Dinâmicas e Impactos da expansão do Turismo no Arquipélago dos Bijagós - Guiné-Bissau

Page 90

exijam negociar o essencial da cultura Bijagó. Espera-se que esta estratégia de conservação do coração da cultura bijagó possa, em seguida, alastrar-se do resto do Arquipélago, sujeito a um processo de aculturação.

uma brecha no regulamento, o que fragilizaria o conjunto do edifício, além de abrir um precedente para futuros candidatos. O projeto da AMPC Urok está intimamente ligado à ideia de integridade do território e do controlo integral dos seus recursos naturais pelos seus habitantes. Além disso, o exemplo de Orango revela que as tensões e as desconfianças se revelariam desiguais para os habitantes face aos ganhos, contrapartidas e ofertas diversas que esta presença criaria, tensões que minariam a coesão social e o frágil consenso em torno dos objetivos da AMP.

A experiência da AMPC Urok também tem o interesse de demonstrar às outras comunidades da região que o turismo não é a via incontornável do desenvolvimento socioeconomico do Arquipélago. É possível, e desejável, um outro desenvolvimento, que não implique nem perda de soberania sobre o território, nem que crie a dependência face aos mercados externos voláteis.

A implantação do hotel Arquitur, um complexo turístico que funcionou na ilha de Chediã em 1997-1998, demonstrou aos habitantes o potencial de conflitos gerado pelas iniciativas turísticas externas. Uma experiência chocante, que arrefeceu durante algum tempo os ânimos das comunidades locais em matéria de turismo e permitiu inscrever no primeiro plano de gestão “que nenhuma atividade turística seria encorajada nas ilhas de Urok”.

A existência de uma experiência que alia conservação e desenvolvimento é, além disso, um trunfo sobre o “mercado de desenvolvimento”, que suscita o interesse e o apoio de parceiros externos. Em Urok, o financiamento de equipamentos coletivos (poços, escolas, centros de saúde) pelos doadores internacionais, e a partilha de responsabilidades no funcionamento destas estruturas permitiu construir uma gestão eficiente, equitativa e sustentável destes equipamentos, ao invés dos equipamentos doados “como oferta” pelos operadores turísticos.

Da mesma forma que a instalação de parques naturais nos Bijagós não visa estabelecer “santuários” isolados do resto do Arquipélago mas garantir refúgios no seio dos quais as espécies podem reproduzir-se, para em seguida irrigar e regenerar as regiões periféricas submetidas a uma exploração intensiva, a AMPC Urok não visa isolar os habitantes do resto do mundo, mas prosseguir uma estratégia de desenvolvimento no seio da qual a mudança socioeconómica e o acesso à modernidade não

88


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.