TFG Cidade e Educação - uma experiência de urbanização no Benfica

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CIDADE E EDUCAÇÃO uma experiência de urbanização no benfica

ISABELA RIBEIRO DE CASTRO



UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

CIDADE E EDUCAÇÃO uma experiência de urbanização no benfica

ISABELA RIBEIRO DE CASTRO

sob orientação de: ROMEU DUARTE JÚNIOR



ISABELA RIBEIRO DE CASTRO

CIDADE E EDUCAÇÃO uma experiência de urbanização no benfica

BANCA EXAMINADORA

PROF. ROMEU DUARTE JÚNIOR Universidade Federal do Ceará - UFC

PROFA. CLARISSA FIGUEIREDO SAMPAIO FREITAS Universidade Federal do Ceará

ARQ. NEWTON BECKER CÉLIO DE MOURA Coordenadoria de Projetos e Obras (CPO) - UFC

Fortaleza, 22 de Julho de 2016.



agradecimentos a Deus, que se manifesta rotineiramente na minha vida através do amor. aos meus adorados pais, Vera e Helano, por tudo o que sou e pelo que ainda quero ser. pelo apoio incondicional, no sentido mais literal que essa palavra pode ganhar. por me ensinarem o significado real de empatia, afeto, igualdade e justiça, que tanto me fazem ver o mundo, a cada dia, com novos olhos. à minha irmã, Mariana, pelo seu companheirismo, que nunca na vida permitiu que eu me sentisse sozinha. por me ajudar a crescer e acreditar tanto no melhor de mim. ao meu querido Daniel, pela paciência, compreensão e paixão de todos os dias. por me incentivar, diariamente, com um amor tão doce. ao amigo e professor Romeu Duarte, por acreditar tanto quanto eu neste trabalho. pelas ideias, discussões, trocas, amparo e por se parecer tanto comigo, em alguns aspectos. aos queridos professores e também amigos Clarissa e Renan, por me fazerem acreditar tanto na profissão que seguirei. por serem pessoas tão inspiradoras e me encherem de esperança. ao arquiteto Newton Becker, por aceitar de forma tão gentil o convite para compor essa banca. amigo, realmente, é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. obrigada às amigas Nayanne e Camila, pelo apoio e carinho rotineiros; à amiga Bia Gama, por ter trilhado esse caminho tão especial comigo desde que ele era apenas um sonho; às amigas Natália, Gisela e Fernanda, por todo o desespero e as alegrias compartilhadas; às amigas Lara, Bia Adjafre, Eduarda e Bia Ko, pelas certezas que significam; aos queridos amigos Serrinha, Macedo e Renan, por me ouvirem e ajudarem em cada lamúria sobre o tal “TFG”; à amiga Raquel, pelas conversas tão enriquecedoras; aos amigos Bruno Braga, Bruno Perdigão, Igor e Luiz, por terem me mostrado o quanto uma rotina de trabalho pode ser prazerosa; aos amigos da Certare, por todas as doses de compreensão e afeto que me deram durante esse período; aos queridos Marina e Paulo, pelas experiências que vivenciamos juntos no além-mundo e pela ajuda vinda de uma amizade consolidada; a todas as amigas e amigos que entenderam esse período de ausência e que me transmitiram forças com um olhar, uma palavra ou um sorriso. e, por fim, à minha amada Universidade Federal do Ceará que, com suas pessoas, almoços baratos, mangueiras, pensamentos, trocas, momentos de desespero e vitória, mudou, para sempre, a minha forma de encarar a vida. hoje em dia, esse olhar tem mais cor, verdade, amor e gentileza.



“o homem é a maior alegria do homem.” [em A Edda Poética)


00 SUMÁRIO

1. ENTRE PRINCÍPIOS

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i. aproximação

inquietações o tema porquês objetivos

2. UNIVERSIDADES: EVOLUÇÃO HISTÓRICA

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das origens século XV as britânicas da “América” brasileiras

3. DAS IDADES DO ESPAÇO PÚBLICO

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ii. imersão

antiga média moderna atual

4. O PÚBLICO NA ESCALA LOCAL

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5. UM OLHAR SOBRE O BENFICA

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contexto antes agora

geral das origens Gentilândia Universidade plural


6. DAS REFERÊNCIAS

iii. prática

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newcastle university king’s road [newcastle] avenida 20 de noviembre [cidade do méxico] centro aberto [são paulo]

7. ESPAÇO: DAS PESSOAS E PARA AS PESSOAS

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panorama zoom in diretrizes tipos intervenção I intervenção II intervenção III intervenção IV gerais

i v. d e s f e c h o

8. DESENLACE

fim

ANEXOS

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referências bibliográficas lista de figuras

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01 entre princípios

“o lugar estava ali a pessoa apareceu depois a pessoa partiu o lugar continuou o lugar tinha feito a pessoa a pessoa havia transformado o lugar.” [José Saramago]



entre princípios

inquietações

Das descobertas e escolhas que fiz nos últimos anos do meu período de graduação - oficialmente vivenciado na Universidade Federal do Ceará [UFC] , porém com importantíssimos intervalos na Universidad de Granada (Espanha) e na University of Sydney (Austrália) -, despontaram a temática central e o local de intervenção do meu Trabalho Final de Graduação. Acredito que, dentre todos os legados que a Arquitetura e o Urbanismo já me trouxeram, o principal e mais recorrente na minha forma de pensar e nos meus anseios cotidianos seja o refinamento do olhar sobre a cidade; sobre a forma transescalar como as pessoas modificam e atuam nos seus espaços e sobre como os espaços, por sua vez, agem sobre as pessoas e influenciam, rotineiramente, suas vidas. Essa forma mais clara de perceber os estímulos [e desestímulos] que a cidade gera sobre seu público e que este gera sobre a cidade - visto que, na contemporaneidade, a esmagadora maioria das alterações realizadas no meio urbano são consequência da ação humana direta ou indireta - foi construída por experiências das mais diversas: nas disciplinas de Projeto Urbanístico da UFC, em que todos os prefixos “re” - requalificar, reassentar, reinventar, reinterpretar - eram palavras-chave; no estágio de 09 meses realizado no Urban Planning and Heritage Department da City of Sydney, aonde aprendi a ser uma otimista incansável; nas viagens pela América Latina, “continente” em que as mudanças positivas nas cidades têm um quê especial de vitória; nas discussões, congressos, manifestações e ações coletivas e individuais pela cidade, que me mostraram as leis de causa e efeito que regem o território urbano. Jaime Lerner, no prólogo à edição brasileira do livro “Cidades Para Pessoas”, destaca que: “Se a vida, como disse Vinícius de Moraes, é a arte do encontro, a cidade é o cenário desse encontro - encontro das pessoas, espaços das trocas que alimentam a centelha criativa do gênio humano. Encontro deve se traduzir em qualquer momento de convivência com a cidade, seja no trabalho, no transporte, e também no lazer.” (apud GEHL 2014, p. XII) [1]

Fortaleza é uma cidade que, assim como outras metrópoles brasileiras, passou por um processo de crescimento populacional e urbano acelerado

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e desenfreado nas décadas finais do século XX; o planejamento urbano não ocorreu de forma simultânea a esse crescimento e as consequências desse desencontro são perceptíveis nas inúmeras barreiras e quebras [visíveis e invisíveis] que se dispõem ao longo do seu meio urbano: há a priorização exacerbada dos meios de transporte automotores; a péssima qualidade estrutural e as dimensões reduzidas dos passeios; a marginalização periférica da população de baixa renda; os muros, como uma forma insegura de tentar trazer segurança; a perda progressiva da escala humana; o baixo índice de áreas verdes públicas; a segregação entre as edificações, provocada pela deturpação da função original do espaço urbano público, entre outras. Cada um desses aspectos e, principalmente, a junção de todos eles em um mesmo contexto urbano afasta as pessoas do espaço comum; diminui a convivência e as trocas sociais, as oportunidades de se vivenciar a cidade de uma forma humanista; desestimula as experiências no espaço público que são parte da formação integral de cada um. Diante de tantos fatores que denotam condições negativas de urbanidade, estudos e clamores populares recentes, oriundos da angústia que se instaurou na cidade, vêm repensando a situação atual e tentando reinventar Fortaleza e a relação que as pessoas mantêm com seus espaços públicos. Percebe-se como urgente a necessidade de restaurar as condições urbanas capazes de promover o cuidado, a identificação e o afeto entre as pessoas e os espaços que, em teoria, deveriam servir ao seu uso comum. 07


01 | entre princípios

o tema

O projeto “Cidade e Educação: uma experiência de urbanização no Benfica” pretende atuar no polígono do bairro Benfica que concentra a zona universitária e seus arredores, se utilizando de alguns dos princípios definidores do movimento em prol das Cidades Educadoras [3] - iniciado em 1990, na cidade de Barcelona e formalizado em 1994, em Bolonha para garantir a transformação do local. A proposta consiste, basicamente, em trazer modelos de intervenção urbana que ressignifiquem partes variadas - em termos de escala e contexto - do espaço público e semi-público da área designada para o projeto, de forma a torná-los apropriados e convidativos para a convivência, a permanência, o lazer, a propagação cultural, as trocas de experiências, o aprendizado vivencial e, dessa forma, estimular uma formação integral dos cidadãos. Para tanto, percebe-se como necessidade premente o estabelecimento de duas categorias de diálogo, que serão facilitadas através do desenho urbano das intervenções propostas: a primeira, entre as diversas partes da Universidade Federal do Ceará, que se encontram fragmentadas pela própria organização dos espaços públicos dentro do Benfica; e a segunda, entre a Universidade e o restante do bairro - e da cidade como um todo -, de forma que a educação ultrapasse os muros das escolas e seja acessível a toda a população, nos espaços de uso comum. Os modelos de intervenção urbana propostos para os espaços públicos do polígono designado serão trabalhados, portanto, como a malha permeável que proporcionará a união entre os seus fragmentos urbanos; que lhes dará coesão; que funcionará como a água que une diversas porções de terra e, a partir dessa união, transforma esse conjunto em um arquipélago. Essa mesma malha conectora será redesenhada e ressignificada de forma a fazer com que o espaço público cumpra com sua função social de servir às pessoas, proporcionando diversas tipologias de interações e experiências que terminam por resultar em uma educação social informal. _ * Cidade Educadora é um conceito que remete ao entendimento da cidade como território educativo. Nele, seus diferentes espaços, tempos e atores são compreendidos como agentes pedagógicos que podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa, garantir a perenidade do processo de formação dos indivíduos para além da escola, em diálogo com as diversas oportunidades de ensinar e aprender que a comunidade oferece.

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porquês

CARRIÓN, a respeito das quebras e do processo de fragmentação do meio urbano, destaca que: “E a fragmentação se desenvolve através da desarticulação de cada um dos componentes do conjunto urbano, produzindo a ruptura da unidade urbana. Castells [2] (apud CARRIÓN 2008) chega a propor que as cidades são “constelações descontínuas de fragmentos espaciais”. Dessa maneira, a cidade se converte em um mosaico de espaços desconexos e desarticulados, que tendem a diluir o sentido de unidade desde a perspectiva das identidades, da funcionalidade de seus componentes e do governo.” (CARRIÓN, 2008, p.17) [3]

Nota-se que a qualidade dos espaços públicos nas metrópoles brasileiras vem decaindo com extrema rapidez. De meio congregador e conector, o espaço que, em teoria, pertence a todos e deveria servir ao uso comum, cada vez mais se configura como elemento segregador. As causas dessa transformação são diversas e atuam de forma conjunta. Como exemplos, tem-se a priorização exacerbada que vem sendo dada ao tráfego de veículos automotores; a negligência para com a escala e a velocidade humanas na cidade; a ausência de um desenho urbano e de elementos que convidem as pessoas a realizarem atividades nos espaços comuns; a descontinuidade dos caminhos; as barreiras físicas e visuais, que impossibilitam o contato e a interação, dentre vários outros. 09

Todos esses elementos encontram-se presentes no polígono do Benfica que abriga várias das edificações pertencentes à Universidade Federal do Ceará e seus arredores. No entanto, diferentemente de outras localidades da cidade de Fortaleza, o bairro permanece sendo rico, dinâmico, muito movimentado e grande parte disso se deve à atração de pessoas e usos que o polo universitário exerce. Nota-se também que o Benfica, como poucos bairros, ainda consegue manter viva, em sua população - tanto a nômade, que contribui imensamente para o povoamento do local, quanto a residente - uma forte relação de afeto e identificação. A definição do projeto, portanto, se justifica pelas más condições de urbanidade em uma zona extremamente singular da cidade de Fortaleza, já que o polígono delimitado possui imensa riqueza cultural e patrimonial; diversidade de usos e de atividades; o vigor, a intensidade e a juventude dos estudantes; a presença rotineira de pessoas diversas. Em síntese, um local cheio de oportunidades, mas com o potencial extremamente mal aproveitado, já que seus espaços públicos, que deveriam cumprir com suas funções de formação do caráter individual e construção da coletividade, cada vez mais, vêm tendo seus valores originais subtraídos e deturpados.


01 | entre princípios

objetivos

De forma geral, o objetivo do projeto pode ser sintetizado na ideia de, através de alguns modelos de intervenção urbana e do estabelecimento de um novo regime de usos em espaços públicos e semi-públicos, permitir que a área do projeto realmente possa funcionar como um lugar educador, onde há espaço para a fruição social nos locais de uso comum. As pretensões mais específicas do projeto são: [a] permitir que os espaços públicos sejam devidamente ressignificados. Que suas funções originais de conexão, incentivo à permanência, à convivência, às trocas entre pessoas, aos encontros e ao aprendizado vivencial sejam retomadas. Além de representar um ganho geral para todos que frequentam o Benfica, a existência de espaços de diversidade e de fruição pública fomentará as atividades de formação extracurricular, permitindo, assim, que esses espaços funcionem como extensões do ensino que atualmente já é provido dentro das edificações da Universidade. O aprendizado ultrapassará, portanto, os muros das escolas. [b] fortalecer o vínculo e a interação entre os diferentes tipos de usuários, e entre as várias atividades da zona designada para o projeto. Que a população residente possa, por exemplo, ter acesso direto e usufrua do que ocorre nos espaços de educação da Universidade; que os espaços públicos sejam locais de trocas de experiências entre pessoas de faixas etárias e estilos de vida distintos; que as atividades práticas dos cursos da Universidade possam se dar nos próprios espaços públicos. Em resumo, que a população se aproprie e tire partido da interação, da convivência e da diversidade de atividades no local. 10

[c] garantir a democratização dos espaços públicos de forma que estes sirvam, genuinamente, a todos os tipos de público. Nesse sentido, devese trabalhar, por exemplo, para que os percursos por todos os modais de transporte possam ser realizados; para assegurar a acessibilidade universal na malha urbana; para transformar os espaços públicos de forma que estes sejam provedores de múltiplas atividades, entre outros. [d] assegurar que, através de uma das vertentes de ressignificação dos espaços públicos [a conexão], os diversos equipamentos que compõem a Universidade - ou seja, que já fazem parte da mesma unidade institucional - possam estar devidamente conectados, de forma a compor, também, uma mesma unidade física, que, apesar de permanecer heterogênea, terá uma permeabilidade bastante acentuada. [e] garantir que o projeto esteja contextualizado com as marcas identitárias e as riquezas que são ou já foram componentes do bairro e que sirva às pessoas, atendendo aos seus desejos, anseios e necessidades.



02 universidades: evolução histórica

“ninguém educa ninguém ninguém educa a si mesmo os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo.” [Paulo Freire]



universidades: evolução histórica

das origens

Oficialmente, a UNESCO [4] reconhece a Universidade de Karueein (ou Al Quarawiyyia), fundada na cidade de Fez, no Marrocos, no ano de 859 d.C. como a primeira universidade do mundo, segundo a caracterização moderna de “universidade”. No entanto, muitos autores classificam instituições anteriores a essa como sendo as verdadeiras pioneiras - por exemplo: a escola de escribas sumérios Eduba; a Academia, fundada por Platão em Atenas; a Universidade de Nalanda, na Índia, fundada por volta do século V e saqueada por invasores muçulmanos em 1193. Como o projeto pretende atuar em uma zona da cidade de Fortaleza marcada pela presença de uma instituição representativa do ensino superior brasileiro, considera-se pertinente a remontagem dos cenários que, de alguma forma, influenciaram o surgimento e o desenvolvimento das universidades no Brasil. Por conta disso, optou-se por resgatar a história das universidades a partir da segunda metade do período medieval, de quando data, segundo vários estudiosos do tema, a origem das bases para os centros universitários ocidentais do mundo atual. Segundo grande parte dos historiadores, o processo de desenvolvimento urbano e cultural, na Europa Ocidental, situa-se por volta do século XII. As cidades passam a distinguir-se das vilas que rodeavam castelos senhoriais ou grandes mosteiros tanto por conta do crescimento demográfico quanto pelas condições sociais, econômicas e políticas inteiramente novas. Segundo Verger [5] (apud PINTO E BUFFA, 2009) [6], a cidade se identifica, propriamente, a partir de duas características fundamentais: a primeira é a divisão do trabalho, que passa a ocorrer na medida em que as pessoas se especializam em ofícios distintos e que traz como consequência direta a associação em corporações dos que exercem o mesmo trabalho, com o intuito básico de se protegerem. A segunda é a liberdade, a autonomia que os cidadãos passam a almejar e a pleitear, coletivamente, junto aos seus governantes. Das corporações organizadas na época, a mais interessante, no que tange ao estudo do surgimento e desenvolvimento das universidades, é a de mestres e estudantes, “que recorrem à associação corporativa para

afirmarem sua força e obter uma certa autonomia em relação aos poderes religioso e civil.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5725)

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“Essa corporação era também chamada universitas - ensino aberto a todos, clérigos e leigos, – ou studium – o local do estudo, uma cidade onde há mestres oferecendo instrução. Esse era o sentido original dessas palavras, mas foi o termo universitas e não studium que se tornou o nome padrão para designar a nova instituição nascente. Mais tarde, o termo universidade passou a ter o significado de “universalidade do saber”, sentido que o termo não tinha inicialmente.” [PINTO e BUFFA, 2009, p.5725]

O desenvolvimento urbano, comercial e cultural do século XII acarretou a expansão do uso da escrita, o desgaste do monopólio da Igreja Católica, e a criação das escolas, tanto para a transmissão de conhecimentos, em suas mais variadas vertentes, quanto para a formação profissional. Os mestres tiveram sua liberdade consagrada, a partir do momento em que passaram a reunir-se em corporações, já que, em grupo, lhes era possível ter mais habilidade e voz para defender seus interesses e os privilégios conquistados, deixando de ser dependentes dos senhores feudais e das imposições da Igreja Católica. [6]

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É importante notar que, nesse período inicial de surgimento das corporações de mestres e de suas respectivas associações com os estudantes, não havia prédios específicos para o funcionamento das aulas. O ensino ocorria nas próprias casas dos mestres - típicas residências medievais, sem qualquer tipo de luxo, de noção de isolamento entre os cômodos, com aberturas de tamanho reduzido, e sem mobiliário apropriado para a ocorrência das atividades de ensino. [6]

img. 01: pintura fazendo a hipotética reconstrução do interior de uma casa medieval.


02 | universidades: evolução histórica

Nesse início, também não havia a divisão em graus, classes ou grupos de pessoas com conhecimentos e faixa etária similar. Os alunos, segundo Petitat [7] (apud PINTO E BUFFA, 2009), assistem a aulas avulsas por tanto tempo quanto lhes permitir os seus recursos financeiros e lhes exigir as suas ambições. A ambição poderia ser, por exemplo, concluir a Faculdade de Artes (à época, uma das mais básicas) e tornar-se, assim, um mestre em Artes. Ou, então, concluir a Faculdade de Artes e dirigir-se às faculdades superiores, como Medicina, Direito ou Teologia para, posteriormente, dedicar-se ao exercício dessas profissões. Aos que sequer concluíam a Faculdade de Artes, as possibilidades eram ingressar em atividades comerciais, de artesanato ou em funções mais burocráticas e ligadas ao governo real - como nas administrações comunais. O número dessas salas de aula e das universitas aumenta de forma simultânea ao crescimento das cidades. Como todas as demandas que se relacionam, direta ou indiretamente, à ascensão demográfica também aumentam, faz-se necessário o surgimento de novas residências para abrigar os estudantes mais pobres, que provinham de outras localidades. Estas, inicialmente, receberam as denominações de hospitia ou pedagogia, e eram mantidas por nobres ou eclesiásticos enriquecidos. (Petitat apud DALLABRIDA, 2004) [8] Também se instaurando como um processo simultâneo ao crescimento urbano, há a intensificação do comércio e, consequentemente, do mercado consumidor e da respectiva necessidade de mão-de-obra. Os referidos aumentos também influenciaram a organização dos espaços de ensino. Estes passaram a ocorrer nas próprias hospitia - processo que, segundo Petitat (apud DALLABRIDA, 2004), iniciou-se em Paris, em princípios do século XIV com aulas de recuperação para os estudantes. Essa ocorrência representa um importante marco na evolução da história da educação, na medida em que simboliza o início da transição das aulas avulsas e do ensino disperso para o agrupamento de estudantes e professores em um certo número de estabelecimentos - processo que, mais tarde, culminaria na institucionalização do ensino nos emergentes colégios. Esta solução, à época, acabou por se mostrar bastante conveniente para os mestres, pois os alunos já estavam todos reunidos no mesmo local, e ele não tinha mais que dispor de um espaço da sua própria casa ou alugar uma sala externa. [6]

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século xv

É notável o grande contraste entre a origem modesta das universidades e o seu desenvolvimento posterior. As transformações mais significativas nesses espaços de ensino se concretizaram no fim da Idade Média, ao longo do século XV, período em que culmina o processo de aproximação entre o ensino universitário e um modelo proposto pela classe dirigente (a nobreza). [6] De acordo com Verger (apud PINTO E BUFFA, 2009), esse processo redundou na aristocratização crescente das universidades, que se rebate tanto entre os seus estudantes e professores, quanto na formatação física dos seus espaços. Alguns exemplos desses reflexos são: a segregação dos estudantes mais pobres nos cursos de curta duração (não ultrapassando a Faculdade de Artes); o luxo e a ostentação que passam a existir nos vestiários, cerimônias e nos prédios das universidades; o fato de o ensino adquirir uma elegância de estilo, objetivando uma perfeição formal, “diferentemente dos escolásticos do século XIII, para quem a sofisticação do estilo poderia deformar as ideias.” (PINTO E BUFFA, 2009, p. 5729)

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Segundo Verger, “doravante, o saber será considerado como posse e tesouro” (VERGER, 1990, p. 148). Sendo assim, o ensino, que antes ocorria de forma livre, sem sofisticação ou regras previamente estipuladas, e em qualquer ambiente disponível na casa do mestre ou nas moradias estudantis, passa a acontecer em edifícios novos, construídos justamente com o fim de servir de espaço às universidades. Exemplos disso são as salas góticas da Divinity School, construídas em Oxford, por volta de 1470, para os teólogos; as salas de aula construídas em Bolonha; o palácio adquirido para a instalação da Faculdade de Medicina de Paris; dentre outros edifícios que contam com uma riqueza estilística e uma majestade que contribuem para que, até hoje, sejam vistos como locais luxuosos e de acesso restrito. [6] Ainda de acordo com Verger (apud PINTO E BUFFA, 2009), os prédios das universidades permaneceram modestos se comparados aos dos colégios modernos do século XVI.


02 | universidades: evolução histórica

as britânicas

img. 02: quad do New College of Oxford, em Oxford, Inglaterra.

Dentre os principais exemplos de universidades que surgiram e se desenvolveram entre os séculos XII e XV, estão Oxford e Cambridge. Nas suas origens, segundo Turner [9] (apud PINTO E BUFFA, 2009), ambas foram modeladas pela Universidade de Paris, tanto no que diz respeito ao conteúdo dos estudos, quanto ao método de ensino. Na Inglaterra, os halls e hostels (casas alugadas por grupos de estudantes, algumas vezes sob a direção de um mestre, onde eles dormiam e faziam as refeições) eram tipologias correspondentes às hospitia francesas. Turner (apud PINTO E BUFFA, 2009) informa que, em meados do século XV, havia, aproximadamente, 70 halls desse tipo na cidade de Oxford. É nesse período, porém, que passam a existir os colleges, “que eram estabelecimentos permanentes, fundados por benfeitores, muitas vezes destinados a estudantes pobres, com regulamentos específicos de disciplina e de estudo.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5729)

Ao que tudo indica, o primeiro desses colleges foi o Merton College de Oxford, fundado em 1264. Em 1379, foi fundado o New College de Oxford, oferecendo alojamento e educação a seus alunos. Com referência nos claustros medievais, a planta dos colleges adotou o quadrângulo (quad) como elemento articulador da disposição das edificações e de sua provável e posterior expansão. O quad correspondia a um extenso gramado verde central, com o formato de um retângulo ou quadrado. [6]

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Nas 04 arestas delimitadas pelo quad, as edificações, geralmente de 02 andares e com a circulação aberta para o espaço verde central, eram implementadas. Esses prédios constituinentes do conjunto abrigavam um hall com refeitório e cozinhas, salas de aulas e de estudos, biblioteca e os quartos dos estudantes (já que o regime adotado, à época, era o de internato, no qual os alunos residiam no ambiente universitário e podiam, dessa forma, ser capazes de obter uma formação integral). [6] É interessante notar que o quadrângulo foi, posteriormente, bastante replicado - guardando as devidas especifidades de cada local - para vários outros centros universitários, localizados em partes diferentes do globo - a exemplo do edifício The Quadrangle, componente da Universidade de Sydney, cuja construção demorou cerca de 100 anos para se concretizar. O edifício foi oficialmente inaugurado nos anos 60 e, até os dias atuais, representa um espaço de imenso valor simbólico para sua população universitária e para a arquitetura australiana.

