Revista CulturaEducAção

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EXPEDIENTE Revista CulturaEducAção 01 // JANEIRO – DEZEMBRO Publicação anual da Comissão de Cultura e Educação da Fundação Cultural de Curitiba

Esta publicação foi criada com base no decreto 595, que tem o objetivo de incentivar, acompanhar e realizar estudos, pesquisas, eventos, publicações, produção de material pedagógico artístico-cultural e monitorar ações culturais. A Comissão de Cultura é composta por profissionais da cultura e da educação.

COLABORADORES

CONSELHO EDITORIAL Benjamin Perez Maia bmaia@fcc.curitiba.pr.gov.br Denise Maria Meirelles Nasser denasser@fcc.curitiba.pr.gov.br * Os artigos assinados não correspondem necessariamente à opinião da Revista CulturaEducAção.

ARTIGOS

Albanir Moura almoura@fcc.curitiba.pr.gov.br

Avany de Alencar Freitas aalencar@fcc.curitiba.pr.gov.br

Elizabete Berberi eberberi@fcc.curitiba.pr.gov.br Carla Berwig cberwig@fcc.curitiba.pr.gov.br Fulvio Frederico Pacheco dos Santos fulsantos @fcc.curitiba.pr.gov.br Lilia Maria da Silva lilisilva@fcc.cutiriba.pr.gov.br

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA Prefeito Gustavo Fruet FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA Presidente Marcos Cordiolli SUPERINTENDÊNCIA Igor Cordeiro DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO Diogo Dreyer

Marcos Cordiolli marcos.cordiolli@gmail.com.br

ASSESSORIA DE CULTURA E EDUCAÇÃO Benjamin Perez Maia COORDENAÇÃO PROGRAMAÇÃO VISUAL Aulio Zambenedetti

Mariane Filipak Torres matorres@fcc.curitiba.pr.gov.br

PROJETO GRÁFICO Gustavo Stresser

Solange Straube Stecz solange.stecz@gmail.com

DIAGRAMAÇÃO Gustavo Stresser

Wanda Camargo wanda@unibrasil.com.br

CAPA Gustavo Stresser


EDITORIAL

Políticas de integração

entre

cultura e educação A escola não é o único local privilegiado para a apropriação do conhecimento na sociedade. As cidades têm vários locais de acesso ao conhecimento, como museus, gibitecas, bibliotecas, teatros, parques, praças e outros. E nesse contexto, podemos integrar cultura e educação articulando a escola com os diversos locais de conhecimentos culturais da nossa cidade, de forma que esta aliança traga um impacto positivo e efetivo na aprendizagem e na vida das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. A cultura ganha mentes e corações das pessoas, permitindo maior contextualização do processo de ensino e aprendizagem, fazendo com que os seres humanos se apaixonem pelo processo cultural e educacional. Assim, os cidadãos percebem que a cultura e a educação podem ser um instrumento de desenvolvimento social e humano. O conjunto de práticas, advindo da integração destas duas áreas, ao longo do tempo, foi realmente vasto e mereceria um relato à parte. Citamos aqui apenas alguns projetos, a título de exemplificação: “Arte e Educação”, “Museu na Escola”, “Ancoragem”, “Nosso Jeito”, “Linhas do Conhecimento”, “Pegadas da Memória” e mais recentemente, os programas “CulturaEduca” e “Educultura”. Nos últimos quatro anos, principalmente, muitos investimentos foram feitos na direção de fortalecer o encontro entre cultura e educação, viabilizando inovadoras e ampliadas práticas.


Estas iniciativas vieram para influir na formação cultural dos profissionais da educação básica, para estimular a aproximação e interação das escolas com seu entorno, bem como para integrá-las aos diferentes contextos de saberes culturais tradicionais e contemporâneos, principalmente locais, considerados em toda sua diversidade. Podemos definir nosso interesse maior como o de investir no enriquecimento e ampliação do capital cultural dos profissionais da educação, dos profissionais da cultura e da comunidade, de modo a estimular a apreensão de outros conteúdos culturais universais, articulados a partir de seu repertório cultural próprio. A gratificante experiência trazida pelas “semanas culturais”, que chegou a sete edições na gestão 2013 a 2016, mostrou que é possível aproximar a comunidade escolar, de alternativas à indústria cultural e à grande mídia. Na medida em que “as semanas culturais” incluem os profissionais da educação, trazendo-os para os espaços culturais da cidade e ampliam seu capital cultural, a escola, os alunos e a comunidade se beneficiam e o ganho se multiplica exponencialmente. Acreditamos que o resultado desse investimento, incidirá na geração de indivíduos subjetivamente mais complexos, com mais autonomia de pensamento, capazes de transitar pelo campo das relações pautadas pela conectividade, das possibilidades interdisciplinares e transdisciplinares da aprendizagem, que resultam na perspectivação de seu capital cultural.


Podemos entender essas políticas como uma oportunidade de “intervenção” nos mecanismos legitimadores das diferenças sociais e da manutenção das relações sociais de poder, no interesse de reverter à direção que condena a maior parte dos indivíduos, ao modo de um desdobramento natural das coisas, ao apartamento. Vale lembrar que a escola, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que é um dos mais eficientes agentes de perpetuação das relações sociais de poder, também pode ser o espaço de excelência para o desenvolvimento de potencialidades que atenuem os papeis sociais determinados, inclusive os trazidos pela herança do capital cultural. Neste contexto, surge o primeiro número da revista “CulturaEducAção”, que propõe uma reflexão e abre o debate sobre a crescente centralidade que assumem cultura e educação, chanceladas por seu papel transformador. Agradecemos a todos os nossos colaboradores, internos e externos, que tornaram possível esta publicação, inaugurando um importante espaço para o avanço e consolidação de nossa prática.

Benjamin Perez Maia Assessoria de Cultura e Educação

Curitiba, 21 de outubro de 2016.


S U M Á

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ARTIGOS

8 Programa CulturaEduca:

Formação Cultural dos profissionais da educação, dos estudantes e ação cultural nas escolas

CIRCO DA CIDADE Lona Zé Preguiça

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CINEMA NA ESCOLA Uma lei e muitas questões

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38 COMPARTILHANDO SABERES -

Parcerias entre Fundação Cultural de Curitiba e Secretaria Municipal de Educação para a transformação cidadã

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Gibiteca de Curitiba, a primeira Gibiteca do mundo

Os cronistas e a cidade:

71 Os Direitos Culturais

Ontem e hoje

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como fundamento para a gestão cultural

CULTURA: entre o global e o regional

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PROGRAMA CURITIBA LÊ: O incentivo à leitura como prática cultural em diversos ambientes

FALA... FALA, ASSESSORIA...

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Programa CulturaEduca: Formação Cultural dos profissionais da educação, dos estudantes e ação cultural nas escolas

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Programa CulturaEduca promove a formação cultural dos profissionais da Educação Básica, por meio do acesso a bens e atividades culturais, da imersão de professores para a produção de obras culturais e da promoção de ações culturais nas escolas e espaços culturais voltados para a comunidade escolar. O CulturaEduca estimula a aproximação e interação das escolas com as ações de Cultura Viva de seu entorno e território cultural e a articulação entre escolas, espaços, produtores e movimentos culturais para a produção de obras voltadas para este público.

O C o nceito O programa CulturaEduca, da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) realizado pela Assessoria de Cultura e Educação, articulado à linha de Ação EduCultura1, em parceria com a Secretaria Municipal da Educação O programa CulturaEduca atua na formação artístico (SME), atua na formação artístico cultural dos procultural dos profissionais da fissionais da educação, da cultura e dos estudantes, educação, da cultura e dos compreendendo a cultura como dimensão estratéestudantes, compreendendo gica da educação. Desta forma, as ações culturais a cultura como dimensão ampliam os conhecimentos dos profissionais que estratégica da educação contribuem na construção da identidade das crianças, adolescentes e jovens, ao mesmo tempo em que ampliam e fortalecem a cidadania cultural. Assim:

1 . O Programa EduCultura é um dos eixos da Proposta da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba, com função similar ao CulturaEduca.


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A educação é formação humana, é produtora de sentido, de valores e de conhecimentos. A escola, por isso, será sempre um território de disputas das identidades das novas gerações. A Cultura é o instrumento humano para a qualificação dos sentidos, dos valores e dos conhecimentos, por isso e, portanto, é a dimensão central e estratégica da educação. Assim, não poderia haver uma minúscula dúvida sequer sobre a importância da cultura na educação escolar. Ou mesmo do caráter dirigente da cultura sobre os processos educacionais. [Cordiolli in: Revista Caros Amigos, 2015. Out. p. 32.].

O Programa CulturaEduca promove, ou tem a perspectiva de promover, diversas formas de acesso aos bens culturais por professores e estudantes2, [a] na escola, [b] em espaços culturais, [c] em ações concentradas em torno de múltiplas linguagens e diversidade artística [d] e na interação com a Cultura Viva.

O programa CulturaEduca atua no sentido de promover a aproximação entre produtores, movimentos culturais e escola, para que os bens culturais possam estar constantemente presentes na vida dos estudantes e dos profissionais da educação.

Por um lado, atua no sentido de promover a aproximação entre produtores, movimentos culturais e escola, para que os bens culturais possam estar constantemente presentes na vida dos estudantes e dos profissionais da educação. Investe ainda na formação de público, contribuindo para a expansão da cena artística cultural contemporânea da cidade, dando visibilidade aos artistas locais e fortalecendo as cadeias produtivas da economia da cultura. Por outro lado, funciona como agente catalizador na interação entre as escolas e os territórios culturais de seu entorno, se abastecendo na fonte das manifestações da cultura viva, mas também agindo como indutor e organizador da vida cultural das comunidades.

2 . A promoção do acesso cultural dos estudantes da Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba é realizada por meio do Projeto Arte por Toda Parte, que disponibiliza ações de várias linguagens artístico culturais nas escolas e espaços públicos voltados ao público escolar, sempre precedidas por atividades de preparação para a fruição. As ações são, em sua maioria, financiadas pelo Programa de Apoio e Incentivo à Cultura de Curitiba.


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L inhas de Atuação do Programa C u lt u raEduca 1 . Formação de Repertório Cultural dos Profissionais da Educação Ampliação do repertório cultural dos professores para que atuem com mais eficiência na mediação da formação cultural dos estudantes. O CulturaEduca tem como meta a ampliação de repertório cultural dos profissionais da educação e dos educandos. Para isso, influi de modo estratégico na formação cultural destes profissionais, através do incentivo que dá acesso a espaços e ações culturais. Estes educadores, com seu repertório ampliado, cada vez mais se qualificam para a função de mediadores na formação cultural dos estudantes. O objetivo da ampliação do repertório cultural é o de constituir as condições para releituras e diferentes interpretações de mundo, essenciais para uma prática pedagógica baseada não apenas nos saberes curriculares, mas, também, nos conhecimentos, sentidos e valoO objetivo da ampliação do res experienciais e vivenciais fundados na mais repertório cultural é o de constituir ampla diversidade cultural. as condições para releituras e Os educadores podem se constituir em efe- diferentes interpretações de mundo, essenciais para uma tivos agentes multiplicadores de formação cul- prática pedagógica baseada não tural. A atuação desses profissionais que estão apenas nos saberes curriculares, em contato diário com crianças, adolescentes, mas, também, nos conhecimentos, jovens e adultos, produz o enriquecimento das sentidos e valores experienciais e vivenciais fundados na mais ampla atividades educacionais, trabalhando de modo diversidade cultural. transversal os processos de ensino-aprendizagem, fortalecendo a formação de valores como dimensão de formação humana nos processos de escolarização, valorizando as identidades locais e ampliando as dimensões da cidadania.


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O redimensionamento do repertório cultural de professores e estudantes repercute nos processos de formação de platéia, trazendo para os artistas da cultura local, novos contextos, necessários para o fortalecimento da identidade da cidade, para a geração de trabalho e renda e para a estruturação das diversas cadeias produtivas e arranjos produtivos locais da economia da cultura. Para atingir este objetivo, o CulturaEduca promove: [a] Ações Culturais Concentradas em torno das diversas linguagens, na forma de Semanas Culturais para os Profissionais da Educação e da Cultura. Estas semanas culturais são organizadas e programadas pela Assessoria de Cultura e Educação com o apoio das coordenações de linguagens e dos espaços da FCC em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação. A promoção de semanas culturais intensivas em que se concentram apresentações culturais de qualidade se pauta nos objetivos da formação continuada, os de propiciar a aquisição de novos conhecimentos e enriquecer o repertório cultural de todos os participantes. A oferta de atividades culturais foi sendo ampliada a partir de estabelecimento de convênios com diversas instituições públicas e privadas, o que deu oportunidade aos profissionais da educação, da cultura, e dos educandos de fazer sua opção dentro de um variado repertório cultural. As apresentações didático-culturais são planejadas considerando as diversas linguagens, de modo a oferecer aos espectadores uma imersão na cultura. Estas atividades integram o programa de formação continuada da Assessoria de Cultura e Educação e da SME, e também estão abertas a participação de profissionais da cultura, estudantes e comunidade. As Semanas Culturais são realizadas desde 2013. O sucesso da primeira edição foi tão surpreendente, que levou o prefeito Gustavo Fruet a solicitar a ampliação do evento que passou a ter duas edições anuais, sendo que uma delas, dedicada à literatura e a outra com tema livre para todas as linguagens.


