Cidade: Substantivo Feminino

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Cidade: Substantivo Feminino

O “modulor” de Le Corbusier² (Figura 1), um homem de 1,75m de altura, tomado até hoje como referência para a proposição de espaços nas escolas de Arquitetura e Urbanismo é uma marca da não consideração de perfis e necessidades diversas quando se trata do planejamento arquitetônico e urbanístico³. Ao andarmos nas ruas, as placas nos dizem e a grande maioria delas é nomeada com 4 nomes masculinos , os monumentos e estátuas são, também em sua maioria, de homens.

Figura 1: Ilustração do “Modulor” de Le Corbusier e estudos de alturas. 2

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Os livros Modulor I e Modulor II foram publicados, respectivamente, em 1948 e 1957 e reuniam teorias de proporções, descrições que deveriam ser aplicadas nos seus projetos. A incorporação dessas proporções pode ser verificada em diversos edifícios (como na Unidade de Habitação de Marseille) e consolidou-se através da grande indústria que, especialmente depois da Segunda Guerra, se ocupou de conceber casas em série. Apesar de ser marcante a limitação na consideração de perfis diversos e, mais ainda, de perfis que contemplem as mulheres na produção da Arquitetura e do Urbanismo historicamente, é importante demarcar situações em que o campo avança nesse sentido. Um destes exemplos é a Cozinha de Frankfurt que, em um contexto de produção de habitação para a classe trabalhadora sob o efeito da Primeira Guerra Mundial, apresenta o debate do papel da mulher no espaço doméstico e responde em forma de projeto para essas habitações. Pesquisa recente indica que dentre os homenageados com nomes em placas de sinalização de ruas e avenidas “os personagens masculinos são imensa maioria [...]: o desequilíbrio entre os gêneros se torna ainda mais evidente na análise por tipos de logradouros. Assumindo as rodovias como o logradouro mais importante (levando em consideração tráfego, investimento e extensão), o cenário é esmagadoramente masculino: de uma amostra de 389 rodovias, apenas 8 (2%) têm seus nomes dedicados a mulheres. Seguindo a lista, homens ainda dão nome à maior parte das viadutos (88,2%), avenidas (87,1%), parques (86,9%) e praças (85,4%). Enquanto nomes femininos têm participação um pouco melhor, sem nunca chegar a 30%, em vilas (29,6%), passagens (27,2%), escadarias (24,3%), servidões (24,3%) e vielas (24,0%).” Destaca-se ainda o caso de Fortaleza, onde um coletivo chamado Os Aparecidos Políticos localizou 35 logradouros que prestam homenagem a violadores de direitos humanos entre 1964 e 1985, e cobrou, em julho deste ano, a alteração dos logradouros citados — inclusive os de Adauto Bezerra, militar e ex-governador do Ceará ainda vivo, que dá nome a creches e escolas públicas. (Roncolato, Mariani, Tonglet & Freitas, 2016)


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