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Praia Grande, na margem esquerda do rio Branco, em frente a Boa Vista

A Bacia do Rio Branco na Bacia do Rio Negro

As águas de Roraima

Os serviços ambientais prestados pela bacia do rio Branco também compreendem o estoque de carbono e a imensa diversidade biológica em grande parte protegida nas 32 terras indígenas, 8 unidades de conservação, e nas áreas que ainda não foram alcançadas pela fronteira agropecuária. Além disso, a região do baixo rio Branco é um dos principais pontos de pesca da bacia do rio Negro, responsável pela alimentação e pelo sustento de milhares de famílias em Roraima e no Amazonas.

Roraima Socioambiental

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Quase toda a água drenada em Roraima chega ao rio Amazonas pela bacia do Rio Negro (96%) e uma pequena parte (4%) segue diretamente para o Amazonas através das bacias dos rios Jatapú e Trombetas (Tabela 1). Entretanto nem toda a água proveniente de Roraima é exportada através dos rios. Um grande volume de água também é lançado na atmosfera através da evapotranspiração da floresta, contribuindo para a formação das chuvas que abastecem os rios e irrigam a agricultura em outros estados do Brasil e nos países vizinhos. Da mesma forma que o rio Negro abastece a capital do Amazonas, o rio Branco é responsável pela água consumida pelos moradores de Boa Vista e da maior parte de Roraima.

O rio Branco tem 1300 km de comprimento, se for considerada a distância da sua foz até suas nascentes na bacia do Uraricoera (Tabela 2). Embora o rio Branco ganhe este nome a partir do encontro dos rios Tacutu e Uraricoera, a maior parte de suas nascentes está em uma longa cadeia de montanhas na divisa com a Venezuela e a Guiana, nas Terras Indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol. Sua vazão média medida em Caracaraí é de quase 3 mil m3 /segundo (Tabela 3), mas este valor é na verdade bem maior, pois o cálculo de vazão é realizado antes do rio Branco receber as águas dos rios Anauá, Catrimani, Ajarani, Água Boa do Univini, Itapará, Xeruini e outros rios e igarapés que deságuam perto de sua foz (Mapa 4). Seu maior formador é o rio Uraricoera, que percorre um longo trecho de corredeiras pela floresta e após formar a ilha de Maracá (a segunda maior ilha fluvial do mundo), segue o seu curso final pelas planícies do lavrado. O rio Tacutu, de modo diferente, tem quase toda sua drenagem na região do Lavrado, e junto com seu afluente Maú, delineia a fronteira entre Brasil e Guiana na face leste do estado. O primeiro trecho do Tacutu segue para o norte (um testemunho do tempo em que sua drenagem corria para o Caribe), e a partir de seu encontro com o Maú faz uma curva abrupta para o sudoeste até encontrar o rio Branco. A bacia do Tacutu abriga a parte brasileira do Monte Roraima,

Mapa 4 - Bacias Hidrográficas (RR)

A Assembléia Legislativa aprovou um projeto de lei apresentado pelo executivo que, na prática, reduz a Área de Preservação Permanente e incentiva a ocupação e o uso agropecuário na margem dos grandes rios do lavrado (LC 153/2009). Com a justificativa de beneficiar os produtores de arroz retirados da TI Raposa Serra do Sol e sob o argumento da utilidade pública e do interesse social, a nova lei permite não apenas a regularização dos empreendimentos que já existem, mas também a introdução de qualquer atividade agropecuária na beira dos rios. Uma das consequências foi a redução em 90% da proteção na margem do rio Branco (rio com mais de um quilômetro de largura), passando de 500 metros para apenas 50 metros, em clara afronta à legislação federal.

O rio Branco não é tão branco assim Em 1639 Pedro Teixeira chegou à foz do grande rio que foi batizado rio Branco devido ao contraste da água no seu encontro com o rio Negro. Para os nativos que o acompanhavam o rio se chamava Queçoene. Durante a cheia, quando está carregando os sedimentos arrastados pela chuva, a água fica ‘branca’, semelhante a do rio Solimões. Quando a chuva pára, a água fica mais transparente e a luz volta a entrar no rio, as algas se proliferam e a produtividade biológica aumenta. No auge do período seco, entre dezembro e março, o rio Branco é mais semelhante aos rios de água clara, como o Tapajós, do que aos rios de água branca, como o Solimões. A dificuldade em enquadrar o rio Branco no clássico sistema de rios de água branca, preta ou clara levou alguns cientistas a proporem sua classificação como rio de “água semelhante à branca”.

representada pelas nascentes do rio Cotingo, que atravessa as montanhas da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. A bacia do Tacutu está quase inteiramente no domínio das savanas enquanto a bacia do Uraricoera tem sua cobertura dominada por vários tipos de florestas. Estas duas regiões tem regimes de chuva muito distintos em sua quantidade e distribuição. Na região das nascentes do Uraricoera a chuva é mais abundante e bem distribuída ao longo do ano. Na bacia do Tacutu chove menos, os períodos secos são prolongados e as chuva estão mais concentradas.

Tabela 2. Os maiores rios de Roraima (Km)

Branco 1.300 Uraricoera 735 Jauaperi 554

Tabela 1. As bacias hidrográficas em Roraima

Mucajaí 504 Catrimani 466

Bacia

Área % (hectares)

Área % desmatada

Focos de calor

%

Branco 18.001.284 80,3

722.285 76,3

15.741 89,9

Jauaperi 2.996.624 13,4

198.560 21

1.821 10,4

Jatapu

900.396

4

25.045 2,6

317 1,8

Outras*

531.593 2,4

739 0,1

4 0

Total

22.429.898 100

946.629 100

Tacutu 371

11

Jufari 311 Surumu 266 Cálculo das distâncias aproximadas em km, obtidas sobre a base de hidrografia (Base Cartográfica Brasil ao milionésimo, IBGE, 2010). Extensão do rio Branco de sua foz até as nascentes do rio Auaris, incluindo a extensão do rio Uraricoera.

17.501 100

* 455 mil hectares na sub-bacia do Jufari em Roraima (bacia Médio Rio Negro II), 48 mil na sub-bacia do Mapuera (bacia Trombetas) e 28 mil em outras. Fontes: Bacias Hidrográficas (ANA, 2006) Focos de calor (Satélites NOAA 12 e 15, INPE, 2010) Desmatamento 2009, (INPE, 2010)

Tabela 3. Vazão média mensal (m3/s)

Mês

Branco Uraricoera Mucajaí Tacutu Jauaperi Catrimani

Janeiro 1.251

718 298 14

44

66

Fevereiro 1.123

737

50

50

Março 1.006

604 223 4

49

53

Abril 1.522

848 345 21 102

92

Maio

3.701

276

7

1.900 717 330

332

184

Junho 6.259

2.740 1.039 672

467

262

Julho

6.995

2.725 1.118 689

360

271

Agosto 5.730

2.255 970 456

235

233

Setembro 3.343

1.467

600

128

166

Outubro 1.988

1.016

417

63

78

839

348

27

50

727

289

15

Novembro 1.567 Dezembro 1.378 Média 2.989 Fonte: ANA, 2011

137

1.381 553 203

43 161

115 88 75 138

Fontes: Bacias Hidrográficas (ANA, 2006) Limites estaduais e hidrografia (Base Cartográfica Brasil ao milionésimo, IBGE, 2010) Estações fluviométricas (ANA, 2010)

Roraima Socioambiental

© Taylor Nunes/2007

Rios ameaçados por Lei Estadual


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