialmente elaborada”. Matteo Bonfitto analisa o entrelaçamento encontro-confronto, as “fricções perceptivas”, a partir dos trabalhos de Jerzy Grotowski, Peter Brook e de sua experiência na performance The Artist Is Present, de Marina Abramović. Suely Rolnik propõe uma reflexão sobre políticas de criação, de relação com o outro, de subjetivação a partir do conceito de “subjetividade antropofágica” num mundo “irreversivelmente globalizado”. André Lepecki se pergunta, por um lado, se encontros são possíveis e, por outro, se existe vida fora do circuito de encontros para convocar: “Importa desejar as inesperadas concórdias do encontro, importa ousar a improbabilidade do encontro, importa no encontro saber fazer o desdobrar do miraculoso”. E José Gil elabora uma filosofia da percepção e do encontrar explorando ideias como “síntese disjuntiva”, “zonas de indiscernibilidade” e “corpo-espelho-de-forças”. Trata-se de textos importantes para seguirmos explorando poéticas e políticas do encontro, seja no cotidiano, nos dias de hoje ou no teatro do agora. Afinal, as questões mais básicas – O que é um encontro? O que move um encontro? O que um encontro pode mover? Qual encontro move o quê? – são radicais e desconcertantemente desafiadoras. O livro encartado – 9 Dias, 89 Instantâneos – é a transcrição, porque em novo suporte, de uma apresentação em PowerPoint feita por Eleonora Fabião no último dia do encontro coletivo. Para abrir a sessão de avaliação, Eleonora apresentou uma composição em processo, formada por séries de fragmentos coletados ao longo dos nove dias de convivência. Ela diz que precisou realizar esse trabalho para dar vazão ao que experimentava, para acompanhar os processos que presenciava; se todos faziam Viewpoints, ela ao menos faria um PowerPoint. É importante disponibilizar essa composição porque ela indica e afirma uma dimensão poética do que vivemos – a multiplicidade, a polifonia, a cacofonia, a coexistência de distintas visões, corporalidades, modos de resistência e de aderência, sotaques, cenas, necessidades, quereres, as linhas de força e as forças da vontade em um coletivo de grupos de teatro provenientes de 12 estados brasileiros. O encerramento foi o momento de avaliar os caminhos e os descaminhos, dissecar encontros e desencontros, refletir sobre uma questão importante para todas as duplas: como apresentar uma pesquisa em processo? Como escapar do formato espetáculo quando se está diante de um público? Afinal, por que desformatar um 14

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