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img. 03: The Quadrangle da Universidade de Sydney, em Sydney, Austrália.


02 | universidades: evolução histórica

img. 04: vista aérea da Universidade de Oxford hoje, onde o quad predomina como elemento articulador do conjunto total.

Já em Cambridge, o modelo adotado para a conformação espacial da Universidade foi o court, que consistia em um conjunto organizado de forma bastante similar ao quad, com a diferença básica de que, em vez do gramado central, havia um pátio “todo calçado, aberto para o céu, sempre propício a reuniões e encontros e permitindo a circulação sem obstáculos.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5730)

Em ambos os casos - quads e courts -, o quadrado ou retângulo articulava e definia tanto as edificações dispostas sobre suas arestas, quanto eventuais processos de expansão das universidades, pois um novo quad ou court e seus respectivos edifícios poderiam sempre ser acrescidos ao conjunto. [6] Na interpretação atual, cada grupo desses espaços centrais com suas edificações poderia ser encarado como um módulo, através do qual o conjunto total se organiza e se expande. Além disso, os quads e courts correspondiam também a uma importante estratégia para assegurar o bom condicionamento ambiental dos espaços

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internos das edificações que articulavam. A influência dos edifícios monásticos sobre a arquitetura dos colleges podia ser facilmente percebida na organização interna de seus espaços, já que nos colleges replicavase a tipologia de salas que se sucediam, longos corredores centrais e a localização próxima de funções similares; daí o papel fundamental dos quads e courts na garantia da iluminação e ventilação naturais dos ambientes internos de cada ala. [6] A partir dessas construções, as universidades passam, portanto, a definirse como uma nova categoria de prédios urbanos. Possuíam uma interrelação muito forte com a cidade e, facilmente, mesclavam-se com o meio urbano ao redor; isto é, edifícios que, inicialmente, não faziam parte do conjunto universitário, com o tempo e a expansão deste, passam a ser adquiridos e a integrá-lo. No entanto, é importante ressaltar que, mesmo com o crescimento, o território das escolas definia-se por cada um dos seus edifícios e não por um sítio, por uma área delimitada, fechada e apartada da cidade. [6]

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02 | universidades: evolução histórica

da “américa”

Nos Estados Unidos da América, surgem novos traços fundamentais para diversificar as tipologias, até então, existentes para os centros universitários. Inicialmente, as colônias americanas receberam o excedente dos estudantes ingleses, fato que motivou a fundação dos primeiros colleges americanos. Desde o período colonial, no entanto, os colleges e universities americanos, diferentemente dos britânicos, são concebidos como comunidades neles mesmos; isto é, como cidades microscópicas. [6] Os norte-americanos inauguraram, genuinamente, a tipologia campus. A palavra remete à localização dessas “comunidades universitárias autônomas”, estabelecidas nos limites da cidade ou do campo, locais em que os alunos poderiam receber uma formação integral – de caráter e profissional -, longe das influências da cidade, consideradas nefastas e nocivas. [6] Os campi universitários norte-americanos, por serem concebidos como cidades em miniatura - uma grande área fechada, delimitada, com regras, costumes e leis próprias - requeriam, em seu processo de planejamento, um desenho urbanístico. Este, por sua vez, desenvolvia-se, geralmente, através de um eixo central – que cruzava todo o campus e que tinha a biblioteca como marco final - e de vários perpendiculares, ao longo dos quais estavam as edificações, separadas entre si pelos grandes jardins e áreas abertas. [6] Esse ideal romântico de uma escola na natureza “é tão forte na América que, mesmo as escolas localizadas nas cidades, onde a terra é mais escassa, procuram áreas que simulem, de alguma forma, com muito verde, um rio ou um lago, uma espacialidade rural.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5733)

img. 05: vista aérea da Universidade de Virginia, em Charlottesville, nos Estados Unidos. Primeiro campus fundado no território norte-americano, em 1819, por Thomas Jefferson.

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É muito clara a relevância que a arquitetura das universidades norteamericanas atribui às atividades extra-curriculares de seus alunos. Na medida em que a universidade era encarada como um ambiente de formação de cidadãos diferenciados - aqueles que, um dia tomariam decisões acerca do futuro do país -, considerava-se de extrema importância que a construção de profissionais qualificados, sob o ponto de vista das ciências, fosse sempre complementada pela formação de personalidades compostas por valores morais positivos, como o respeito, a empatia, o senso de coletividade, o altruísmo, dentre outros. Para tanto, nota-se que o trabalho do arquiteto não se limitava a produzir edifícios isolados - como, até então, vinha ocorrendo no continente europeu -, mas uma comunidade inteira. Espaços recreativos, abertos, verdes e o constante contato físico e/ou visual com elementos da natureza eram diretrizes marcantes na construção dos campi norte-americanos (como até hoje são). Destaca-se, também, a auto-suficiência que esses territórios possuíam. Um de seus objetivos majoritários era garantir que os desejos e necessidades dos alunos pudessem ser absolutamente atendidos dentro do perímetro do campus. Este acabava por configurar-se, portanto, como um espaço autônomo, independente do restante da cidade, capaz de proporcionar um ambiente de qualidade, e, assim, assegurar a formação pessoal e profissional de seus alunos enquanto lá estivessem estudando - e residindo. [6] 23

A biblioteca como marco construtivo principal dos campi dos Estados Unidos da América também é outro aspecto que vem na contra-mão do que vinha sendo feito, até então, na Europa Ocidental. Ao contrário das escolas inglesas, que tinham uma igreja como sua construção principal, a biblioteca vem para simbolizar o rompimento definitivo entre o ensino e a religião; é a metáfora representativa do ensino secular e livre que desejavam os norte-americanos. [6] Sempre separados por grandes áreas verdes, cada edifício tinha sua independência e personalidade. Os usos eram mais definidos, não havendo superposições ou a localização de funções muito distintas dentro de um mesmo edifício; alguns eram destinados a abrigar espaços de ensino, outros a refeitórios, alojamentos, biblioteca, havendo a associação direta entre a edificação e o uso que lhe cabia. Ressalta-se, também, o formato das plantas como outra característica que distinguia os campi norte-americanos das universidades inglesas; geralmente quadradas e permitindo a iluminação e ventilação em todas as faces, as edificações das universidades dos Estados Unidos compunham um conjunto muito mais arejado e no qual os prédios eram facilmente reconhecidos. [6]


02 | universidades: evolução histórica

img. 06: a forte presença de áreas livres e de convivência na Universidade de Syracuse, em Nova York, EUA.

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img. 07: a intensa presença do verde nos espaços de convivência, de circulação e de separação entre as edificações na Universidade do Estado de Luisiana, nos EUA.


brasileiras

O ensino superior leigo, no Brasil, iniciou-se com a chegada da família real portuguesa, em 1808. A princípio, os cursos superiores profissionais que formavam os quadros para o Estado - militares, como os da Academia Militar e da Academia da Marinha, medicina e cirurgia, matemática, agronomia, química, desenho técnico, economia política, arquitetura, bem como os cursos destinados a formar produtores de bens simbólicos, como os de música, desenho, história - concentravam-se em Salvador e no Rio de Janeiro. [6] Notadamente, desde o período colonial até a República Velha, o ensino superior brasileiro foi estruturado em estabelecimentos isolados e independentes, já que era grande a resistência contra a ideia da criação de uma universidade no Brasil, e todas as tentativas ocorridas, até então, nesse sentido, foram frustradas. Eis que, em 1920, através da justaposição de três escolas existentes, e atendendo à demanda popular por educação superior, em decorrência das transformações econômicas, políticas, culturais e institucionais em curso no país, ao fim da República Velha, inaugura-se a Universidade do Rio de Janeiro, a primeira instituição superior do Brasil que vingou com o nome de universidade. [10] [11] A organização universitária, contudo, só se torna predominante a partir da segunda metade do século XX, em 1954. Até então, o ensino superior brasileiro permanecia tradicionalmente marcado pelo crescimento no número de escolas isoladas. [6]

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Segundo Cunha (apud PINTO e BUFFA), até o Estado Novo, os principais caracteres adotados como modelo pelas universidades brasileiras eram os provenientes dos países europeus; depois desse período, as principais influências seguidas passaram a ser as das universidades dos Estados Unidos, como um reconhecimento à grande contribuição tecnológica que esse país havia dado ao Brasil durante o esforço de guerra. Devido a essa influência última, os centros universitários, no Brasil, acabaram por receber as nomenclaturas de campus ou cidade universitária, denominações que terminaram por definir a mesma tipologia de espaço, com os mesmos objetivos. [6] “Cidade Universitária era, talvez, a aspiração inicial dos primeiros campi instalados no Brasil: uma pequena cidade, apartada daquelas que poderíamos chamar de regulares. Esse núcleo teria a capacidade de oferecer ensino, mas também de abrigar centros de pesquisa, acolher alunos e professores, oferecer, enfim, todos os serviços que qualquer cidade oferece. Todavia, isso não acontece. Os serviços que os campi brasileiros oferecem – mesmo um dos maiores, o da USP – são


02 | universidades: evolução histórica

restritos e deficientes. Os alojamentos para estudantes oferecem poucas vagas e não há moradia para os professores. Serviços, como transportes, só funcionam com regularidade nos dias úteis e supermercados e outros comércios necessários à subsistência são raros e, na maioria dos casos, inexistentes. Os campi brasileiros não são auto-suficientes; dependem ainda e muito das cidades em que estão localizados e o termo cidade universitária não passa de uma aspiração que nunca se realizou. Campus seria o conceito mais apropriado. Tratase de um território fechado, com administração independente e que abriga espaços de ensino, aprendizagem e pesquisa. Reúnem alguns poucos serviços fundamentais como refeitórios, lanchonetes, farmácias, xerox, papelaria e praticamente só isso. O sonho da cidade universitária autônoma e independente, no Brasil, foi só um sonho. Por falta de verbas necessárias, este ideal foi sendo sempre postergado e nunca realizado.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5737)

A seguir, serão apresentados 03 dos mais importantes e antigos campi brasileiros - o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o campus da Universidade de São Pulo e o campus da Universidade Federal de Minas Gerais. O enfoque, notadamente, se dará em como estes centros educacionais foram se configurando, em termos de espaço físico, no decorrer do tempo.

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o campus da universidade federal do rio de janeiro O primeiro campus construído no país foi o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), projetado pelo escritório técnico da Universidade do Brasil, sob a responsabilidade do arquiteto Jorge Moreira Machado. Suas obras tiveram início no ano de 1954 e é interessante ressaltar que, desde o começo de seu planejamento, a UFRJ não se configura como uma “cidade microscópica” - a exemplo dos campi norte-americanos -, já que seu projeto não previa a existência de espaços característicos de um núcleo urbano. [6] O início de sua construção é ativo e de muitas obras. As ilhas do Fundão, Catalão, Bom Jesus e Sapucaia são interligadas, parte da infraestrutura é construída e os primeiros edifícios começam a aparecer. A ideia de estruturação física do campus da UFRJ, fundamentada em pensamentos modernistas, era que todo o conjunto se organizasse como um parque contínuo, cortado por ruas para automóveis e pedestres que fariam a ligação entre as edificações - implantadas sempre isoladamente. Seu zoneamento é inspirado em postulados da Carta de Atenas – isto é, fundamenta-se na separação de núcleos com atividades similares. [6]

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No Brasil, a grande maioria dos campi - independente do fato de serem territórios fechados e delimitados, como o campus da UFRJ ou de estarem locados em meio à cidade, como é o caso do campus do Benfica, objeto de estudo desse trabalho - era, e ainda é, extremamente distanciada da ideia de formação integral dos seus usuários e de diálogo e troca com o território urbano aonde estão localizados.

img. 08: implantação atual da porção do campus da UFRJ localizada na ilha do Fundão.


02 | universidades: evolução histórica

o campus da universidade de são paulo Outro campus cujo início das obras também data da segunda metade do século XX é o da Universidade de São Paulo (USP). Até os dias atuais, este se configura como um dos maiores e mais bem equipados e administrados campi do Brasil, já tendo sido a USP, por diversas vezes, eleita como a melhor universidade da América Latina - inclusive, no ano passado, 2015, de acordo com o QS University Rankings [12]. É notável, no entanto, que, assim como os outros conjuntos universitários existentes no país, o campus da USP permanece distante do conceito de uma cidade universitária autônoma ou de um local que forneça uma formação integral aos seus alunos e à comunidade na qual se insere. Assim como no campus da UFRJ, seu plano de criação também foi fundamentado no conceito de setorização, sendo uma releitura de postulados modernistas. “Projetos de urbanismo e arquitetura foram realizados por mais de quarenta escritórios de arquitetura da cidade. Os projetos eram realizados em seus estúdios e coordenados pelo Escritório Técnico da universidade. Diversos arquitetos renomados fizeram parte desse grupo e realizaram projetos significativos para a Universidade, como por exemplo, Rino Levi, Eduardo Kneese de Melo, Vilanova Artigas, Bratke, Ícaro de Castro Melo. Trata-se de uma geração que estava envolvida e produzindo arquitetura inspirada nos paradigmas modernos. Os edifícios do campus e mesmo seu traçado apresentam claramente essa tendência. Nos primeiros planos, uma pequena parte do campus foi desenhada com claras evidências da influência dos projetos da Companhia City que projetara, para a cidade de São Paulo, bairros como o Jardim América, o Jardim Paulista e outros. O traçado sinuoso, orgânico, contornando praças e áreas verdes, bem ao estilo das cidades-jardim inglesas, é marcante nessa pequena área da entrada da Cidade Universitária.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5740) “Posteriormente, a opção foi mais pragmática e avenidas amplas de duas vias passaram a cortar o campus nos dois sentidos: vias rápidas, sem cruzamentos, amplas e retas. Houve certa preocupação em respeitar a topografia sem cortes ou aterros agressivos, mas no campus tornou-se evidente a opção pelo automóvel e transportes coletivos. O ambiente de parque, tranquilo

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e inspirador para o trabalho acadêmico, foi delimitado por pequenos bosques e praças. O caminhar, apesar das amplas e bem tratadas calçadas, passou para um plano mais distante. O traçado moderno, praticamente ortogonal e voltado para o tráfego automotivo, era evidentemente mais barato que uma proposta orgânica que enfatizava a topografia e criava, além dos percursos para pedestres, praças intermediárias, locais de lazer e outros espaços projetados nos vazios entre os edifícios. Esses chamados “não espaços” acabaram permanecendo livres à espera de possíveis ampliações de alguma unidade.” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5740)

Da mesma maneira que ocorreu na construção de vários campi ao longo do território brasileiro, o processo de implantação do campus da USP foi descontínuo. As razões são diversas, mas concentram-se no mau planejamento financeiro e nas constantes mudanças na administração.

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img. 09: a implantação atual do campus do Butantã, da USP, na região oeste de São Paulo.


02 | universidades: evolução histórica

o campus da universidade federal de minas gerais Já a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), criada em 1927 e federalizada em 1949, é dividida em duas zonas: uma central – em que os vários edifícios pertencentes à universidade localizam-se em meio à cidade - e outra em um bairro distante do centro, cercada e delimitada – o campus da Pampulha, cuja área foi incorporada ao patrimônio da universidade em 1940. Assim como nos outros dois exemplos, o campus constitui-se como um local de uso restrito e passagem rápida, já que inexistem espaços em que possam fruir as atividades extracurriculares. [06]

Alguns dos conceitos pregados pelo modernismo foram levados ao extremo na configuração espacial das edificações do campus da Pampulha. É provável que as duas diretrizes básicas de sua construção tenham sido rapidez e economia, na medida em que o resultado é uma série de edifícios extremamente similares, duros e pesados, de ângulos retos e amarrados ao solo. O aspecto humanizador desse campus é conferido, especialmente, pela presença de algumas áreas arborizadas e com cobertura vegetal, localizadas entre os prédios. [06] A exemplo dos blocos de edifícios cinzentos, pesados e praticamente idênticos do campus da Pampulha, a comunidade universitária brasileira vai tornando-se “massa sem face que vai e vem, sem nada deixar” (PINTO e BUFFA, 2009, p. 5743). É sabido, porém, que o bom desenho urbano, executado como consequência de um planejamento urbanístico saudável, seria capaz de congregar e permitir as necessárias e esperadas iniciativas sociais e culturais comuns e indispensáveis nestes espaços tão especiais e que concentram pessoas jovens, marcadas pela intensidade no viver, pelo desejo de trocas e pela sede constante de ver e aprender.

img. 10: o campus da Pampulha, da UFMG.

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img. 11: planta do Campus da Cidade Universitรกria da UFRJ.

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img. 12: planta do Campus da Cidade Universitรกria da USP.

img. 13: planta do Campus da Pampulha, da UFMG.




03 das idades do espaço público

“afinal o que é a cidade senão as pessoas?” [William Shakespeare]



das idades do espaço público

antiga

Por considerar que o principal objeto de estudo e de transformação dessa proposta de projeto é o espaço público, é pertinente, antes de partir para uma imersão mais direcionada no contexto local, discorrer, de maneira sintética, sobre como essa tipologia de espaço vem sendo tratada ao longo da história da humanidade. Segundo Torres y Moranta [14], existe um consenso entre diversos estudiosos do tema em situar na Grécia clássica a primeira distinção, no âmbito das cidades, entre o público e o privado. A Ágora, caracterizada por Mumford [15] como “o centro dinâmico da cidade grega” (MUMFORD, 1991, p. 166), representava o espaço de convivência específico ao qual a democracia e, portanto, a política, estavam vinculadas. [13] É importante destacar que, na Ágora, as decisões acerca dos interesses coletivos eram tomadas por meio de um intercâmbio discursivo entre os cidadãos, que se dava cara a cara, pessoalmente, em um espaço de encontro, de discussão pública, e onde se garantia o equilíbrio social. Esta característica acabou por fazer da eloquência um instrumento maior da articulação política, estando a capacidade de realizar um bom discurso, por vezes, acima da de se realizar um bom trabalho. [13] [14] 36

img. 14: as ruínas

da antiga Ágora ateniense.


Mumford salienta que “se, na economia do século V, a ágora pode ser

apropriadamente chamado uma praça de mercado, sua função mais antiga e mais persistente foi a de ponto de encontro comunal.” (MUMFORD, 1991, p. 166). O

Ágora representava, portanto, um espaço onde diversas funções urbanas importantes estavam combinadas e entrelaçadas, caracterizando-se como “o elemento mais vital e distintivo da cidade.” (MUMFORD, 1991, p. 168).

O espaço público, no mundo grego, possuía o significado geral de liberdade; representava o local onde o interesse comum se expressava publicamente, onde os homens buscavam as semelhanças e diferenças uns com os outros, enquanto o espaço privado resguardava sua intimidade, ocultando aquilo que não deveria ser exibido a todos. [14] Apesar de, segundo Torres y Moranta, o espaço público grego caracterizarse como coletivo, aberto e manifesto, era marcante o fato deste não ser um espaço inclusivo, mas sim, altamente elitista, já que era de acesso exclusivo aos cidadãos membros da pólis, a chamada “minoria dominante”. Ou seja, estavam excluídos dos importantes processos coletivos que ocorriam na Ágora as mulheres, os escravos, os estrangeiros e os menores de 21 anos. [14] Nota-se que, ao ser composto por uma classe majoritária de pessoas, a capacidade de formação da sociabilidade, da convivência e o próprio debate acerca dos interesses comuns que ocorriam nesse espaço restringiam-se e, consequentemente, não possuíam a riqueza que teriam se estivessem abertos à diversidade. É de extrema importância destacar também que, de acordo com Mumford, 37

“essa função social do espaço aberto persistiu nos países latinos: plaza, campo, piazza, gran-place, descendem diretamente do ágora; pois é no espaço aberto, com seus cafés e restaurantes em volta, que os encontros, conversas, discussões face a face, bem como os encontros fortuitos têm lugar não formalizados, mesmo quanto habituais.” (MUMFORD, 1991, p. 167)


03 | das idades do espaço público

média

15: ilustração que reconstrói a praça de mercado da Idade Média, destacando sua função comercial, entre os séculos XII e XIII. img.

Torres y Moranta afirmam que em contraposição à Ágora, a praça pública medieval não possui um marco arquitetônico que realize a separação entre o espaço público e os bairros residenciais. As ruas se conectavam diretamente às praças e o formato destas era irregular, definido pelas edificações implantadas nas proximidades, já que, à época, cada construção era o limite de si mesma. [13] [14] “A cidade se caracteriza por ser uma unidade compacta e interrelacionada, onde cada elemento pertence à trama geral; edifícios, praças e ruas se dispõem em um jogo de cheios e vazios que articulam as funções urbanas.” (TORRES Y MORANTA, 2012, p. 4)

Segundo Habermas [15] (apud GUEDES, 2010) [16], na Idade Média, não havia separação entre as esferas pública e privada, tal qual as entendemos atualmente, uma vez que o conceito de representatividade pública vinculava a autoridade aos agentes privados detentores de posses, status e/ou cargo (como o senhor feudal, o rei, o sacerdote), não a um setor social. A discussão pública não ocorria, fazendo com que a representação pública não fosse discernível da representação privada; ambas emanavam de um poder unitário. Torres y Moranta destacam que os soberanos, dessa forma, representavam o seu próprio domínio, em uma posição que não era para o povo, mas sim, ante o povo. [13]

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No espaço público medieval, os conceitos de aberto e acessível são os destaques, uma vez que fazem a diferenciação entre os espaços de uso comum e os de uso reservado ou particular. Segundo Mumford, a praça de mercado medieval, na realidade, reinvestiu as funções da antiga Ágora; era o local de reunião das corporações de ofício, de ocorrência dos castigos públicos, dos torneios esportivos, dos encontros inusitados, das vendas e trocas comerciais (durante a Baixa Idade Média), dentre outros. [13] [14]

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img. 16: piazza del Campo, em Siena, Itália, construída no século XIII e que demonstra bem a acessibilidade e abertura do espaço público, além da sua delimitação em função das edificações localizadas ao redor.


03 | das idades do espaço público

moderna

O espaço público, na Idade Moderna, é uma construção que advém da Ilustração e das transformações urbanas sofridas pelas cidades durante o período Renascentista. Pode-se dizer, a respeito dessas transformações, que ocorreram, principalmente, nos bairros centrais, onde passaram a predominar os palácios, monumentos e as praças projetadas com rigor geométrico, amplitude e foco na beleza e na exuberância. Definiam-se como consequência de um planejamento racional do meio urbano, que se dava através de justificativas sanitárias, de ordem social e de segurança, construindo uma tipologia de cidade que superava, definitivamente, a caótica cidade medieval. [13] A separação entre Estado e sociedade (esfera pública e esfera privada) aconteceu no processo de construção da sociedade moderna, quando ocorre, também, o surgimento da publicidade crítica. A esfera pública burguesa, segundo Habermas (apud GUEDES, 2010) definia-se como o fórum para onde se dirigiam as pessoas privadas a fim de obrigar o poder público a se legitimar perante a opinião pública. O público passa a ser o coletivo, que se contrapõe ao âmbito privado, entendido como o econômico e o religioso. [13] [16] É também durante o século XVIII que desponta a sociedade dos cafés, definidos por Torres y Moranta como os espaços em que se produzia, predominantemente, a comunicação livre. Eram os locais para onde se dirigiam os homens instruídos e detentores dos meios financeiros a fim de estabelecer diálogos, debates de ideias fundamentados por argumentos cuja base era a racionalidade crítica e alimentados pela imprensa que, à época, caracterizava-se como de opinião, polêmica e artesanal. [13] [16] 40

img. 17: pintura reconstruindo o ambiente de um café no século XVIII.


