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As surpresas de Deus

(SHEILA CASSIDY)

“Ouvi a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei eu? E quem irá por nós? - Eis-me aqui, disse eu, enviaime!” (Isaías 6,4-9)

Deus chama quem ele escolhe, e se eles aceitarem seu convite e cooperarem com a sua graça por meio da oração e conformidade com a sua vontade, ele fará grandes coisas neles. O ser humano é, no entanto, sempre livre, e o “seja feito” dele, o seu “sim”, tem que ser uma resposta contínua, um processo de consentimento constante ao que Deus está pedindo. Uma atitude de escutar a Deus, a qual é a essência da oração, é o principal caminho para descobrir o que é a vontade de Deus para nós. Mesmo que possamos prever, talvez com alto grau de exatidão, qual será o futuro de nossas vidas, nunca podemos conhecê-lo com certeza; assim, se quisermos ser disponíveis para o Espírito de Deus, temos que ficar sempre abertos à possibilidade de que ele vai pedir para nós uma coisa totalmente inesperada.

A atitude de ficarmos na expectativa para o inesperado não é muito diferente àquela cultivada por mães de crianças pequenas, e por médicos em hospitais de emergência. A mãe sabe que, se ela virar as costas por um momento só, ela corre o risco de achar a criança com os dedos num soquete elétrico, ou tentando alcançar uma panela de água fervente. Para o médico é a mesma coisa, hora após hora de trabalho de rotina num pronto socorro, pode ser repentinamente interrompida pela chegada de um motociclista seriamente ferido, por uma criança que tomou veneno, por uma mulher com hemorragia, e assim por diante. Literalmente, o médico não sabe nem o dia nem a hora em que sua resposta imediata será necessária para salvar uma vida.

E é assim com nossa abertura a Deus. Temos que estar sempre atentos às pessoas que encontramos, às situações que surgem, porque os pedidos que ele faz vêm muitas vezes numa forma totalmente imprevista. Essa abertura só pode ser realizada por meio da escuta contínua de Deus, pe-la oração frequente, pela meditação da sua Palavra nas Escrituras, como também na atenção ao modo em que ele revelou sua vontade para nós no passado. Uma boa parte da nossa compreensão da ação divina em nossas vidas só a conseguimos por um conhecimento tardio. Quando uma crise particular em nossa vida ou um acontecimento já passaram, clama-mos, admirados, como Jacó: “O Se-nhor está nesse lugar, e eu não sabia” (Gênesis 28,16). Como as virgens prudentes, temos que esperar a chega-da do noivo com nossas lâmpadas acesas, certos de sua chegada, mas reconhecendo que não sabemos o momento exato (Mateus 25,1-13). (continua)

(“Oração para Peregrinos”. Sheila Cassidy, nascida na Inglaterra em 1937, foi médica e também autora de vários livros, entre os quais um de caráter autobiográfico: “A Audácia de Crer” - “Audacity to Believe”. Foi vítima de tortura no Chile na época do regime de Augusto Pinochet, pelo fato de ter dado assistência médica a um oponente do regime).