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[b] Ações de imersão dos professores em vivências culturais voltadas para as diferentes linguagens. As imersões culturais têm ocorrido, por exemplo, em oficinas de cinema, nas quais os educadores têm a oportunidade de vivenciar todas as fases da produção de filmes digitais de curta-metragem: definição do tema do filme; escrita do roteiro; organização da produção (escolha do atores, cenografia e figurino); captação da imagem e do som e acompanhamento da montagem e da trilha musical. Os filmes produzidos pelos profissionais da educação e da cultura, de forma coletiva, têm alcançado A imersão cultural propicia alto grau de qualidade e recebido elogios dos a v i v ê n c i a a r t í s t i ca p e l o s profissionais da educação, na cineastas da cidade. escola ou em outro equipamento cultural, estimulando a interação entre os próprios profissionais da cultura e da educação ou destes com agentes culturais.

Também na área das artes visuais o espaço para experiência foi oferecido, através de formação específica para acompanhamento das diversas exposições e instalações de artes visuais apresentadas durante a Bienal de Curitiba. Neste evento foram realizadas oficinas variadas de produção artística, envolvendo todas as linguagens e ampla diversidade de gêneros estéticos, manifestos em forma de ilustração, fotografia, mosaico, teatro, dança, etc. E ainda estiveram disponíveis, sessões especiais para reflexão e critica de espetáculos e ações culturais diversas, nas quais os profissionais da cultura e da educação puderam interagir com os artistas e/ou formar grupos de análise para debate sobre os temas culturais. A imersão cultural propicia a vivência artística pelos profissionais da educação, na escola ou em outro equipamento cultural, estimulando a interação entre os próprios profissionais da cultura e da educação ou destes com agentes culturais que se encontram fora do âmbito escolar e que acabam por influenciar a sua participação em grupos ligados à cultura, nos seus mais variados segmentos


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[c] As ações culturais, organizadas, promovidas, apoiadas ou incentivadas pela FCC destinam cota de seus ingressos aos profissionais da cultura e da educação. A disponibilização de ingressos garante, além da oferta regular de ações culturais para os professores nas mais diversas modalidades, um espaço de contraponto à rotina das jornadas do trabalho docente, um instrumento de divulgação dos eventos culturais da cidade e é, também, uma forma de reconhecimento da cidade ao trabalho importante que os profissionais da educação realizam. [d] Ações culturais interativas são organizadas em sessões especiais ambientadas de forma a gerar reflexão e análise crítica acerca dos espetáculos e obras apresentadas. Estas ações são simples, mas de alta eficácia: os artistas são convidados a destinar um tempo especial do trabalho proposto para promover a reflexão e ensejar o debate, com a participação de todos. O diálogo mostra-se profícuo para ambos os lados. [e] Ações culturais formativas para os profissionais da cultura e educação, realizadas através de equipamentos e movimentos culturais, bem como de instituições de educação superior parceiras. Entendemos que o estímulo para que equipamentos e movimentos culturais desenvolvam linhas para a ação educativa dos profissionais em suas respectivas áreas de atuação, potencializará os pressupostos do CulturaEduca, assim como fortalecerá os laços entre as instituições culturais e as escolas. [f] A formação cultural como dimensão estratégica do sistema de formação docente. O CulturaEduca promoverá a interação entre formação inicial e formação continuada dos profissionais da cultura e educação nas diversas instituições de Educação Superior e órgãos afins das redes de educação, visando intervir para requalificar os processos de formação inicial de professores, formação continuada, formação em serviço e extensão universitária.


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2 . Ação Cultural na Escola O acesso cotidiano às ações culturais na vida dos profissionais da educação e estudantes. A segunda linha do CulturaEduca tem como objetivo manter a presença da arte e da cultura na vida dos estudantes e profissionais da educação, tornando-as uma constante formação artístico cultural, consiste: [a] Na realização de ações culturais na escola para livre fruição de estudantes e dos profissionais da educação. São ações culturais oferecidas para as escolas visando a livre fruição cultural, sem que estejam atreladas necessariamente aos fins de aprendizagem ou demandas estritamente curriculares. As ações culturais nas escolas são viabilizadas através de projetos financiados ou correspondentes a contrapartidas do Programa de Apoio e Incentivo a Cultura de Curitiba e de outros instrumentos de fomento cultural do país. [b] Na produção cultural para e nas escolas em articulação com produtores e movimentos culturais, estimulando a parceria das escolas com esses agentes prevendo sua atuação no espaço escolar. As ações articuladas entre artistas e escolas podem ser financiadas pelo Programa de Apoio e Incentivo à Cultura de Curitiba [PAIC], pelo Programa Mais Cultura na Escola do MEC/MinC e outros similares financiados por programas diversos de incentivo cultural. O programa CulturaEduca estimulará a formatação destas ações bem como efetivará a mediação entre os produtores e as escolas. [c] No estímulo à pesquisa do artista para aprimorar o formato do seu trabalho, especialmente àquele voltado para a infância, adolescência e juventude. As ações de pesquisa de linguagem para crianças e jovens podem ser financiadas pelo Programa de Apoio e Incentivo à Cultura de Curitiba [PAIC],


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pelo Programa Mais Cultura na Escola do MEC/MinC e outros similares financiados por programas diversos de incentivo cultural. O programa CulturaEduca também estimulará a formatação destas ações, por parte de pesquisadores e produtores culturais. [d] No estimulo à organização cultural dos professores e estudantes, permitindo que no tempo que passam ocupados tanto na sala de aula, como em atividades extraclasse, possam também ser produtores de cultura. O programa CulturaEduca estimulará a realização de mostras de cultura estudantil, a formação de Coletivos Culturais Autônomos (CCA), pontos de leitura, cineclubes, círculos de escrita, grupos de teatro, dança, ilustração e pintura, permitindo e possibilitando o livre fluir cultural. A promoção da visibilidade da produção cultural de professores e estudantes deve reforçar junto à sociedade o conceito da escola como produtora de cultura.

Esta ação será realizada em articulação com a linha EduCultura da SME na rede municipal, mas também atuará com instituições escolares estaduais e privadas. [e] Na implantação de acervo de base de bens culturais com diversidade de linguagens e padrões estéticos.

A FCC, por intermédio da Diretoria de Patrimônio Cultural articulará acervos de base de bens culturais que possam ser acessados nas escolas ou equipamentos culturais e acervos amplos, variados e significativos de artes e memória, que serão disponibilizados na forma física ou digital às escolas da cidade. [f] No reconhecimento social de professores e estudantes como produtores de cultura. A promoção da visibilidade da produção cultural de professores e estudantes deve reforçar junto à sociedade o conceito da escola como produtora de cultura. Uma das experiências melhor sucedidas é a do Colégio Estadual do Paraná que utiliza equipamentos da FCC para ações culturais de seus estudantes.


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O Cu l t u ra Ed u c a organizará espaços e equipes próprios, parceiros e comunitários para a oferta de atividades culturais, articuladas ou não aos conteúdos curriculares.

Estas ações também podem propiciar apresentações em bairros de baixa atividade cultural e ampliar os laços entre a escola e as comunidades do entorno. [g] Na articulação entre os equipamentos próprios e parceiros para ações regulares de contra-turno cultural para fortalecer o Programa Mais Educação3.

A ampliação do tempo de permanência do estudante em espaços formativos ou culturais estruturados, promove além da diminuição do risco de vulnerabilidade social, a formação cidadã, o desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos para a vida. O CulturaEduca organizará espaços e equipes próprios, parceiros e comunitários para a oferta de atividades culturais, articuladas ou não aos conteúdos curriculares.

3 . Interação Escola e Territórios Culturais Conexões interativas entre as escolas e os territórios culturais do entorno da escola. A FCC está empenhada em promover a regionalização da cultura e fortalecer a Cultura Viva da cidade. O Sistema Municipal de Cultura, ainda em implantação, prevê a constituição de um sistema seccional especial, bem como conferências regulares das Teias e Redes de Identidade da Cultura Viva, reunindo Pontos de Cultura, de Memória, de Leitura; de Coletivos Culturais; e Griôs4, Artistas e Mestres Populares com atuação nos bairros da cidade. Esta organização será pontencializada com a aprovação da linha permanente de financiamento de ações culturais regionais com dotação orçamentaria anual para realização de ações culturais por produtores locais e para circulação nas respectivas regionais. O primeiro edital de regionalização das ações culturais da FCC, de 2014, incentiva a organização e fortalecimento da Cultura Viva.

3 . O Programa Mais Educação, ofertado às escolas públicas de ensino fundamental, consiste no desenvolvimento de atividades de educação integral que expandem o tempo diário de escola para o mínimo de sete horas , ampliando as oportunidades educativas dos estudantes. 4 . Griôs – indivíduos que detém a memória do grupo e atuam como difusor das tradições da comunidade.


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No segundo edital, previsto para 2016, será estimulada a articulação destas ações com as instituições escolares públicas de suas respectivas regionais. A terceira linha do Programa tem como meta promover as conexões interativas entre as escolas e os territórios culturais do entorno da escola, por meio: [a] Da aproximação das escolas com os territórios culturais, com as ações de Cultura Viva do seu entorno ou com as ações referenciais da cidade, em particular dos Pontos de Cultura e da Teia Cultural de Curitiba. [b] Da promoção do entendimento de que a escola deve se abastecer destes territórios, mas também agir para fazer fluir os seus saberes e a produção cultural dos estudantes. [c] Do fortalecimento das escolas enquanto elemento estimulador destes territórios, valorizando a cultura viva e invisibilizada, mas também, atuando criticamente nas manifestações de classe, de etnia, de gênero, etc. [d] Do funcionamento dos espaços escolares como espaços culturais para uso-fruto da comunidade. [e] Da identificação e do apoio aos mestres de cultura popular, legitimando os seus conhecimentos para que possam atuar nas instituições escolares. [f] Da articulação com os movimentos de Educação Popular, integrando as suas experiências e metodologias na articulação das escolas e das culturas populares. Decorrendo destas ações: [a] A identificação e articulação de Agentes Culturais tais como: Mestres da Cultura Popular; Movimentos Culturais; Artistas Locais; Projetos Culturais com atuação local; Práticas culturais em associações comunitárias; Movimentos sociais de diferentes naturezas, etc. [b] A promoção de ações como: certificação de mestres da cultura popular; a implantação de pontos de cultura, memória e leitura nos territórios culturais e a organização das teias regionais. [c] A articulação de ações com o Programa Saúde da Família; os Conselhos Tutelares, os Agentes Comunitários e os Servidores da Ação e Assistência Social.


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4 . Oferta de Cursos Profissionalizantes para Artistas, Produtores

Culturais e Gestores Públicos da Cultura

Formação artística e profissional de artista com ação estruturada e qualificada. Os processos formativos de cultura e arte bem como dos profissionais que atuam nas diversas cadeias produtivas será também foco das políticas públicas, por meio: [a] O CulturaEduca mantém parceria com os Ministérios da Educação e Cultura e com as instituições de educação superior para ofertar cursos profissionalizantes com objetivo de qualificação dos profissionais na área da cultura em todas as regionais de Curitiba. [b] O CulturaEduca disponibilizará proposta pedagógica e ações de formação para os professores de cursos livres de arte e cultura realizados na cidade. [c] O CulturaEduca atuará para implementar e fortalecer o Sistema Seccional de Escolas de Arte de Curitiba e instituições de formação cultural, como previsto na implantação dos Sistema Municipal de Cultura de Curitiba.

5 . Organização Setorial de educação e Cultura no Sistema Municipal de Cultura de Curitiba

O CulturaEduca estimulará os professores a participarem do Sistema Municipal de Cultura, em particular dos Fóruns, Comitês e Conferências Regionais, como forma de ampliar a cidadania cultural. O Programa organizará conferências setoriais de educação e cultura, a fim de incluir os educadores na formulação, desenvolvimento e controle das políticas públicas de cultura em nossa cidade.


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Ações e objetivos do Programa CulturaEduca O CulturaEduca promove a livre fruição artística para profissionais da educação e cultura, como dimensão da cidadania cultural, enquanto acesso e fazer cultural. Também combate às formas coercitivas para a frequência em eventos culturais, bem como desestimula as ações culturais como instrumentos simplificados de práticas pedagógicas. O CulturaEduca promove ações culturais voltadas para os profissionais da cultura e educação, de livre fruição, sem a obriO P ro g ra m a p ro m ove gatoriedade ou coerção, com diferentes ofertas de processos e ações culturais e educacionais permanentes linguagens ou padrões estéticos, tais como espetáp a ra p ro f i s s i o n a i s d a culos de música, artes visuais, dança, teatro, ópera, educação e estudantes, circo, cinema de ficção, documentário e animação, visando o desenvolvimento literatura, cultura alimentar, ilustração e exposições pessoal e o exercício da cidadania cultural na cidade. de artes visuais, fotografia e arte digital; acervos de patrimônio cultural, material e imaterial, histórico e artístico; memória e identidade. O Programa promove processos e ações culturais e educacionais permanentes para profissionais da educação e estudantes visando o desenvolvimento pessoal e o exercício da cidadania cultural na cidade. O CulturaEduca estimula a criação de Coletivos Culturais livres de profissionais da educação nas escolas. O CulturaEduca estimula a aproximação das escolas com a Cultura Viva de seu entorno e aquelas de referência na cidade ou região, em particular aquelas de origem africana e indígena em conformidade com as políticas federais para o setor. O CulturaEduca estimula a mais ampla diversidade de linguagens e fazeres culturais.