Guedes destaca que a esfera pública burguesa não era inclusiva, sendo formada por um público de ilustrados, leitores, exclusivamente masculino e de elite, que deixava as mulheres, os escravos e os homens em geral que não tinham acesso aos estudos e à informação de fora do processo. A concepção de espaço público moderno, portanto, define-se como excludente, na medida em que possui um discurso central super pautado na razão. [13] [16] A esfera pública burguesa, por conseguinte, carregava consigo uma contradição iminente: ao passo em que buscava limitar a dominação do Estado sobre suas atividades, buscando apropriar-se do poder político para regular e garantir tudo o que definia seus interesses particulares, sustentava-se sobre uma base social que pressupunha e exercia a dominação sobre uma classe composta por pessoas financeiramente menos favorecidas, os “homens comuns dos bairros baixos.” (TORRES Y MORANTA, 2012, p. 5) [13] [16]

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03 | das idades do espaço público

atual

Torres y Moranta destacam que, no século XXI, é notável que o espaço público não se restringe mais somente à uma dimensão físico-espacial; a estrutura mediática que, nas últimas décadas, vem se interpenetrando de maneira crescente nas relações e na vida comum, é um dos principais fenômenos que caracteriza a atual pluralização do espaço público. [13] [16] Segundo Guedes, a pluralidade dos espaços públicos atuais vem como exímio retrato da nossa realidade social, em que classes de pessoas diversas convivem e se relacionam. O homem contemporâneo tem voz ativa, quer esteja ele associado às esferas públicas de maior detenção dos meios financeiros e do poder político, como as de administração pública e as de organizações privadas, quer faça parte das esferas públicas reconhecidas por Habermas como alternativas e periféricas. [16] Na contra-mão da proposta do espaço público moderno, no qual seus usuários, mesmo que diferentes, buscavam o consenso, o espaço público contemporâneo é marcado pelo esforço de conviver e de aceitar o diferente. O homem da atualidade traz consigo divergências e desacordos, que encontram, no espaço público - quer ele pertença a uma dimensão mediática, como a Internet, a TV, a rádio, ou a uma dimensão física, como as praças, os parques, as ruas - uma possibilidade de se mostrar; de se fazer comunicadas e compreendidas. [16] Como o presente projeto tratará, majoritariamente, da dimensão física do espaço público da zona designada - levando em consideração toda a rede de relações sócio-culturais que permeiam as vidas dos usuários do local - considera-se prudente analisar como os caracteres físicos dos espaços de uso comum vêm sendo tratados no mundo contemporâneo e qual a repercussão que isso gera sobre as pessoas. Gehl inicia seu livro “Cidades Para Pessoas”, ressaltando que “por décadas, a dimensão humana tem sido um tópico do planejamento urbano esquecido e tratado a esmo, enquanto várias outras questões ganham mais força, como a acomodação do vertiginoso aumento do tráfego de automóveis. Além disso, as ideologias dominantes de planejamento - em especial, o modernismo - deram baixa prioridade ao espaço público, às áreas de pedestres e ao papel do espaço urbano como local de encontro dos moradores da cidade. Por fim, gradativamente, as forças do mercado e as tendências arquitetônicas afins mudaram seu foco, saindo das inter-relações e espaços comuns da cidade para os edifícios individuais, os quais, durante o processo, tornaram-se cada vez mais isolados,

autossuficientes e indiferentes.” (GEHL, 2014, p. 3)

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A função social do espaço urbano como local de encontro, convivência, trocas e permanência, nas últimas décadas, e, especialmente, nos países emergentes, passou por um gradativo processo de negligência, gerado por fatores diversos. Dentre eles, estão: a adaptação da cidade e de seus vários componentes à escala, velocidade e necessidades dos automóveis e de seus motoristas; a disseminação da arquitetura introvertida [17], fenômeno no qual se dá uma grande ênfase ao trato dos ambientes internos, deixando o espaço urbano do entorno em uma posição totalmente secundária; a insegurança pública, processo que vem como consequência das abismais e históricas desigualdades sócio-econômicas vivenciadas, preponderantemente, pelos países subdesenvolvidos; a baixa variedade de ofertas de atividades no espaço urbano comum, dentre outros. Gehl salienta a importância de, no século XXI, o planejamento e o desenho urbano possuírem a dimensão humana como foco. “A visão de cidades vivas, seguras, saudáveis e sustentáveis tornou-se um desejo universal e urgente.” (GEHL, 2014, p. 6) [1] Essas quatro características, segundo o

autor, encontram-se intrinsecamente conectadas à humanização e à democratização do uso dos espaços públicos nas cidades atuais.

Jacobs, na década de 60, em seu livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”, já havia alertado para a variedade de funções a que o espaço público, em sua dimensão total, deve servir.

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“As ruas das cidades servem a vários fins além de comportar veículos; e as calçadas – a parte das ruas que cabe aos pedestres – servem a muitos fins além de abrigar pedestres. Esses usos estão relacionados à circulação, mas não são sinônimos dela, e cada um é, em si, tão fundamental quanto a circulação para o funcionamento adequado das cidades.” (JACOBS, 2011, p. 3) [18]

É essencial destacar também que toda essa série de percepções que as pessoas vivenciam nas cidades atuais, vem gerando, desde o início dos anos 2000, incontáveis reflexões e um grande aumento no interesse sobre a urgente necessidade de se repensar a dimensão pública do meio urbano. O investimento em uma postura urbanística que repense os espaços de uso comum das cidades visando torná-los interessantes e habitáveis pelas pessoas é capaz de produzir consequências difusas: a fomentação da educação informal, vivencial e coletiva; o reforço da sustentabilidade social; o desenvolvimento de ambientes de experimentação dos valores comuns e distintos; uma estratégia de prevenção ao crime nos locais públicos - que seriam vigiados pelos olhos da rua, na concepção de Jacobs, dentre outras. Apesar de variadas, guardam uma semelhança fundamental: a habilidade de, juntas, melhorarem substancialmente a qualidade de vida no meio urbano.


03 | das idades do espaço público

img. 18: degradação, abandono e perda de função do espaço público em Buenos Aires, Argentina.

img. 19: ausência de escala humana nos espaços públicos de Brasília, Brasil.

img. 20: espaço público totalmente destinado ao tráfego de veículos em Pequim, China.

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04 o público na escala local

“moro. logo, insisto.” [Anna Lúcia dos Santos]



o público na escala local

contexto

O crescimento não planejado e a impossibilidade de limitar uma população que aumentava sem as devidas adequações do meio urbano representou traço marcante das cidades brasileiras em fins do século XIX e início do século XX. É desse mesmo período que datam, em território nacional, as primeiras aparições significativas de princípios de planejamento urbano. Estes, à época, relacionavam-se com a busca por novos conceitos de cidades, que rompessem com o passado colonial e apresentassem algo novo, mais parecido com a civilização desejada pela modernidade. [19] O Rio de Janeiro que, nesse período, era a capital do Brasil, é o exemplo nacional mais representativo, em termos de transformações urbanas ocorridas. Os ideais higienistas e de modernização aqui aplicados foram claramente importados do amplo processo de mudanças vivenciado pela cidade de Paris entre os anos de 1853 e 1870, sob a liderança do Barão de Haussmann, encarregado por Napoleão III do planejamento da cidade. [19] Seguindo a ideia geral de submissão da política à técnica, a gestão que uniu Rodrigues Alves no Governo, Pereira Passos na Prefeitura e Oswaldo Cruz como principal médico provocou alterações drásticas na malha urbana carioca. Dentre estas, é possível elencar algumas que exemplificam bem o tipo de cidade que se buscava e o valor que alguns de seus espaços passaram a ter, como a pavimentação de ruas; a construção de calçadas contínuas e padronizadas; a abertura de túneis; a melhoria de mercados e instalações portuárias; o embelezamento de praças (Quinze de Novembro, Onze de Junho, Tiradentes, entre outras). [19] Sobre o assunto, Sevcenko

[20] afirma que “[...] o resultado mais concreto desse processo de aburguesamento intensivo da paisagem carioca foi a criação de um espaço público central na cidade, completamente remodelado, embelezado, ajardinado e europeizado [...]” [SEVCENKO, in BOTEGA, 2007, p.66) [21]

Por influência dos processos de remodelação urbana que tomavam corpo no Rio de Janeiro, outras localidades brasileiras também inseriram como metas o embelezamento e a modernização de seus territórios. Fortaleza foi uma dessas cidades que, enriquecida com o comércio de algodão e cera de carnaúba, viveu sua própria Belle-Époque. Teve seus espaços públicos disciplinados, suas praças e passeios remodelados, além do surgimento de equipamentos e prédios com arquitetura rebuscada, onde predominavam elementos neoclássicos e art nouveau.

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antes

“Público”, segundo a definição atual do dicionário Michaelis, é o “pertencente a um povo ou ao povo”, “que serve para uso de todos”, “a que todos têm o direito de assistir”, “comum”. A partir disso, infere-se, portanto, que o espaço público deve representar uma tipologia de local que pertença às pessoas; que sirva ao uso de todas elas; de acesso ilimitado; que se configure como um cenário de intersecção entre indivíduos com comportamentos e estilos de vida distintos. A cidade de Fortaleza vem, cada vez mais, tornando-se palco de lutas e discussões que culminam na demanda pela reinterpretação e consequente reestruturação dos seus espaços de domínio público. Essa temática, além de ser extremamente atual, já que nos últimos anos, inúmeras cidades ao redor do globo vêm buscando maneiras de reinventar e humanizar o seu espaço urbano, encontra, em Fortaleza, uma conjuntura físico-espacial extremamente propícia a transformações, já que seu meio urbano é marcadamente necessitado de um desenho e planejamento cujo enfoque esteja nas pessoas. Apesar de Fortaleza, nos dias de hoje, caracterizar-se como uma metrópole moderna e pulsante, possui um casco antigo, que não sofreu as remodelações adequadas no transcorrer das últimas décadas; é um território que cresceu de forma descompassada e desequilibrada.

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Fortaleza nunca possuiu uma tradição forte e marcante em termos de qualidade do desenho urbano de seus espaços públicos. No entanto, basta conversar com qualquer pessoa que tenha vivido em princípios e meados do século XX ou observar imagens da época para constatar o quanto os locais de uso comum eram tratados e usufruídos pelas pessoas de forma antagônica à da atualidade. Na definição do professor José Borzacchiello da Silva [21], “o Centro não

só espelhava Fortaleza em sua magnitude. Ele era a cidade; depositário único de perfis e imagens que construíram e reforçaram a ideia de centralidade.” (SILVA, in http://fortalezaantiga.blogspot.com.br/). O Centro era o local onde a vida pública

da Fortaleza de fins do século XIX e início e meados do século XX estava concentrada. As ruas eram locais de movimento intenso e rotineiro. Como o carro, segundo Liberal de Castro [22], somente surgiu em Fortaleza no ano de 1909, a dinâmica das ruas era dominada, principalmente, pelos pedestres e pelos bondes puxados a burro. As praças, mesmo sendo poucas e pequenas, eram locais de encontro, de permanência e convivência das aglomerações de pessoas, que se utilizavam tanto dos seus espaços fechados (a exemplo dos famosos cafés da época), quanto das suas áreas ao ar livre, arborizadas, ajardinadas, bem cuidadas e com perspectivas visuais alongadas para outras partes da cidade. Já as calçadas localizadas em frente às residências, independente de estas estarem situadas no Centro ou em alguma das outras zonas que se


04 | o público na escala local

expandiam a partir da área central (como os atuais bairros da Jacarecanga e do Benfica), ao cair da tarde e início da noite eram, segundo Raimundo Girão [23], tomadas pelas “célebres rodas de calçadas, genuinamente nordestinas, para animadas palestras ou partidas de gamão que, sadias, cordiais, enchiam os passeios ou calçadas com um sem número de cadeiras.” (GIRÃO, in http://fortalezaantiga.blogspot.com.br/)

O espaço público de Fortaleza que, na década de 30, com a consolidação da Belle-Époque fortalezense alcançou o ápice de sua valorização era, à época, vivenciado em sua essência mais fundamental e genuína. Os locais de uso comum, esteticamente e numericamente equilibrados para atender à população da época eram os principais ambientes fomentadores das relações entre as pessoas - e do consequente aprendizado que estas proporcionavam umas às outras -, na medida em que contribuíam para aproximá-las e servir de palco para seus encontros, trocas de experiências, debates e discussões. Sua importância também era reconhecida na construção do vínculo entre as pessoas e a própria cidade, já que, conforme os indivíduos tinham convites e oportunidades diários para vivenciar o meio urbano, desenvolviam sentimentos de apego, apropriação e cuidado com os espaços que identificavam como seus. Nota-se que, na medida em que o espaço da cidade é majoritariamente ocupado e vivenciado pelas pessoas, os seus componentes urbanos são desenvolvidos em uma escala e velocidade compatíveis com as do ser humano, para que, através da exploração sensorial, possam manter relação direta e exercer uma atração adequada e efetiva em seu públicoalvo. Sendo, à época, desenvolvida para o uso geral das pessoas, Fortaleza era um local de beleza singela e reconhecida por seus visitantes. Em 1942, por exemplo, Domingos Laurito e Nelson Silveira Martins registraram em Terra do Brasil [24] suas impressões sobre a cidade: “Fortaleza dá uma impressão magnífica. Vista no conjunto é a mais linda cidade do norte. É uma cidade nova, parecendo que acabou de ser construída. Em pleno centro, ergue-se a Coluna da Hora, na Praça do Ferreira, nas imediações da qual estão os principais estabelecimentos comerciais, cafés, bares, os cinemas Moderno, Majestic e Politeama e, em construção, o lindíssimo São Luiz. Em todo o Norte, depois do Rio, não existem cinemas iguais aos de Fortaleza.” (MARTINS e LAURITO, in http://fortalezaantiga.blogspot.com.br/)

As imagens das quatro páginas subsequentes ilustram a existência da proximidade entre o público e o espaço. São fiéis representantes, portanto, do espaço público, no significado próprio e original da terminologia.

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img. 21: rua General Sampaio, nos anos 60. A fotografia foi capturada próximo à esquina da estação João Felipe, e traz, como perspectiva de fundo, a Praia Formosa, porção litorânea extinta com as obras de construção da av. Leste-Oeste.

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img. 22: rua Guilherme Rocha, nos anos 50, período em que a rua passou a ser de uso exclusivo de pedestres; foi a primeira via peatonal a existir na metrópole, cumprindo com a função de local de encontros, trocas e convivência.


04 | o público na escala local

img. 23: Igreja do Rosário e vista parcial da praça dos Leões, em 1909, ano em que o automóvel foi introduzido na cidade de Fortaleza.

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img. 24: esquina da rua Major Facundo com rua Guilherme Rocha, em 1912; na praça do Ferreira, aglomeração em frente ao Café do Comércio, um importante local de encontro e de atração das pessoas.


img. 25: movimento na rua Major Facundo, ao lado da Praça do Ferreira, em 1914; a praça e seu entorno imediato consagraram-se, à época, como o principal pólo econômico, cultural e político de Fortaleza.

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img. 26: Garapeira do Bembém, localizada na antiga Praça Carolina e José de Alencar, atual Praça Waldemar Falcão, em 1909.


04 | o público na escala local

img. 27: multidão concentrada na Praça do Ferreira, aguardando o desfile dos blocos de Carnaval, entre fins da década de 30 e princípios da de 40.

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img. 28: rua Floriano Peixoto, na esquina com rua São Paulo, com ângulo de visão na direção da Praça do Ferreira, em 1935. Percebe-se a grande quantidade de pessoas circulando pelas calçadas e os bondes elétricos nas ruas.


agora

Fortaleza chegou aos anos 40 com uma população de cerca de 180.000 habitantes [26]. De acordo com o censo do IBGE [27], a cidade, em 2010, contava com 2.452.185 habitantes. O aumento populacional, portanto, foi de aproximadamente 2.272.185 habitantes em 70 anos. Como já dito anteriormente, o primeiro automóvel foi introduzido na cidade no ano de 1909. Em 2011, segundo informações do DETRAN-CE [28], Fortaleza possuía 781.197 veículos licenciados. De acordo com o Jornal Diário do Nordeste [29], em matéria de fevereiro de 2015, o crescimento da frota de veículos automotores particulares, entre os anos de 2004 e de 2014, foi de 125,6%. Aumentos notáveis se dão também no campo das tecnologias. No ano de 2005, segundo pesquisa do IBGE, 40% da população de Fortaleza possuía telefone celular móvel para uso pessoal. Esse dado é de período anterior ao surgimento dos smartphones, aparelhos que combinam os recursos usuais dos celulares com computadores pessoais, possuindo capacidade de conexão com redes de dados para acesso à internet. Desde fins da primeira década dos anos 2000, os smartphones, com toda a sua gama de possibilidades de comunicação em tempo real, vêm se disseminando em alto grau no Brasil, no mundo e também na cidade de Fortaleza.

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A violência urbana caracteriza-se, talvez, como o campo com aumentos quantitativos mais amplamente percebidos pela população, ao longo das últimas décadas. Fortaleza chegou ao ano de 2015 sendo classificada pela ONG mexicana “Seguridad, Justicia y Paz” como a cidade mais violenta do Brasil e a 12ª mais violenta do mundo. A lista leva em conta o número de homicídios por 100 mil habitantes e inclui apenas cidades com 300 mil habitantes ou mais. Acredita-se que, atrelados a outras razões e sendo consequências de tendências e movimentos que tiveram repercussão mundial, os 04 casos de aumento supracitados justificam e explicam, em grande parte, muitas das transformações e desorganizações pelas quais os espaços públicos de Fortaleza passaram, desde meados do século XX até os dias atuais. O crescimento populacional desenfreado sem um planejamento urbano que se adequasse às necessidades que, pouco a pouco, a metrópole ia demonstrando é marcante em Fortaleza desde a metade final do século XIX. Durante esse período, tentativas várias de elaboração e aplicação de um plano urbanístico que direcionasse, controlasse e prevesse a expansão do território foram realizadas. Como exemplo, tem-se o Plano de Remodelação e Extensão da Cidade de Fortaleza, feito pelo arquiteto pernambucano Nestor de Figueiredo, por encomenda do Prefeito Raimundo Girão. A aplicação do plano não foi levada adiante, pois o prefeito que


04 | o público na escala local

assumiu o poder público municipal depois de Girão suspendeu o contrato de Figueiredo por pensar que a cidade precisava de coisas mais importantes do que de planos urbanísticos. [29] Sobre o assunto, Liberal de Castro destaca que: “É provável que nenhuma decisão municipal tenha proporcionado efeito mais maléfico sobre a cidade do que a rescisão do contrato de Figueiredo. Não apenas pelo plano em si, cuja aplicação teria começado a resolver, há meio século, alguns dos sérios problemas que afligem a cidade do presente, mas também, pelo momento histórico, caracterizado por total reformulação política, social e econômica do País e, portanto, inteiramente favorável a uma intervenção ordenadora na cidade.” (CASTRO, 1982, p. 26)

A descontinuidade dos projetos e/ou de sua aplicação por parte do poder público foram ocorrências marcantes e recorrentes no breve histórico de planejamento urbano que Fortaleza possui, até então. Assim como ocorreu com o Plano de Nestor de Figueiredo, o de Sabóia Ribeiro, preparado em 1947, também nunca chegou a ser posto em prática. Castro afirma que “Prevaleceu, é fato, por muito tempo, o código urbano redigido por Sabóia, mas seu plano, totalmente desvirtuado, foi recomposto nas salas técnicas municipais ao sabor das circunstâncias e, ainda assim, não cumprido.” (CASTRO, 1982, p. 26)

O Plano Hélio Modesto, entregue em 1962 e, de certo modo incompleto, tal como os antecedentes, também foi abandonado pela administração municipal eleita em seguida à que contratara os serviços do arquiteto. Houve também o Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza, o PLANDIRF, de 1972, cuja rejeição pelos setores interessados em assuntos urbanísticos aconteceu previamente à sua entrega. “Salvo a consulta eventualmente feita a algumas das proposições apresentadas, e posteriormente desatualizadas, nada restou do plano.” (CASTRO, 1982, p. 27) [30]

Atualmente, o direcionamento urbanístico da metrópole é orientado pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Fortaleza (PDDU-FOR), elaborado em 1992 e cuja última revisão data de 2008. Este corpo legislativo, apesar de ser conhecido, consultado e seguido pelos profissionais que trabalham com obras e edificações, não estabelece normas e padrões qualitativos de desenho urbano e arquitetônico; trabalha com índices e taxas meramente quantitativos que, muitas vezes, não estimulam a construção de uma cidade com características positivas de urbanidade.

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Durante esse período de muitas ideias entravadas e poucos projetos genuinamente aplicados, a cidade foi crescendo guiada por desejos de agentes privados, a exemplo do mercado imobiliário, que, nos dias de hoje, atua com muita força e intensidade sobre a morfologia do meio urbano. Simultâneo ao crescimento populacional sem uma remodelação adequada dos espaços públicos da cidade, de maneira a garantir que as necessidades das pessoas em relação a esses locais continuassem a ser atendidas, há o aumento vertiginoso do tráfego de automóveis. Esse fenômeno se propagou com força e rapidez em cidades de todo o mundo, principalmente quando passou a ser respaldado pelas teorias do planejamento urbano modernista, bastante disseminadas por Le Corbusier [31]. Em meio a vários outros estudiosos que partilhavam das mesmas ideias, o arquiteto defendia que o meio urbano deveria ser pensado, planejado e desenhado em função das máquinas que dominavam a sociedade do século XX. Dentre estas, o carro destacava-se como modal de transporte principal, já que, à época, considerado um símbolo do progresso da racionaidade humana, contribuiria para a melhoria da qualidade de vida na cidade, na medida em que encurtaria as distâncias entre suas diferentes partes, facilitando os acessos e a circulação.

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No entanto, a completa transformação do meio urbano em função de uma frota de veículos que cresce ininterruptamente acabou tendo consequências desastrosas para a paisagem urbana de Fortaleza. Dentre as mais relevantes e abrangentes destacam-se a completa deturpação da função original dos espaços públicos, na medida em que uma imensa porção de sua área passa a ser ocupada por esse “turbilhão de máquinas que circulam e permanecem de forma invasiva no espaço que deveria ser de domínio público, portanto, prioritariamente dedicado ao uso das pessoas.” (NILO, 2014, p. 13) [32]; a perda de vitalidade dos espaços de uso comum, já que os

carros, quando existentes em quantidade massiva, por se locomoverem com uma velocidade e em relação a uma escala totalmente distantes das do ser humano, acabam por contribuir para a segregação dos espaços e das pessoas; e a perda de conectividade entre os componentes urbanos, sob a perspectiva dos pedestres, pois a rede caminhável da cidade tornase um meio completamente permeado por obstáculos. Já a disseminação crescente de meios eletrônicos que permitem uma comunicação contínua e em tempo real entre as pessoas, aliada aos outros fatores em destaque - que são fortes promotores das péssimas condições de urbanidade em que se encontram os espaços de domínio público locais, em geral -, também acaba por fomentar o esvaziamento dos espaços de uso comum. Isso ocorre devido à oferta, por esses meios, de plataformas que substituem as funções de contato, diálogos, debates e trocas, originalmente pertencentes aos locais públicos.


04 | o público na escala local

Devido às condições de degradação, abandono ou à mera ausência de singularidade e convites nesses espaços, os novos modais de comunicação terminam, muitas vezes, se mostrando soluções mais acessíveis, confortáveis e práticas para “os encontros” da população; é mais simples entrar em contato por meio de plataformas eletrônicas do que sair de casa para encontrar pessoas em locais que não lhe atraem o suficiente para isso.

Agregada a estes fatores e com causas que se relacionam ao crescimento populacional exacerbado sem o devido acompanhamento de uma expansão urbana que garantisse uma vida minimamente salubre à população como um todo, tem-se a violência nos espaços comuns da cidade - que, por vezes, atinge também os privados - como a grande protagonista dentre as problemáticas urbanas elencadas, atualmente, pelos fortalezenses. Os números, assustadores e fortemente associados à ampla segregação sócio-econômica que sempre marcou o território de Fortaleza, contribuem, em alto grau, para afastar as pessoas dos espaços públicos. Em 2015, por exemplo, segundo dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, Fortaleza possuía a maior taxa de crimes violentos do Brasil, com o índice de 77,3 mortes violentas a cada 100 mil habitantes [33]. Já a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social divulgou que, em dezembro de 2015, foram registrados, em Fortaleza 6.365 casos de roubos e furtos [34]. A ausência de segurança pública afasta as pessoas dos espaços sociais. Os espaços sociais, quando vazios de pessoas, se tornam cada vez mais inseguros. Essa é a síntese do círculo vicioso em que se enquadram, atualmente, violência urbana e ocupação dos espaços públicos. 58

Nas palavras de Jane Jacobs [18], sobre o tema: “[...] a segurança das ruas é mais eficaz, mais informal e envolve menos traços de hostilidade e desconfiança exatamente quando as pessoas as utilizam e usufruem espontaneamente. [...] este último item, de que a presença de pessoas atrai outras pessoas, é uma coisa que os planejadores e projetistas têm dificuldade em compreender.” (JACOBS, 2011, p. 37, 38)

Percebe-se que a insegurança pública; a ascendência dos meios de comunicação eletrônicos; a presença massiva e constante dos veículos como modais de transporte dominadores na cidade; e o crescimento urbano e demográfico desacompanhados de um planejamento trouxeram consequências múltiplas para os espaços públicos. Contribuíram para a desorganização e disfunção que hoje presenciamos. É necessário, portanto, dar vazão a ideias e projetos que permitam uma modificação gradativa das relações de proximidade entre os lugares urbanos e as pessoas; é preciso garantir que o público retorne ao público (e vice-versa).


img. 29: avenida Antônio Sales. Além da maior parte do espaço público ser destinada ao tráfego de veículos, as condições físicas dos locais designados para os pedestres são bastante criticáveis: calçadas descontínuas, com obstáculos, sem largura suficiente nem para o passeio.

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img. 30: bairro Bom Jardim. Esta zona residencial poderia estar em qualquer local de Fortaleza, com seu espaço público quase que totalmente destinado aos carros e condições precárias para os pedestres.


04 | o público na escala local

img. 31: Praça Portugal, no bairro Meireles. Nota-se que no contexto urbano atual de Fortaleza, até um espaço com boa estrutura paisagística e com ambiência agradável não é utilizado por conta do acesso dificultado pelo tráfego intenso de veículos no seu entorno imediato.

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img. 32: Centro de Fortaleza. O local, como há algumas décadas, continua vivo. Com a diferença de que, agora, as pessoas são espremidas para os espaços exíguos das calçadas, enquanto os carros passam.


img. 33: Centro de Fortaleza. Hoje em dia, a maior porção espacial das ruas, antes ocupadas predominantemente pelas pessoas e sendo palco de sua convivência, é destinada ao tráfego de veículos.

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img. 34: Praça General Tibúrcio, (Praça dos Leões). Um dos locais mais frequentados pelas pessoas, em início e meados do século XX, a praça, atualmente, encontra-se em condições físicas precárias e com o fluxo de público bastante reduzido.


04 | o público na escala local

img. 35: Praça da Messejana, no bairro da Messejana. Nota-se a ausência de atratividade no espaço da praça: não há convites para as pessoas, mobiliário urbano ou estrutura arbórea que sombreie.

