Biografia abdias

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Abdias Nascimento

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A convivência com os intelectuais do ISEB se somava à permanente amizade dos hermanos orquídeos que permaneciam no Rio de Janeiro – Efraín Tomás Bó e Gerardo Mello Mourão279 – e à companhia de artistas do mundo do teatro e das artes plásticas com quem compartilhava o fazer do TEN e do projeto Museu de Arte Negra, compondo uma rica e movimentada vida intelectual e artística.

Visita à Cuba revolucionária O segundo aniversário da revolução cubana, em 1961, coincidiu com a nova orientação do governo de Jânio Quadros a uma política exterior independente e focada nas relações com os países da Ásia, África e América Latina. O Instituto Cubano de Amistad con los Pueblos convidou um grupo de artistas e intelectuais brasileiros a participar das comemorações. Abdias Nascimento levou uma exposição de fotografias do TEN à Biblioteca da Casa de las Américas, em cuja inauguração pronunciou uma conferência. Encontrou-se com os alunos do Departamento de Arte Dramática do Teatro Nacional, dirigido por Mirta Aguirre, realizando palestra e debate. Relatou haver, “em Havana, enorme interesse pelo nosso teatro280”. No Departamento Cultural do Ministério do Exterior, foi recebido por “um negro alto e sorridente”, o diretor; em alguns outros cargos de comando, observou a presença de pessoas negras, como Odilio Urfé, diretor do Instituto Nacional de Investigaciones Folclóricas. Conviveu com o poeta Nicolás Guillén e com Argeliers León, diretor do Departamento de Folclore do Teatro Nacional; assistiu a “dois ótimos espetáculos” que León organizou. Em nova visita a Cuba, em 1963, teria oportunidade de revê-los, e receberia Nicolás Guillén no Rio de Janeiro pouco depois. O ano anterior fora dedicado em Cuba à reforma agrária; o que se iniciava seria o Ano da Educação: “mobilização de todos os cidadãos para acabar, em 12 meses, com o analfabetismo”. Professores voluntários vinham do interior às centenas para a festa cívica. “Pensei nos 50 milhões de brasileiros que não sabem ler e escrever”, diz Abdias Nascimento. Naquela noite, durante a recepção oferecida pelo presidente, ele cumprimentou Dorticós, mas Fidel Castro “recebeu uma notícia e se retirou depressa: os Estados Unidos acabavam de romper as relações com Cuba”, ato que teria profundas consequências para o futuro da revolução. Quando Abdias Nascimento tomava café no Hotel Habana Livre, chegou um rapaz negro que havia visto a exposição de fotos do TEN e o procurava ansioso para conversar. Era Carlos Moore, ainda adolescente e transbordando energia, convicção e determinação para compreender e lutar contra o racismo. Encontro cordial que se repetiria em futuras ocasiões, a trilhar cada um o seu caminho no cenário internacional. 279   Napoleão Lopes Filho se mudou para a Bahia; Godofredo Iommi ficava entre Paris e Viña del Mar, no Chile; Juan Raúl Young morava na Argentina. 280   NASCIMENTO, 1961. Os outros trechos citados são da mesma fonte.


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