Ilustrações de poesia 4º A

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Para a Semana da Leitura, os alunos do 4º A da EB1 do Desterro, sob a orientação da Professora Margarida Rigor, selecionaram e ilustraram poemas de grandes poetas portugueses


Eugénio de Andrade – NÃO QUERO, NÃO Não quero, não quero, não, ser soldado nem capitão. Quero um cavalo só meu, seja baio ou alazão, sentir o vento na cara, sentir a rédea na mão. Não quero, não quero, não ser soldado nem capitão. Não quero muito do mundo: quero saber-lhe a razão, sentir-me dono de mim, ao resto dizer que não. Não quero, não quero, não, ser soldado nem capitão. Eugénio de Andrade

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ANTÓNIO BOTTO - Cinco réis de gente Vai sempre na frente Dos outros que vão Cedo para a Escola; Corpinho delgado, O olhar mariola, - Belos os cabelos, Quantos caracóis! Mas as mangas rotas Nos dois cotovelos São de andar no chão Atrás dos novelos! Nos olhos dois sóis Que alumiam tudo! A mãe, tecedeira, Perdeu o marido, Mas vive encantada Para o seu miúdo!

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Afonso Lopes Vieira - BARTOLOMEU MARINHEIRO Era uma vez um capitão português chamado Bartolomeu que venceu um gigante enorme e antigo. Bartolomeu, em menino pequenino, ia para o pé do mar... e ficava a olhar o mar... E Bartolomeu cismava... Ó que lindo, ó que lindo, o mar, e a sua voz profunda e bela! Uma nuvem no céu, era uma caravela que novos céus andava descobrindo... Ó que lindo, os navios, que vão suspensos entre a água e o céu, com velas brancas e mastros esguios, e com bandeiras de todas as cores! Bartolomeu cismava porque ouvia tudo o que o mar contava e lhe dizia. Afonso Lopes Vieira (1912)

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FERNANDO PESSOA - O MOSTRENGO O mostrengo que está no fim do mar Na noite de breu ergueu-se a voar; A roda da nau voou três vezes, Voou três vezes a chiar, E disse: «Quem é que ousou entrar Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?» E o homem do leme disse, tremendo: «El-Rei D. João Segundo!» «De quem são as velas onde me roço? De quem as quilhas que vejo e ouço?» Disse o mostrengo, e rodou três vezes, Três vezes rodou imundo e grosso. «Quem vem poder o que só eu posso, Que moro onde nunca ninguém me visse E escorro os medos do mar sem fundo?» E o homem do leme tremeu, e disse: «El-Rei D. João Segundo!» Três vezes do leme as mãos ergueu, Três vezes ao leme as reprendeu,

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E disse no fim de tremer três vezes: «Aqui ao leme sou mais do que eu: Sou um povo que quer o mar que é teu; E mais que o mostrengo, que me a alma teme E roda nas trevas do fim do mundo, Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo!» Fernando Pessoa in Mensagem

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Afonso Lopes Vieira - CAVALEIRO DO CAVALO DE PAU Vai a galope o cavaleiro e sem cessar Galopando no ar sem mudar de lugar. E galopa e galopa e galopa, parado, E galopa sem fim nas tĂĄbuas do sobrado. Oh! que bravo corcel, que doidas galopadas, - Crinas de estopa ao vento, e as narinas pintadas! Em curvas pelo ar, em velozes carreiras, O cavalo de pau ĂŠ o terror das cadeiras! E o cavaleiro nunca muda de lugar, A galopar a galopar a galopar!

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O Luar Através dos Altos Ramos O luar através dos altos ramos, Dizem os poetas todos que ele é mais Que o luar através dos altos ramos. Mas para mim, que não sei o que penso, O que o luar através dos altos ramos É, além de ser O luar através dos altos ramos, É não ser mais Que o luar através dos altos ramos. Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXV" Heterónimo de Fernando Pessoa

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Produção, Edição e Publicação: Isabel Lapo

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