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img. 36: rua Thomaz Pompeu, no bairro Meireles em Fortaleza. Percebe-se que, até nos espaços públicos com uma ambiência aprazível, facilitada, neste caso, pela existência de árvores frondosas, a prioridade, em termos de área e estrutura, é dos veículos e não das pessoas.


img. 37: Praça da Imprensa, no bairro Dionísio Torres. A praça foi totalmente revitalizada por meio do Programa de Adoção de Praças da Prefeitura de Fortaleza, tendo sido reinaugurada em julho de 2015. O programa é uma tentativa de recuperação de alguns espaços públicos da cidade, por meio de parcerias.

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img. 38: primeira Rua Compartilhada de Fortaleza, no bairro Dionísio Torres, inaugurada em novembro de 2015. É considerada parte das vitórias há pouco alcançadas na luta pela humanização de espaços.


04 | o público na escala local

img. 39: ciclofaixa de Lazer e ciclofaixa da avenida Dom Luís. Ambas fazem parte de um processo de democratização da mobilidade urbana, que Fortaleza vem vivenciando desde 2013.

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img. 40: Café Passeio, no Passeio Público. Uma das provas de que o espaço público, para ser utilizado, precisa exercer convites e atração sobre as pessoas. O Passeio Público estava em situação de abandono, até a chegada do restaurante Café Passeio, aberto todos os dias e com música ao vivo nos finais de semana.



05 um olhar sobre o benfica

“a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.” [Leonardo Boff]



um olhar sobre o benfica

geral

Localizado na porção centro-oeste da cidade de Fortaleza, com 8.970 moradores e IDH de 0,664 [34], o Benfica é conhecido pela extrema diversidade que traz consigo. É um bairro de cultura, história, educação, boemia, lazer, patrimônio e se configura como um dos locais mais ímpares da cidade, despertando afetos e apego nas pessoas, sejam elas parte de sua população residente ou nômade. Na subdivisão administrativa interna da cidade de Fortaleza, o Benfica encontra-se situado na Secretaria Regional IV, juntamente com os bairros José Bonifácio, Fátima, Damas, Jardim América, Parreão, Bom Futuro, Panamericano, Couto Fernandes, Demócrito Rocha, Montese, Vila União, Aeroporto, Itaoca, Parangaba, Vila Peri, Dendê, Itaperi e Serrinha. Acerca dos limites físicos do bairro Benfica, há uma controvérsia antiga: a Gentilândia é um bairro autônomo ou um enclave do Benfica e, portanto, parte deste? Segundo o texto da Lei nº 8.840 de 24 de julho de 2000 [35], sancionada pela Câmara Municipal de Fortaleza, a Gentilândia é, oficialmente, um bairro da cidade de Fortaleza composto pelo quadrilátero urbano compreendido entre as vias Av. da Universidade, Av. Treze de Maio, Rua Marechal Deodoro, Rua Paulino Nogueira, Av. dos Expedicionários e Av. Eduardo Girão. Entretanto, como este projeto tem como objeto principal a reestruturação dos espaços de domínio público e semi-público situados na zona universitária e em seu entorno imediato, e o Campus da Universidade Federal do Ceará deste local, apesar de localizar-se, oficialmente, parte no Benfica e parte na Gentilândia, é denominado “Campus do Benfica”, optar-se-á por, ao longo deste trabalho, chamar as duas localidades pela denominação geral de “Benfica”. A condição de autonomia da Gentilândia será preservada na medida em que seus limites serão mostrados, em mapa, e que sua importância na formação histórica do Benfica como um todo será detalhada em um dos tópicos deste capítulo. Ao longo desse olhar sobre o Benfica, será apresentada uma síntese da origem e do processo de formação do local, ressaltando os seus acontecimentos de maior importância. Esse processo de retrospectiva será de extrema valia para que, no fim do capítulo, haja o estabelececimento de uma melhor compreensão da complexa e variada realidade atual do local, base teórica que fundamentará a parte prática deste estudo.

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mapa 01: divisão dos bairros em Fortaleza FONTE: http://verdinha.com.br

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69 BENFICA

GENTILÂNDIA mapa 02: destaque para o Benfica e a Gentilândia FONTE: produzido pela autora


05 | um olhar sobre o benfica

das origens

Segundo Arlene Holanda, em seu livro “Benfica”, parte da Coleção Pajeú, lançada no ano de 2015 pela Secretaria da Cultura de Fortaleza [36], o portugês João Antônio do Amaral, comerciante natural do arquipélago de Açores, foi uma das primeiras pessoas a se fixar no Benfica. O português, ao mudar-se para Fortaleza, em fins do século XIX, fundou uma chácara para a sua residência, dando-lhe o nome da localidade de Lisboa onde vivia anteriormente: Benfica. De acordo com a autora, João Nogueira, em sua obra “Fortaleza Velha” [37] [apud HOLANDA 2015], ao tratar das origens do Benfica, não menciona o português João Antônio do Amaral ou sua chácara. Da mesma forma, o blog “Fortaleza em Fotos”, do Jornal Tribuna do Ceará [38]. Ambas as fontes relacionam a formação inicial do bairro à primeira expansão da cidade na direção sul a partir do Centro. As famílias fortalezenses de alto poder aquisitivo, procurando um lugar para “bem-ficar” nos anos finais do século XIX, começaram a migrar e fixar residência em outras localidades, como o Benfica e a Jacarecanga, “lugares considerados salubres e aprazíveis, longe da algazarra e da inconveniência dos mendigos, vendedores ambulantes, pedintes e outros tipos indesejados, segundo a ótica da elite fortalezense.” (HOLANDA, 2015, p. 14)

Essa elite era, em grande parte, formada por famílias ricas oriundas de áreas interioranas do Ceará. Sendo assim, muitas delas, interessadas em preservar alguns dos costumes que tinham ao habitar na zona rural, buscavam, na cidade, um ambiente que mantivesse um certo bucolismo. Nas palavras do arquiteto Liberal de Castro [39]: “No processo de expansão urbana brasileira nos anos finais do século XIX, a implantação de chácaras constituiu um modo particular de ocupação dos espaços da periferia, proporcionando uma espécie de transição discreta entre a cidade e o meio rural.” (CASTRO, 2004, p. 191)

img. 41: antigo Boulevard Visconde de Cauípe, a partir da rua Paulino Nogueira, em direção ao Centro da cidade, vendo-se, ao fundo, o bonde da linha Benfica.

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O Benfica foi uma das áreas de Fortaleza que se desenvolveu segundo esse processo, seguindo um modelo fundiário distinto do que era visto, até então, no Centro de Fortaleza. Suas glebas eram amplas, as vistas eram alongadas e a cobertura vegetal, garantida pela presença de mangueiras e cajueiros imensos e centenários, era densa. Até 1920, a localidade onde hoje se encontra o Benfica era conhecida pela denominação de “São João do Tauape”, provavelmente pela existência da “Lagoa do Tauape”. O corpo d’água ocupava uma área de cerca de dez hectares, com pouca profundidade, constituindo uma boa reserva de água doce e situada entre o que são hoje as avenidas João Pessoa e Expedicionários. A partir da década de 1940, o espelho d’água foi sendo gradativamente aterrado e drenado até desaparecer completamente, restando somente o riacho canalizado que a alimentava. [38] Entre fins do século XIX e os anos iniciais do século XX, a região do Benfica experimentou rápido crescimento. Segundo Arlene Holanda: “Num processo similar ao da grande maioria dos municípios cearenses, o bairro Benfica teve em uma igreja – no caso, a de Nossa Senhora dos Remédios – a principal referência aglutinadora. No entorno do templo foram se construindo moradias, surgindo novas ruas, vielas, caminhos. Tanto que nas primeiras décadas do século XX o bairro já estava bem povoado.” (HOLANDA, 2015, p. 17)

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O Benfica, com sua diversidade de ricas e imponentes tipologias arquitetônicas - sobrados, bangalôs, palacetes, casarões recuados com jardins, pomares, quintais - localizados, principalmente, no antigo Boulevard Visconde de Cauípe (hoje Avenida da Universidade) foi, durante as primeiras décadas do século XX, considerado o bairro mais aristocrático de Fortaleza. Além do Boulevard, as chácaras alinhavam-se também na estrada da Pacatuba (atual rua Marechal Deodoro) e marginavam os trilhos da Estrada de Ferro de Baturité (a atual avenida Carapinima), sendo estas, entretanto, consideradas localizações desprestigiadas quando comparadas com o Boulevard Visconde de Cauípe. [39] Além da exuberância natural e construída, o Benfica valorizou-se também por conta da acessibilidade, em termos de transportes. Segundo o memorialista Vanius Meton Gadelha Vieira [40] [apud HOLANDA 2015], em sua obra “Ideal Clube - História de uma Sociedade”, nas vizinhanças da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, localizava-se o ponto terminal da linha de bondes do Benfica. Os bondes desembarcavam defronte à Igreja, no Boulevard Visconde de Cauípe, de onde voltariam para o ponto principal, na Praça do Ferreira. A expansão das linhas de bondes, à época, teve influência direta no direcionamento dos eixos de expansão urbana de Fortaleza.


05 | um olhar sobre o benfica

img.

42: antigo Boulevard Visconde de Cauípe, principal eixo estruturante das grandes chácaras do Benfica, em fins do século XIX e princípio do século XX.

img. 43: final do

Boulevard Visconde de Cauípe e ponto terminal da linha de bondes do Benfica.

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img.

44: antigo palacete da família dos Nepomuceno, demonstrativo dos tipos residenciais predominantes no bairro nos anos 20 e 30.


gentilândia

“O Coronel José Gentil Alves de Carvalho nasceu em Sobral, em 11 de setembro de 1867 e faleceu em 11 de março de 1941. Foi, em vida, o maior empresário do Ceará. Em 1909, já residindo em Fortaleza, adquiriu uma chácara na Av. Visconde de Cauípe, no Benfica, onde ergueu, em 1918, um belíssimo palacete para ser a sua residência. Em torno do palacete, construiu vilas e ruas, com residências de vários tamanhos e estilos, praças e áreas verdes. Lugar que ficou conhecido como Gentilândia.” (VASCONCELOS JÚNIOR in http://www.ceara.pro.br/fortaleza/)

O período áureo do Benfica concentra-se na década de 1930. Segundo a senhora Beatriz Filomeno Gomes, ex-residente do casarão que existia no mesmo local onde hoje se situa o prédio das Ciências Sociais, da Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista concedida ao Jornal Diário do Nordeste, “O Benfica era o bairro mais rico de Fortaleza nos anos 1930”. (HOLANDA, 2015, p. 18 e 19) Essa época de ouro do Benfica coincide com o período em que a família Gentil esteve presente no bairro. A chácara adquirida pelo banqueiro José Gentil, em 1909, pertencia a João Antônio Garcia e correspondia à área onde, atualmente, encontra-se o prédio da Reitoria da UFC. Em 1918, a Chácara Gentil foi remodelada, consoante os novos preceitos do ecletismo arquitetônico, perdendo suas feições rurais para virar um belo palacete, que passou a ser a residência do banqueiro e de sua família.

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A partir dessa construção, o domínio do clã da família Gentil iniciou sua consolidação dentro do bairro. A maior parte da Chácara Gentil foi desmembrada durante a vida de seu proprietário, para compor os quarteirões, as ruas e as praças do pequeno bairro da Gentilândia. Da antiga Chácara Garcia, portanto, parte foi reservada para a residência da família do banqueiro e o restante se desenvolveu como uma “cidade dentro do bairro em formação”, a Vila Gentil, contando com residências de menor porte, que foram alugadas para famílias de classe média. Percebe-se, dessa forma, o início de um processo de pluralização sócioeconômica dentro do bairro, característica que se mantém até os dias atuais. Às belas e imponentes mansões das famílias tradicionais que habitavam no Benfica, começaram a somar-se casas geminadas, mais modestas, com suas portas avarandadas, janelas, gradis e, por vezes, um pequeno jardim lateral. Famílias de origem social mais humilde também iam demarcando seu lugar no território do bairro em construção. [36] Além de denominação de bairro, Gentilândia também dá nome a uma das praças mais conhecidas de Fortaleza, localizada entre as ruas Santo Antônio e Marechal Deodoro. A influência da família Gentil na formação do local se perpetua até hoje entre os residentes e transeuntes do Benfica.


05 | um olhar sobre o benfica

img. 45: residência

situada na rua Waldery Uchôa, nº 220. Fotografia de 2006. (arquivo Elmo Júnior).

img. 47: rua Padre

Francisco Pinto, nº 173 e 163, em 1937. (arquivo MISSECULT-CE).

img.

48: Vila Santana, com entrada pela rua Padre Francisco Pinto. Fotografia de 2006. (arquivo: Elmo Júnior).

img. 46: rua Redênção, antiga Travessa Sobral. Era conhecida, inicialmente, como Vila Gentil, por ter sido a primeira vila construída no loca, em 1931. (arquivo Elmo Júnior).

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img. 49: residência

de Amélia Gentil de Aguiar, na rua Paulino Nogueira, em 1956. (arquivo Elmo Júnior).


universidade

Antes de falar sobre o processo de instalação de um dos campi da Universidade Federal do Ceará no Benfica, é importante ressaltar que a tradição do bairro como um local de educação é bem anterior à presença da UFC em seu território. Muitos prédios do Benfica, antes de serem de posse da Universidade, abrigaram escolas de primeiro e segundo grau, algumas das quais, até os dias de hoje, existem e são reconhecidas na cidade de Fortaleza. Os exemplares mais conhecidos são: O Colégio Santa Cecília, instituição particular de ensino para moças, que funcionava onde, atualmente, encontra-se o Museu de Arte da UFC; O Colégio Nossa Senhora das Graças que, posteriormente, virou o Ginásio Americano, educandário frequentado por moças de posses, onde, hoje em dia, estão situados os cursos de Ciências Sociais e Filosofia da UFC; O Grupo Escolar do Benfica, posteriormente denominado Grupo Escolar Rodolfo Teófilo, onde, atualmente, localiza-se a Faculdade de Ciências Econômicas da UFC. [38] Apresentada essa observação inicial, percebe-se como imprescindível para a construção deste trabalho destrinchar a parte do processo de formação da UFC que está diretamente relacionada ao Benfica. É importante notar que a participação do bairro no histórico da instituição é notável, principalmente, no estágio inicial de seu desenvolvimento.

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A Universidade Federal do Ceará foi fundada em 16 de dezembro de 1954, tendo sido instalada em 25 de junho de 1955. De início, era composta por apenas 05 escolas de ensino superior, que já existiam quando da criação da instituição. A Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Agronomia, a Faculdade de Ciências Econômicas e a Faculdade de Medicina funcionavam em edificações isoladas e inadequadas à demanda crescente de alunos. O arquiteto Liberal de Castro, no livro “Martins Filho de Corpo Inteiro” [39], que conta com vários colaboradores, destaca que: “O início da expansão territorial da Universidade fez-se por rápidas etapas. Primeiro, por gradativa aquisição de chácaras e casas situadas no bairro Benfica, tendo como polo de difusão a sede da Reitoria. Segundo, pelo domínio de vasta área do bairro do Porangabaçu (...) Finalmente, pela obtenção de metade da gleba da antiga base aérea do Pici (...) Também deve ser mencionado o conjunto do Sítio Alagadiço Novo/Casa de José de Alencar, doado pelo Governo Federal à Universidade, à parte o terreno altamente valorizado, onde funciona o Laboratório de Ciências do Mar, no Meireles.” (CASTRO, 2004, p. 190 e 191)


05 | um olhar sobre o benfica

Foi em 1956, a partir da aquisição dos remanescentes da imensa gleba original da Chácara Gentil, à essa época, já bastante diminuída, que se iniciou, verdadeiramente, o processo de instalação da UFC para além das 05 escolas pré-existentes e unificadas a partir da fundação da instituição. Nas palavras de Castro, “não resta a menor dúvida de que a aquisição da Chácara Gentil foi ato indutor da formação do campus do Benfica, articulado pelo ponto chave que ocupava no bairro.” (CASTRO, 2004, p. 196)

“Gradativamente, outras chácaras e casas de vulto foram compradas pela Universidade. A mudança de hábitos de morar e a reformulação da estrutura familiar haviam-nas tornado peças vazias, de manutenção dispendiosa. Os próprios possessores insistentemente procuravam a Reitoria, pondo-as à venda, ou melhor, solicitando-lhes a desapropriação, porque assim não pagariam impostos. (...) A instrução dos processos de aquisição obedecia a uma sistemática que exigia fossem todos os imóveis de interesse da Universidade devidamente documentados por meio de levantamentos gráficos, sendo então avaliados os respectivos valores pelo quadro técnico e depois reavaliados por comissões para tais fins designadas.” (CASTRO, 2004, p. 196)

Nota-se, pelas palavras de Liberal de Castro e por outras leituras, que o período de organização da UFC no Benfica coincidiu com o esvaziamento do bairro por parte das mesmas famílias tradicionais, pertencentes à alta elite fortalezense, que para ele haviam se mudado em fins do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX. Dessa vez, a “debandada” dessas famílias se deu na direção de outras localidades em expansão, em especial, a Aldeota e o Meireles, bairros que, até hoje, possuem os maiores valores de IDH da cidade de Fortaleza e concentram as famílias de maior poder aquisitivo. A chegada da Universidade no Benfica tem forte repercussão sobre o seu espaço físico natural e construído. Diversos imóveis têm sua arquitetura original alterada, completamente descaracterizada ou ainda sofrem processo de demolição. Da mesma forma, vê-se o abatimento de muitas das árvores que garantiam a imponência paisagística, o sombreamento das vias e edificações e a ambiência bucólica e tranquila que predominava sobre o local. Nas quatro páginas seguintes, será exibido um mapa destacando as edificações que pertencem à UFC e localizam-se no Benfica, e mostrando, através de imagens e breves apontamentos textuais, como se caracterizavam algumas de suas mais significativas edificações antes da instalação da Universidade e como figuram atualmente.

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dos equipamentos da ufc

EDIFICAÇÕES PERTENCENTES À UFC LOCALIZADAS NO BAIRRO BENFICA 01 - Pró-Reitoria de Extensão 02 - Rádio Universitária 03 - CETREDE (Centro de Treinamento e Desenvolvimento) 04 - Imprensa Universitária 05 - Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Faculdade de Design 06 - Museu de Arte e Cultura 07 - CH3 - Centro de Humanidades 3 08 - Reitoria 09 - CH2 - Centro de Humanidades 2 10 - CH1 - Centro de Humanidades 1 11 - Casa Amarela Eusélio de Oliveira 12 - Restaurante Universitário 13 14 - Diretoria da FEAAC 15 - FEAAC (Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade) 16 - Sede da ADUFC 17 - Conservatório de Música Alberto Nepomuceno e Teatro Universitário Paschoal de Carlos Magno 18 - Faculdade de Direito 04

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antigo Colégio Santa Cecília, que funcionou na avenida Visconde de Cauípe de 1928 a 1955

atual Museu de Arte da UFC

antiga Vila Angélica, chácara do engenheiro João Thomé de Saboya e Silva, posterior Escola de Engenharia atual Cursos de Ciências da Informação e Comunicação Social da UFC

antigo palacete de José Gentil, que funcionava como residência da família Gentil [foto de 1947]

atual Reitoria da UFC [foto de 2015]

antiga residência de João Gentil, posterior Colégio Nossa Senhora das Graças, sendo, depois, denominado Ginásio Americano

atual Centro de Humanidades 3 da UFC

atual Rádio Universitária, antiga casa de Edgard de Arruda [sem imagens] e posterior Centro de Cultura Hispânica

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200


N

Faculdade de Direito da UFC, edifício que é considerado um dos mais valiosos bens arquitetônicos da Universidade

antigo Grupo Escolar do Benfica, posterior Instituto Histórico e Geográfico do Ceará

atual Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado Executivo da UFC

antigo Chalé da Família Queiroz

atual Casa de Cultura Alemã da UFC

Residência Universitária da UFC, projeto de Ivan de Brito. O edifício não teve seu uso alterado desde sua instituição


presente

Seguindo a tendência de transformações vivenciadas por Fortaleza nas últimas décadas, o Benfica também passou por processos que alteraram significativamente sua paisagem natural e construída. O bairro se consolida, atualmente, como um campo de convivência das diversidades, sendo, simultaneamente, local de resistência e de fragmentação. O Benfica é dinâmico. Em caminhadas e vivências pelo bairro, é possível perceber sua condição paradoxal de desenvolvimento. Das grandes chácaras que o marcaram no início do século passado, pouquíssimas restaram; algumas das principais, como explicitado anteriormente, deram lugar aos equipamentos de educação e apoio da Universidade Federal do Ceará. Por sua vez, muitos exemplares das frondosas árvores - com destaque para as mangueiras -, que traziam ao bairro um microclima extremamente agradável persistem, seja na parte central de vias (como na rua João Gentil e na rua Nossa Senhora dos Remédios), nos espaços semipúblicos pertencentes à Universidade, ou espremidas junto às calçadas de largura ínfima das ruas do bairro. Segundo o professor doutor Elmo Vasconcelos Júnior, que leciona no campus do Benfica e é morador da Rua Nossa Senhora dos Remédios há décadas, a defesa e conservação do patrimônio verde, no local, é uma herança deixada por José Gentil. [40]

81

img. 50: jardins da

Reitoria, na avenida da Universidade.

img. 51: árvores antigas e frondosas na rua Nossa Senhora dos Remédios.

img.

img.

52: árvores antigas e frondosas na parte central da rua Nossa Senhora dos Remédios.

53: área livre no Centro de Humanidades 3, voltada para a rua Paulino Nogueira.


05 | um olhar sobre o benfica

As residências de gabarito baixo, que predominaram nos bairros mais estruturados e relevantes de Fortaleza até o estabelecimento do processo de verticalização do espaço formal, cujo início se deu por volta da década de 1970, ainda prevalecem no Benfica. Apesar de a presença do mercado imobiliário e de grandes construtoras já estar permeando o bairro desde, aproximadamente, o início dos anos 2000, as moradias unifamiliares, com 01 ou 02 pavimentos, respondem pela ampla maioria de suas edificações residenciais e contribuem para a manutenção de um determinado grau de escala humana no local. No entanto, se, por um lado, a altura reduzida das residências persiste, por outro, suas fachadas vedadas com gradis e muros baixos, visualmente permeáveis e permissivas ao contato, já não preponderam. Atualmente, e de forma crescente, estas são obrigadas a conviver lado a lado com casas que se utilizam de muros altos e completamente opacos, coroados por cercas elétricas. A ideia que se propaga na cidade, tanto dentre quem adquire imóveis, quanto dentre quem os produz, constrói e vende é a de que fachadas estruturadas com esse padrão de desumanização contribuem para aumentar a segurança no interior das construções. E, enquanto se vive acreditando nisso, percebe-se que o que aumenta é o desinteresse das pessoas pelos espaços de uso comum - cercados de barreiras por todos os lados -, e os níveis de insegurança pública.

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img. 54: residên-

cias na rua João Gentil.

img. 56: residên-

cias na Vila Santa Cecília.

img. 55: residências na rua Nossa Senhora dos Remédios.

img. 57: casa que sedia a Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste e residência na rua Nossa Senhora dos Remédios.


O Benfica, no contexto de Fortaleza, tem uma grande quantidade de características gerais atrativas - a exemplo da alta concentração arbórea; da variedade de equipamentos de serviços alimentícios, como bares, cafés e restaurantes; da existência de edificações antigas que, mesmo descaracterizadas em baixo ou em alto grau, mantêm uma singularidade estética muito própria; da concentração de vários dos equipamentos da Universidade, dentre outras. Além disso, o local possui uma qualidade social muito forte: é, rotineiramente, frequentado por um alto número de pessoas, de origens, idades, profissões e gostos dos mais diversos. Apesar de exercer esse nível de atração sobre o público, é necessário salientar que, no que diz respeito à qualidade, ao uso, ao desenho e à manutenção dos espaços públicos, em todas as suas tipologias, o Benfica, atualmente, também segue as tendências observadas e disseminadas em todo o território de Fortaleza. Seu espaço de domínio público encontra-se massivamente dominado pelas pistas asfaltadas destinadas ao tráfego de veículos automotores. A ambiência bucólica do bairro, identificada no início do século XIX por conta das imensas residências, com seus grandes espaços ajardinados, da presença externa das frondosas mangueiras e cajueiros e da predominância das ruas tranquilas, sombreadas e caminháveis, hoje em dia, só permanece em alguns pontos bastante específicos do bairro. No geral, apesar de alguns elementos da referida época resistirem, o ambiente público é desprovido de componentes que estimulem a presença, a convivência e o bem-estar humanos. 83

img. 58: jardins da Reitoria, na nas avenidas da Universidade e 13 de Maio.


05 | um olhar sobre o benfica

img. 59, 60 e 61:

sequência na avenida da Universidade, às 15h de um dia de semana, em um intervalo de 10 segundos.

img. 62: avenida

da Universidade, às 15h de um dia de semana, quando o sinal está fechado.

84 img. 63: vista da

rua Nossa Senhora dos Remédios a partir da rua Paulino Nogueira.

img.

64: perspectiva da rua Paulino Nogueira.

