Itan Nipa Orisa - Histórias Sobre Deuses

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Itan Nipa Orisรก





Itan Nipa Orisá Título Itan Nipa Orisá - Histórias sobre deuses

Projeto Gráfico Eduardo Tavares

Compilador/Organizador Eduardo Tavares

Ilustrações Eduardo Tavares

Livro número



Prefácio "Os olhos estavam abertos com dificuldade diante de tanta luz, havia uma lagoa central tão cristalina que se podia acompanhar o nado faceiro dos peixes graúdos, sadios e livres. Os portões eram construídos de ferro puro, pareciam oriundos das mãos de um anjo artesão, forjado com lava pura, tamanha a delicadeza em suas formas. Ao longe, onde a vista alcançava, um monte rochoso tão alto quanto as nuvens, se erguia em direção ao céu azul. Logo à esquerda, a mata se fechava e parecia acolher um mundo próprio para si, onde ouvia-se o cantar dos pássaros e o grunhir dos animais selvagens. Um arco-íris cruzava o céu, em forma perfeita, de um lado a outro daquele paraíso. Um búfalo pastava manso e livre em uma colina verdejante à direita, sob a sombra de uma estrondosa árvore. O vento soprava determinado, havia uma densidade nos minutos, ainda que a percepção de tempo não fosse exatamente clara. "Tempo é muito relativo, meu filho..." sussurrava uma voz calma e passageira como um pensamento, vindo da própria cabeça. "(...) tão relativo quanto viver." completou. Um arrepio correu pela espinha, nunca antes havia provado tamanha paz. A voz misteriosa fez-se ouvir novamente: "É apenas um segundo de vida, um lapso de existência. Você mergulhou em uma pequena distorção na realidade tempo/espaço. Foi um dos escolhidos, quero apresentar-lhe treze amigos." "Por acaso morri e estou no céu?" pensei com sinceridade. Fui corrigido imediatamente: "No Orum: o céu dos Orixás." Silma Tí Iemonjá



Sumário Bará......................................11 Iansã......................................17 Ibeji.......................................21 Iemanjá.................................25 Obá.......................................31 Odé.......................................37 Ogum....................................43 Ossãe....................................49 Otim.....................................53 Oxalá.....................................59 Oxum....................................65 Xangô....................................71 Xapanã..................................77


Bará ou Exu Saudação: Alupo! (Abre senhor do dende!) Suas cores são preto e vermelho Seu número é 7 Ele rege os caminhos e mercados


Barรก


Em busca dos odus Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: “Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios”. Iemanjá disse: “Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não têm medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos”.

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Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: “Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses têm fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça... eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e conheça seu significado. Assim poderás conquistar os homens”. Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: “Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lu-

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gares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedoria, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo”. Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: “Isso é muito bom”. Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.

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Iansã Saudação: Eparrei! (Olá!) Suas cores são vermelho e branco Seu número é 8 Ela é a dona dos ventos e tempestades


Iansã


A dona dos ventos Iansã tinha um pai adotivo e vivia com ele na mata. Ele era o maior de todos os caçadores. Um dia, morreu e deixou Iansã muito triste. Ela decidiu que queria fazer uma homenagem para o pai. Embrulhou seus pertences de caça num pano, preparou suas iguarias favoritas. E dançou e cantou por sete dias, espalhando seu vento por toda parte e fazendo vir todos os caçadores da terra. Na sétima noite, embrenhou-se na mata e depositou ao pé de uma árvore sagrada os pertences de seu pai. Olorum, que sempre vê tudo, ficou comovido. Fez da jovem Iansã guia dos mortos no caminho sagrado, Orum Aiê e mãe dos espaços dos espíritos. Fez de seu pai, Odulecê, um Orixá. E do gesto de Iansã, o ritual ao qual todos os mortos têm direito: comidas, cantos, danças e um espaço sagrado... Iansã teve muitos homens e de cada um ganhou uma coisa importante: Ogum, o ferreiro divino, deu-lhe nove filhos e o direito de usar a espada para defender-se e defender os outros; de Oxaguiã, o jovem construtor, ganhou um escudo para proteger-se dos inimigos; o direito de usar a magia e o poder do fogo para realizar desejos foi Exu que deu; de Oxóssi, o caçador, ganhou o saber da caça para alimentar seus filhos; Logun Edé, o senhor das matas, deu-lhe o direito de tirar das cachoeiras os

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frutos d’água para seus filhos; com Xangô, o juiz, viveu o resto da vida e ganhou dele o poder do encantamento, o posto da justiça e o domínio dos raios. Um dia, houve uma festa, todos os Orixás estavam presentes. Omulu-Obaluaê, o temido Orixá das doenças, chegou vestido de palha. Ninguém o reconheceu e nenhuma mulher quis dançar com ele, mas eis que, de repente, Iansã entra na roda e se atrave a dançar com o Senhor da Terra. Ela tanto girava que levantou o vento, e o vento descobriu a palha de Omulu e todos puderam ver o quanto era belo. Assim, o reverenciaram. Ele ficou tão grato que fez de Iansã a rainha dos espíritos dos mortos, Oiá Igbalé, a condutora dos eguns, os espíritos dos mortos. E ela dançou de alegria a sua dança que convoca o vento.

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