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Por meio do Programa são organizados eventos de concentração de diversas ações culturais na forma de Semanas Culturais e Semanas Literárias. O CulturaEduca visa desenvolver as potencialidades dos estudantes e professores realizando exposições, teatro, dança, música, filmes, oficinas, produzidos pelos educadores das escolas e pelos profissionais da cultura na busca do desenvolvimento cultural, pessoal e humano. O CulturaEduca estimula a participação de profissionais da educação e estudantes nas conferências, fóruns e conselhos regionais e setoriais de cultura para construir e fortalecer uma política pública de cultura, com produtores, movimentos e instituições culturais parceiras. Uma política pública para a formação cultural de proA ampliação das fissionais da educação, da cultura e dos estudantes, dimensões existenciais pressupõe processos acumulativos de formação de novos de toda nova geração de saberes e revisão de valores e da promoção de expecidadãos depende, no entanto, dos educadores rienciações diversas. Este, por sua vez, pressupõe ações duradouras e resultados em longo prazo. A ampliação e artistas de hoje. das dimensões existenciais de toda nova geração de cidadãos depende, no entanto, dos educadores e artistas de hoje. Hoje vivemos um momento especial para o fortalecimento da pluralidade e da diversidade cultural local e nacional e para o intercâmbio da escola com os produtores e movimento da cultura na sociedade. Sabemos que os desafios são muitos e, portanto, cabe aos atores do processo cultural/ educacional, agentes de políticas públicas e à sociedade, buscar a integração destes conhecimentos, dos saberes e fazeres de cunho cultural, tanto quanto os de cunho educacional, na vida das pessoas. A integração entre cultura e educação, é um instrumento poderoso para o desenvolvimento e emancipação humanos, permitindo a perspectivação contextualizada que fortalece a mente e humaniza as pessoas.


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Passados 24 meses do início da aplicação destas ações integradoras, percebemos de forma muito clara e objetiva, mudanças de postura nos profissionais da educação, depois de sistematicamente imersos no mundo da cultura e o quanto este processo foi importante e contribuiu para as suas vidas e práticas pedagógicas.

MARCOs

CORDIOLLI Marcos Cordiolli é graduado em História (UFPR, 1988) e mestre em Educação: história e filosofia da educação (PUC-SP, 1997). Atualmente é presidente da Fundação Cultural de Curitiba.


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1CIRCO da CIDADE

Albanir de Quadros Moura

LONA Zé PRIGUIÇA

Albanir de Quadros Moura é servidor da Fundação Cultural de Curitiba desde 01/06/1992. Formado em Gestão Pública, com Pós Graduação em Administração Pública com ênfase em Gerência de Cidade, atualmente responde pela Coordenação de Circos.


O circo

constitui uma forma de expressão fundamental na formação cultural brasileira, por conta de sua itinerância e sua capacidade de influência em todo o território. Sua função é estimular a valorização dos repertórios tradicionais e das novas modalidades circenses O Estado deve, ainda, promover a pesquisa e a preservação da memória das atividades circenses, visando o reconhecimento dessa tradição e a criação de programas de circulação de espetáculos, principalmente em regiões de maior isolamento geográfico. Referência: Portal da Cultura do Ministério da Cultura


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O circo da cidade veio para proporcionar o aprendizado das bases elementares das mais variadas formas de expressão da arte circense, promover a integração social e cultural, incentivar o direito à cidadania, formar uma disciplina consciente e espírito de equipe, desenvolver a determinação, a auto-estima e a expressão corporal, interagir com outras linguagens artísticas: literatura, teatro, dança e Música Popular Brasileira, e se possível artes visuais, aproveitando contrapartidas sociais que sejam direcionados a faixa etária dos alunos.

Hist ó ria

T

udo começou em 1976, quando a Prefeitura Municipal de Curitiba, com o objetivo de preservar a “Arte Circense”, adquiriu um circo com apoio da Fundação Nacional de Arte (Funarte)/Ministério da Educação e Cultura (MEC), atendendo apelo da Família Queirollo, que com a advento da televisão passava por muitas dificuldades assim como a maioria das Cias circenses, principalmente as de pequeno porte. O circo foi inaugurado em 10 de outubro de 1976, no Parque Barigui, com o nome do famoso palhaço Chic-Chic e funcionou de 1976 a 1979, sob a administração da família Queirollo , permanecendo por todo o período num mesmo local. Em 1980 o circo passa a ser administrado pela Fundação Cultural de Curitiba, com o nome de “Circo da Cidade de Curitiba”. No primeiro ano, o projeto se caracterizou pela curta permanência em cada bairro e atendeu à oito bairros em apenas um ano. Em 1981, o “Circo da Cidade de Curitiba”, manteve a característica de curta permanência em cada bairro, mas ampliou o número de espetáculos que de quatro (ano anterior), saltou para sessenta e um. O ano de 1982 chamou a atenção pelo incremento das atividades


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paralelas aos shows. Passou-se a levar para os bairros, cursos de ofícios e a trabalhar em parceria com outras entidades como o Serviço Social do Comercio (SESC), e Centros de Saúde Pública. Em 1983, foi criado na Fundação Cultural de Curitiba, o “Setor de Cultura Local”, cuja principal finalidade era valorizar e tornar conhecida a diversidade cultural da cidade de Curitiba. O instrumento principal de trabalho deste setor era o “Circo da Cidade”, que funcionava como um centro cultural itinerante , atuando de forma a permitir que a população se manifestasse em todos os Enquanto os outros aspectos. A ideia era utilizar o espaço do circo para três circos faziam seus percursos incentivar a reflexão sobre os mais diversos pronormais pelos bairros, o “Circo blemas levantados pela comunidade e estimular o IV”, circo da constituinte, era aparecimento das expressões culturais existentes palco dos mais variados debates envolvendo questões sociais, no local, atuando em conjunto com a sociedade políticas e culturais da renascente civil organizada, principalmente as Associações Democracia Brasileira. de Moradores. Esta característica de espaço mais voltado para as manifestações espontâneas, não necessariamente apenas culturais, mas também sociais e políticas, foi aos poucos, se fortalecendo. Há que ressaltar deste período, o aumento no número de lonas de circo. Até 1983, a Fundação Cultural de Curitiba possuía apenas uma lona. Em fins de 1984 adquiriu a segunda , em 1986 a terceira e finalmente em 1987 a quarta lona de circo. Esta quarta lona, denominada “Circo IV”, ficou instalada inicialmente por um período de seis meses: de 14 de março a 30 de agosto de 1987, montada na Praça Santos Andrade, Centro de Curitiba e era conhecida como “Espaço da Constituinte”. Enquanto os outros três circos faziam seus percursos normais pelos bairros, o “Circo IV”, circo da Constituinte, era palco dos mais variados debates envolvendo questões sociais, políticas e culturais da renascente Democracia Brasileira. Neste período foi criado também, o Projeto Radio Popular, composto por um grande mastro com alto falantes, um estúdio de som e um locutor, normalmente do próprio bairro, treinado pelos animadores culturais da Fundação Cultural de Curitiba. A Radio Popular tinha uma programação desenvolvida pela própria comunidade, que abrangia desde informações importantes do bairro até programas musicais.


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Em 1989, com a mudança na administração política do município, a coordenação de cultura local passou a se chamar, Setor de Animação da Cidade. Mas é em 1990 que o projeto “Circo da Cidade de Curitiba” passa por uma profunda transformação. Dos quatro circos de dois mastros que até então estavam em funcionamento, apenas um se manteve, enquanto os outros três eram transformados em um circo de quatro mastros, possibilitando as oficinas circenses de “vôos”. O projeto passa a contar desde então, com apenas dois circos. O circo menor de dois mastros caracterizado mais como Circo Teatro, e o maior de quatro mastros, voltado para as oficinas e espetáculos circenses. O primeiro se chamava “Circo Teatro” e o outro “Circo da Cidade de Curitiba”. A inauguração do circo de quatro mastros e suas oficinas se deu em 1º de julho de 1990 no Largo da Ordem, centro de De 1994 a 1998, a preocupação Curitiba. Com estas características os dois circos maior do projeto foi de resgatar, funcionaram até 1993. Nesta época, acontece a fomentar, difundir e valorizar a arte campanha de popularização do teatro, de 14 a 29 e a classe circense de Curitiba. de dezembro de 1991, que pedia como ingresso para os espetáculos, um quilo de lixo reciclável. A partir de 1994, o projeto “Circo da Cidade de Curitiba” passa a funcionar com apenas uma unidade, o circo de quatro mastros, que mantém sua característica itinerante e aprofunda sua vocação de Circo Escola. As oficinas de artes e ofícios passam a ser prioridade, porém não se deixa de manter, nos finais de semana, apresentações variadas de Circo, Teatro e Música. De 1994 a 1998, a preocupação maior do projeto foi de resgatar, fomentar, difundir e valorizar a arte e a classe circense de Curitiba. Ao mesmo tempo em que o “Circo da Cidade”, rodava a periferia de Curitiba, seus integrantes, funcionários da Fundação Cultural de Curitiba e prestadores de serviços de outras companhias circenses, acalentavam um sonho que nasceu em 1990. Era o sonho de que um dia poderia existir, num espaço fixo, uma “Escola Permanente de Circo”, para onde poderiam ser canalizados os muitos valores e talentos descobertos em cada bairro por onde passava o projeto.


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De 1999 a 2001, o projeto “Circo da Cidade”, passa por uma fase de recesso quase que total. As lonas remanescentes foram utilizadas para empréstimo à sociedade civil organizada e usadas para realização de eventos da própria comunidade. Em 2002, criou-se uma parceria entre Fundação Cultural de Curitiba e Fundação de Ação Social, que permitiu o retorno parcial do Projeto, desta vez voltado para realização de oficinas circenses para crianças e adolescentes assistidos por programas sociais mantidos pela Prefeitura Municipal de Curitiba. Tal parceria permaneceu ativa até 2007, quando da desativação do Projeto por parte da Fundação de Ação Social

No va E tapa A partir de 2008, o projeto “Circo da Cidade” passa por uma reestruturação completa. A aquisição de um novo circo completamente equipado, permite a retomada do projeto original. A partir de 2009, o “Circo da Cidade” passa a se chamar “Circo da Cidade - Lona Zé Priguiça”, em A partir de 2009, o “Circo homenagem ao funcionário da Fundação Cultural da Cidade”, passa a se chamar de Curitiba, Pedro Irineu dos Santos, “ Palhaço Zé “Circo da Cidade - Lona Zé Priguiça”, cômico oficial da FCC, falecido em 2001. Priguiça”, em homenagem Na atualidade, o projeto é mantido através de edi- ao funcionário da Fundação Cultural de Curitiba, Pedro tais de produção, difusão e formação em circo, com Irineu dos Santos, “ Palhaço verba do Fundo Municipal de Cultura do Município, Zé Priguiça”. permitindo que a comunidade curitibana compartilhe os diversos gêneros, tendências e linguagens que o circo pode proporcionar de forma descentralizada, envolvendo a classe artística atuante, com proposta e projetos voltados à população curitibana. Em média são realizados 150 espetáculos e 550 horas/aula anualmente, direcionados a Rede de Ensino e comunidade em geral.


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2 CINEMA na

ESCOLA

LE I E M U I TA S Q U E S Tõ E S

Solange Straube Stecz

UM A

Doutora em Educação pela UFSCAR. Professora do Curso de Cinema e vídeo da UNESPAR – (Campus Curitiba II - Faculdade de Artes do Paraná); Diretora de Cultura da Universidade Estadual do Paraná; Pesquisadora de Cinema.


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A

inclusão de filmes nas escolas, não é uma novidade, pois a relação entre o cinema e a educação é tão antiga quanto o nascimento do cinema. Na primeira década do século XX, assuntos educativos e “instrutivos” já eram registrados em notas e anúncios de jornais, como a citada por Vicente de Paula Araújo sobre a exibição da empresa Serrador em agosto de 1910 no pavilhão dos Campos Elíseos, em São Paulo para “alunos de escolas, a pedido de um professor da Escola Normal”. (ARAÚJO, 1981, p.28). O que demostra que, seja no seu uso de apoio pedagógico nas disciplinas ou como atividade lúdica, o audiovisual sempre foi uma ferramenta, de comunicação ou fruição trazendo a experiência estética, o estimulo à reflexão na construção de significados através de imagens. Alunos de todas as classes sociais trazem para a sala de aula referências de filmes, séries e conteúdos audiovisuais das redes sociais. Também produzem seus filmes, mantém canais na internet e contam suas histórias. Afinal, vivem em um mundo de fortes referências audiovisuais.