Além das largas ruas, com pistas quentes, asfaltadas em cinza-escuro, em que prevalecem os carros e as motocicletas, trafegando em altas velocidades, outros elementos do espaço público que, em tese, deveriam estar mais próximos das pessoas, também sofrem processos de deterioração física e afetiva. As calçadas do Benfica, por exemplo, são estruturadas apenas como elementos de circulação – ou seja, tendo todas as suas outras possibilidades de uso completamente ignoradas - e, em muitos casos, não possuem nem a largura suficiente para a passagem simultânea de duas pessoas, lado a lado. A atual ausência de um padrão de revestimento, de altura e de inclinação, por sua vez, é notável, inclusive, em se tratando de calçadas localizadas na mesma quadra, em lotes contíguos.


As duas praças do bairro (João Gentil e Gentilândia), apesar de ainda receberem uma frequência significativa de pessoas, devido, principalmente, à sua localização, à manutenção de tradições (como a Feira Livre da Gentilândia, uma das mais antigas de Fortaleza) e a existência móvel e fixa de usos comerciais de pequeno porte, encontramse significativamente degradadas. Mobiliário deteriorado, escassez de equipamentos e atividades diversificadas e que despertem o interesse da população, carência de espaços que convidem e estimulem a convivência entre os diversos públicos que frequentam o Benfica são alguns dos aspectos que merecem destaque nesse contexto de desgaste em que vivem dois espaços que deveriam permanecer sendo dos mais significativos, ricos, dinâmicos e convidativos do bairro.

img. 65: perspectiva

da praça João Gentil, com mobiliário urbano deteriorado.

img. 66: busto em

homagem a João Gentil, localizado na praça João Gentil. A estátua encontrase pichada, pintada e com panfletos colados.

85

img. 67: pista de

skate situada na praça da Gentilândia.

img. 68: perspectiva da praça da Gentilândia olhando para a rua Paulino Nogueira.


05 | um olhar sobre o benfica

A problemática da segurança pública, assunto já trazido à tona no capítulo anterior, no contexto de Fortaleza, também vem se tornando uma questão de destaque no Benfica. Mais uma vez, ressalta-se que este trabalho é produzido na crença de que a segurança pública existe quando há público. Ou seja, é necessário atrair de volta as pessoas para os espaços sociais, trazer os “olhos da rua” para a rua, para que uma ambiência segura e confortável volte a predominar. Como, em termos de projeto, esse trabalho se propõe a atuar nos espaços de domínio público do polígono delimitado no Benfica, é certo que o desenho de suas ruas, calçadas, praças e dos elementos que nelas se situam (como o mobiliário urbano, por exemplo) trará como uma forte diretriz de projeto esse interesse que os locais sociais devem exercer sobre as pessoas. O desenho urbanístico deste estudo será pensado para que o público volte a frequentar os espaços que lhes pertencem; a estabelecer laços de convivência neles e com eles. Com esse tipo de estímulo e de incentivo às relações entre as diversas categorias de pessoas que frequentam o bairro, acredita-se que a educação informal e o aprendizado vivencial, que podem nascer a partir de uma conversa de poucos minutos de duração entre pessoas que nunca se viram estará ao alcance de todos; ultrapassará os muros das instituições de ensino universitárias situadas no local. O aproveitamento da diversidade social e de usos do Benfica também serão princípios chaves para a configuração da proposta de projeto. Afinal, se trata do bairro dos estudantes; de pessoas idosas que residem no local há décadas; de adultos e crianças que se utilizam de suas praças; dos vendedores das feiras de alimentos e de produtos artesanais; dos donos de trailers que, rotineiramente, vendem comidas e bebidas para os transeuntes; dos manifestantes; dos grupos religiosos; dos coletivos LGBT’s; de moradores antigos, que possuem vivas as lembranças de, durante a infância, correr nos jardins da Reitoria e brincar no 23º Batalhão de Caçadores. É o bairro do Carnaval; dos cafés; dos bares, existentes há tantos anos e frequentados por várias gerações; das artes cantadas, dançadas, esculpidas, interpretadas e produzidas; das feiras culturais; dos encontros de estudantes; da fruição de ideias e ideais. É um local como poucos; formador de mentes e personalidades e, portanto e por tanto, propício a mudanças que tenham como foco a sua maior riqueza: as pessoas.

86



06 das referências

“as ruas já não conduzem apenas, elas mesmas são lugares.” [John Brinckerhoff]



das referências

internacional

Para melhor embasar o desenvolvimento dos modelos de intervenção urbana propostos para as diversas camadas de espaços públicos da zona universitária do Benfica, alguns projetos com campos de atuação e propostas similares foram utilizados como referência. [41]

[a] newcastle university king’s road [newcastle] O projeto desenvolvido pelo escritório inglês OOBE foi construído na principal artéria do campus da Universidade de Newcastle e seu desenvolvimento se deu com foco em três metas principais: [1] criar um ambiente cuja prioridade seria dada ao pedestre. [2] desenvolver uma abordagem sustentável para as problemáticas de alagamento do local. [3] prover um ambiente multifuncional e flexível.

90

img. 69: perspecti-

va Newcastle University King’s Road, após a implementação do projeto.


Para alcançar esses objetivos, o projeto se utiliza de estratégias variadas e que se complementam na criação de um ambiente que indica às pessoas que elas saíram do meio urbano regular e chegaram em uma zona diferenciada da cidade: uma área universitária. Dentre os principais aspectos do projeto tomados como referência para o presente estudo, tem-se: a utilização dos materiais de revestimento e da paginação de piso como elementos que sinalizam e fazem indicações dentro do espaço urbano; o reforço das conexões peatonais e o alargamento dos espaços destinados às pessoas e que são desenhados tomando as suas proporções, escala, velocidade e necessidades como referencial; a implementação de uma tipologia de mobiliário urbano dinâmica, que convide à conviência e à permanência das pessoas, e que possibilite a existência de diversos ambientes dentro de um mesmo espaço; a construção de canteiros verdes e reforço das zonas arborizadas, que contribuem tanto para a criação de um microclima muito mais agradável, quanto para a captação das águas pluviais - através, por exemplo, da implementação de jardins de chuva.

91

img.

70: render do projeto do escritório OOBE para a Newcastle University King’s Road.


06 | das referências

92

img. 71: perspecti-

va Newcastle University King’s Road, após a implementação do projeto.


continental

[b] avenida 20 de noviembre [cidade do méxico] O projeto de requalificação da avenida 20 de Noviembre, desenvolvido pela Autoridad del Espacio Público (AEP) - órgão pertencente ao poder público municipal da Cidade do México -, consiste no desenho piloto de um projeto mais abrangente, que pretende atuar em várias zonas da cidade. [42] [43] A proposta de intervenção urbana da referida avenida vem com os objetivos de reforçar a identidade e a apropriação do espaço público, dando prioridade ao pedestre. A transformação contempla adequações geométricas simples, criando “ilhas peatonais” e zonas de descanso e convivência e fomentando, além da circulação cômoda e segura dos transeuntes, sua permanência no espaço público e seu reencontro com as funções originais deste. O projeto atua, justamente, na redistribuição espacial dos locais de usufruto público, retirando um grande percentual destes do domínio dos veículos e transferindo-os de volta para as pessoas. Um dos grandes diferenciais dessa intervenção consiste na utilização de pintura para demarcação da nova divisão espacial, o que representa uma vantagem tanto sob o ponto de vista econômico, visto que a sua implementação se torna menos onerosa, quanto por ser reversível; se a aceitação do projeto não for como a esperada, pode-se, facilmente, voltar à situação original.

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img. 72: avenida 20

de Noviembre após a implementação do projeto de intervenção.


06 | das referências

Dentre os principais aspectos do projeto tomados como referência para o presente estudo, tem-se: a redistribuição geométrica do espaço de forma a priorizar o uso dos locais públicos pelas pessoas; a humanização dos balizadores e barreiras, com a utilização de elementos mais amenos e agradáveis para estabelecer os limites entre as zonas de circulação de veículos e as áreas peatonais; a pintura como elemento de demarcação espacial; a criação de zonas de mobiliário urbano flexível e que estimule a permanência das pessoas e as convide a usufruir do espaço público; a atração das pessoas como fator de incentivo ao desenvolvimento econômico de pequeno porte - bancas de revista e pontos comerciais lindeiros.

img. 73: avenida 20

de Noviembre antes e depois da implementação do projeto de intervenção.

img. 74: avenida

20 de Noviembre após a implementação do projeto de intervenção.

94


nacional

centro aberto [são paulo] O projeto Centro Aberto, desenvolvido na área central de São Paulo pela São Paulo Urbanismo - empresa pública responsável pelos projetos urbanos do município -, a partir de uma metodologia colaborativa facilitada pela Gehl Architects, consiste em várias experiências de intervenção urbana que buscam a ativação do espaço público através da renovação de suas formas de uso. Seu objetivo mais fundamental é promover a diversificação das atividades - envolvendo um maior número de usuários, em faixas de tempo também ampliadas -, construindo, dessa forma, o real domínio público sobre os espaços e favorecendo outros aspectos, como a melhoria na percepção da segurança pública e o reforço no sentido de pertencimento e identificação da população com o Centro. [44] Em um primeiro momento, foram concebidas intervenções piloto, em caráter de experimentação, a fim de testar o seu uso efetivo pela população. Os locais elegidos para esses dois primeiros projetos foram o Largo São Francisco e Praça do Ouvidor Pacheco; e o Largo Paissandu e Avenida São João. Trabalhou-se, nestes locais, com o reforço das rotas não-motorizadas, o suporte à permanência nos espaços públicos e o desenvolvimento de novos usos e atividades.

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img. 75: Largo São

Francisco após a implementação do projeto de intervenção.


06 | das referências

Dentre os principais aspectos do projeto tomados como referência para o presente estudo, tem-se: a implementação de mobiliário urbano diversificado e convidativo no espaço público, trabalhando tanto com estruturas fixas, quanto móveis; a ampliação do presente do verde na cidade, pois a aborização, além de fornecer zonas de sombra e filtrar a luz solar, contribuem para a criação de ambientes agradáveis no espaço urbano; a demarcação de espaços próprios para a existência da comida de rua, ativando ruas e praças e gerando renda para trabalhadores locais; a restrição das zonas de estacionamento de veículos nas ruas e a criação de áreas com paraciclos, para a parada de bicicletas; a priorização de pedestres no espaço público.

96 img.

76: Praça Morada São João após a implementação do projeto de intervenção.

img.

77: Largo Paissandu após a implementação do projeto de intervenção.



07 espaço: das pessoas e para as pessoas

“ainda vão me matar numa rua quando descobrirem principalmente que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade.” [Paulo Leminski]



espaço: das pessoas e para as pessoas

panorama

A seção prática deste trabalho partirá de uma inserção da área de intervenção em seu contexto local, ilustrando: os limites geográficos do polígono de intervenção, delimitado a noroeste pela avenida Carapinima (que não se encontra incluída no polígono), a nordeste pela rua Juvenal Galeno, a sudeste pela rua Marechal Deodoro e a sudoeste pela rua Padre Francisco Pinto; a classificação do polígono de acordo com o zoneamento estabelecido pelo Plano Diretor Participativo de Fortaleza e sua hierarquização viária, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo; a acessibilidade, através do transporte público coletivo (ônibus e metrô), e do individual compartilhado (bicicletas) à área do polígono e ao seu entorno imediato. os principais polos geradores de tráfego existentes no entorno imediato (raio de 500m) do polígono de intervenção. O objetivo é dar uma contextualização mais geral da área de intervenção e de sua situação, antes de trabalhar em um diagnóstico mais específico dessa área, direcionado para a temática do projeto.

100


dos limites

Como explicitado ao longo deste trabalho, a área de intervenção do projeto aqui proposto consistirá na zona do Benfica que concentra a quantidade mais expressiva de equipamentos pertencentes à UFC. Nota-se que, geograficamente, a maior parte do polígono encontra-se inserida no bairro da Gentilândia. Entretanto, como dito no capítulo 04, a zona de estudo geral deste trabalho permanecerá sendo chamada de Benfica. A partir do centro do polígono de intervenção, foi traçado um círculo de raio 500m, a fim de se trazer um panorama geral sobre o seu entorno imediato. BENFICA GENTILÂNDIA ÁREA DE INTERVENÇÃO DEMARCAÇÃO DO POLÍGONO DE INTERVENÇÃO

mapa 04: polígono de intervenção inserido no conjunto formado por Benfica e Gentilândia FONTE: produzido pela autora

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mapa 05: zona de intervenção destacada em meio ao Benfica e à Gentilândia FONTE: produzido pela autora

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N

500m


da legislação

De acordo com o Plano Diretor Participativo de Fortaleza (PDP-For) [45], o Benfica está localizado, em sua totalidade, na Zona de Ocupação Preferencial 1 (ZOP 1). Essa macrozona de ocupação urbana caracterizase pela disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos e pela presença de imóveis não-utilizados e subutilizados, destinandose à dinamização e intensificação do uso e ocupação do solo. Em termos de sistema viário, segundo a Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) [46] de Fortaleza, a área de intervenção é cortada por duas vias arteriais. Uma via arterial tipo I (a avenida 13 de Maio), que o atravessa nos sentidos sudeste-noroeste e noroeste-sudeste e uma via arterial tipo II (a avenida da Universidade), que o atravessa no sentido sudoeste-nordeste. As outras vias do polígono são classificadas como locais. Além disso, percebe-se que, no entorno próximo do polígono, existem outras vias de tráfego e porte expressivos. São elas: a avenida dos Expedicionários, classificada como arterial tipo I e a avenida Carapinima, classificada como arterial tipo II. ZOP 1 VIA ARTERIAL TIPO I VIA ARTERIAL TIPO II Vias arteriais: segundo a LUOS, são aquelas destinadas a absorver substancial volume de tráfego de passagem de média e longa distância, a ligar pólos de atividades, a alimentar vias expressas e estações de transbordo e carga, conciliando estas funções coma de atender ao tráfego local, com bom padrão de fluidez. VIA LOCAL (demais vias do polígono) Vias locais: segundo a LUOS, são aquelas destinadas a atender ao tráfego local, com baixo padrão de fluidez.

mapa 06: classificação da área do Benfica e de seu sistema viário, de acordo com o PDP-for e a LUOS. FONTE: produzido pela autora

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N


da acessibilidade [pública, coletiva e compartilhada]

O Benfica é uma área amplamente atendida, em termos de serviços de transporte público coletivo. A avenida da Universidade, uma das vias de maior relevância do local, tanto por representar uma importante conexão para o tráfego de passagem, quanto pelos usos lindeiros que comporta, recebe, diariamente, 42 linhas de ônibus. A avenida Carapinima, por sua vez, recebe 37 linhas por dia. O bairro conta também com uma estação, já em funcionamento, do metrô de Fortaleza. A estação do Benfica, localizada na avenida Carapinima, em frente ao Shopping Benfica, faz parte da linha sul do metrô, que conecta o centro da cidade de Fortaleza ao município de Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Em termos de modais de transporte compartilhados, o Benfica é uma das localidades de Fortaleza atendidas pelo sistema de bicicletas compartilhadas do projeto “Bicicletar”, da Prefeitura Municipal de Fortaleza. As 03 estações do bairro localizam-se, respectivamente, em frente ao Shopping Benfica (próximo à estação de metrô), em frente aos Jardins da Reitoria e na praça João Gentil. No entanto, nota-se que, contraditoriamente, a estrutura cicloviária do bairro é paupérrima: só há uma ciclofaixa no local, situada na rua Waldery Uchôa. ESTAÇÃO DE METRÔ DO BENFICA ESTAÇÕES DE BICICLETAS COMPARTILHADAS VIAS DE CIRCULAÇÃO DAS LINHAS DE ÔNIBUS CICLOFAIXA BIDIRECIONAL ÁREA DE INTERVENÇÃO

mapa 07: vias por onde transitam as linhas de transporte público e demarcação da estação de metrô do Benfica FONTE: produzido pela autora

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N


dos polos geradores de viagens

Por se tratar de uma localidade privilegiada na cidade de Fortaleza, com relação à acessibilidade e infraestrutura de serviços básicos, o Benfica concentra uma série de equipamentos que atraem, rotineiramente, o deslocamento de diversas pessoas.

05 04

Dentro do polígono de intervenção, esses equipamentos consistem, exatamente, nas edificações institucionais pertencentes à Universidade Federal do Ceará, apontadas no mapa 03, situado no capítulo 05 do presente estudo. No entorno imediato do polígono de intervenção, apesar da existência de várias zonas que concentram, majoritariamente, edificações de pequeno porte - como residências e pontos comerciais e de serviços locais -, há uma quantidade significativa de equipamentos que atuam em uma escala macro, atraindo pessoas de toda a cidade de Fortaleza. PRINCIPAIS POLOS GERADORES DE VIAGENS NO ENTORNO IMEDIATO DO POLÍGONO DE INTERVENÇÃO

03

01 - CEPEP [Escola Técnica] 02 - Instituto das Filhas de São José 03 - Recanto do Sagrado Coração de Jesus 04 - IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] 05 - Shopping Benfica 06 - Casa Amarela Eusélio de Olveira 07 - SINE/CE - Sistema Nacional de Emprego 08 - Biblioteca Pública Dolor Barreira 09 - Restaurante Universitário 10 - Diretoria da FEAAC 11 - FEAAC (Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade) 12 - EEFM Figueiredo Correia 13 - Colégio Farias Brito Júnior 14 - IFCE (Instituto Federal do Ceará) 15 - Estádio Presidente Vargas 16 - 23º Batalhão de Caçadores

mapa 08: principais polos geradores de viagens no entorno imediato do polígono de intervenção do Benfica FONTE: produzido pela autora

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N

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zoom in

Realizar um diagnóstico mais aproximado e aprofundado da área de intervenção designada para o projeto faz-se necessário para melhor compreender os movimentos que se dão na área e as relações que se constroem entre estes. Alguns destes processos são mais claros e óbvios de ser percebidos. Outros, por sua vez, só são alcançados a partir de um certo grau de vivência no local de estudo e conhecimento dos agentes sociais que dele se utilizam. Ademais, é válido ressaltar que o diagnóstico aqui ilustrado foi feito com total direcionamento para o tema que será abordada no projeto. Com o objetivo de dinamizar o processo de transmissão das informações e ampliar as percepções, essa seção mais específica de diagnóstico será trabalhada através de uma mescla de diversos elementos visuais. Serão utilizados mapas, imagens e desenhos, retratando os principais exemplares que caracterizam a realidade do bairro, divididos em subtópicos temáticos e manuseados de formas variadas. Esses subtópicos tratarão: dos usos e atividades existentes na área delimitada; dos percursos por calçadas, ruas, avenidas e espaços semi-públicos, assim como de suas condições físicas; do mobiliário urbano; da infraestrutura verde local;

109

A partir dessa aproximação mais técnica e orientada do território em estudo, constatadas suas potencialidades e fraquezas, serão estabelecidas as diretrizes gerais que nortearão o projeto.



dos usos e atividades [no solo público, semi-público e privado] Como já explicitado anteriormente, o Benfica é repleto de dinamismo e diversidade. Esses dois caracteres são bastante acentuados no polígono do bairro escolhido para se fazer os modelos de intervenção urbana deste projeto, visto que a Universidade funciona como polo que atrai, forma e fomenta uma grande variedade de públicos. É imprescindível, para esta ação projetual, que se compreenda um pouco mais sobre a rede de atividades, usos e processos que se dão nos espaços privados, públicos e semi-públicos do local de estudo, visto que todas essas categorias de espaços interferem umas nas outras. Entender para quê o solo urbano vem sendo utilizado é essencial para se conhecer mais sobre os usuários que o frequentam; saber o que lhes atrai, quais seus interesses, gostos e necessidades e, assim, definir potencialidades sociais que possam ser aproveitadas no projeto. Nas páginas seguintes, serão dispostas uma série de imagens, capturadas em visitas ao local de estudo, que retratam suas diferentes partes e as funções que estes espaços ganham, atualmente, junto ao público que os frequenta. Posteriormente, tem-se alguns mapas, com o uso e a ocupação do solo nos espaços de domínio privado e público do polígono em estudo, além do apontamento de atividades que ocorrem nos seus locais públicos e semi-públicos.

111


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

praça joão gentil

área verde área livre exercícios serviços contemplação encontros convivência

centro de humanidades 3

educação área verde área livre serviços encontros convivência circulação

restaurante entre duas casas

residência serviços encontros convivência

centro de humanidades 1

funciona como/para:

educação área verde área livre encontros convivência circulação serviços apresentações contemplação


bar

serviços encontros convivência

rua nossa senhora dos remédios

circulação estacionamento

rua waldery uchôa

circulação estacionamento espera ônibus

jardins da reitoria

funciona como/para:

área verde área livre circulação contemplação encontros convivência reuniões


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

casas

residência

avenida da universidade

circulação serviços espera ônibus

avenida 13 de maio

circulação serviços espera ônibus encontros convivência

clínica, papelaria, escola, restaurante

funciona como/para:

serviços comércios educação


mapa 09: uso e ocupação do solo nos lotes FONTE: produzido pela autora

N

cafés, restaurantes, lanchonetes, bares outros comércios e serviços outras instituições uso misto [residência + comércio ou serviço] vazios urbanos

praças

residências [predominantemente unifamiliares]

dependências da Universidade Federal do Ceará


colação de grau apresentações musicais

estações de bicicletas feira de artesanato

auditório

venda de alimentos

venda e conserto de objetos

manifestações

banheiros públicos

pista de skate

equipamentos de ginástica banca de revistas

carnaval

quadra de esportes

feira de frutas e verduras

mapa 11: atividades e equipamentos nos espaços públicos e semi-públicos FONTE: produzido pela autora

mapa 10: uso e ocupação do solo no domínio público FONTE: produzido pela autora

N

N

atividades esporádicas

atividades rotineiras

zonas de circulação de pedestres praças faixas exclusivas para o tráfego de ônibus faixas exclusivas para o tráfego de bicicletas zonas de divisão

zonas de circulação de veículos


do sistema de percursos: calçadas, ruas, avenidas e espaços semi-públicos É sabido que no Benfica e na cidade de Fortaleza, de forma geral, o espaço público serve, prioritariamente, à circulação. Para que o presente projeto possa atuar de forma adequada no espaço público local, é necessário, portanto, compreender como esse sistema de circulação funciona; quais os modais que compreende, como esses modais se movimentam, quais vias são mais utilizadas, quais os trajetos alternativos que são feitos, dentre outros. A fim de melhor conhecer esses aspectos, nas páginas seguintes, serão exibidos cortes esquemáticos de algumas das principais vias do polígono em estudo, além de mapas que tratam sobre volume de tráfego, estacionamento nos locais públicos e as proporções espaciais desses locais. Posteriormente, serão dispostas imagens que ilustrarão as condições físicas desses percursos, com seus aspectos positivos e negativos ressaltados.

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07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

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corte esquemático cc

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corte esquemático aa

avenida da universidade

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faixas de tráfego

faixa exclusiva de ônibus

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passeio

faixas de tráfego

faixas exclusivas de ônibus

passeio

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6m

2,40m

passeio

faixas de tráfego

faixas exclusivas de ônibus

passeio


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corte esquemático dd

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corte esquemático dd

rua nossa senhora dos remédios

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1,50m

passeio

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

2m

10m

1,75m

passeio

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

[sem demarcação de vagas]

[sem demarcação de vagas]


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

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g g

f f

corte esquemático gg

corte esquemático ff

rua waldery uchôa

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passeio

ciclofaixa

faixas de tráfego

1,75m

2,50m

4,80m

passeio

ciclofaixa

faixas de tráfego

2,20m faixa de

estacionamento

1,75m passeio

2,20m faixa de

estacionamento

praça


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h

N

corte esquemático ii

121

corte esquemático hh

avenida 13 de maio

2,00m

6,50m

1,20m

6,50m

1,60m

passeio

faixas de tráfego

canteiro central

faixas de tráfego

passeio

2,50m

6,50m

1,20m

6,50m

2,20m

passeio

faixas de tráfego

canteiro central

faixas de tráfego

passeio


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

N

j j

l l

corte esquemático ll

corte esquemático jj

rua joão gentil

122

1,50m

7,00m

1,50m

passeio

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

[sem demarcação de vagas]

praça

7,50m

1,80m

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

[sem demarcação de vagas]


N

o o

n n

m m

corte esquemático mm

rua marechal deodoro

2,00m

8,00m

1,50m

passeio

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

[sem demarcação de vagas]

corte esquemático nn

123

2,10m faixa de

corte esquemático oo

estacionamento

6,90m

2,00m

faixas de tráfego

passeio

2,00m

6,50m

1,50m

passeio

faixas de tráfego

passeio


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

p

p

p

p

N

corte esquemático pp

corte esquemático oo

rua juvenal galeno

124

2,20m passeio

8,00m faixas de tráfego e de estacionamento [sem demarcação de vagas]

1,60m passeio

2,00m

7,50m

2,00m

passeio

faixas de tráfego e de estacionamento

passeio

[sem demarcação de vagas]


mapa 12: percursos por espaços públicos e semi-públicos [quadras permeáveis] FONTE: produzido pela autora

N

trânsito livre

trânsito de velocidade média

trânsito lento

trajetos alternativos [intra-quadras] feitos por pedestres


mapa 14: proporções espaciais nas caixas das vias FONTE: produzido pela autora

mapa 13: regulamentação dos estacionamentos nos espaços públicos FONTE: produzido pela autora

N

N

calçada com largura maior que 2,50m calçada com largura menor ou igual a 2,50m e menor que 1,50m calçada com largura menor ou igual a 1,50m

via com largura maior que 8m via com largura menor ou igual a 8m e maior que 5m via com largura menor ou igual a 5m

proibido estacionar dos 02 lados da via permitido estacionar de 01 dos lados da via permitido estacionar dos 02 lados da via


Para além de compreender os espaços que compõem os percursos pelos sistema público e semi-público do polígono em destaque sob a ótica geométrica - ou seja, como se subdividem, de acordo com os modais de transporte que recebem, e como esses modais transitam pelo espaço - e de volume de tráfego recebido, é imprescindível construir uma percepção sensorial, que complemente as primeiras observações e permita uma aproximação mais real do local. Percebeu-se que percorrer o espaço de estudo na posição do pedestre seria a melhor forma de se constatar as potencialidades e fraquezas necessárias à construção desse trabalho, visto que os modelos de intervenção urbana aqui propostos pretendem trazer as pessoas, em sua escala, velocidade e campo de percepção próprios, como o público-alvo. Como visto nos cortes esquemáticos das vias do polígono e nos mapas posteriores, é predominante, nos espaços de domínio público, um grande descuido para com as pessoas. Este já se inicia pela maneira como os espaços públicos são mensurados, visto que há uma gritante desproporção - em termos de tamanho - entre as partes destinadas ao estacionamento e circulação de veículos automotores e àquelas reservadas para as pessoas. Através de percursos pelo local de estudo, nota-se que essa desatenção se perpetua mesmo quando saímos das visualizações espaciais em 2 dimensões e partimos para observações em 3 dimensões, perspectivadas e reais.

