O Quilombismo

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Etnia Afro-Brasileira e Política Intenacional

A razão e a lógica dos negros têm outros fundamentos. Adotar a análise marxista aos nossos problemas significa uma contradição fatal: nós os negro-africanos fomos as vítimas do processo capitalista e fomos novamente as vítimas daqueles que supostamente combatem o capitalismo na área industrializada do euro-norte-americanismo. A análise de Marx foi induzida da realidade sócio-econômica da Inglaterra, nos primórdios da industrialização capitalista, quando os africanos estavam sendo caçados como feras em seu continente e trazidos para as plantações de algodão da Louisiana e do Maranhão, ou para os canaviais de Cuba, da Bahia, ou da Jamaica. E quando os operários europeus, independente da contradição de classes, tinham seus padrões de vida elevados à medida que a exploração industrial-capitalista se expandia às custas da escravização, opressão e destituição dos africanos. Marx substituiu a categoria humana dos africanos pela categoria econômica. Não aceitamos que uma pura mágica conceitual possa apagar a realidade terrível do holocausto desencadeado pelos brancos europeus contra todo o continente e sua raça negra. E à medida que o industrial-capitalismo se desenvolvia, adubado pelo racismo e pela exploração colonialista da África e da Ásia, os operários europeus iam se tornando sócios e parte do sistema, o mesmo ocorrendo nos Estados Unidos, cuja classe operária é notória pelo conservadorismo e pelas posições mais reacionárias imagináveis em relação

ao operariado da periferia

subdesenvolvida. No Brasil, o fenômeno se repetiu. No fim do século passado, os imigrantes europeus chegaram ao país e imediatamente passaram a usufruir as benesses do racismo: tomaram os lugares de trabalho do negro recém-liberto da escravidão e rapidamente ascenderam na escala 229


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