Em 2014, foi sancionada a Lei 13.006, que prevê a obrigatoriedade da exibição de duas horas filmes brasileiros por mês, como componente curricular complementar, integrado à proposta pedagógica das escolas da educação básica. Com ela se ampliou a discussão sobre o cinema nas instituições de ensino. Afinal, no país existem cerca de 180 mil escolas, nas quais 50 milhões de alunos frequentam a educação básica e a previsão de exibições de filmes como atividade complementar pode representar ampliação do acesso á cultura não só dos alunos mas de toda a comunidade escolar. Quando propôs a Lei, o senador Cristovão Buarque, focou seu discurso na formação de plateia e no incentivo á industria cinematográfica, tendo a escola como cenário. Para ele “a única forma de dar liberdade à indústria cinematográfica é criar uma massa de cinéfilos que invadam nossos cinemas, criando uma economia de escala à indústria cinematográfica. Isso só acontecerá quando conseguirmos formar uma geração com gosto pelo cinema. E o único caminho é a escola.”1 Sua postura diante da proposta apontava para um segmento, mas a questão é muito mais ampla.

1 . Jornal do Senado - www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2014/06/06/exibicao-de-filme-nacional-nas-escolas-vai-a-sancao.


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A Lei traz desafios que devem fazer parte da pauta de discussão da sociedade, para construção de políticas públicas de Estado, nas áreas da educação e da cultura. São questionamentos que precisam estar em um amplo debate nacional com a participação de todos os envolvidos. Sob pena de favorecimento de grupos, estéticas e da exclusão de produções, restritas a festivais, cinematecas, cineclubes que não tem poder econômico para sua visibilidade e são desconhecidas de grande parte do público. O critério de escolha dos filmes e a formação do espectador especializado são elementos que estão intrinsecamente ligados. E na escola este espectador especializado é o professor que, no dizer de Marília Franco, deve ter condições de analisar a linguagem audiovisual, tanto em seu conteúdo quanto em sua estética.: Sua especialização é como educador e não como espectador, ao usar o filme na situação de ensino/aprendizagem está exercendo sua função de mestre. Como espectador comum acumulou vivência e experiência para aplicá-la ao exercício da sua profissão. Como espectador especializado ele terá autoridade para se fazer intérprete das linguagens audiovisuais [FRANCO, 1992 p. 26]

A programação de (no mínimo) duas horas mensais de filmes brasileiros deve considerar o conjunto da cinematografia, sua história, seus diretores, estilos, movimentos. O acesso a este conhecimento passa pela formação continuada, pela qualificação dos professores para a linguagem audiovisual. E a presença do cineasta no debate trará, com certeza, uma grande contribuição. Mesmo porque a demanda por realização audiovisual na escola é um fato, basta ver a quantidade de projetos de audiovisual realizados nas escolas. Nas oficinas com crianças e adolescentes é o processo que vai permitir o desvendar do mistério, a apropriação da técnica para a construção de narrativas construídas com autonomia a partir de linguagens verbais e não verbais. Não importa o tipo de equipamento, uma câmera profissional ou um aparelho celular e sim a criação com base na imaginação, experiências e circunstâncias vividas por seus autores.


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Algumas experiências muito ricas foram realizadas como projetos de extensão universitária envolvendo professores e alunos do curso de cinema da Universidade Estadual do Paraná e demostraram que o audiovisual pode ser sempre um momento de encontro. O Projeto de extensão universitária “Cinema Nosso”, realizado em 2012 e 2013 em Curitiba/PR, ofereceu oficinas de audiovisual em cinco locais diferentes, sendo eles organizações comunitárias e educacionais tendo como resultado final a realização de um curta-metragem por turma. Selecionado pelo Programa Universidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETI-PR), contou com cinco bolsistas, do curso de Bacharelado em Cinema e Vídeo e com a parceria da Fundação Cultural de Curitiba, através do apoio dos seus Gerentes Regionais de Cultura2. Após contatos iniciais, definição de dias da semana e horários foram escolhidos: Associação de Moradores Moradias Zimbro – ASMOZI – Vila Sandra – Cidade Industrial de Curitiba; Instituto Roberto Bosch – Teatro Peça por Peça - Vila Verde - Cidade Industrial de Curitiba; Centro da Juventude Eucaliptos – Bairro Boqueirão; Colégio Estadual Nirlei Medeiros – Bairro Campo de Santana . Em todos os espaços foram realizadas atividades de sensibilização, com exibição de filmes e debates. As oficinas, com crianças e adolescentes tiveram 12 encontros e carga horária total de 48 horas. As características específicas de cada local foram levadas em consideração para o desenvolvimento das atividades e ao final, foram realizadas cerimônias de encerramento com convite extensivo à comunidade. A experiência cinematográfica, através da construção de narrativas dialógicas fundamentadas na realidade sociocultural dos participantes e da apropriação dos meios para a produção de curtas-metragens, refletiu a capacidade para a elaboração de narrativas e do despertar da sensibilidade artística dos envolvidos. O processo, conduzido por alunos e egressos do curso de cinema, deu voz a crianças e adolescentes que trouxeram seu universo para as telas.

2 . Denominação à época dos servidores que atuavam na relação direta com a comunidade.


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Fonte: Acervo Cinema Nosso.

Criança com a claquete durante gravação do Minuto Lumière.

Entre as discussões teóricas à ação prática com os acadêmicos houve encontro entre orientadores e orientandos. Uma sensibilização que apontou para a alteridade no compartilhamento de projetos com crianças e adolescentes de regiões periféricas. O projeto proporcionou o envolvimento e contato com uma atividade cultural com forte poder

midiático que é o audiovisual. Permitiu maior compreensão e sensibilidade sobre o processo técnico -artístico que envolve a realização cinematográfica além da percepção da capacidade de autorrepresentação. É um exemplo da potência que a imagem em movimento pode ter dentro da escola.


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Em 2015, com o inicio do processo de regulamentação da Lei 13.006/2014 professores de universidades e da educação básica, pesquisadores, a Rede Kino,3 entidades e representantes de segmentos de educação e cinema ampliaram sua participação no debate.4 No Minis-

Fonte: Acervo Cinema Nosso.

tério da Cultura foi criada uma Secretaria de Educação e Formação Artística e Cultural (SEFAC) e através de uma ação conjunta os Ministérios da Educação e da Cultura criaram um grupo de trabalho, que discutiu a carência de produções para a crianças e adolescentes ,distribuição, acessibilidade do audiovisual e formação de professores. O documento final foi entregue ao Conselho Nacional de Educação em 04/05/2016.

Capa do DVD Cinema Nosso, com vídeos das oficinas.

3 . Rede Kino - Criada em 2009 com o objetivo de compartilhar experiências, somar esforços para tratar questões relativas à articulação entre educadores, pesquisadores, cineastas, produtores e gestores da educação e representantes de organizações do âmbito do cinema e audiovisual. 4 . Destaque para o livro editado pela Universo Produções e lançado em 2015 na 10ªCINEOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto - Cinema e Educação: a lei 13.006. Reflexões, perspectivas e propostas.


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Presente nas pautas da cultura e da educação, o assunto vai muito além da regulamentação de uma lei e traz para a escola desafios, questionamentos e também problemas. Toca em questões como a estrutura, a formação dos professores, a produção e acesso a conteúdo audiovisual para crianças e adolescentes, bem como os direitos autorais de obras a serem exibidas. Será necessário incorporar na escola a cultura audiovisual dos alunos, ampliar a formação para a diversidade do cinema brasileiro, apresentando linguagens, temas e gêneros que extrapolam o cinema comercial. Dar a chance de conhecer a produção brasileira de mais de 100 longas metragem por ano e outros tantos curtas médias e longas metragem que só tem espaço em festivais e circuitos alternativos. E discutir questões mais profundas, como as razões do colonialismo cultural que tem na ocupação das salas de cinema um grande exemplo. Dados oficiais demonstram que a participação do cinema brasileiro no mercado exibidor aumentou de 12,9% no primeiro trimestre de 2015, para 27,4%, no mesmo período de 2016, mais do que o dobro do que o período anterior. O resultado se deve ao primeiro filme do ranking dos 20 títulos de maior bilheteria no primeiro trimestre de 2016: “Os dez mandamentos - O filme” responsável por atrair 11,0 milhões de espectadores às mais de mil salas em que foi lançado. Este número representa 20,2% do público total e 73,8% do público de filmes nacionais do ano. No mesmo ranking estão ainda os filmes brasileiros “Até que a sorte nos separe 3”, “Um Suburbano Sortudo”, “Vai que dá certo 2”.5 É um avanço, se pensamos no cinema como industria e no seu impacto na economia. Mas também são dados estatísticos que comprovam a dificuldade de acesso do cinema brasileiro às suas próprias telas. O que projeta muitas perguntas: E os filmes que não chegam às salas de cinema ou às múltiplas telas de exibição? Como introduzi-los na escola? Como pretender que o

5 . Respectivamente em 11º, 15º e 18º conforme ANCINE - INFORME DE ACOMPANHAMENTO DO MERCADO Segmento de Salas de Exibição 1º Trimestre de 2016 (7 de janeiro de 2016 a 6 de abril de 2016). Todos da Globo Filmes.


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professor seja um espectador especializado para se utilizar de uma ferramenta cultural, que pode impactar o intelecto e a emoção de seus alunos, configurando sua visão de mundo se ele também não tem este acesso ? A TV aberta seria uma alternativa para o acesso ao filme nacional, uma vez que o Brasil tem mais de 60 milhões de domicílios com TV. No entanto as telinhas também estão ocupadas. Dados E os filmes que não chegam 7 às salas de cinema ou às múltiplas disponibilizados pela ANCINE referentes à telas de exibição? Como introduzi- exibição de filmes na TV aberta demostram los na escola? Como pretender que que de 2082 veiculações de longas-metrao professor seja um espectador gens nas telas da TV Aberta em 2015, somente especializado para se utilizar de 262 foram obras brasileiras representando uma ferramenta cultural, que pode impactar o intelecto e a emoção de 18,4% do total, em relação às 1698 veiculações seus alunos, configurando sua visão de obras estrangeiras, respectivamente 81,6% de mundo se ele também não tem de participação. O monitoramento mostra este acesso ? que a TV Brasil foi a emissora que exibiu o maior número de longas-metragens com 129 títulos nacionais, seguida da Rede Globo com 87 títulos e a TV Cultura com 55. O SBT não veiculou nenhum filme brasileiro em 2015, sendo que a Band e a Record exibiram entre 1 e 3 filmes no período.

Se considerarmos os espaços escolares como lugares de cinema e de audiovisual, de alteridade e diversidade, é necessário que o acervo a ser disponibilizado a todas as escolas do país contemple a diversidade étnico-racial, geográfica, cultural, social, sexual, de gênero,rural , sócio-ambientais, afro-brasileiras, indígenas, quilombolas, religiosas, de populações itinerantes, de povos e comunidades tradicionais, de comunidades de cegos, surdos, gênero e sexualidade, da infância e da juventude.

Carta Rede Kino, 2016


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As questões aqui colocadas apontam para preocupações que atravessam as discussões da implantação da Lei 13.006 e que se considerarmos “os espaços escolares como lugares do audiovisual, de alteridade e diversidade, é necessário que o acervo a ser disponibilizado a todas as escolas do país contemple a diversidade étnico-racial, geográfica, cultural, social, sexual, de gênero,rural, sócio-ambientais, afro-brasileiras,

indígenas, quilombolas, religiosas, de populações itinerantes, de povos e comunidades tradicionais, de comunidades de cegos, surdos, gênero e sexualidade, da infância e da juventude.”(Rede Kino)8: Será uma ação de longo prazo, que vai além da vida escolar e mais que isso, deverá transpor as barreiras do predomínio do produto estrangeiro e da globalização midiática que se impõe ao gosto do espectador.

7 . Dados completos do monitoramento disponíveis em http://oca.ancine.gov.br/media/SAM/2015/MonitoramentoProgramacao/Informe_TVAberta_2015.pdf 8 . Trecho da Carta Ouro Preto - 2016. Documento divulgado em 29 06 2016 e disponível na integra em: http://www.cineop.com.br/noticia/carta-de-ouro-preto-2016-rede-kino


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REFERÊNCIAS ARAUJO, Vicente de Paula - A bela época do cinema brasileiro. São Paulo, Perspectiva,1978. BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Tradução: Mônica Costa Netto, Silvia Pimenta. Rio de Janeiro: Booklink; CINEADLISE-FE/UFRJ, 2008. FRANCO, M. S. - Hipótese-cinema: múltiplos diálogos. Revista Contemporânea de Educação, Rio de Janeiro, v. 05, n.9 p. 01-16, jan/jul 2010. __________. O cinema jamais foi e ou será mero entretenimento. Revista PontoCom. São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.revistapontocom.org.br /entrevistas/o-cinemajamais-foi-e-ou-sera-mero-entretenimento. Acesso em set. 2013. FRESQUET, Adriana (org) - Aprender com Experiências do Cinema: desaprender com imagens da educação - Coleção Cinema e Educação. Editora: Co-edição Booklink/ Cinead/ Lise FE/UFRJ, 2009. __________. Dossiê Cinema e Educação 1: uma relação sob a hipótese de alteridade de Alain Bergala. Rio de Janeiro: Booklink; CENEAD – LISE – FE/UFRJ: 2011. __________. Dossiê Cinema e Educação 2: uma relação sob a hipótese de alteridade de Alain Bergala. Rio de Janeiro: Booklink; CENEAD – LISE – FE/UFRJ: 2011.


