A África por ela mesma: a perspectiva africana na História Geral da África (UNESCO)

Page 155

por um clima de monção. Portanto, à exceção do norte do Quênia e da Somália, gozaria de um bom regime de chuva, florestas e solos férteis, favoráveis às atividades agrícolas (Masao & Mutoro, 2010, p. 687). Aproveitando-se desse clima favorável, as populações locais teriam formado aldeamentos cada vez mais numerosos, baseados na produção agrícola e na pesca, na segunda metade do primeiro milênio d. C. Para os autores isto não significaria que tais cidades eram isoladas. Pelo contrário, no plano econômico elas formariam uma única sociedade costeira constituída por um conjunto homogêneo de comunidades urbanas e rurais (Masao & Mutoro, 2010, pp. 712-715). Sobre esta base, que formaria o núcleo originário da civilização swahili, teriam se adicionado os elementos provindos da chegada dos muçulmanos à região a partir do século IX. Sobretudo a difusão do islamismo e o aumento do comércio costeiro, com maior presença de produtos africanos. Para os autores, portanto, só a partir de então é que se poderia falar da influência muçulmana na civilização swahili. Por consequência, tal civilização seria originalmente africana. Algo que se poderia constatar da herança africana swahili, especialmente dos povos banto, em termos linguísticos, religiosos, econômicos e arquitetônicos (Masao & Mutoro, 2010, p. 702)58. Esta questão sobre a continuidade da herança banto nos swahili levanta um debate interessante para esta análise. O que distingue a abordagem regionalista das demais aqui estudadas não é necessariamente a busca que esta realiza das origens locais de sociedades africanas. Mas a importância que ela costuma dar a este fato. Isto ocorre porque, ao contrário da abordagem difusionista intra-africana, já analisada, o regionalismo julga que os elementos propulsores desta origem continuariam a ser fatores essenciais na explicação histórica destas sociedades mesmo após a influência de fatores extra-regionais – comércio internacional, islamismo etc. Em particular com relação ao desenvolvimento tecnológico e à organização de espaços de sedentarização, em que a produção agrícola veio se tornar dominante. É esta a lógica de explicação que permite aos autores regionalistas realizarem análises internalistas e locais das sociedades africanas, em períodos mais recentes da história da África, em que o peso dos fatores externos torna-se cada vez mais presente. É isto que se verá no próximo item. 58

Segundo J. Vansina (1993, p. 346) ocorreu uma mudança de autoria neste artigo. Originalmente, ele seria escrito por H. N. Chittick. No entanto, o Comitê da HGA teria decidido alterar sua indicação, pois este autor teria defendido uma posição externalista sobre a temática, em que a civilização swahili era entendida como um fenômeno árabe-muçulmano.

142


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.