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from IRRIGAZINE #92
Estudo inédito indica baixa qualidade e falta de energia em regiões de agricultura irrigada
A energia que chega no campo, oferecida pelas distribuidoras, é deficitária e não tem atendimento satisfatório nas áreas irrigadas, aponta estudo da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), executado pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O documento, intitulado “Avaliação da demanda energética na agricultura irrigada para apoio na condução de políticas públicas do planejamento setorial”, foi lançado durante o 3º Workshop “Setor Agropecuário na Gestão da Água”.
O professor Afonso Santos, da Universidade Federal de Itajubá, apresentou o estudo e deu detalhes sobre a pesquisa.
“Os resultados obtidos não apenas oferecem uma visão clara da situação eletroenergética atual da irrigação no Brasil, mas também servirão como ferramentas valiosas para a análise das futuras expansões. O planejamento da demanda energética foi feito tendo como base as regiões onde há potencial para o aumento da irrigação, evidenciando as regiões que necessitam de investimentos adicionais em energia elétrica para suportar esse crescimento, seja na infraestrutura ou na demanda de potência.”
Com o intuito de avaliar a disponibilidade de rede distribuição de média tensão e aspectos de continuidade do serviço de fornecimento de energia elétrica aos sistemas de irrigação, foram desenvolvidos dois índices técnicos: o IAR (Índice de Adensamento Rural), que avalia a disponibilidade de rede de média tensão das distribuidoras de energia nas áreas rurais, e o ENS (Energia Não Suprida), que analisa os aspectos de continuidade do serviço de fornecimento de energia elétrica aos sistemas de irrigação.
De acordo com os dois indicadores, a energia que chega ao campo ainda é deficitária e não atende a contento as áreas irrigadas. “O não suprimento de energia significa falta de água nas lavouras, tempo que os equipamentos de irrigação não puderam funcionar por falta de energia, portanto, afeta diretamente a produção agrícola”, destaca o estudo.
O estudo identificou uma demanda reprimida em todas as regiões com elevada concentração de agricultura irrigada, outro ponto levantado foi a baixa qualidade ou até mesmo a falta de energia no campo, ofertadas pelas distribuidoras de energia do Brasil.
O estudo mostra ainda que, para suprir a demanda futura da irrigação (2040), será necessário um crescimento anual da rede elétrica entre 5% e 7%. Para alguns estados como SP, RJ, GO, BA, AL, TO, AM, PA, RR, a necessidade fica acima de 20% ao ano, o que é considerado fora da capacidade operacional das distribuidoras.
Polos de Agricultura Irrigada - O estudo levantou ainda as demandas atuais e futuras dos 16 polos de agricultura irrigada no país e alerta que há um déficit de 2,5 gigawatts para essas áreas irrigadas.
Em relação a 2040, marco temporal já considerado pelo setor no Atlas da Irrigação, a demanda total desses polos será de 5 gigawatts. “Essa demanda evidencia a importância do desenvolvimento de políticas públicas, tanto no setor da irrigação quanto na área de planejamento e expansão elétrica, visto a necessidade de atendimento dos irrigantes” diz o documento.
Entre as estratégias sugeridas para o setor, o levantamento aponta ajustes necessários nos instrumentos do Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (Prodist) e na Política Nacional de Irrigação para melhor interpretação da realidade das áreas irrigadas.
O estudo também avaliou o histórico de políticas públicas e setoriais de energia, procurando identificar a existência de relação entre a evolução da área irrigada e a condução de políticas públicas, e de fato nenhuma política energética teve alguma estratégia ligada ao atendimento das áreas irrigadas.
O estudo da CNA usou como fonte para o crescimento da irrigação no Brasil o estudo da Esalq/USP, além da Base de Dados Geográficos da Distribuidora (BDGD) de 2022, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e de dados do Atlas Irrigação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Fontes já consolidadas de informação para que as propostas sejam coerentes com os anseios setoriais.