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3 Compartilhando

SABERES

Graduada em História pela Universidade Tuiuti do Paraná em Licenciatura e Bacharelado. Cursando Pós Graduação em Metodologia do Ensino de História e Geografia no Centro Universitário Internacional UNINTER. Autora do livro “Curitiba & Música: nos acordes da Fundação Cultural” (Curitiba, 2016) em parceria com Aparecida da Silva Bahls.

Avany Márcia Freitas de Alencar

Lilia Maria da Silva

PARCERIAS ENTRE A FUNDAÇãO CULTURAL DE CURITIBA E SECRETARIA MUNICIPAl DE EDUCAÇãO PARA A TRANSFORMAÇãO CIDADã

Professora da Rede Municipal de Curitiba, atuando na Fundação Cultural desde 1998. Atualmente trabalha no Centro Documental da Casa da Memória.


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Transformação cidadã

D

esde o início da Instituição, a Fundação Cultural de Curitiba esteve a par e passo com a Secretaria de Educação do município na formação continuada dos profissionais do magistério. O mote dessas instituições já previa o desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade. Sendo assim, a união dessas entidades propiciou aos professores ferramentas que enriqueceram o ambiente escolar contribuindo no processo de valoração dos saberes locais e eruditos. Ao oportunizar a formação cultural dos professores, as parceiras promoveram a transformação da consciência cidadã por meio do sentimento de pertencimento e a identificação com a cidade.

Partindo dessa premissa, no início do século 21, houve uma reorganização da estrutura organizacional do município. A FCC, antes ligada à Coordenação Funcional de Estrutura Urbana, passou a integrar a Coordenação Sócio Econômica, em outras palavras, deixava de realizar somente ações de animação dos eixos urbanos para promover e valorizar a cultura em todas as suas dimensões. Essa meta de governo permeava, entre outras coisas, a reciclagem e o uso de espaços edificados para fins culturais.1

A democratização da cultura perpassa pelo caráter aquisitivo, cumulativo e transformador da educação. Nesse sentido, a promoção de atividades que valorizem a cultura local, que reconheçam os diferentes e que respeitem à diversidade são essenciais para a elaboração de políticas públicas nessa área.

Também observa-se a recomendação de integração entre os órgãos diretos e entidades para a implementação de políticas públicas voltadas a inclusão social: desde melhorias nas áreas sociais como cultura, educação e saúde até ações nas áreas estruturais da cidade como urbanização, meio ambiente e obras públicas.

Agregar os diferentes e promover o respeito à diversidade são essenciais para a elaboração de políticas públicas.

1 . A reutilização e ressignificação de espaços para fins culturais era uma política pública adotada desde o início dos anos de 1970 no primeiro governo de Jaime Lerner.


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Uma Capital Social se faz pela geração de oportunidades sem distinção. Incluir os excluídos é uma questão fundamental no mundo de hoje. Este cenário, atualíssimo, aponta para uma premissa indispensável na gestão pública contemporânea: a responsabilidade social. Uma gestão que tenha por pressuposto a responsabilidade social só se constrói em parceria. E sua marca tem que ser a redução das desigualdades. [...] E este trabalho é tarefa de todos nós, cidadãos, independentemente de preferências partidárias ou setores representados. Ter responsabilidade social é condição essencial para o sucesso de qualquer administração pública. [...] E esta responsabilidade tem que ser traduzida em ações integradas de geração de oportunidades. Toda pessoa merece, ao menos uma vez na vida, uma oportunidade, seja ela de trabalho, de moradia, de saúde, de estudo ou de lazer. Por isso é preciso integrar as ações.2

Mais uma vez Curitiba está na vanguarda. Primeiro, ao criar um órgão específico de cultura para atender as demandas do município; depois, esse mesmo órgão, ao ser criado, propicia ações conjuntas com entidades afins para valorizar os cidadãos, a educação e a cultura local. Essa recomendação do governo local já era praticada pela FCC e pela SME desde os anos 1970. Em documentos oficiais, como os relatórios de gestão da FCC constam projetos culturais realizados entre as parceiras como: 1º Concurso de Redação e Desenho Cidade de Curitiba (1976), Valorização da Cultura Local

na Educação (1983-1984), Programa Nosso Jeito (1985), Projeto Gincana da Memória (1988), Linhas do Conhecimento (1992-1993), Pegadas da Memória, Projeto Trilhas da Cidade da Gente (2007), Projeto Ancoragem (1993-1994), esse último, com o objetivo de dar subsídios ao funcionalismo municipal sobre a história e o desenvolvimento de Curitiba. Depois o programa foi estendido aos alunos e público em geral.

2 . PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Relatório anual 2001. Curitiba, 2001. p.12 . Disponível em: <http://www.imap.curitiba.pr.gov.br/?page_id=1284>. Acesso em: 05maio2016.


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Acervo: DPHAC/FCC

A Linha das Artes proporcionou aos estudantes visitas a museus para que pudessem apreciar as obras de grandes mestres. 1993.

Acervo: DPHAC/FCC

Acervo: DPHAC/FCC

Cerimônia de premiação dos alunos ganhadores do 1º Concurso de Redação e Desenho “Cidade de Curitiba” em 1976. O Concurso fazia parte das comemorações do aniversário da cidade.

Kit com reproduções do acervo artístico da cidade. Continha 100 pranchas com reproduções de obras, um caderno do professor e um mapa de localização dos espaços culturais onde estavam as obras originais.


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A partir de 2006, essa parceria tornou-se uma política pública capitaneada pelo governo federal. O pacto de cooperação entre os Ministérios da Cultura (MinC) e Educação (MEC) viabilizou, entre outras ações o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e programas como o Mais Educação, o Ensino Médio Inovador e a ampliação do programa Agentes de Leitura, que selecionou e capacitou jovens para atuar na formação de novos leitores. Entre as ações previstas também estavam o projeto Mais Cultura nas Escolas, o Programa Nacional de Biblioteca Escolar do MEC3, com acesso a livros de arte e demais acervos culturais, em diversos tipos de mídia e o O pacto de cooperação entre os Ministérios da Cultura (MinC) e Cine Educação, também do MinC, que recebia Educação (MEC) viabilizou, entre filmes de longa e curta metragem nacionais do outras ações o Plano Nacional do acervo do MEC. Previa-se, ainda, a oferta de curLivro e Leitura (PNLL) e programas sos de formação continuada e de capacitação de como o Mais Educação, o Ensino Médio Inovador e a ampliação professores nessas áreas. Essa iniciativa tornoudo programa Agentes de Leitura, se um marco estratégico ao fomentar o encontro que selecionou e capacitou entre o projeto pedagógico de escolas públicas e jovens para atuar na formação experiências culturais em curso nas comunidades de novos leitores. locais e nos múltiplos territórios4. Observando a amplitude do pacto, percebemos que as práticas incentivadas pela FCC/SME iniciadas na década de 1970, vêm de encontro às proposições atuais de políticas públicas geradoras de territórios educativos nos quais o “saber formal, os saberes comunitários, as práticas artísticas e culturais trabalham de modo integrado”5. Sendo assim, esse texto busca fazer um breve panorama de projetos culturais executados pelos servidores da FCC, dos profissionais da Educação à disposição da FCC e dos professores do ensino fundamental atuantes em unidades de ensino. Ressaltamos que inúmeras outras ações foram executadas em conjunto. Tomamos como exemplo as mais significativas. Iniciamos na década de 1970, com o surgimento da Fundação Cultural e encerramos com o programa EDUCULTURA, implantado a partir de 2013.

3 . ROCHA, D. Acordo abre espaço para política de cultura do ensino básico. Disponível em: http:// portal. mec.gov.br/component/tags/tag/32163. Acesso em: 07 jun 2016. 4 . GOVERNO FEDERAL. BRASIL. Ministério da Cultura / Ministério da Educação. Programa mais cultura nas escolas: manual de desenvolvimento das atividades. Disponível em: <www.cultura.gov.br/ documents/ 10883/1236956/manualdesenvolvimento_ maisculturanas escolas_2015.pdf/59cd480b-5d23-4ab8-91b7-a8196370da72>. Acesso em: 17 maio 2016. 5 . MINISTÉRIO DA CULTURA. BRASIL. Secretaria de Políticas Culturais. Mais cultura nas escolas. Disponível em: <http://pontosdecultura.org.br/wp-content/uploads/2013/04/pp-mais-cult-18-04-20131.ppt.> Acesso em: 20 maio 2016.


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O In í cio A instalação da primeira unidade da Fundação Cultural, o Teatro do Paiol, foi tão significativa para a cidade que, além de sinalizar o início de uma política cultural voltada à humanização da cidade, marcou também a apropriação dos espaços públicos pelos cidadãos. Uma nova identificação do curitibano com sua cidade. A partir do Paiol se estabeleceram ações culturais mais efetivas no município culminando, inclusive, no surgimento de uma entidade própria para fomentar a arte e a cultura na cidade. Em 5 de janeiro de 1973, o prefeito Jaime Lerner assinou a lei no4545 criando a Fundação Cultural de Curitiba – FCC.6 Nesse mesmo ano, o Teatro de Bonecos “Torre Amarela”, formado por um grupo de artistas plásticos, professores de Arte e estudantes desenvolveram um projeto a convite da

Em 1976, a Prefeitura Municipal por meio do Departamento de Bem Estar Social e FCC através da Assessoria de Turismo instituiu o 1º Concurso de Redação e Desenho “Cidade de Curitiba” em comemoração ao 283º aniversário da cidade.

Fundação Cultural em que levavam essa modalidade para praças, feiras, clubes, hospitais e escolas, totalizando em 6 meses, 37 espetáculos.7 Em 1976, a Prefeitura Municipal por meio do Departamento de Bem Estar Social e FCC através da Assessoria de Turismo instituiu o 1º Concurso de Redação e Desenho “Cidade de Curitiba” em comemoração ao 283º aniversário da cidade. O concurso tinha por objetivo “estimular a população em idade escolar a participar ativamente da vida de sua cidade”.8 A primeira triagem dos textos e desenhos foi elaborada pelos próprios professores das escolas.

6 . BAHLS, A. SILVA, L. Curitiba e Música: nos acordes da Fundação Cultural. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2016. p. 118. 7 . TEATRINHO da Torre amarela: histórico do Teatro de Bonecos. Curitiba, 1974. 5 f. Cópia carbonada. Fotocópia, documento não publicado (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória). 8 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. I Concurso de Redação e Desenho Cidade de Curitiba. Curitiba, 1976. 8 f. Não publicado. (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória)


Acervo: DPHAC/FCC

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Cerimônia de premiação dos alunos ganhadores do 1º Concurso de Redação e Desenho “Cidade de Curitiba” em 1976. O Concurso fazia parte das comemorações do aniversário da cidade.

O projeto Cultura e Educação – valorização da Cultura local na Educação (1984) mostrou-se tão significativo para as instituições municipais que tornou-se num marco da cultura da cidade. A partir dele criou-se um setor específico na Fundação com o objetivo de “viabilizar projetos de cultura nas áreas educacionais.9 A proposta previa o reconhecimento da cultura local por meio de atividades com as crianças da Rede Municipal de Ensino [...], proporcionando-lhes a autoexpressão e a conseqüente valoração das manifestações culturais de cada comunidade.10 O Programa Nosso Jeito (1985), também criado no governo Maurício Fruet tinha como objetivo um processo de “integração interinstitucional que visava a transformação e dinamização do currículo das escolas públicas municipais por meio da valorização das artes e da recuperação da cultura própria das crianças – a cultura local – no processo de ensino aprendizagem do 1º grau.”11 Neste projeto eram contempladas: oficinas para treinamento e atualização de professores e equipe pedagógica; assessoria ao planejamento e execu-

9 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Cultura e Educação: valorização da Cultura local na Educação. Curiitba, 1984. 9 f. Fotocópia, não Publicado. (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba /Centro de Documentação da Casa da Memória) 10 . Idem 11 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Nosso Jeito. Curitiba, 1985. 8 f. Fotocópia, não publicado. (Disponível na Fundação Cultural /Centro de Documentação Casa da Memória)


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ção de projetos pedagógicos artísticos culturais nas escolas com acesso aos recursos e equipamentos da FCC e cursos especiais para atualização em arte educação. As áreas contempladas eram: teatro, música, dança, artes plásticas e literatura. Depois dessa iniciativa, o atendimento direto às escolas foi substituído pelo apoio a projetos artísticos culturais das escolas interessadas em valorizar a autoexpressão cultural das crianças. Essa iniciativa envolvia o fornecimento de informações teóricas e práticas, assessoria e acompanhamento na elaboração e execução de propostas ou projetos de atividades artísticas e culturais; orientação às escolas para a utilização dos diversos serviços prestados pela Fundação Cultural, através de seus setores: Circo da Cidade, Casa da Memória, Cinemateca, Solar do Barão, setores de artes plásticas, teatro, dança, música e literatura; Distribuição às escolas do Jornal Mural e programação mensal das atividades culturais desenvolvidas pela Fundação, dentre outras ações. Muitas dessas atividades eram voltadas especificamente para professores que atuavam na área (CAC). Esse projeto também contemplou as crianças que revelavam especial inclinação à música, oferecendo bolsas de estudo para cursos de iniciação musical. O Projeto Gincana da Memória12: uma proposta integrada de participação da escola e da comunidade (1988), desenvolvido pelo Departamento de Patrimônio Cultural e Diretoria de Educação tinha como diretriz valorizar e preservar o patrimônio cultural da cidade.13 Assim, por meio de atividades com pais, alunos, professores e técnicos do Departamento de Patrimônio Cultural (setor da Secretaria Municipal de Cultura) buscou-se levantar dados sobre os aspectos culturais das diferentes regiões que compunham a cidade. Ao final do projeto todo material coletado serviria para subsidiar atividades escolares, produção de material didático e para uma reelaboração do currículo básico escolar.