127

Com relação aos percursos nos espaços semi-públicos, é perceptível que estes acontecem sempre em meio a quadras permeáveis e que, para a grande maioria das pessoas, se constituem em trajetos mais agradáveis e confortáveis do que os que podem ser feitos pelos locais de domínio público. O problema é que nem todos que transitam pelo bairro têm conhecimento dessa opção de trajeto, já que são realizados por meio de espaços institucionais, pertencentes à UFC. A seguir, através de imagens capturadas no local de estudo, em visitas realizadas em dias úteis distintos, nos será possível diagnosticar algumas das problemáticas e potencialidades físicas dos seus espaços de domínio público e semi-público.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

[1] LARGURA REDUZIDA DAS CALÇADAS

img. 78: pedestre

caminhando na calçada da rua Paulino Nogueira.

128 img. 79: perspectiva da Vila Santa Cecília.

img.

spectiva Juvenal

80:

perda rua Galeno.


[2] AUSÊNCIA DE PADRONIZAÇÃO DAS CALÇADAS

img. 81: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios.

129 img.

82:

pectiva Waldery

persda rua Uchôa.

img. 83: perspec-

tiva da rua Padre Francisco Pinto.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

[3] CERCAMENTO POR BARREIRAS FÍSICAS [em algumas áreas]

img. 85: perspectiva

img. 84: perspec-

da rua Nogueira.

tiva da Vila Santa Cecília.

Paulino

[4] ARBORIZAÇÃO ESCASSA [em algumas áreas]

130

img. 86: perspec-

tiva do cruzamento da rua Paulino Nogueira com rua Waldery Uchôa.

img. 87: perspectiva da avenida Universidade, trecho árido.

da em


[5] “OBSTÁCULOS” EM MEIO AO PASSEIO

img. 88: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios.

131 img. 89: perspectiva da avenida da Universidade.

img.

spectiva Waldery

90:

perda rua Uchôa.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

Primeiramente, salienta-se que as problemáticas aqui citadas atuam de forma conjunta; todos os exemplos de vias aqui fornecidos, em algum trecho, são acometidos por mais de um dos problemas citados (tanto que há imagens exemplo repetidas). [1] As larguras reduzidas das calçadas são ainda mais notáveis quando comparadas com as dos espaços destinados aos veículos automotores, como visto nos cortes de algumas das principais vias do polígono e no mapa de proporções de suas caixas viárias. Isto contribui para construir a ideia de que uma das únicas coisa que as pessoas têm o direito de fazer nos espaços de domínio público é circular. Até a possibilidade de interação lhes é limitada, na medida em que a grande maioria das calçadas do polígono em estudo só comportam, no máximo, duas pessoas, lado a lado. [2] A ausência de padronização nas calçadas é um problema presente, praticamente, em todo o tecido urbano da cidade de Fortaleza, salvo raras exceções. No polígono em estudo, as calçadas só seguem o mesmo padrão de inclinação e revestimento material na avenida da Universidade; no restante do espaço, cada calçada é construída de acordo com os gostos e interesses do proprietário do seu lote lindeiro. O resultado é a geração de percursos extremamente desconfortáveis, acidentados e, até mesmo, perigosos. Além de diminuir o nível de conectividade entre os espaços e de restringir as possibilidades de permanência e convivência, a ausência de um padrão dificulta a existência de uma identidade no ambiente, tornando inviável perceber o espaço público como uma malha coesa e permeável que conecta os fragmentos urbanos. [3] As barreiras físicas, por serem tão características na forma como Fortaleza, atualmente, vem se construindo e por representarem um fator tão significativo no processo de afastamento das pessoas em relação aos espaços, de redução das interações e da escassez de diálogo entre cidade e Universidade, no caso do Benfica, serão mostradas mais adiante, em tópico independente. No entanto, salienta-se, desde já, o quanto reduzem a permabilidade física e visual entre ambientes, ao tornarem suas bordas de transição rígidas e abruptas. [4] A arborização escassa, apesar de ocorrer somente em algumas áreas do polígono em estudo, dificulta o usufruto das pessoas dos espaços públicos, tanto por conta das altas temperaturas, quanto pela constante incidência solar. [5] “Obstáculos” foi colocado entre aspas porque não se quer, de jeito nenhum, passar a ideia de que outros elementos que fazem parte das calçadas (como os trailers de comida, postes, árvores, dentre outros) devem ser retirados. Esta problemática encontra-se diretamente ligada à primeira, das larguras reduzidas, pois as calçadas possuem tamanho insuficiente para abarcar todas as funções que, em tese, lhes cabem. São pensadas apenas como espaços de circulação e, portanto, suas faixas de mobiliário e arborização e técnica terminam por ser desconsideradas. Por isso, quando esses elementos são postos nas calçadas, atrapalham o fluxo de pessoas: pois o espaço que lhes deveria caber não é pensado durante o processo de desenho urbano.

132


[1] ARBORIZAÇÃO INTENSA

img. 91: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios.

133 img. 92: perspec-

tiva do Bosque das Letras, no Centro de Humanidades 1.

img. 93: vista da avenida da Universidade, cujas calçadas são arborizadas tanto por árvores plantadas nelas, quanto pelas dos Jardins da Reitoria..


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

[2] FACHADAS LINDEIRAS COM MUROS BAIXOS E GRADIS

img. 94: vista de edificações na rua Santo Antônio.

134 img. 95: vista de edificações na rua João Gentil.

img. 96: vista de edificações na rua Padre Francisco Pinto.


[3] PRINCÍPIOS DE VIDA URBANA

img. 97: ciclista parado na calçada da avenida 13 de Maio.

135

img. 98: vista de dentro para fora da calçada da avenida da Universidade, a partir do Centro de Humanidades 1.

img. 99: perspec-

tiva da calçada da avenida 13 de Maio, em frente à Reitoria


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

Da mesma forma que as problemáticas, as potencialidades também atuam de forma conjunta e assim devem ser aproveitadas em qualquer ação projetual: de forma que uma influencie positivamente as outras. [1] A arborização intensa é um dos mais notáveis destaques positivos do Benfica, enquanto bairro, principalmente quando em comparação com outros contextos urbanos da cidade de Fortaleza. As consequências desse atributo para o aumento da qualidade urbana no espaço público são extremamente significativas: os percursos tornam-se mais agradáveis e a permanência nos locais é estimulada, tanto por questões climáticas - como a amenização das temperaturas e a geração de áreas de sombra - quanto pela própria estética, já que os espaços “verdes” são, em geral, muito mais bonitos ao olhar humano. [2] Apesar de ser notável o aumento da quantidade de barreiras físicas no local de estudo, nas últimas décadas, permanece sendo significativa a existência de edificações cujo fechamento das fachadas se dá com muros baixos ou gradis. Ainda que façam parte dos espaços de domínio privativo, as fachadas exercem grande influência sobre os locais públicos, na medida em que permitem - ou não - interações físicas e visuais entre contextos distintos e podem garantir a existência dos vigilantes públicos. Espaços públicos ladeados por fachadas mais permeáveis, portanto, tendem a ser mais convidativos à presença humana. Percebe-se como negativa, no entanto, a presença dos gradis que ladeiam os equipamentos pertencentes à UFC. Isso porque as áreas não-construídas desses espaços, muitas vezes, funcionam como espaços de convivência - o que as caracteriza como locais semi-públicos, já que permitem a presença de todos e o controle de acesso, geralmente, se dá na parte interna dos prédios. Acreditase que, se os gradis não existissem, a ampliação de uso dos espaços públicos e semi-públicos seria fomentada, pois não existiriam mais barreiras e restrições entre eles. [3] Uma das outras grandes potencialidades que diferencia o local de estudo em relação a outros bairros de Fortaleza é que, mesmo em um contexto que desestimula mais do que estimula a ocupação do espaço público, existem elementos físicos - móveis e fixos - que, até quando não têm um espaço previsto para si no desenho urbano, apropriam-se de parte dos locais públicos e neles geram vida urbana. É o caso dos trailers de venda de comida, tão comuns nesse espaço: são extremamente atrativos por oferecer lanches rápidos e baratos em um bairro universitário, não têm espaço próprio no contexto urbano do local - já que as calçadas foram desenhadas sem prever uma faixa de mobiliário e arborização -, ocupam, de forma não-regulamentada os espaços dos passeios, mas acabam por aproximar as pessoas de locais que, em teoria, lhes pertencem. É necessário, portanto, considerar que a existência de elementos como esses deve ser devidamente estimulada desde o momento em que se planeja e se desenha o espaço urbano; dessa forma, eles estarão em uma situação legal e poderão cumprir sua importante função de polos atrativos de pessoas.

136


do mobiliário urbano Em um lugar que não tem seus espaços públicos desenhados como pontos de convivência, permanência, experimentação social, trocas e aprendizado, discorrer sobre mobiliário urbano é falar muito mais sobre o que deveria ser do que sobre o que é. Como já foi ressaltado antes, o Benfica, mesmo em sua rica e dinâmica zona universitária, tem, majoritariamente, suas ruas desenhadas como espaços de circulação de veículos automotores e suas calçadas cumprindo, basicamente, a largura necessária para o passeio de no máximo duas pessoas. No local em questão, os espaços públicos onde se é possível observar a maior quantidade de mobiliário urbano é nas praças João Gentil e Gentilândia. No entanto, percebe-se que, ainda assim, essa mobília existe em número reduzido; seu desenho é monótono; sua disposição não é convidativa aos encontros e à convivência de pessoas; sua variedade é baixa; seu grau de conservação, por vezes, também é baixo, dentre outros aspectos, Nessas duas localidades, o mobiliário urbano é formado por bancos - todos idênticos -, trailers de comida, além de banheiros públicos, quiosques, equipamentos de atividades físicas, bancas de revistas e uma parada de ônibus, no caso da João Gentil, e de barracas de feira desmontáveis, no caso da Gentilândia. Afora as duas praças, as outras localidades públicas do polígono de intervenção que possuem algum tipo de mobiliário urbano (com exceção de postes de iluminação, encontrados em todas as vias) são: a avenida da Universidade (que concentra vários trailers de comida, principalmente em frente à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e às entradas dos Centros de Humanidades 1 e 2, além de paradas de ônibus e da estação de bicicletas compartilhadas em frente à Reitoria), a avenida 13 de Maio (também com trailers de comida e paradas de ônibus) e a rua Waldery Uchôa (com uma estação de bicicletas compartilhadas, em frente à praça João Gentil).

137

img. 101: estação

img. 100: banco na praça

João

Gentil

de bicicletas compartilhadas na rua Waldery Uchôa, em frente à praça João Gentil.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

img. 102: parada

de ônibus na avenida 13 de Maio, em frente à Reitoria.

img.

104: parada de ônibus na avenida 13 de Maio, em frente à praça João Gentil.

img. 103: trailers de

comida na avenida da Universidade, em frente ao CH1.

138

img. 106: trailer de img. 105: banco na praça Gentilândia.

da

comida na esquina da avenida da Universidade com avenida 13 de Maio.


Os espaços semi-públicos do local em estudo, que são aqueles pertencentes à Universidade e utilizados tanto pelos seus estudantes e funcionários, quanto pelo público em geral, também podem ser destacados como locais de concentração de mobiliário urbano. Notase que, apesar da qualidade do desenho desse mobiliário permanecer baixa, em alguns dos espaços, sua quantidade aumenta, sua variedade é mais alta e suas peças são dispostas de forma a estimular muito mais a permanência e o contato e as trocas entre pessoas. Os principais exemplares desses espaços semi-públicos são: os Jardins da Reitoria, que possuem uma pequena área de convivência com bancos de madeira nas proximidades da Concha Acústica e que são palco de atividades itinerantes que montam sua própria estrutura quando ocorrem - como apresentações musicais, grupos de meditação e encontros de manifestantes; o Bosque das Letras, importante área de convivência dos estudantes e dos usuários do bairro em geral, que possui bancos em concreto, estruturas com instrumentos musicais, lixeiras para reciclagem, uma pequena arquibancada e que também recebe atividades itinerantes com mobiliário próprio e o pátio do Centro de Humanidades 3, que já possui uma configuração mais intimista do que os outros 02 exemplos, mas que também possui algumas peças de mobiliário urbano, como bancos e mesas em concreto e lixeiras para reciclagem.

139

Os outros espaços semi-públicos do local, por estarem localizados em quadras não-permeáveis - ou seja, que, atualmente, não podem ser atravessadas pelos transeuntes -, têm uma frequência mais baixa de usuários que não mantêm relações diretas com a Universidade e, por conta disso, não foram considerados dentre os exemplares mais relevantes por este trabalho.

img. 107: vista da área de convivência fixa nos Jardins da Reitoria, próximo à Concha Acústica.


07 | espaรงo: das pessoas e para as pessoas

img. 108: vista do pรกtio do CH3.

img. 109: vista do

Bosque das Letras.

img. 110: vista do

Bosque das Letras.

140


da infraestrutura verde Em termos de cobertura vegetal, como já salientado em outras partes deste estudo, o Benfica é um bairro extremamente privilegiado. A arborização urbana, aspecto de destaque do local desde o início de sua ocupação, foi bastante fomentada durante o período em que a família Gentil dominou uma grande parte de sua área. Segundo reportagem do Jornal O Povo, de 1941, José Gentil, “encantado pela paisagem, passava horas noturnas diante de uma planta de construção urbana estudando um meio de poupar as árvores”. [40] Especialmente quando se leva em consideração o contexto de Fortaleza, cidade que, segundo o seu Inventário Ambiental, entre os anos de 1968 e 2003, perdeu 90% de sua cobertura vegetal natural [47], e cujos habitantes sofrem com a escassez de áreas verdes e sombreadas no território urbano, a existência de uma grande quantidade de árvores antigas e frondosas - com destaque para as mangueiras -, é um dos aspectos que contribui para que o Benfica seja um bairro tão atrativo para as pessoas. É perceptível, no entanto, que um alto percentual desses elementos de arborização localiza-se em terrenos pertencentes à Universidade, onde funcionam suas escolas e sua infraestrutura de apoio. Muitos trechos de ruas garantem seu sombreamento por terem equipamentos da UFC em seus lotes lindeiros, como a avenida da Universidade, defronte à Reitoria e ao Centro de Humanidades 2 e a rua Paulino Nogueira, na lateral do Centro de Humanidades 3

141

img. 111: rua Paulino Nogueira sombreada pelas árvores do Centro de Humanidades 3.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

img. 112: avenida

img.

113: avenida da Universidade sombreada pelas árvores do Centro de Humanidades 2.

da Universidade sombreada pelas árvores dos Jardins da Reitoria.

Já outras localidades do bairro, como as ruas Nossa Senhora dos Remédios e João Gentil, possuem uma infraestrutura arbórea densa e antiga, contando, inclusive, com árvores na parte central da via. Contrapõem-se a contextos de extrema aridez, como o trecho da avenida da Universidade localizado defronte à Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e de um edifício vertical em construção e a porção da rua Juvenal Galeno localizada na lateral do IFCE.

142

img. 114: a aridez

da rua Juvenal Galeno, no trecho que passa na lateral do Instituto Federal do Ceará.


O desenho de espaços públicos que convidem à permanência, ao convívio e às trocas experimentais entre pessoas, na cidade de Fortaleza e em outros locais com situações climatológicas similares, deve contar com um planejamento arbóreo que garanta a geração de um microclima mais agradável e a criação de zonas de sombra pelo território urbano. Além do que, locais em que o verde predomina se tornam esteticamente mais atrativos para as pessoas, pois fomentam o contato humano com a natureza. Impulsionar um maior grau de arborização dos espaços públicos, no contexto do Benfica, em particular, também é um ato de respeito ao seu legado de “bairro verde”. Como foi explanado no capítulo 04 deste estudo, um dos atributos do local que atraiu as famílias da alta elite fortalezense, em fins do século XIX, para residirem no Benfica, foi justamente a ambiência bucólica que suas cobertura vegetal, majoritariamente formada por árvores de grande porte, trazia. A infraestrutura verde do local em estudo tem, portanto, valor simbólico, patrimonial e representa um dos aspectos mais fundamentais para o povoamento de seus espaços sociais.

143

img.

115: infraestrutura verde da praça José Gentil, vendo-se, ao fundo, o Centro de Fortaleza. (arquivo Elmo Júnior).



diretrizes

Tomando como base o diagnóstico realizado sobre a área de intervenção, a partir das fraquezas e potencialidades reconhecidas no local, foram estabelecidas diretrizes que deverão orientar o desenho e a implementação dos modelos de intervenção urbana propostos por esse estudo. São elas: democratizar os usos no espaço público, aumentando o percentual deste que é destinado ao uso das pessoas e diminuindo que é utilizado, prioritariamente, para a circulação e o estacionamento de veículos automotores; desenvolver um mobiliário urbano dinâmico e diversificado, que convide as pessoas ao encontro, permanência e convivência nos locais sociais; aproveitar as atividades já existentes nos espaços públicos, ordenandoas, a fim de otimizar o seu uso pelas pessoas; incentivar a existência de espaços com variedade de atividades e funções, prevendo a fruição pública em vários períodos do dia; estimular a convivência entre públicos diversos; eliminar as barreiras físicas existentes entre Universidade e cidade; fortalecer a presença da Universidade e de seus usuários nos espaços de uso público, por meio de estratégias difusas; incrementar a infraestrutura verde no local;

145

a partir do estímulo à diversidade de usos e de trocas de experiências entre pessoas diversas, garantir o funcionamento do Benfica como um espaço educador, em que a educação formal ocorre dentro das escolas e a informal, complementar à primeira, acontece nos espaços de uso público do bairro e atinge uma quantidade ainda maior de pessoas.


tipos

Com base em uma análise dos tipos e camadas de espaços públicos existentes no polígono de intervenção, levando em consideração as suas particularidades, foram identificadas, de forma geral, as potenciais intervenções urbanas que poderiam ser implementadas em cada um, a fim de assegurar que se tornassem espaços genuinamente pertencentes e usufruídos pelas pessoas. A partir dessa constatação primária, as potenciais intervenções foram agrupadas em 04 conjuntos, em que cada um corresponde a uma tipologia geral de atuação projetual no espaço urbano. São estes: [1] espaços compartilhados [2] requalificação de praças [3] humanização de ruas e avenidas [4] requalificação de espaços semi-públicos Com base nessa identificação, este estudo apresentará 04 modelos de intervenção urbana propostos para a área, sendo que cada um corresponderá a uma das tipologias supracitadas. Cada modelo será apresentado em uma área diferente do polígono de intervenção e a intenção é que cada um funcione como projeto-piloto para os outros espaços do local enquadrados na mesma tipologia geral de atuação. No entanto, é de suma importância ressaltar que, mesmo estando contidos nestas tipologias, os espaços devem ser completamente respeitados com relação à sua singularidade e suas especifidades. Este projeto não tem a intenção de apresentar modelos que devem ser fielmente reproduzidos por vários espaços do polígono em estudo. Traz, de fato, modelos de intervenção urbana que podem ser tomados como base referencial para propostas de projeto dos outros locais públicos da área destacada, que guardam semelhanças com as 04 situações reais que aqui serão desenhadas. Nas duas páginas seguintes, encontra-se um mapa contendo os espaços públicos e semi-públicos do polígono de intervenção e a sua categorização de acordo com as 04 tipologias de atuação urbana apresentadas.

146


das tipologias de atuação no espaço urbano

ESPAÇOS COMPARTILHADOS REQUALIFICAÇÃO DE PRAÇAS HUMANIZAÇÃO DE RUAS E AVENIDAS REQUALIFICAÇÃO DE ESPAÇOS SEMI-PÚBLICOS

147

mapa 15: categorização dos espaços públicos e semi-públicos do polígono de intervenção, de acordo com as 04 tipologias de atuação projetual identificadas. FONTE: produzido pela autora

0

25

50

100

200


N




intervenção I

O local de implantação do primeiro modelo de intervenção urbana proposto neste trabalho é a rua Nossa Senhora dos Remédios. Com, aproximadamente, 270m de extensão, divididos em suas duas quadras, esta rua caracteriza-se como sendo de uso predominantemente residencial, com poucas exceções. Conserva, simultaneamente, uma forte conexão com a Universidade e com os moradores do bairro. Com a UFC essa relação se justifica tanto pelo fato da rua ser rota de ligação entre a avenida 13 de Maio e as ruas Paulino Nogueira e Padre Francisco Pinto, quanto por concentrar residências universitárias, restaurantes frequentados por alunos, professores e funcionários da Universidade e por possuir um acesso direto à Reitoria. Com os moradores, a relação se justifica por abrigar suas casas e algumas gerações de famílias que já moram no Benfica há décadas.

mapa 16: rua Nossa Senhora dos Remédios destacada em relação ao polígono de intervenção e ao bairro do Benfica FONTE: produzido pela autora N

151

0 25 50

100

200


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

img. 116: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à rua Padre Francisco Pinto.

img.

117: ausência de padronização nas calçadas da rua Nossa Senhora dos Remédios.

img. 118: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à rua Paulino Nogueira.

152

img. 119: perspec-

tiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à avenida 13 de Maio.

img. 120: perspectiva

da rua Nossa Senhora dos Remédios, em direção à avenida 13 de Maio.


É notável que, atualmente, a rua Nossa Senhora dos Remédios tem como principal função servir de estacionamento para veículos. Não é uma rua conflitiva, em termos de tráfego, e, devido à sua intensa arborização e aos usos do solo que concentra, possui uma ambiência agradável e muitas áreas de sombra. Chama a atenção o fato de um local com grande potencial para se assemelhar a uma “ilha de tranquilidade” nomenclatura que o arquiteto e urbanista Campos Filho [48] dá a polígonos da cidade cujos lotes servem, predominantemente, ao uso de morar e onde a rua funciona como espaço de convívio - ter suas funções de espaço público completamente negligenciadas em favor de um modelo urbano rodoviarista. Segundo o mesmo autor, “a rua em frente de casa é um lugar de brincar, dos idosos e aposentados ficarem olhando os netos, os filhos, os parentes, os amigos dos filhos.” (CAMPOS FILHO in http://www. candidomaltacamposfilho.com.br/), e não meramente de circulação e parada de veículos. Outro ponto importante, em relação à referida rua, é a relação física que esta mantém com a Universidade. A Reitoria da UFC, com exceção do acesso que possui para a rua Nossa Senhora dos Remédios, é hermética com relação ao contexto da rua, sendo fechada por muros opacos, que impedem as possibilidades de penetração física e visual entre os dois ambientes. Esse tipo de impermeabilidade vertical é um dos fatores que contribui para a ausência de diálogo entre a Universidade e o restante do bairro do Benfica.

