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Rio Uaupés - “Repensando a relação entre gentes (masá) e a natureza (marî katisé)” Manejo ambiental, educação, fortalecimento institucional e registro/valorização do patrimônio cultural O que é Trata-se de uma iniciativa de ampliação de pontos de diálogo com as populações indígenas advinda da experiência do ISA no distrito de Iauaretê relacionadas a três pontos: manejo ambiental, educação e afirmação/registro cultural. Repensar a relação entre as gentes e a natureza, tomada como um programa de ações, significa criar esferas de diálogo e registro das experiências na interface entre a cosmologia, os conhecimentos tradicionais indígenas, suas instituições sociais e a cosmologia ocidental/científica, suas técnicas e estruturas políticas e sociais. Estas esferas de diálogo são assembléias, reuniões, programas de pesquisa com moradores da região e assessores externos, produção de livros, imagens e filmes além de mapeamentos participativos com conteúdos que expressem a visão de mundo dos povos do distrito de Iauaretê e sua reflexão original sobre as relações com os brancos. Garantir o acesso da população indígena aos seus direitos legais e informar-lhes de seus deveres também faz parte de uma revisão da inserção da população e das organizações indígenas nas políticas de assistência social e de desenvolvimento do Estado. Em outras palavras, é preciso assegurar, além do usufruto das terras, os seus direitos à especificidade cultural e social e à liberdade de expressão em seus próprios termos. Para tanto, o componente Uaupés se apoia solidamente na criação de espaços públicos onde os temas tomados como prioritários pela população indígena possam ser debatidos, registrados e encaminhados de maneira que as distinções entre produção/registro cultural, educação disciplinar/diferenciada e parentesco/política representativa possam ser minimizadas através da legitimação do discurso indígena e do empoderamento das associações de base em um processo que garanta a expressão de seus projetos e problemas locais em seus próprios termos. Atualmente esta linha de ação propõe desempenhar iniciativas integradas que enfrentem e amenizem alguns dos problemas mais graves que a região enfrenta atualmente, quais sejam: a falta de peixes nos rios, a dependência exagerada de produtos industrializados e assessoria externa no desenvolvimento de iniciativas de produção de alimentos e renda, bem como a desvalorização dos conhecimentos tradicionais por parte dos jovens.

Equipe André Martini (antropólogo). Colaboradores: Lúcia Alberta (Antropóloga/ISA); Adão Oliveira Tariana (Antropólogo/Semec), Ivo Fontoura Tariana (Antropólogo/Cetam); Gilton Mendez (Antropólogo/Ufam); Carlos Dias Jr. (Antropólogo/Ufam); Vincent Carelli (Antropólogo/Cineasta, Vídeo nas Aldeias); Ana Guita de Oliveira (Antropóloga/Iphan); Geraldo Andrello (Antropólogo/UFSCar); Geraldo Veloso Tukano (Educador/Cepi, Escola São Miguel); Marta Azevedo (Antropóloga/Unicamp).

Parcerias e Fontes de financiamento Foirn; Coidi; Cerci; Escola Estadual Indígena São Miguel; Neai/Ufam; Iphan; PDPI/MMA; Fundação Gordon e Betty Moore; Vídeo nas Aldeias, Estação de Piscicultura de Iauaretê.

O que foi feito Estação de Piscicultura de Iauaretê/manejo ambiental

- Este ano os técnicos indígenas de piscicultura estão investindo na construção de novas unidades familiares. Com isso 15 famílias foram atendidas com a construção/reforma de viveiros de piscicultura e deverão receber, até novembro de 2009, alevinos de Araripirá e Aracu. - Consolidação da equipe técnica indígena como referência local no tratamento de questões relativas à produção agrícola e à criação animal em cativeiro (peixes e aves). Por meio de acordo entre a Funai e a Coidi, os técnicos da estação de piscicultura de Iauaretê estão participando de algumas iniciativas do setor de assistência social do órgão federal, inclusive ajudando na operação de incubadoras elétricas doadas para a Coidi. - Incorporação de técnicas tradicionais de pesca e manejo na produção de peixes na estação de piscicutura: por meio de oficinas de conhecimentos tradicionais em parceria com o PDPI, foram incorporados cinco tipos de armadilhas na captura de matrizes nos rios da região, o que tem o potencial de substituir as malhadeiras em todas as atividades de pesca de matrizes da estação a médio prazo. - Manejo de espécies de peixes que não exigem procedimentos laboratoriais para reprodução em cativeiro, o que diminui a dependência de insumos e recursos externos contribuindo para a sustentabilidade econômica e social do projeto. - Criação de um novo padrão de relatórios narrativos que valorizem a experiência dos técnicos indígenas e que, por isso, servirá como material de referência em reuniões de avaliação/debate e como material de formação de novos agentes de manejo ambiental. Em parceria com o PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas), além de um informativo semestral, estão sendo preparadas cartilhas técnicas incorporando as conclusões dos relatórios para servirem de material didático nas escolas da região. - Descentralização administrativa da Estação de Piscicultura: o gerente da estação de piscicultura dividiu as tarefas e relatórios em setores; dessa forma, todos os técnicos indígenas são reponsáveis por organizar atividades, gerir patrimônio e fazer relatórios narrativos, contribuindo para a capacitação em gestão e para uma administração mais igualitária. A decisão sobre investimentos e distribuição de alevinos ainda passa por discussão com representantes da Coordenadoria das Organizações Indígenas do Rio Negro (Coidi) e de outros projetos de Iauaretê através do Conselho Gestor de Projetos, criando sinergias entre as iniciativas e melhorando o aproveitamento de equipamentos e materiais, além de potencializar o controle social. - Os trabalhos comunitários (wayuris) têm se tornado o principal meio de manutenção da estação de piscicultura. Este ano, por pelo menos 10 ISA Relatório de Atividades 2009

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