12 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Gincana da Memória: uma proposta integrada de participação da escola e da comunidade. Curitiba, 1988. 6 f. Fotocópia, não publicado. (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba / Centro de Documentação Casa da Memória) 13 . Somente a partir da Constituição de 1988 foram criadas as secretarias municipais.


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Com vistas à comemoração dos 300 anos da capital, a ser celebrada dali dois anos, foi lançado em 1991 o Projeto Linha Vermelha de Curitiba. Uma linha feita em petit pavet vermelho, traçada no centro da cidade ligando sessenta pontos turísticos e históricos inclusos no guias “Pegadas da Memória” distribuído aos professores e alunos das 3ª e 4ª séries das escolas municipais, que faziam esse percurso para conhecer a história de Curitiba. O Linhas do Conhecimento foi considerado um dos projetos de maior relevância da FCC. Elaborado em 1993 com parceria entre SME, foi largamente reconhecido e premiado. Nas palavras do Presidente da FCC da época, Geraldo Pougy: [...] Era preciso um projeto capaz de atuar em toda a cidade, de mexer com todas as crianças. Foi então que decidimos fazer uma parceria com os projetos PIÁS da Secretaria da Criança [...] Dessa forma nasceram, no começo de 1994, as seis Linhas do Conhecimento: a Linha das Artes Visuais, a Linha do Teatro e da Literatura, a Linha da Música e da Dança, a Linha da Memória, a Linha da Cidade e a Linha dos Jogos e da Matemática. No começo foram muitas as dúvidas sobre metodologia, pedagogia, conteúdos e abordagens. Hoje sabemos que o mais importante foi não ter parado o programa para discutir estas questões e deixá-las em aberto para que cada grupo [de estagiários] tivesse a liberdade de se adaptar às suas crianças.14

No mesmo contexto, em 1993, foi lançada a Linha da Memória que se desdobrava em três projetos relacionados ao patrimônio histórico: Pegadas da Memória (antiga Linha Vermelha), Museu Escola e Exposições Itinerantes. As Exposições Itinerantes nas escolas e outros locais dos bairros tinham por objetivo divulgar conhecimentos sobre a história e a cultura de nossa cidade, grupos étnicos e outros temas relacionados à educação e cultura. O Museu Escola representou um novo espaço pedagógico da Fundação Cultural. Criado pela Coordenadoria das Linhas propunha à comunidade

14 . POUGY, G. Depoimento. Boletim Casa Romário Martins, Curitiba, v.23, n.114, dez. 1996. p.195-196.


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escolar o acesso aos acervos e atividades próprias dos museus. Nele eram desenvolvidos conteúdos significativos para os alunos e as comunidades em geral pudessem conhecer melhor a sua história e sua cultura compreendendo assim o papel de todos os homens como agentes históricos e transformadores do seu tempo e de suas sociedades. O Museu Escola foi estruturado em um ônibus especialmente equipado que percorreu as escolas da RME e outros locais públicos. Nele constavam áreas expositivas, espaços para vitrines, apoio para painéis, fotografias ou gravuras, gavetões acondicionadores de peças e ouFormar multiplicadores tro espaço preparado para ser uma pequena sala de capazes de sensibilizar e aula. Existiam ainda TV e vídeo, projetor de slides, educar o olhar do visitante quadro, etc. A programação desse espaço sempre fazendo com que ele se relacione de forma inteligente estava articulada com as exposições. e criativa com as obras de A primeira exposição projetada para o museu es- arte, edificações, praças e monumentos da cidade. cola foi relativa aos 500 anos de descobrimento da América, em 1992, de julho a dezembro daquele ano, foram atendidos 20.470 alunos das escolas de 1ª a 8ª séries (ensino fundamental), 1287 alunos do EJA e 3.439 pessoas da comunidade, totalizando 25.296 visitantes15, evidenciando o sucesso do empreendimento. Mais recentemente, entre 2005 e 2012, a Diretoria de Patrimônio Cultural da FCC, criou um programa de Educação Patrimonial com o objetivo de capacitar professores da Rede Municipal e monitores para o atendimento ao público nas salas de exposições da instituição. No relatório de gestão da Diretoria consta a proposta de: “formar multiplicadores capazes de sensibilizar e educar o olhar do visitante fazendo com que ele se relacione de forma inteligente e criativa com as obras de arte, edificações, praças e monumentos da cidade”.16 O programa foi dividido em dois segmentos: capacitação de multiplicadores, que consistiam em ciclos de palestras dirigidas aos profes-

15 . PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Secretaria Municipal de Educação. Museu-Escola itinerante. Curitiba, 1992. 19 f. Fotocópia, documento não publicado (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória). 16 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Diretoria do Patrimônio Cultural. Relatório de gestão 2005 – 2008. Curitiba, 2008. f.31.


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sores da SME e monitores da FCC ; e o Programa Cidade como Patrimônio – visitas a logradouros públicos e roteiros históricos da cidade para sensibilizar o público em relação a importância desses locais fortalecendo assim sua identidade pessoal e cultural. Desse segmento surgiu o Projeto Trilhas da Cidade da Gente, publicação dividida em sete livretos compostos por roteiros que contemplavam elementos significativos da nossa história.

Projeto Trilhas da Cidade da Gente

Acervo: DPHAC/FCC

Outra atividade conjunta realizada nesse período foi o Museu na Escola, implantado em 2008. Essa parceria elaborou um kit com reproduções do acervo artístico da cidade contendo 100 pranchas com reproduções de obras, um caderno do professor, um mapa de localização dos espaços culturais onde estavam as obras originais e uma linha do tempo que permitia ao professor estabelecer relações entre as obras artísticas e o contexto histórico. Além do trabalho em sala de aula, os estudantes visitavam mostras organizadas no Memorial de Curitiba e no Museu Oscar Niemeyer.17

17 . FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório 2005 / 2012. Curitiba, 2012. p. 68-69.


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Desde 2013, essa parceria deixou de ser um acordo entre coordenações das secretarias para se tornar uma política pública do município. O EDUCULTURA proporciona, entre outras atividades, a formação continuada de professores, pedagogos, dirigentes escolares, estudantes, profissionais da Cultura, apoios administrativos e comunidade. O programa tem como diretriz a ampliação do repertório cultural dos servidores e comunidade estudantil por meio de distribuição de ingressos para espetáculos e exposições. Também oferta aos profissionais cursos nas mais variadas modalidades artísticas como gravura, cinema, violão, teatro de bonecos, serigrafia, dança circular, técnica vocal, quadrinhos, ilustrações, entre outras.18 Juntamente com essas atividades, o EDUCULTURA realiza duas Semanas Culturais anuais, uma em cada semestre, sendo uma com temática artísticocultural e outra com temática artístico - cultural literária. Nessas semanas ocorre uma concentração de espetáculos e atividades culturais voltadas aos servidores municipais e comunidade. Para a comunidade estudantil, a Semana Arte por Toda Parte prevê a distribuição de uma cota de ingressos dos espetáculos produzidos pela Fundação, ou por produtores parceiros para os estudantes e seus familiares. No site da Secretaria Municipal da Educação, onde o EDUCULTURA está hospedado19 constam as participações e premiações que essa política pública governamental ganhou ao longo desses poucos anos de fruição. A iniciativa já contemplou com mais de 240 mil ingressos os profissionais da Educação, da Cultura e comunidade estudantil. A viabilização das linguagens artísticoculturais por meio da distribuição de ingressos gerou o enriquecimento do ambiente escolar, propiciando ao professor e ao educando novas experiências culturais, reforçando sua identidade e sua cidadania.

18 . PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Porfólio: Educultura. Disponível em: <http://www.educacao. curitiba.pr.gov.br/conteudo/o-que-e-educultura/3869>. Acesso em: 13 jun. 2016. 19 . www.educacao.curitiba.pr.gov.br/conteudo/educultura/3865


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Ao descrever alguns dos projetos realizados entre a FCC e SME, buscamos demonstrar como a Cultura e a Educação sempre estiveram lado a lado na formação integral do indivíduo. Ao longo de mais de quarenta anos, desenvolvemos programas e projetos voltados ao cidadão, sua cultura e sua identidade. Sem esquecer, contudo, da democratização da cultura erudita que se deu por meio de espetáculos gratuitos em praças, parques e espaços culturais bem como a distribuição de ingressos e cursos nas mais variadas linguagens artísticas. Valorizar a cultura local é, sem dúvida, o primeiro passo para a valorização da cultura do outro. Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que esse processo é contínuo, cheio de descobertas, análises, interpretações e deduções. Nessa perspectiva, a Fundação Cultural de Curitiba cumpre seu papel de agente transformador da sociedade ao propiciar o incremento das atividades culturais para toda a comunidade escolar: professores, diretores, auxiliares, estudantes e comunidade. Por outro lado, o processo educacional, tanto na escola, em sua forma sistematizada, quanto no meio social, em suas relações interpessoais, visa à transmissão do conhecimento e a preservação de novos saberes. Tomando emprestadas as palavras do educador popular Tião Rocha, podemos afirmar que “a Cultura é matéria prima da Educação e do desenvolvimento humano”.20 Citando Maria Alice Setubal, presidente da Fundação Tide Setubal e diretora-presidente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec21:

20 . A CULTURA é matéria prima da educação e do desenvolvimento, avalia Tião Rocha. Disponível em: < http: //www.cpcd.org.br/portfolio/a-cultura-e-materia-prima-da-educacao-e-do-desenvolvimento-avaliatiao-rocha/>. Acesso em: 27 abr 2016. 21 . O Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC) é uma organização da sociedade civil, em atuação desde 1987. Sem fins lucrativos, o centro tem como objetivo o desenvolvimento de ações voltadas à melhoria da qualidade da educação pública e à participação no aprimoramento da política social. Disponível em: http://educacaointegral.org.br/ especialistas/cenpec/. Acesso em: 02 maio2016.


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É fundamental que a escola – um equipamento de enorme impacto na vida das crianças e dos jovens – construa uma ponte entre o conhecimento estabelecido, o patrimônio cultural da humanidade, e aquele conhecimento cultural que está ali presente, circulando na localidade. Espera-se que a escola consiga articular esse patrimônio com a cultura das pessoas que vivem no seu entorno e que a frequentam.22

Sendo assim, podemos afirmar que a parceria entre FCC/SME tornou-se uma estratégia de suma importância para o desenvolvimento das políticas públicas municipais na área educacional. Promover a escola como espaço de produção, aquisição e reconhecimento das mais diferentes culturas é, sem dúvida, o primeiro passo para a consciência e valoração dos diversos saberes. Assim como, a promoção do acesso às mais variadas manifestações culturais contribui significativamente para a formação plena do homem com ser social.

22 . EDUCAR PARA CRESCER. Diálogos entre cultura e educação na escola, 2009. Disponível em: <http:// www.usp.br/nce/?wcp=/novidades/informe,7,1181>. Acesso em: 03 maio 2016.