153

Considerando todos esses caracteres, pensou-se, para a rua Nossa Senhora dos Remédios, uma tipologia de espaço que ressignificasse o valor do local público e fortalecesse os vínculos entre as pessoas e entre estas e o espaço, além de gerar uma relação de abertura e transposição entre cidade e Universidade. A proposta deveria, ademais, adaptar-se bem à realidade local, tirando partido de potencialidades já existentes. O espaço compartilhado é uma categoria de desenho urbano que procura integrar o tráfego e as atividades humanas e não isolar um a partir do outro. A filosofia por trás desse tipo de espaço expressa a convicção de que um local livre de regulações e barreiras estimula a atenção e um comportamento mais responsável por parte de cada usuário, independente do tipo de modal utilizado para a sua locomoção. Em consequência, é capaz de gerar mais segurança e qualidade urbana no local, além de avivar a função social que o espaço público, por natureza, possui. [49] A seguir, vê-se uma relação esquemática dos princípios de projeto utilizados no modelo propositivo em questão, baseadas nos conceitos de espaço compartilhado e traffic calming (tranquilização do tráfego) adaptados à realidade do local de estudo.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

rua

ave

nid

No

ssa

rua

Se

nh

ora

do

sR

em

éd

nid

aU

niv

ers

ssa

Se

nh

ora

do

ios

ave

ad

No

ida

de

ad

aU

niv

ers

sR

em

éd

ios

ida

de

fortalecimento da conexão pela quadra da Reitoria

quebra da barreira física e visual da Reitoria

manutenção da arborização existente na rua

preservação dos acessos aos lotes

154

nivelamento do espaço público

priorização das pessoas

implementação de chicanas e de circulação unidirecional para veículos

heterogeneidade e dinamismo no desenho do espaço urbano


a a implantação rua nossa senhora dos remédios [quadra 01]


b

b

N

0

2,5

5

10

20


c c implantação rua nossa senhora dos remédios [quadra 02]


N

d

d

muro a ser removido

0

2,5

5

10

20


corte aa corte bb

jardim de chuva

vaga

corte cc

159

corte dd

jardim de chuva

vaga 0

2,5

5

7,5


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

especificações de mobiliário banco duplo em réguas de madeira, com estrutura em peças de metalon pintadas em cor azul-turquesa e encostos “veneziana” inclinados

banco duplo em réguas de madeira, com estrutura em peças de metalon pintadas em cor laranja páprica

banco triangular em mdf com acabamento em microtextura azul-turquesa banco triangular em mdf com acabamento em laminado melamínico de baixa pressão

paraciclo em estrutura tubular de aço inoxidável escovado banco triplo em réguas de madeira, com estrutura em peças de metalon pintadas em cor azul-turquesa e encostos “veneziana” inclinados

160

poste telecônico curvo em aço galvanizado banco triplo banco triangular em mdf com acabamento em microtextura cor laranja páprica

em réguas de madeira, com estrutura em peças de metalon pintadas em cor laranja páprica e encostos “veneziana” inclinados


render 01: perspectiva do espaço compartilhado na rua Nossa Senhora dos RemÊdios [quadra 01] elaborado e finalizado pela autora


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

render 02: perspectiva do espaço compartilhado na rua Nossa Senhora dos RemÊdios [quadra 02] elaborado e finalizado pela autora


intervenção II

O local de implantação do segundo modelo de intervenção urbana proposto neste trabalho é a Praça da Gentilândia, juntamente com a rua Interna e o posto de gasolina que fica entre esta rua e a avenida 13 de Maio. A “Pracinha” da Gentilândia, como é afetuosamente conhecida pelos usuários do Benfica, é composta por uma grande área livre, com alto grau de impermeabilização que conta, no entanto, com árvores antigas e frondosas, garantindo o sombreamento do local, e por uma área destinada à prática de esportes radicais (como skate). Localiza-se entre as ruas Santo Antônio Paulino Nogueira, Marechal Deodoro e Interna. Seu entorno imediato varia de acordo com a direção para que olhamos; consiste no Instituto Federal do Ceará (IFCE), na rua Marechal Deodoro; em residências antigas, na rua Santo Antônio; em bares e restaurantes na rua Paulino Nogueira e no posto de gasolina, na rua Interna.

mapa 16: praça da Gentilândia, rua Interna e posto de gasolina destacados em relação ao polígono de intervenção e ao bairro do Benfica FONTE: produzido pela autora N

163

0 25 50

100

200


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

img. 121: perspec-

tiva da praça da Gentilândia em direção à rua Interna.

img. 123: perspec-

tiva da pista de skate da Praça da Gentilândia em direção à rua Interna.

img. 124: perspec-

tiva mostrando a estrutura da feira que, diariamente, é montada na praça da Gentilândia.

img. 122: perspectiva

da pista de skate da praça da Gentilândia, em direção à rua Santo Antônio.

164

img. 125: feira da

Gentilândia, que, há décadas, ocorre aos sábados e domingos na praça da Gentilândia


A praça da Gentilândia é conhecida por abrigar, há décadas, uma das feiras-livres mais antigas de Fortaleza: a Feira da Gentilândia. Apesar de ser um evento tradicional, a Feira vem sofrendo algumas mudanças significativas ao longo dos últimos anos: passou a ocupar cada vez menos espaço na praça; a variedade de produtos ofertados diminuiu consideravelmente; não é mais tão imprescindível para o abastecimento dos lares do bairro; o seu tempo de duração é mais curto, dentre outras. Diariamente, a praça da Gentilândia abriga, a partir do fim da tarde, barracas de venda de comidas que possuem um alcance que ultrapassa os limites do bairro. Os públicos atraídos são diversos: estudantes, tanto da UFC quanto do IFCE; torcedores dos jogos que ocorrem no Estádio Presidente Vargas; moradores do bairro e suas famílias; pessoas que trabalham nas proximidades do local, etcetera. A área destinada à prática de esportes radicais, por sua vez, é outro fator que, assim como a Feira e as barracas de comida, também aproxima pessoas do espaço da praça. Nota-se, porém, que, apesar de congregar as referidas atividades, o potencial que a praça da Gentilândia possui de ser um dos espaços públicos de maior relevância no contexto do Benfica e até da cidade de Fortaleza como um todo ainda é extremamente mal-aproveitado. Como dito anteriormente, é uma praça altamente impermeabilizada e com uma imensa área livre que, quando não está sendo utilizada pelos feirantes, não possui outros atrativos, que permitam novas formas de experimentação. Possui, no entanto, sombras amplas e um entorno diversificado. Configura-se, enfim, como um território propício a mudanças que aproveitem seus potenciais de humanização e diversificação. 165

Para tanto, um dos primeiros princípios de projeto utilizados na intervenção da praça foi o ordenamento da feira de forma marcada e, fisicamente, sutil, utilizando-se, para isso, diferentes paginações de piso. Além disso, pensou-se também em outras tipologias de feira que poderiam ocorrer na praça, todas se utilizando das mesmas estruturas. Para abrigar essas estruturas móveis e também como um ato simbólico em favor da temática central deste projeto, o posto de gasolina situado entre a av. 13 de Maio e a rua Interna foi removido e transformado em depósito, sendo a sua área e a da rua Interna incorporadas à da praça. O teto jardim desse depósito funcionará como uma horta colaborativa dos usuários do Benfica. A flexibilização de usos também é característica marcante da intervenção proposta, que oferece diversas possibilidades de atividades. A partir dessa variedade de funções, fortalece-se o diálogo com a Universidade, pois algumas de suas atividades rotineiras e esporádicas são transferidas para o espaço da praça. Fomenta-se, assim, a convivência entre públicos distintos, garantindo as trocas e compondo, dessa forma, um espaço de experiências informais e construtivas.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

ordenamento de atividades comerciais através da paginação de piso

incorporação da Rua Interna e do posto de gasolina

fomentação da convivência entre diversos públicos

diversidade de atividades

fortalecimento do diálogo com a Universidade, através da transferência de atividades para a praça

flexibilização de usos dos espaços da praça

166


A parte mais ativa da praça da Gentilândia será a que possui a maior área livre e onde, atualmente, ocorrem a Feira da Gentilândia e as feiras diárias de venda de comidas. O conceito-chave dessa intervenção será a flexibilidade; a capacidade de se reinventar o espaço de forma a permitir diversos usos e atividades. Nos esquemas ao lado vê-se 03 simulações de diferentes tipologias de atividades que serão previstas para ocorrer na referida porção da praça (localizada entre a área da prática de esportes radicais e a rua Paulino Nogueira). Percebe-se que existem áreas de convivência que se configuram como tal independente do uso que a praça está abrigando ou seja, são fixas - e áreas de convivência que podem ser montadas de acordo com as necessidades dos usuários. A primeira simulação foi desenhada a partir da ocupação da praça pelas atividades de feiras, que funcionarão em 05 temáticas: feira de hortifruti, que é a que já ocorre, atualmente, aos sábados e domingos, na praça; feira de comidas; feira de plantas e flores; feira de artesanato e feira de livros e revistas. A fim de incrementar os usos e atrair um maior número de pessoas para a praça, a paginação de piso utilizada para demarcar o espaço das feiras também delimitará áreas para a instalação temporária de trailers de venda de lanches e food trucks. Para dar um maior suporte a esses usos, áreas de convivência móveis, cujo mobiliário ficará guardado no mesmo depósito em que estará a estrutura das feiras, também poderão ser acomodadas. 167

A segunda simulação prevê a transferência de atividades que, atualmente, ocorrem em espaços da Universidade para a praça da Gentilândia. Essas atividades poderão ser de cunho rotineiro - e como exemplo, tem-se os cursos oferecidos pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP) aos funcionários da UFC - ou esporádicas - como os Encontros Universitários, que ocorrem uma vez por ano no Campus do Pici, o São João da Associação dos Docentes da UFC (ADUFC), que acontece, atualmente, na sede da ADUFC, dentre outros. Na terceira simulação, vê-se a previsão da ocorrência de outras atividades, sem necessária ligação com a feira ou com a UFC, no espaço da praça da Gentilândia. Dentre estas, são marcantes as atividades culturais - como shows de artistas locais, oficinas de circo, apresentações de teatro e de dança - e as físicas - como aulas de ioga, meditação, zumba, rodas de capoeira, etcetera.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

das atividades de ocupação do espaço da praça

pela feira: barracas de feira de hortifruti, artesanato, livros e revistas, plantas e flores barracas de feira de comida áreas de convivência móveis área de convivência fixa trailers e food trucks de lanches [móveis]

por atividades [rotineiras e esporádicas da UFC]: cursos da PROGEP [dança; ioga; orquestra de flauta; violão; teatro, massoterapia] eventos da UFC: encontros universitários; são joão da ADUFC; apresentações culturais [atualmente no bosque das Letras, e na quadra do CEU] área de convivência móvel área de convivência fixa trailers e food trucks de lanches [móveis]

por atividades físicas e culturais diversas: aulas de ioga; zumba; meditação; rodas de capoeira. oficinas de circo; apresentações de cantores e bandas locais; apresentações de grupos de teatro e dança locais área de convivência móvel área de convivência fixa trailers e food trucks de lanches [móveis]

168


i

h

implantação

g

praça da gentilândia

h


f

N

e

g

f

e

i

0 2,5 5

10

20


sugestões de organização dos layouts por tema

feira de hortifruti layout tipo “caixa”

feira-sebo layout tipo “caixa” 171

feira de flores e plantas layout tipo “escada”


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

feira de artesanato layout tipo “escada”

feira de comidas layout tipo “balcão com apoio” 172

Observa-se que a utilização dos “pallets” como elementos de organização interna das barracas de feiras garante uma grande flexibilidade para o layout das “vitrines”. Como o projeto de intervenção na praça da Gentilândia sugere um local bastante dinâmico, com espaços adaptáveis a diversas atividades, fluxos e movimentos, acredita-se que os “pallets” e as possibilidades que oferecem estão afinados com o conceito inicial que direcionou a proposta. Como complemento dos desenhos aqui apresentados tem-se, na página seguinte, as sugestões de organização interna das feiras temáticas em planta baixa.


corte ii

corte hh

corte gg

corte ee

*obs: os cortes abaixo foram feitos considerando a situação da praça ocupada pelas barracas de feiras.


corte ff

0

2,5

5

7,5


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

especificações mobiliário banco quadrado em pallets de madeira maciça de reflorestamento

banco triangular em mdf com acabamento em microtextura cor azul turquesa

banco triangular em mdf com acabamento em laminado melamínico de baixa pressão barraca de feira com cobertura em lona de 6m x 6m e estrutura metálica desmontável

banco em “L” em mdf com acabamento em laminado melamínico de baixa pressão e estrutura em peças de metalon sem pintura

conjunto mesa e bancos

175

banco triangular em mdf com acabamento em microtextura cor laranja páprica

pergolado com 04 módulos de 2,75m x 7,20m em estrutura formada por pilares, vigas e pérgolas em madeira envernizada

em pallets de madeira maciça de reflorestamento envernizada

cadeira em madeira maciça de reflorestamento envernizada com pintura em cor azul turquesa (ou laranja páprica ou branco fosco)

mesa quadrada em alumínio fundido com acabamento polido



render 03: perspectiva de um dos espaços de convivência fixos na praça da Gentilândia, com a feira de hortifruti ao fundo elaborado e finalizado pela autora


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

render 04: perspectiva de um dos corredores de atividades da Praça da Gentilândia, com a feira de artesanato elaborado e finalizado pela autora


render 05: perspectiva do espaço de convivência móvel na praça da Gentilândia, com a feira de comidas ao fundo elaborado e finalizado pela autora


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

render 06: perspectiva do mesmo espaço de convivência móvel na praça da Gentilândia, em um período sem feira, com a ocorrência do curso de ioga da PROGEP para funcionários da UFC. elaborado e finalizado pela autora


render 07: perspectiva de um dos espaços de convivência fixo da Praça da Gentilândia, com a feira de flores ao lado elaborado e finalizado pela autora


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

render 08: perspectiva do mesmo espaço de convivência fixo na praça da Gentilândia, em um período sem feira, com a ocorrência de aulas de violão e flauta. elaborado e finalizado pela autora


intervenção III O terceiro modelo de intervenção urbana tem como local de implantação

o trecho da avenida da Universidade que se encontra inserido dentro do recorte do Benfica delimitado para esse estudo, possuindo, aproximadamente, 430m de extensão. A avenida da Universidade é um dos corredores de circulação e conexão Sudoeste-Nordeste mais importantes da cidade de Fortaleza. Em sua porção inicial, no bairro Parangaba, recebe a denominação de avenida João Pessoa. É interessante notar que a nomenclatura de avenida da Universidade só é dada à via a partir do seu cruzamento com a rua Padre Cícero, quando esta adentra, de fato a zona universitária. Permanece com este nome até cruzar com a rua Antônio Pompeu, ao lado da Faculdade de Direito, na divisa entre os bairros Benfica e Centro. A partir de então, torna-se a rua General Sampaio, seguindo até a avenida Leste-Oeste, na região litorânea da cidade.

mapa 17: avenida da Universidade destacada em relação ao polígono de intervenção e ao bairro do Benfica. FONTE: produzido pela autora N

183


07 | espaรงo: das pessoas e para as pessoas

img. 127: faixa de peimg. 126: perspec-

tiva do trecho da avenida da Universidade localizado defronte ao CH3.

destres em diagonal sendo implantada no cruzamento da avenida da Universidade com avenida 13 de Maio.

img. 128: avenida

da Universidade, de frente da Rรกdio Universitรกria, olhando para a Reitoria.

img. 129: perspec-

tiva do trecho da avenida da Universidade localizado entre o CH2 e o CH1.

184

img.

130: avenida da Universidade, da calรงada da Reitoria, olhando para o MAUC.


É notável que, dentre as várias camadas de espaços públicos com o uso deturpado existentes na zona universitária do Benfica, que atuam como elementos que fragmentam os pontos de interesse da malha urbana, a avenida da Universidade é um dos que mais necessita de atenção. Isto porque tem potencial para ser um espaço de dinâmicas sociais variadas, pois congrega os principais equipamentos institucionais da UFC; possui zonas densamente arborizadas; suas calçadas, mesmo que desenhadas somente como zonas de circulação, são bastante largas, principalmente quando comparadas ao restante do bairro; é ponto de venda de comida de rua, atraindo pessoas para outras atividades nas calçadas, além de representar um local afetivamente importante para a população, sendo palco de eventos como manifestações, festas, dentre outros. Uma das grandes dificuldades em se trabalhar, urbanisticamente, na avenida da Universidade, é justamente o fato de esta ser um importante corredor de transportes dentro do contexto automotor de Fortaleza. No entanto, percebe-se que na maior parte do trecho onde a intervenção será aplicada, na porção da avenida localizada entre as ruas Paulino Nogueira e Juvenal Galeno, a largura da via aumenta consideravelmente e esta ganha mais 02 faixas de circulação, em relação à situação anterior. Isto é: até chegar na rua Paulino Nogueira, a avenida possui 03 faixas de circulação; no trecho referido, ganha mais 02, ficando com 05, para, a partir da rua Juvenal Galeno, voltar a ter apenas as 03 faixas iniciais.

185

Decidiu-se, então, tirar partido dessa diferença de largura para garantir que o espaço público, no referido trecho, fosse distribuído de forma mais democrática entre os diferentes agentes que se utilizam dos espaços comuns, sem prejudicar a função de circulação da via. A proposta consiste em manter uma largura padrão por toda a via (9m), que permita o tráfego de carros e ônibus, sem induzir altas velocidades, já que as faixas teriam somente a largura necessária para garantir uma circulação tranquila. As margens restantes, após essa padronização, serão transformadas em extensões das calçadas, funcionando como espaços de atividades para as pessoas. A intervenção traz também a implantação de uma ciclofaixa, para garantir a circulação segura de modais alternativos de transporte. A fim de aplicar a intervenção sem caráter definitivo, por se tratar de uma área complexa, essas margens são delimitadas com pintura e separadas do restante da via por jarros de flores, “barreiras” com um alto grau de amenidade. Há o aproveitamento das áreas de sombra já existentes na via e a criação de zonas sombreadas onde, atualmente, se tem um contexto mais árido. As margens para pessoas contarão com a presença de mobiliário urbano diversificado; demarcação de zonas para a existência regular de trailers de comida; além de um mobiliário de apoio, como lixeiras de coleta seletiva, telefones públicos com bibliotecas colaborativas e novas paradas de ônibus, com intervenções artísticas que remetam ao próprio acervo cultural do Benfica.


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

democratização do uso do espaço público

criação de pontos de interesse e áreas de permanência para as pessoas

condição de reversibilidade da intervenção

utilização de barreiras humanizadas

186

criação de áreas de sombra

implementação de ciclofaixa

manutenção de visuais

aproveitamento de áreas de sombra já existentes


j j implantação avenida da universidade [quadra 01]


N

gradil a ser removido

0

2,5

5

10

20


implantação avenida da universidade [quadra 02]


N

k

k

gradil a ser removido

gradil a ser removido

0

2,5

5

10

20


implantação avenida da universidade [quadra 03]


N

l

m

l

m

gradil a ser removido

muro a ser removido

gradil a ser removido

0

2,5

5

10

20


corte mm corte ll

193

0

2,5

5

7,5

corte kk

corte jj


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

especificações de mobiliário parada de ônibus em estrutura com perfis de aço, e coberta contendo paineis solares (produção média mensal de 250W/h)

banco simples para 1 e 2 pessoas com base de granito reconstituído e recoberto em lâminas de mdf com acabamento melamínico de baixa pressão

banco em mdf com acabamento em laminado melamínico de baixa pressão painel artístico retratando obras de pintores que se encontram expostas, permanente ou temporariamente, no MAUC

telefone + biblioteca painel estruturado em aço contendo telefone público e biblioteca colaborativa

cadeira em madeira maciça de reflorestamento envernizada com pintura em branco fosco (ou laranja páprica ou azulturquesa)

194

mesa quadrada em alumínio fundido com acabamento polido

sombreador lixeiras de coleta seletiva em polietileno de alta densidade, com estrutura de suporte em aço

em estrutura com perfis de aço, e coberta em sombrite


render 09: perspectiva da avenida da Universidade, em frente ao CH2, olhando para o CH1. *obs: o render foi feito tomando como base para o entorno uma imagem atual da ĂĄrea, retirada do Google Street View. Nela, os equipamentos da UFC se encontram limitados por gradis. Ressalta-se que uma das diretrizes projetuais da proposta ĂŠ a retirada desses gradis.


07 | espaรงo: das pessoas e para as pessoas

render 10: perspectiva da avenida da Universidade, na prรณpria avenida, olhando para o CH3. elaborado e finalizado pela autora


render 11: perspectiva da avenida da Universidade, em frente ao MAUC, olhando para a Reitoria. *obs: o render foi feito tomando como base para o entorno uma imagem atual da ĂĄrea, retirada do Google Street View. Nela, os equipamentos da UFC se encontram limitados por gradis. Ressalta-se que uma das diretrizes projetuais da proposta ĂŠ a retirada desses gradis. elaborado e finalizado pela autora


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

render 12: perspectiva da avenida da Universidade, em frente à Rádio Universitária, olhando para a Reitoria. *obs: o render foi feito tomando como base para o entorno uma imagem atual da área, retirada do Google Street View. Nela, os equipamentos da UFC se encontram limitados por gradis. Ressalta-se que uma das diretrizes projetuais da proposta é a retirada desses gradis. elaborado e finalizado pela autora


intervenção IV O quarto modelo de intervenção urbana proposto neste estudo tem como

local de implantação um espaço semi-público, localizado em terreno institucional, pertencente à UFC. O pátio do Centro de Humanidades 3, conjunto localizado entre a avenida da Universidade, a rua Paulino Nogueira, a rua Padre Francisco Pinto e a vila Santa Cecília, congrega diversos tipos de públicos, visto que o CH3 reúne funções variadas, como o Departamento de Ciências Sociais, a Comissão de Ética, uma sede dos Correios, uma farmácia, uma xerox, dentre outros. Com aproximados 700m2 de área, o pátio do CH3 é, prioritariamente, um local de convivência e encontros de pessoas, especialmente, das mais jovens. Destaca-se, também, pelas diversas intervenções urbanas em suas paredes, consolidando-se como lugar de manifestação: de pensamentos, interesses, ideias e objetivos.

mapa 18: pátio do Centro de Humanidades 3 destacado em relação ao polígono de intervenção e ao bairro do Benfica. FONTE: produzido pela autora N

199


07 | espaço: das pessoas e para as pessoas

img. 131: perspec-

tiva do pátio do CH3.

img. 132: tipo de mobiliário presente no pátio do CH3.

200

img. 133: perspec-

tiva do pátio do CH3.

img. 134: tipo de mobiliário presente no CH3.

img. 135: perspectiva do pátio do CH3.


As fotos e visitas ao pátio do Centro de Humanidades 3 exibem um contexto arquitetônico paradoxal muito claro: ao mesmo tempo em que o pátio, como dito anteriormente, é um espaço de manifestações, pulsante, o que fica claro pela vivacidade de suas paredes, largamente preenchidas com frases e grafites repletos de cores e mensagens, sua estrutura de apoio à convivência, aos encontros, aos debates e discussões, é, literalmente, cinzenta; tomada pela monotonia e, como as outras peças de mobiliário urbano encontradas pelo Benfica, esteticamente, similares a objetos de fabricação em série. Mesmo sendo um ambiente, predominantemente, de área livre e com áreas de sombra interessantes, geradas pelas árvores antigas do local, o pátio é fragmentado pela existência de uma edificação que ocupa parte de sua área central. Esta, há algum tempo, correspondia a uma área de cantina; no entanto, atualmente, encontra-se sem uso, apenas ocupando o espaço livre da única área com conformação de pátio existente no CH3.

201

As diretrizes de requalificação desse pátio partiram, fundamentalmente, da ideia de se criar uma área dinâmica, correspondente às necessidades e desejos daqueles que a ocupam. Para isso, a proposta de intervenção urbana trabalhou com peças de mobiliário diversificadas, que possibilitassem o encontro, a convivência e a permanência em tempos variados (curto, médio e longo prazo). Além disso, projetou-se a predominância de cores vivas e que ressaltassem, ainda mais, o colorido das paredes e das copas das árvores. A grande barreira física, representada pela edificação que abrigava a cantina, foi transformada em uma área de estar marcada pela permeabilidade e pela fluidez da circulação. E, por se tratar de um espaço limitado por edificações em 03 das suas 04 arestas, a arborização foi incrementada, a fim de se criar um ambiente ainda mais acolhedor e, esteticamente, agradável.


eliminação de barreiras físicas

criação de mobiliário diversificado

aplicação de cores nas peças de mobiliário

incrementação da arborização

fomentação da ideia de pátio como um recinto acolhedor

mobiliário a ser utilizado em espaços de tempo variados

202


implantação pátio centro de humanidades 3


N

0

2,5

5

10


especificações de mobiliário

banco triplo com base de granito reconstituído e recoberto em lâminas de mdf com acabamento melamínico de baixa pressão

banco triangular em mdf com acabamento em laminado melamínico de baixa pressão e recoberto por lâmina de mdf com acabamento em microtextura cor azul turquesa

lixeiras de coleta seletiva em polietileno de alta densidade, com estrutura de suporte em aço

paraciclo em estrutura tubular de aço inoxidável escovado

redário em pergolado com 04 módulos de 3,22m x 3,22m de estrutura formada por pilares, vigas e pérgolas em madeira envernizada

banco tipo chaise com estrutura em aço com assento/encosto em madeira maciça com acabamento em microtextura cor amarelo golden



render 13: perspectiva da nova proposta de pรกtio para o Centro de Humanidades 3. elaborado e finalizado pela autora


07 | espaรงo: das pessoas e para as pessoas

render 14: perspectiva da nova proposta de pรกtio para o Centro de Humanidades 3. elaborado e finalizado pela autora


gerais

Como medida gerais, a serem aplicadas em todos os modelos de intervenção apresentados, tem-se: a instalação de wi-fi de livre acesso em todos os espaços públicos, incentivando e incrementando o acesso à informação; a arborização complementar dos espaços em questão sendo realizada com árvores de sombra e de rápido crescimento (a exemplo da acácia de flor amarela, da árvore de imperatriz, do manacá de jardim, dentre outras); utilização de placas de concreto permeável pré-moldadas em diferentes tonalidades para compor as paginações de piso; implantação de cisternas urbanas, para armazenamento das águas pluviais e de jardins de chuva nos canteiros;




08 desenlace



fim

Pensar sobre espaços públicos e as funções que estes podem e devem desempenhar dentro do meio urbano é tarefa multidisciplinar. Se essa reflexão se inicia tomando como base o ser humano, com todas as suas necessidades, anseios e desejos e para quem, fundamentalmente, a cidade deve ser desenvolvida, os benefícios gerados podem ser definidores nos rumos da construção cultural de um determinado povo. Que as cidades possam ser desenhadas, genuinamente, para quem delas usufrui; que as universidades possam, em seus ambientes, fomentar uma educação integral; que o aprendizado vivencial, aquele que pode ser obtido a partir de uma conversa na rua, possa ser tão valorizado quanto a educação técnica e formal; que o conviver, o se encontrar e o trocar possam ser verbos de ação constantemente experimentados nos locais sociais. E que os espaços públicos sejam da diversidade, símbolo manifesto da democracia e equiparação social; acessíveis e utilizáveis por todos, independente das condições físicas, de gênero, raciais, ou qualquer outra. Que sejam nossos.

