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As surpresas de Deus (2)

( SHEILA CASSIDY)

Esta atitude de espera em relação às exigências de Deus se mostrará em nossa vida de duas maneiras: na disponibilidade ao nosso próximo e na consciência da natureza efêmera da vida humana, de que somos peregrinos nesta terra. A essência da vida cristã não é que devemos rezar a Deus e tratar bem os outros, mas que, como resultado da nossa oração surgirá o reconhecimento de que somos irmãos, o desejo de servi-los, e a força de dar, de nossa plenitude material e espiritual, ajuda aos menos privilegiados. Aqui encontramos o mistério e da graça e da liberdade humana. A graça é o dom de Deus aos seres humanos, dando -lhes a possibilidade de partilhar na vida divina. Tal dom é dado “gratuitamente”, podendo ser aceito ou rejeitado. A aceitação implica numa abertura a seu poder transformador, a sermos remodelados como barro nas mãos do oleiro, refinados na fornalha “como a prata é acrisolada” (Salmo 65,10). A rejeição é o início do processo que termina com o que o Velho Testamento chama de “endurecimento do coração”, e ele deixa a pessoa menos aberta ao amor, menos maleável nas mãos de Deus, menos disponível ao seu próximo.

A mensagem de que o amor de Deus tem que expressar no serviço do próximo se encontra frequentemente nas páginas das Escrituras, e é expressada de maneira clara, sem rodeios, na Carta de São João:

“Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4,20).

É precisamente porque não podemos ver Deus que podemos saber que a nossa oração é válida pelo efeito que tem em nossas vidas, pela maneira em que tratamos nosso próximo. Isto não é a mudança do culto a Deus numa filosofia de serviço do homem, porque é um princípio básico do Cristianismo que os dois são inseparáveis. Em seu discurso sobre o julgamento final, Cristo diz a seus discípulos que aqueles que serão salvos são os que o serviram disfarçado como faminto, sedento, doente ou encarcerado. Aqueles que não atendem aos clamores dos necessitados ouvirão no último dia as palavras:

“Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixaste de fazer” (Mateus 25,45).

(“Oração para Pereginos” – Um livro sobre oração para pessoas comuns (subtítulo). Sheila Cassidy, inglesa, nascida em 1937, é médica, atuou politicamente na defesa dos Direitos Humanos. Ela é, também, uma escritora católica com diversos títulos publicados).