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REFERÊNCIAS A CULTURA é matéria prima da educação e do desenvolvimento, avalia Tião Rocha. Disponível em: < http://www.cpcd.org.br/portfolio/a-cultura-e-materia-prima-da-educacao-e-do-desenvolvimento-avalia-tiao-rocha/>. Acesso em: 27abr2016. BAHLS, A. SILVA, L. Curitiba e Música: nos acordes da Fundação Cultural. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2016. p. 118. EDUCAR PARA CRESCER. Diálogos entre cultura e educação na escola, 2009. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/?wcp=/novidades/informe,7,1181>. Acesso em: 03maio2016. FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Cultura e Educação: valorização da Cultura local na Educação. Curiitba, 1984. 9 f. Fotocópia, não Publicado. (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba /Centro de Documentação da Casa da Memória) FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Diretoria do Patrimônio Cultural. Relatório de gestão 2005 – 2008. Curitiba, 2008. 36 f. + anexos FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Diretoria do Patrimônio Cultural. Relatório de gestão 2005 – 2008. Curitiba, 2008. f.31. FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Gincana da Memória: uma proposta integrada de participação da escola e da comunidade. Curitiba, 1988. 6 f. Não publicado (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória) FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. I Concurso de Redação e Desenho Cidade de Curitiba. Curitiba, 1976. 8 f. Não publicado. (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/ Centro de Documentação da Casa da Memória) FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Nosso Jeito. Curitiba, 1985. 8 f. Fotocópia, não publicado. (Disponível na Fundação Cultural /Centro de Documentação Casa da Memória) FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório 2005 / 2012. Curitiba, 2012. 213 p. GOVERNO FEDERAL. BRASIL. Ministério da Cultura / Ministério da Educação. Progra-


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ma mais cultura nas escolas: manual de desenvolvimento das atividades. Disponível em: <www.cultura.gov.br/ documents/ 10883/1236956/manualdesenvolvimento_ maisculturanas escolas_2015.pdf/59cd480b-5d23-4ab8-91b7-a8196370da72>. Acesso em: 17maio2016. MINISTÉRIO DA CULTURA. BRASIL. Secretaria de Políticas Culturais. Mais cultura nas escolas. Disponível em: <http://pontosdecultura.org.br/wp-content/uploads/2013/04/ pp-mais-cult-18-04-20131.ppt.> Acesso em: 20maio2016. POUGY, G. Depoimento. Boletim Casa Romário Martins, Curitiba, v.23, n.114, dez. 1996. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Porfólio: Educultura. Disponível em: <http://www. educacao.curitiba.pr.gov.br/conteudo/o-que-e-educultura/3869>. Acesso em: 13jun2016. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Relatório anual 2001. Curitiba, 2001. 329 f. Disponível em: <http://www.imap.curitiba.pr.gov.br/?page_id=1284>. Acesso em: 05maio2016. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Secretaria Municipal de Educação. Museu-Escola itinerante. Curitiba, 1992. 19 f. Fotocópia, documento não publicado (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória) ROCHA, D. Acordo abre espaço para política de cultura do ensino básico. Disponível em: http:// portal. mec.gov.br/component/tags/tag/32163. Acesso em: 07jun2016. TEATRINHO da Torre amarela: histórico do Teatro de Bonecos. Curitiba, 1974. 5 f. Cópia carbonada. Fotocópia, documento não publicado (Disponível na Fundação Cultural de Curitiba/Centro de Documentação da Casa da Memória)


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4 de GIBITECA

CURITIBA,

Fulvio Frederico Pacheco dos Santos

A PRIMEIRA GIBITECA DO MUNDO

Coordenador da Gibiteca de Curitiba, da Fundação Cultural de Curitiba, professor da Secretaria Municipal da Educação, editor do conteúdo de arte da Editora Positivo, professor de Pedagogia das Faculdades Expoente e FAMEC , das Pós Graduações das Faculdades Opet e Bagozzi e autor de revistas em quadrinhos.


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A presentando a G b teca i i

F

undada e mantida pela Fundação Cultural de Curitiba, a Gibiteca de Curitiba foi criada para promover o contato direto com esse tipo de arte, uma vez que até então nem a cidade, nem o país e segundo o pesquisador da Universidade de São Paulo, Waldomiro Wergueiro, nem o planeta, possuíam uma Gibiteca ou outra instituição relacionada à quadrinhos (DEMENECK 2016). A Gibiteca é freqüentada por toda comunidade curitibana, mas reúne principalmente quadrinistas, ilustradores, caricaturistas, animadores, pesquisadores, professores, alunos, fãs e simpatizantes de quadrinhos, mangás, desenhos animados, seriados de TV, jogos de vídeo game e filmes. A Gibiteca Os profissionais do desenho é um centro cultural efervescente, dinâmico e de Curitiba de forma geral estão com grande fluxo de pessoas. O local dispõe de vinculados à Gibiteca e a tem como mais de 30 mil títulos de todos os gêneros de principal ponto de encontro. Muitos histórias em quadrinhos para consultas, e livros deles são frutos dos cursos por ela relacionados. Abrange ainda outras iniciativas, oferecidos, e hoje despontam no cenário nacional e internacional entre elas cursos diários, oficinas de criação, com desenhos e histórias em exposições, palestras, lançamentos e encontros quadrinhos publicados em jornais de RPG (Role Playing Game), envolvendo a proe revistas de todo o mundo. dução local, brasileira e internacional. Oferece um serviço de troca de revistas, disponibilizando as publicações repetidas do acervo e conta com um espaço intitulado “incubadora” que dá acesso aos desenhistas a um estúdio equipado para aprimoramento e produção. Grandes nomes da HQ mundial como David Loyd, Laerte, Angeli, Glauco, Luiz Gê, Primaggio, Malavoglia, Garfunkel, Salvador Sanz e Eduardo Risso, Kim Jung Gi, Jean-David Morvan entre muitos outros, estiveram na Gibiteca trocando informações com os profissionais do desenho de Curitiba, que de forma geral estão vinculados à Gibiteca e a tem como principal ponto de encontro. Muitos deles são frutos dos cursos por ela oferecidos e hoje despontam no cenário nacional e internacional com desenhos e histórias em quadrinhos publicados em jornais e revistas de todo o mundo.


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O surgimento da

i ba G b teca C u r t i i de i Segundo o idealizador da Gibiteca, Key Imaguire, não existiu um processo de criação da Gibiteca, mas circunstâncias que levaram à sua fundação. Tudo começou na Casa Romário Martins, onde os responsáveis pela publicação Casa de Tolerância se reuniam em espaço cedido na época pela coordenação do espaço. Foi assim que surgiu em 1976, a idéia de criar um ambiente estruturado para esse tipo de reunião, com pranchetas e uma biblioteca de apoio. Como não houve possibilidade de implantação à curto prazo, foram iniciados levantamentos básicos, como a tomada de depoimentos dos cartunistas e quadrinistas de Curitiba e a montagem de arquivo com material jornalístico. Também em virtude disso surgiu o Gibitiba, publicação que parcialmente supriu a carência de atuação dos interessados em cartuns e quadrinhos. A aplicação da ideia só aconteceu quando o então prefeito Jaime Lerner ficou sabendo da iniciativa, através do jornalista Aramis Milarch, que conhecia o projeto. Então em 1982, houve uma reunião na Prefeitura com o prefeito, Aramis Milarch, Domingos Bongestabs e Key Imaguire Junior, para deslanchar a idéia. O primeiro projeto de Imaguire foi feito para um local bem modesto, onde hoje está o monumento a Belarmino e Gabriela, mas não foi aceito. Segundo Imaguire, em 1979, ele e o também arquiteto Domingos Bongestabs confeccionaram um segundo projeto inserindo a Gibiteca no espaço onde hoje é a Rua 24 Horas. Como a solicitação do projeto não impunha qualquer restrição, e a cidade passava por uma fase de grandes obras, cogitou-se que a criação da Gibiteca fosse inserida dentre desse conjunto de obras, o que resultou na apresentação de um projeto maior. No entanto, este também acabou não se viabilizando, em função de seu alto custo e de uma crise periódica. “...não sei devido a que, petróleo, sei lá, mas era evidente que um investimento desse porte numa Gibiteca pegaria mal, no âmbito político” (IMAGUIRE, 2006). “Fizemos algo excessivamente grandioso para tempos de crise”.


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Fonte: GIBITIBA, 1982, capa.

Gibitiba

Mais tarde, Imaguire foi chamado, quando houve a efetivação de um terceiro projeto para a Galeria Schaffer. Foi uma oferta decepcionante, que teve que ser aceita, pois antes de tudo a Gibiteca poderia ser um grande e inédito incentivo à produção local: “pra quem sonhava com aquele prédio monumental, uma salinha na Galeria Schaffer não era nada... Mas poderia ser o embrião para a instituição evoluir, certo? Então concordei em assessorar a instalação.” (IMAGUIRE, 2006). Enfim, a Gibiteca de Curitiba foi inaugurada em 15 de outubro de 1982, numa das lojas da Galeria Schaffer, restauração de um ano antes. Imaguire conta que inicialmente a Gibiteca foi dirigida como uma biblioteca infantil. Mas isso logo mudou, graças a coordenação de Márcia Squiba, que se estendeu até 2001. A Gibiteca de Curitiba era um local de leitura, com acervo básico de boas publicações, montado inicialmente com doações de colecionadores e de editoras. Depois, além de montar seu próprio acervo, passou a ajudar coleções de seus freqüentadores, através de trocas de gibis repetidos que eram doados.


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A Gibiteca na

f er a l e ria Scha G f

A Gibiteca de Curitiba na Galeria Schaffer passou a promover diversas atividades, como exposições, concursos de HQs, cartuns e caricaturas, encontros com autores, palestras, feiras de livros e revistas, além de incentivo à criação (com cursos, workshops e encontros com profissionais da área). A primeira exposição da Gibiteca aconteceu em dezembro, na própria Galeria Schaffer. Era intitulada “GRAFIPAR - 4 Anos de Quadrinhos” e fazia um panorama da produção

daquela que foi a maior editora de quadrinhos de Curitiba, responsável pelo segundo “boom” dos quadrinhos nacionais. Como se verá a seguir, foi por intermédio da Gibiteca de Curitiba que a partir desta exposição da GRAFIPAR, se iniciou uma série de exposições e eventos que muito interferiram na história local dos quadrinhos.

Gibiteca na Galeria Schaffer

Fonte: GIBITECA de Curitiba.


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A Gibiteca no

ão o lar do Ba S r

Em abril de 1989, a Gibiteca de Curitiba foi deslocada para o Solar do Barão, na Casa da Baronesa, tornando-se em definitivo um espaço multicultural com ocupação de 6 salas. Para marcar a mudança da Gibiteca para o Solar do Barão, realizou-se o Festival do Gibi, do qual participaram como organizadores, Key Imaguire Jr, Cláudio Seto e Guinski. O ano de 1992 foi bastante importante história da Gibiteca, e ficou marcado pela Mostra da I Bienal Internacional de Quadrinhos.

Fonte: GIBITECA de Curitiba, 1989.

Gibiteca na Casa da Baronesa

Em março de 1998, em virtude da reforma do Solar do Barão, a Gibiteca de Curitiba mudou-se provisoriamente para a sede da Fundação Cultural de Curitiba, no espaço do Teatro do Piá, permanecendo aberta somente para leitura, pesquisa, troca de gibis e jogos de RPG. As demais atividades, como as reuniões do foto clube e os cursos de história em quadrinhos, passaram a acontecer na Casa Vermelha. Após a reforma, a Gibiteca foi instalada na garagem do Solar, que em virtude de ser um espaço pequeno, privou-a de uma sala de exposições própria, utilizando outros espaços da Fundação Cultural para suas exposições, fato que diminuiu sua freqüência. Segundo a coordenadora Márcia Squiba, “... em tempos de crise nós temos que ser criativos. Quando a Gibiteca mudou para a garagem do Solar, eu ‘emprestava’ salas de outros setores, e fazia exposições e eventos em espaços alternativos como bares, shoppings, escolas, terminais de ônibus, etc.” Desta forma, a Gibiteca voltou a oferecer seus cursos de histórias em quadrinhos, reuniões da


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Magipar (Associação de Mágicos do Paraná), foto clube e eventos de RPG, ao público local. O espaço ainda que não apropriado para sua finalidade, deu vida a vários eventos, entre eles a Gibicon, hoje Bienal de Quadrinhos de Curitiba, que surgiu no contexto do aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. A visibilidade dada por este evento, encorajou muitos artistas a se desenvolver na área de quadrinhos. Gibiteca na Garagem do Solar

Fonte: GIBITECA de Curitiba, 2012.


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A Gibiteca na o

C a sa da Ba r nesa

Fonte: GIBITECA de Curitiba, 2016.

A Gibiteca de Curitiba, em maio de 2016, voltou para a casa da Baronesa. A mudança aconteceu à pedido da classe dos desenhistas, quadrinistas, ilustradores, cartunistas e outros profissionais afinados com a área, através do plano municipal de ilustração e das reivindicações resultantes das conferências de cultura, que pediam uma nova sede para a Gibiteca. Além do pedido de retorno a sede anterior, o setorial (segmento representativo da área, dentro das conferências) pediu a profissionalização e mobilização da classe, editais próprios, espaços para exposições, no intuito de assegurar o protagonismo político-cultural da categoria. Essas reivindicações aconteceram nas conferências, orientadas para a construção do plano municipal de ilustração e

Gibiteca na Casa da Baronesa


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na reunião realizada na Gibiteca de Curitiba, em março de 2015, que teve a participação de 50 ilustradores e do presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli. O funcionário municipal Fulvio Pacheco, assume a coordenação da Gibiteca e da linguagem de Ilustração na FCC, em fevereiro de 2016, também como consequência do conjunto de reivindicações feito pela categoria, a partir de: articulação com o poder público e a sociedade através do sistema de conferências, do encontro com Marcos Cordiolli, e de grandes campanhas nas redes sociais. A classe justificou que a presença de Fulvio na coordenação seria essencial, considerando sua atividade como quadrinista, ilustrador e representante da categoria nos setoriais e conferências. Facilitava-se assim a defesa dos interesses da classe como a mudança da Gibiteca, articulação dos eventos e exposições do espaço. A Gibiteca de Curitiba, como já mencionado, já esteve sediada na “Casa da Baronesa” entre 1989 e 1998

e a placa de bronze com esta identificação, ainda está lá. Os desenhistas que freqüentaram a Gibiteca nesta época, sempre lembraram deste espaço com muita nostalgia, confirmando o pensamento de SQUIBA (2006) de que era um lugar muito mais adequado para a Gibiteca. Hoje, além do acervo, a Gibiteca conta com um espaço amplo para os cursos, muito mais iluminado, com a luz natural das janelas, além da iluminação elétrica. Diariamente são ofertados cursos, semanalmente exposições são abertas e ao longo do ano estão previstos lançamentos de quadrinhos e palestras. Na Gibiteca da Casa da Baronesa, foi possível ter maior controle do fluxo de frequentadores e maior segurança em função do incremento de um guarda volumes na entrada, para diminuir a quantidade de furtos do acervo, uma preocupação.