212



anexos


referências bibliográficas capítulo 01 [1] GEHL, Jan. Cidades Para Pessoas. São Paulo: Editora Perspectiva, 2014. [2] CASTELLS, Manuel. La era de la información. Barcelona: Editora Siglo XXI, 1999. [tradução livre] [3] CARRIÓN, Fernando. Espacio público: punto de partida para la alteridad. Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, San José. 2008. [tradução livre]

capítulo 02 [4] UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, fundada em Paris, no ano de 1946, com o objetivo de contribuir para a paz e a segurança no mundo, mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações. [5] VERGER, Jacques. Homens e Saber na Idade Média. Bauru, SP: Editora EDUSC, 1999. [6] PINTO, Gelson de Almeida e BUFFA, Ester. Arquitetura, Urbanismo e Educação: campi universitários brasileiros. São Carlos: EDUFSCar, 2009. [7] PETITAT, André. Produção da Escola / Produção da Sociedade. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1994 [8] DALLABRIDA, Norberto. Nascimento da escolarização moderna: cotejo de duas leituras. Florianópolis: Editora Perspectiva, 2004. [9] TURNER, Paul Venable. Campus: an America Planning Tradition. MIT Press, 1995. [10] CUNHA, Luiz Antônio. Ensino Superior e Universidade no Brasil.In: LOPES, Eliana Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive (orgs.). 500 Anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.


[11] FAVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A Universidade Federal do Rio de Janeiro: origens e construção (1920 a 1965). [12] Ranking Latino-Americano elaborado pela QS UNIVERSITIES | FONTE: http://www.topuniversities.com/university-rankings/latam-university-ra nkings/2015#sorting=rank+region=+country=+faculty=+stars=false+sear ch=

capítulo 03 [13] TORRES, Héctor Barroeta; MORANTA, Tomeu Vidal. La noción de espacio público y la configuración de la ciudad: fundamentos para los relatos de pérdida, civilidad y disputa. Revista Pólis, nº 31, 2012. [tradução livre] [14] MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1991. [15] Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de junho de 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, conhecido por suas teorias sobre a razão comunicativa e a esfera pública, sendo considerado um dos mais importantes intelectuais contemporâneos. [16] GUEDES, Éllida Neiva. Espaço público contemporâneo: pluralidade de vozes e interesses. Universidade Federal do Maranhão, 2010. [17] DIAS, Fabiano. O desafio do espaço público nas cidades do século XXI. Publicação nº 061.05 em Vitruvius, 2005. [18] JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010.

capítulo 04 [19] JÚNIOR, Sérgio L. M., FERNANDES, Thabata de Faria. A Belle Époque brasileira: as transformações urbanas no Rio de Janeiro e sua tentativa de modernização no século XIX. Revista História em Curso, Belo Horizonte, v.3, n.3, 1º sem. de 2013. [20] SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo, Brasiliense: 1999. [21] BOTEGA, Leonardo da Rocha. De Vargas a Collor: urbanização e política habitacional no Brasil. Revista Espaço Plural, nº 17, 2007.


[22] José Borzacchiello da Silva (Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 1945) é um geógrafo e professor titular da UFC, conhecido por seus trabalhos de geografia urbana. [23] Liberal de Castro (Fortaleza, 21 de maio de 1926) é um arquiteto, autor de vários projetos que o consagraram entre os melhores profissionais de sua categoria no país e um dos fundadores da Escola de Arquitetura da UFC. [24] Raimundo Girão (Morada Nova, 30 de outubro de 1900 - Fortaleza, 24 de julho de 1988) foi um historiador, escritor e político brasileiro, tendo sido prefeito de Fortaleza de 1933 a 1934. É amplamente reconhecido pelas funções que exerceu como homem público e por haver sido um dos mais profícuos intérpretes da História do Ceará. [25] MARTINS, Nelson Silveira, LAURITO, Domingos. Terra do Brasil. Curitiba, Editora ND. 1942. [25] http://fortalezaantiga.blogspot.com.br/ [26] IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [27] DETRAN-CE: Departamento Estadual de Trânsito do Ceará [28] http://g1.globo.com/ceara/noticia/2016/01/fortaleza-aparece-comocidade-mais-violenta-do-brasil-e-12-do-mundo.html [29] http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/frotade-veiculos-cresce-125-6-em-dez-anos-1.1221981 [30] Prefeitura Municipal de Fortaleza. Fortaleza - A administração Lúcio Alcântara Março 79/Maio. Fortaleza, 1982. [31] Charles-Edouard Jeanneret-Gris (La-Chaux-de-Fonds, 6 de outubro de 1887 - Roquebrune-Cap-Martin, 27 de agosto de 1965), mais conhecido pelo pseudônimo de Le Corbusier, foi um arquiteto, urbanista, escultor e pintor de origem suíça. [32] Prefeitura Municipal de Fortaleza. Fortaleza 2040. nº1 da Série. Ano 1, 2014. [32] http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/09/capitais-registram-umassassinato-cada-meia-hora-no-pais-revela-estudo.html [33] http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2016/01/19/ noticiasjornalcotidiano,3563539/numero-de-roubos-e-furtos-cresce-em-dezembro-de2015-no-ceara.shtml


[34] http://www.opovo.com.br/app/colunas/opovonosbairros/2012/12/03/ noticiasopovonosbairros,2964708/2012-0312cd0801-o-bairro-querespira-cultura-e-historia-de-uma-forta.shtml [35] http://216.59.16.201:8080/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/ /1890_texto_integral

capítulo 05 [36] HOLANDA, Arlene. Benfica. Fortaleza: Secultfor, 2015 (Coleção Pajeú). [37] NOGUEIRA, João. Fortaleza Velha. Fortaleza: Editora Armazém da Cultura, 2013. [38] http://fortalezaemfotos.com.br [39] NETO, Paulo Elpídio de Menezes (Org.). Martins Filho de Corpo Inteiro. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2004 (Série Documentos UFC). [40] VIEIRA, Vanius Meton Gadelha. Ideal Clube - História de uma Sociedade. Memórias, Documentos, Evocações. Fortaleza: F&N Editora LTDA, 2003. [40] http://www.ceara.pro.br/fortaleza/

capítulo 06 [41] http://www.oobe.co.uk/site/newcastle-university-kings-road [42] http://www.seduvi.df.gob.mx/portal/index.php/comunicacion-social/ comunicados/891-arranca-proyecto-piloto-micalle-av-20-de-noviembre [43] noticieros.televisa.com/mexico-df/1502/avenida-20-noviembreofrecera-cuadra-peatonal-todos-domingos/ [44] http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2015/ 07/150512-Caderno-Centro-Aberto-tela-72.pdf


capítulo 07 [45] Plano Diretor Participativo de Fortaleza, 2009 [46] Lei de Uso e Ocupação do Solo de Fortaleza, 1996 [47] http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/ fortaleza-perdeu-90-de-cobertura-vegetal-em-35-anos-1.224131 [48] http://www.candidomaltacamposfilho.com.br/textos%20CMCF/03debate_reflexoes.html [49] http://www.archdaily.com.br/br/01-40165/espaco-compartilhado-cidades-sem-sinais-de-transito


lista de imagens capítulo 02 [imagem 01] pintura fazendo a hipotética reconstrução do interior de uma casa medieval | FONTE: http://www.stylepinner.com/medieval-europe-houses/ [imagem 02] quad do New College of Oxford, em Oxford, Inglaterra | FONTE: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ [imagem 03] The Quadrangle da Universidade de Sydney, em Sydney, Austrália | FONTE: http://static.panoramio.com/ [imagem 04] vista aérea da Universidade de Oxford hoje, onde o quad predomina como elemento articulador do conjunto total | FONTE: http:// unmeasureddistances.ftml.net/ [imagem 05] vista aérea da Universidade de Virginia, em Charlottesville, nos Estados Unidos. Primeiro campus fundado no território norteamericano, em 1819, por Thomas Jefferson | FONTE: http://www.usnews. com/img/ [imagem 06] a forte presença de áreas livres e de convivência na Universidade de Syracuse, em Nova York, Estados Unidos | FONTE: http:// suabroad.syr.edu/exchange-programs/ [imagem 07] a intensa presença do verde nos espaços de convivência, de circulação e de separação entre as edificações na Universidade do Estado de Luisiana, nos Estados Unidos | FONTE: http://jgdprod-us. s3.amazonaws.com/ [imagem 08] implantação atual da porção do campus da UFRJ localizada na ilha do Fundão | FONTE: http://extra.globo.com/ [imagem 09] a implantação atual do campus do Butantã, da USP, na região oeste de São Paulo | FONTE: http://extra.globo.com/ [imagem 10] o campus da Pampulha, da UFMG | FONTE: http://acheprovas. com/blog/sobre/sobre-a-universidade-e-as-provas-da-ufmg/


[imagem 11] planta do Campus da Cidade Universitária da UFRJ | FONTE: http://eefd.ufrj.br/ [imagem 12] planta do Campus da Cidade Universitária da USP | FONTE: http://puspc.usp.br/ [imagem 13] planta do Campus da Pampu-lha, da UFMG | FONTE: http:// s162.photobucket.com/

capítulo 03 [imagem 14] as ruínas da antiga Ágora ateniense | FONTE: http://expedia.com.br/ [imagem 15] ilustração que reconstrói a praça de mercado da Idade Média, destacando sua função comercial, entre os séculos XII e XIII | FONTE: http://historiadigital.org/ [imagem 16] piazza del Campo, em Siena, Itália, construída no século XIII e que demonstra bem a acessibilidade e abertura do espaço público, além da sua delimitação em função das edificações localizadas ao redor | FONTE: http://pixabay.com [imagem 17] pintura reconstruindo o ambiente de um café no século XVIII | FONTE: http://revoada.net/ [imagem 18] degradação, abandono e perda de função do espaço público em Buenos Aires, Argentina | FONTE: http://barriosactivos.com/ [imagem 19] ausência de escala humana nos espaços públicos de Brasília, Brasil. | FONTE: http://asla.org/ [imagem 20] espaço público totalmente destinado ao tráfego de veículos em Pequim, China. | FONTE: http://carrosblog.com/

capítulo 04 [imagem 21] rua General Sampaio, nos anos 60. A fotografia foi capturada próximo à esquina da estação João Felipe, e traz, como perspectiva de fundo, a Praia Formosa, porção litorânea extinta com as obras de construção da av. Leste-Oeste | FONTE: http://sobral24horas.com [imagem 22] rua Gui-lherme Rocha, nos anos 50, período em que a rua passou a ser de uso exclusivo de pedestres; foi a primeira via peatonal a existir na metrópole, cumprindo com a função de local de encontros, trocas e convivência | FONTE: http://fortalezaemfotos.com.br


[imagem 23] Igreja do Rosário e vista parcial da praça dos Leões, em 1909, ano em que o automóvel foi introduzido na cidade Fortaleza | FONTE: http://fortalezantiga.blogspot.com [imagem 24] esquina da rua Major Facundo com rua Guilherme Rocha, em 1912; na praça do Ferreira, aglomeração em frente ao Café do Comércio, um importante local de encontro e de atração das pessoas | FONTE: http://fortalezantiga.blogspot.com] [imagem 25] movimento na rua Major Facundo, ao lado da Praça do Ferreira, em 1914; a praça e seus entorno imediato consagraram-se, à época, como o principal pólo econômico, cultural e político da cidade de Fortaleza | FONTE: http://fortalezanobre.com.br [imagem 26] Garapeira do Bembém, localizada na antiga Praça Carolina e José de de Alencar, atual Praça Waldemar Falcão, em 1909 | FONTE: http://fortalezanobre.com.br [imagem 27] multidão concentrada na Praça do Ferreira, aguardando o desfile dos blocos de Carnaval, entre fins da década de 30 e princípios da de 40 | FONTE: http://fortalezaantiga.blogspot.com.br [imagem 28] rua Floriano Peixoto, na esquina com rua São Paulo, com ângulo de visão na direção da Praça do Ferreira, em 1935. Percebe-se a grande quantidade de pessoas circulando pelas calçadas e os bondes elétricos nas ruas | FONTE: http://fortalezaantiga.blogspot.com.br [imagem 29] avenida Antônio Sales. Além da maior parte do espaço dos locais de domínio público ser destinada ao tráfego de veículos, as condições físicas dos espaços designados para os pedestres são bastante criticáveis: calçadas descontínuas, com obstáculos, sem largura suficiente nem para o passeio | FONTE: http://blog.opovo.com.br [imagem 30] bairro Bom Jardim. Esta zona residencial poderia estar em qualquer local de Fortaleza, com seu espaço público quase que totalmente destinado aos carros e condições precárias para os pedestres | FONTE: http://canaldoimovel.com.br [imagem 31] Praça Portugal, no bairro Meireles. Nota-se que no contexto urbano atual de Fortaleza, até um espaço com boa estrutura paisagística e com ambiência agradável não é utilizado por conta do acesso dificultado pelo tráfego intenso de veículos no seu entorno imediato | FONTE: http:// static.panoramio.com/ [imagem 32] Centro de Fortaleza. O local, como há algumas décadas, continua vivo. Com a diferença de que, agora, as pessoas são espremidas para os espaços exíguos das calçadas, enquanto os carros passam | FONTE: http://verdinha.com.br


[imagem 33] Centro de Fortaleza. Hoje em dia, a maior porção espacial das ruas, antes ocupadas predominantemente pelas pessoas e sendo palco de sua convivência, é destinada ao tráfego de veículos | FONTE: http://cearaagora.com.br [imagem 34] Praça General Tibúrcio, (Praça dos Leões). Um dos locais mais frequentados pelas pessoas, em início e meados do século XX, a praça, atualmente, encontra-se em condições físicas precárias e com o fluxo de público bastante reduzido | FONTE: http://mapio.net [imagem 35] Praça da Messejana, no bairro da Messejana. Nota-se a ausência de atratividade no espaço da praça: não há convites para as pessoas, mobiliário urbano ou estrutura arbórea que sombreie | FONTE: http://catracalivre.com.br [imagem 36] rua Thomaz Pompeu, no bairro Meireles em Fortaleza. Percebe-se que, até nos espaços públicos com uma ambiência aprazível, facilitada, neste caso, pela existência de árvores frondosas, a prioridade físico-espacial, em termos de área e estrutura, é dos veículos e não das pessoas | FONTE: http://somosvos.com.br [imagem 37] Praça da Imprensa, no bairro Dionísio Torres. A praça foi totalmente revitalizada por meio do Programa de Adoção de Praças da Prefeitura de Fortaleza, tendo sido reinaugurada em julho de 2015. O programa é uma tentativa de recuperação de alguns espaços públicos da cidade, por meio de parcerias | FONTE: http://fortaleza.ce.gov.br/ [imagem 38] primeira Rua Compartilhada de Fortaleza, no bairro Dionísio Torres, inaugurada em novembro de 2015. É considerada parte das vitórias há pouco alcançadas na luta pela humanização de espaços | FONTE: http://verdinha.com.br [imagem 39] ciclofaixa de Lazer e ciclofaixa da avenida Dom Luís. Ambas fazem parte de um processo de democratização da mobilidade urbana, que Fortaleza vem vivenciando desde 2013 | FONTE: http://diariodonordeste. verdesmares.com.br [imagem 40] Café Passeio, no Passeio Público. Uma das provas de que o espaço público, para ser utilizado, precisa exercer convites e atração sobre as pessoas. O Passeio Público estava em situação de abandono, até a chegada do restaurante Café Passeio, aberto todos os dias e com música ao vivo nos finais de semana | FONTE: http://3.bp.blogspot.com/


capítulo 05 [imagem 41] antigo Boulevard Visconde de Cauípe, a partir da rua Paulino Nogueira, em direção ao Centro da cidade, vendo-se, ao fundo, o bonde da linha Benfica | FONTE: http://ceara.pro/fortaleza [imagem 42] antigo Boulevard Visconde de Cauípe, principal eixo estruturante das grandes chácaras do Benfica, em fins do século XIX e princípio do século XX | FONTE: http://fortalezaemfotos.com.br [imagem 43] final do Boulevard Visconde de Cauípe e ponto terminal da linha de bondes do Benfica | FONTE: http://fortalezanobre.com.br [imagem 44] antigo palacete da família dos Nepomuceno, demonstrativo dos tipos residenciais predominantes no bairro nos anos 20 e 30 | FONTE: http://ceara.pro.br/fortaleza [imagem 45] residência situada na rua Waldery Uchôa, nº 220. Fotografia de 2006. (arquivo Elmo Júnior) | FONTE: http://ceara.pro.br/fortaleza [imagem 46] rua Redênção, antiga Travessa Sobral. Era conhecida, inicialmente, como Vila Gentil, por ter sido a primeira vila construída no loca, em 1931. (arquivo Elmo Júnior) | FONTE: hhttp://ceara.pro.br/ fortaleza [imagem 47] rua Padre Francisco Pinto, nº 173 e 163, em 1937. (arquivo MIS-SECULT-CE) | FONTE: http://ceara.pro.br/fortaleza [imagem 48] Vila Santana, com entrada pela rua Padre Francisco Pinto. Fotografia de 2006. (arquivo: Elmo Júnior) | FONTE: http://ceara.pro.br/ fortaleza [imagem 49] residência de Amélia Gentil de Aguiar, na rua Paulino Nogueira, em 1956. (arquivo Elmo Júnior) | FONTE: http://ceara.pro.br/ fortaleza [imagem 50] jardins da Reitoria, na avenida da Universidade | FONTE: arquivo pessoal [imagem 51] árvores antigas e frondosas na rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 52] árvores antigas e frondosas na parte central da rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal


[imagem 53] área livre no Centro de Humanidades 3, voltada para a rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 54] residências na rua João Gentil | FONTE: arquivo pessoal [imagem 55] residências na rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 56] residências na Vila Santa Cecília | FONTE: arquivo pessoal [imagem 57] casa que sedia a Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste e residência na rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 58] jardins da Reitoria, na nas avenidas da Universidade e 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagens 59, 60 e 61] sequência na avenida da Universidade, às 15h de um dia de semana, em um intervalo de 10 segundos | FONTE: arquivo pessoal [imagem 62] avenida da Universidade, às 15h de um dia de semana, quando o sinal está fechado | FONTE: arquivo pessoal [imagem 63] vista da rua Nossa Senhora dos Remédios a partir da rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 64] perspectiva da rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagens 65] perspectiva da praça João Gentil, com mobiliário urbano deteriorado | FONTE: arquivo pessoal [imagem 66] busto em homagem a João Gentil, localizado na praça João Gentil. A estátua encontra-se pichada, pintada e com panfletos colados | FONTE: arquivo pessoal [imagem 67] pista de skate situada na praça da Gentilândia | FONTE: arquivo pessoal [imagem 68] perspectiva da praça da Gentilândia olhando para a rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 69] perspectiva Newcastle University King’s Road, após a implementação do projeto | FONTE: http://www.oobe.co.uk/site/


capítulo 06 [imagem 69] perspectiva Newcastle University King’s Road, após a implementação do projeto | FONTE: http://www.oobe.co.uk/site/ [imagem 70] render do projeto do escritório OOBE para a Newcastle University King’s Road | FONTE: http://www.oobe.co.uk/site/ [imagem 71] perspectiva Newcastle University King’s Road, após a implementação do projeto | FONTE: http://www.oobe.co.uk/site/ [imagem 72] avenida 20 de Noviembre após a implementação do projeto de intervenção | FONTE: http://static.betazeta.com/ [imagem 73] avenida 20 de Noviembre antes e depois da implementação do projeto de intervenção | FONTE: www.seduvi.df.gob.mx [imagem 74] avenida 20 de Noviembre após a implementação do projeto de intervenção | FONTE: noticieros.televisa.com [imagem 75] Largo São Francisco após a implementação do projeto de intervenção | FONTE: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ [imagens 76] Praça Morada São João após a implementação do projeto de intervenção | FONTE: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ [imagem 77] Largo Paissandu após a implementação do projeto de intervenção | FONTE: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/

capítulo 07 [imagem 78] pedestre caminhando na calçada da rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 79] perspectiva da Vila Santa Cecília | FONTE: arquivo pessoal [imagens 80] perspectiva da rua Juvenal Galeno | FONTE: Google Earth [imagem 81] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 82] perspectiva da rua Waldery Uchôa | FONTE: arquivo pessoal [imagem 83] perspectiva da rua Padre Francisco Pinto | FONTE: arquivo pessoal


[imagem 84] perspectiva da Vila Santa Cecília | FONTE: arquivo pessoal [imagem 85] perspectiva da rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 86] perspectiva do cruzamento da rua Paulino Nogueira com rua Waldery Uchôa | FONTE: arquivo pessoal [imagem 87] perspectiva da avenida da Universidade, em trecho árido | FONTE: Google Earth [imagem 88] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 89] perspectiva da avenida da Universidade | FONTE: arquivo pessoal [imagem 90] perspectiva da rua Waldery Uchôa | FONTE: arquivo pessoal [imagem 91] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 92] perspectiva do Bosque das Letras, no Centro de Humanidades 1 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 93] vista da avenida da Universidade, cujas calçadas são arborizadas tanto por árvores plantadas nelas, quanto pelas dos Jardins da Reitoria | FONTE: arquivo pessoal [imagem 94] vista de edificações na rua Santo Antônio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 95] vista de edificações na rua João Gentil. | FONTE: arquivo pessoal [imagem 96] vista de edificações na rua Padre Francisco Pinto | FONTE: arquivo pessoal [imagens 97] ciclista parado na calçada da avenida 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 98] vista de dentro para fora da calçada da avenida da Universidade, a partir do Centro de Humanidades 1 | FONTE: arquivo pessoal


[imagem 99] perspectiva da calçada da avenida 13 de Maio, em frente à Reitoria | FONTE: arquivo pessoal [imagem 100] banco na praça João Gentil | FONTE: arquivo pessoal [imagem 101] estação de bicicletas compartilhadas na rua Waldery Uchôa, em frente à praça João Gentil | FONTE: arquivo pessoal [imagem 102] parada de ônibus na avenida 13 de Maio, em frente à Reitoria | FONTE: arquivo pessoal [imagem 103] trailers de comida na avenida da Universidade, em frente ao CH1 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 104] parada de ônibus na avenida 13 de Maio, em frente à praça João Gentil | FONTE: arquivo pessoal [imagem 105] banco na praça da Gentilândia | FONTE: arquivo pessoal [imagem 106] trailer de comida na esquina da avenida da Universidade com avenida 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 107] vista da área de convivência fixa nos Jardins da Reitoria, próximo à Concha Acústica | FONTE: arquivo pessoal [imagens 108] vista do pátio do CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 109] vista do Bosque das Letras | FONTE: arquivo pessoal [imagem 110] vista do Bosque das Letras | FONTE: arquivo pessoal [imagem 111] rua Paulino Nogueira sombreada pelas árvores do Centro de Humanidades 3 | FONTE: arquivo pessoal [imagens 112] avenida da Universidade sombreada pelas árvores dos Jardins da Reitoria | FONTE: Google Earth [imagem 113] avenida da Universidade sombreada pelas árvores do Centro de Humanidades 2 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 114] a aridez da rua Juvenal Galeno, no trecho que passa na lateral do Instituto Federal do Ceará | FONTE: Google Earth [imagem 115] infraestrutura verde da praça José Gentil, vendo-se, ao fundo, o Centro de Fortaleza. (arquivo Elmo Júnior) | FONTE: http://ceara. pro.br/fortaleza


[imagem 116] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à rua Padre Francisco Pinto | FONTE: arquivo pessoal [imagem 117] ausência de padronização nas calçadas da rua Nossa Senhora dos Remédios | FONTE: arquivo pessoal [imagem 118] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à rua Paulino Nogueira | FONTE: arquivo pessoal [imagem 119] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios em direção à avenida 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 120] perspectiva da rua Nossa Senhora dos Remédios, em direção à avenida 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 121] perspectiva da praça da Gentilândia em direção à rua Interna | FONTE: arquivo pessoal [imagem 122] perspectiva da pista de skate da praça da Gentilândia, em direção à rua Santo Antônio | FONTE: arquivo pessoal [imagem 123] perspectiva da pista de skate da Praça da Gentilândia em direção à rua Interna | FONTE: arquivo pessoal [imagens 124] perspectiva mostrando a estrutura da feira que, diariamente, é montada na praça da Gentilândia | FONTE: arquivo pessoal [imagem 125] feira da Gentilândia, que, há décadas, ocorre aos sábados e domingos na praça da Gentilândia | FONTE: http://culturaciliar.blogspot. com [imagem 126] perspectiva do trecho da avenida da Universidade localizado defronte ao CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 127] faixa de pedestres em diagonal sendo implantada no cruzamento da avenida da Universidade com avenida 13 de Maio | FONTE: arquivo pessoal [imagens 128] avenida da Universidade, de frente da Rádio Universitária, olhando para a Reitoria | FONTE: Google Earth [imagem 129] perspectiva do trecho da avenida da Universidade localizado entre o CH2 e o CH1 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 130] avenida da Universidade, da calçada da Reitoria, olhando para o MAUC | FONTE: Google Earth


[imagem 131] perspectiva do pátio do CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 132] tipo de mobiliário presente no pátio do CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 133] perspectiva do pátio do CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 134] tipo de mobiliário presente no CH3 | FONTE: arquivo pessoal [imagem 135] perspectiva do pátio do CH3 | FONTE: arquivo pessoal



diagramação, textos, mapas, imagens renderizadas feitos pela autora.



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