Dialogos Interculturais

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Um olhar sobre as raízes africanas nas Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Maranhão, Brasil

viviam na dependência dos proprietários de terras que os contratavam para trabalhos de ocasião ou eram simplesmente “vadios”.

“Os vadios” chegaram a constituir pequenas comunidades nas serras e nos montes e segundo um relato de 178436 já eram muito pacíficos e recebiam os visitantes com muito afeto. No entanto no século XIX o governador criou um meirinho da serra para capturar os escravos fujões pelo risco de se organizarem em bandos de ladrões. Este comportamento pode estar associado à persistência de ciclos de secas entre os finais do século XVIII e início do século XIX.

Na atualidade, não existe nenhuma comunidade rural relacionada com as antigas comunidades de “vadios” nem existe registo de organização tipo “Quilombo” com uma base económica assente na terra ou qualquer outra atividade. A pequena dimensão das ilhas e a falta de recursos naturais (alimentos) nas áreas de refúgio podem também ter contribuído pela não existência destes aldeamentos isolados de vadios, pois não poderiam ficar muito tempo isolados sem comida e sem serem encontrados. A figura do indivíduo que não tem terra, não trabalha e vive de vadiagem foi muito pejorativa nas ilhas rurais como em Santiago onde recebe a alcunha de “Djon Lobo37”.

A escassez de terras e o quadro climático desfavorável não permitiu a criação de assentamentos de escravos fujões por mais de uma geração. Em Cabo Verde não existem terras livres, todas as parcelas, mesmo os penhascos mais inacessíveis pertencem a um dono e as reduzidas dimensões das ilhas favorecem a reclamação mais cedo ou mais tarde e a expulsão de intrusos. Paradoxalmente, as secas cíclicas provocavam grandes mortandades na população pobre que não tinha terra, mas vivia na dependência dos terratenientes na categoria de rendeiros e meeiros. Neste quadro, nos anos que seguem a uma grande seca ocorrem carências de mão-de-obra, pelo que facilmente os vadios conseguem tornar-se meeiros ou rendeiros e absorvidos nas comunidades de aldeões.

O grande problema da terra em Cabo Verde e particularmente da ilha de Santiago, foi a posse plena, uma vez que as melhores terras e as terras de regadio sempre pertenceram aos morgadios e capelas e mais tarde aos grandes proprietários ficando a classe mais pobre na eterna condição de meeiros ou rendeiros. Por essa razão, as grande revoltas rurais sempre resultaram de desentendimento entre rendeiros e proprietários.

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Documento citado na página anterior Este termo pode ser de origem mandinga, Djon significa escravo em mandinga e o lobo na Guiné- Bissau a “hiena” é o animal que simboliza a estupidez e o desprezo. 37

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