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Após o levantamento apresentado, pôde-se constatar a consistente importância que tem o espaço para a cidade de Curitiba e para o Brasil. Segundo pesquisadores, a Gibiteca de Curitiba é a primeira do Mundo e desde a sua inauguração sempre esteve intimamente ligada à produção local. Nunca se resumiu a uma simples biblioteca, nem quando ainda era um projeto não idealizado, nas mãos do patrono Key Imaguire, nem quando encontrava-se limitada a uma sala da Galeria Schaffer, e princiA importância deste espaço palmente durante seu florescimento no Centro para a comunidade local pode Cultural Solar do Barão / Casa da Baronesa, ser vista claramente através dos evento e exposições que onde permanece até hoje. A Gibiteca sempre promove, conseguindo mostrar foi um dinâmico centro cultural, responsável por ao seu público o que é produzido cursos, exposições, lançamentos e eventos dos na nossa cidade na área de mais variados tipos, todos iniciativas inestimáveis quadrinhos ilustração, cartoon, voltadas para o incentivo à formação de producaricatura, cosplay, gamer, RPG e ção na área gráfica local, considerada uma das demais linguagem relacionadas. mais importantes do Brasil. A importância deste espaço para a comunidade local pode ser sentida claramente, através dos eventos e exposições que promove, conseguindo mostrar ao seu público o que é produzido na nossa cidade na área de quadrinhos, ilustração, cartoon, caricatura, cosplay, gamer, RPG e demais linguagem relacionadas.

A Gibiteca sempre foi um dinâmico centro cultural, responsável por cursos, exposições, lançamentos e eventos dos mais variados tipos, todos iniciativas inestimáveis voltadas para o incentivo à formação de produção na área gráfica local, considerada uma das mais importantes do Brasil.


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REFERÊNCIAS AGUIAR JOSÉ. Curitiba: HQ um pouco abaixo do eixo. Disponível em: <www.omelete. com.br> Acesso em: 02 mar. 2004. DEMENECK, Ben-Hur. A primeira Gibiteca pública do Mundo in Cândido, Jornal da Biblioteca Pública do Paraná. Curitiba: Secretaria da Cultura, 2016. EDER, ANTÔNIO. Gazeta do Povo. Curitiba, 26 mar. 1999. FERNANDEZ, R. APIC, Guia de Quadrinhos do Paraná. Curitiba: Secretaria da Cultura, 1997. GIBITECA DE CURITIBA. Relatório de atividades de 1982 até 2006. Curitiba, 2006 GIBITIBA. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1982. IMAGUIRE, KEY. Entrevista concedida a Fulvio Pacheco. Curitiba, novembro 2006 IMAGUIRE, KEY. Josnath Valêncio & Rones, Nicolau, nº 15, 1988. KIAI. Faixa preta em quadrinhos. Curitiba: Grafipar, nº1, 1979. MENDONÇA, DANTON. Tradição dos quadrinhos perpetua-se em Curitiba. Curitiba: Gazeta do Povo, 17 mar.1998. MOYA, ALVARO DE. Literatura em quadrinhos no Brasil. Rio de Janeiro: acervo da Biblioteca Nacional, 2002. PACHECO, FULVIO. “A História da Gibiteca e dos Quadrinhos em Curitiba” 2006. Curitiba: Monografia para a pós gradução em História da Arte da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), 2006. SQUIBA, MÁRCIA. Entrevista concedida a Fulvio Pacheco. Curitiba, novembro 2006


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5 CRONISTAS e a CIDADE Os

Elizabete Berberi

ONTEM E H OJ E

Formada em História pela UFPR, tem mestrado História também pela UFPR e é formada em Letras Língua e Literatura Italiana pela mesma instituição.


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N

o final do século XIX e início do XX Curitiba era uma pequena cidade que, dadas as modificações em seu status político, começava a apresentar novas características. O movimento cultural do período era bastante intenso, considerando as proporções da capital, com muitos jornais e revistas circulando e dando uma nova dimensão para aquela pequena urbe que pretendia se inserir no cenário nacional e assumir ares cosmopolitas. Os intelectuais, literatos, jornalistas entre outros, apresentaram a cidade das mais diversas formas, dando ênfase às questões prementes naquele momento, colocando o seu foco naquilo que parecia Os intelectuais, literatos, j o r n a l i s t a s e n t r e o u t r o s , ser mais imediato e, sobretudo, atual. A produção apresentaram a cidade das mais de crônicas para revistas de variedades foi muito diversas formas, dando ênfase grande e nelas aparece a visão dos cronistas sobre às questões prementes naquele Curitiba, em seus mais variados aspectos. momento, colocando o seu foco naquilo que parecia ser mais imediato e, sobretudo, atual.

No início do século XX tivemos uma grande produção de periódicos na capital, entre esses podemos citar O Olho da Rua, A Bomba e A Rolha, que eram revistas de cunho satírico e humorístico, nas quais havia sempre uma coluna falando sobre a vida da cidade. Também várias críticas eram feitas aos políticos, aos costumes, observações das mais variadas sobre aquele momento vivido e sobre o cotidiano da cidade. Em algumas colunas, não raro, encontramos comentários sobre os acontecimentos mais recentes, sobre os tipos que povoavam a cidade, fazendo ironia com muitos deles, principalmente políticos. Também era cobrado do poder público que tomasse providências para resolver muitos problemas que assolavam Curitiba. Como exemplo, dentre os comentários sobre os entretenimentos do período, é possível perceber uma crítica aos transportes públicos, que ainda eram feitos com os bondes à tração animal, motivo de críticas acirradas, como aparece na coluna Diversões, do periódico O Olho da Rua, de 15 de abril de 1908:


Fonte: Divulgação

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Periódico O Olho da Rua (1906-1911)


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Fonte: Divulgação

Periódico O Olho da Rua (1906-1911)


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Este é apenas um exemplo do que podemos encontrar nessas crônicas. Outros temas que aparecem bastante são a iluminação pública, o calçamento, a arborização, a educação e enfim, vários temas que dizem respeito à modernidade, uma vez que naquele momento essa era uma questão importante. O crescimento e afirmação da cidade como centro de cultura e de progresso, ao exemplo das outras capitais do país, exigia que alguns elementos que atestavam o progresso fossem imediatamente implantados. Soma-se a isso, uma percepção de mundo bastante dinâmica que é refletida também na literatura europeia, mas não somente, e que tem como personagem a cidade, Essas crônicas oferecem ao seus habitantes, suas promessas e seus temores. leitor de hoje, além de uma leitura Vale lembrar, que nossos intelectuais estavam deliciosa, a possibilidade de em harmonia com as notícias e a produção dos identificar vários elementos postos grandes centros do país e de fora, ainda que em jogo naquele momento. a uma distância, as notícias fluíam com maior velocidade naquele momento, muitos também faziam parte de sua formação no Rio de Janeiro, ou até mesmo em Paris. Assim, a expectativa era de que a cidade acompanhasse o “desenvolvimento” do mundo, dos grandes centros como Paris, Londres, entre outras cidades. Essas crônicas oferecem ao leitor de hoje, além de uma leitura deliciosa, a possibilidade de identificar vários elementos postos em jogo naquele momento. Para pesquisas sobre Curitiba revela-se um material extremamente rico. Também podem ser utilizadas por professores, como uma proposta de atividade para alunos das séries finais do ensino fundamental ou do ensino médio. Essa atividade fará com que eles tomem contato com as fontes (as crônicas, as revistas), com o período em questão e com algumas descrições feitas pelos cronistas, de determinados lugares da cidade, principalmente do que hoje se entende por Setor e Centro Histórico. As crônicas selecionadas podem ser sobre pontos como a Ruas XV, o Cemitério Municipal e o Passeio Público.


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É possível utilizar algumas crônicas para serem lidas pelos alunos e assim tratar a questão das transformações da cidade através do tempo, fazendo até um percurso com os alunos por alguns locais que são citados, dando a dimensão das diferentes visões no tempo e também das transformações que se sucederam. Podem ser utilizadas como fontes de duas a quatro crônicas, escolhidas entre quatro revistas do período entre 1906 e 1912, aproximadamente. Três dessas revistas estão disponíveis na internet, no site www.chronicadarua.com, que foi o resultado de um projeto aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba. A quarta revista encontra-se microfilmada na Biblioteca Pública do Paraná.

REFERÊNCIAS Periódicos de Curitiba do começo do século XX que foram utilizados: O Olho da Rua 1906-1911 A Rolha 1908 O Paraná 1910-1911 A Bomba 1913

BERBERI, Elizabete & RODRIGUES, Marília Mezzomo. A “urbs” viciosa: a crônica está além da notícia. In: Crônicas de revistas do início do século em Curitiba, 1907-1914. MONUMENTA. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998. BERBERI, Elizabete. Impressões: a modernidade através das crônicas no início do século em Curitiba. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998. CANDIDO, Antonio [et.al.]. A Crônica; o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. SÁ, Jorge. A crônica. São Paulo: Duas Cidades, 1977. SUTIL, Marcelo Saldanha. O espelho e a miragem: moradia e modernidade na Curitiba do começo século 20. Curitiba: Travessa dos Editores, 2009.


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6 Os

DIREITOS

CULTURAIS

Carla Anete Berwig

como fundamento para a gestão cultural

Graduada em Letras (UTP), especializações em Literatura Infantojuvenil (PUCPR), Literatura Brasileira (UFPR), Ensino de Língua Estrangeira (UFPR), Gestão e Políticas Culturais (Universidade de Girona – Espanha, e Itaú Cultural), mestrado e doutorado em Letras, área de concentração: Estudos Linguísticos (UFPR).


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O

s direitos culturais são um grande avanço e um desdobramento, um alargamento dos direitos humanos; estão fundamentados em princípios e normas da Lei Internacional de Direitos Humanos (1948) e no Pacto dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (1966). Os direitos culturais são fundamentais para o reconhecimento da dignidade humana e o respeito a ela, pois protegem múltiplas expressões de visões de mundo, individuais e coletivas, e abarcam liberdades importantes ligadas à identidade. Para Farida Shaheed, (2011, pág. 17 e 18) eles “permitem uma compreensão mais rica do princípio da universalidade dos direitos humanos levando em conta a diversidade cultural. Além disso, os direitos culturais constituem ferramentas essenciais para o desenvolvimento, a paz e a erradicação da pobreza e para a geração de coesão social, bem como de respeito e compreensão mútuos entre indivíduos e grupos em toda a sua diversidade.” Os direitos culturais são, de fato, centrais para a vida contemporânea; fundamentais e estruturantes para qualquer política e gestão cultural. São eles que vão fornecer a base e a justificativa para as políticas, projetos e ações empreendidos pelas administrações locais e promover a valorização da diversidade cultural. No entanto, segundo Teixeira Coelho (2011, pág. 8 e 9), eles despertam questões extremamente complexas, para as quais não há respostas nem soluções fáceis. Um desses pontos se refere à subjetividade desses direitos, que são pessoais, estão diretamente ligaOs direitos culturais são, de fato, dos aos desejos e necessidades dos indi- centrais para a vida contemporânea; víduos, embora possam ser exercidos de fundamentais e estruvturantes para forma coletiva. Outro aspecto importante qualquer política e gestão cultural. a ressaltar é a assimetria dos direitos culturais, pois os direitos estão bem definidos, mas os deveres correspondentes não. Embora a maioria dos documentos produzidos sobre direitos culturais não mencione as obrigações, os direitos culturais geram uma série de deveres implícitos, para as administrações, para os setores artísticos e para os cidadãos. Porém a regulação dos


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direitos culturais e dos deveres raramente se dá de forma direta, por meio de leis ordinárias. Ela acontece por meio da adesão dos cidadãos a valores acordados e consensuais e de atividades voluntárias, que geram atitudes positivas e ajudam a criar o equilíbrio entre as estruturas criativas e manter a sustentabilidade cultural dos sistemas urbanos. A carta de direitos e deveres culturais elaborada na cidade de Barcelona (2002), embora não tenha sido publicada nem tampouco colocada em prática, constituiu-se em importante esforço das A regulação dos direitos culturais autoridades municipais, em conjunto com os e dos deveres raramente se dá grupos artísticos e sociedade civil, em promode forma direta, por meio de leis ordinárias. Ela acontece por meio ver uma reflexão sobre novas fundamentações da adesão dos cidadãos a valores para as políticas culturais. Nela estão descritos acordados e consensuais e de os direitos e deveres para os três segmentos da atividades voluntárias. sociedade referidos acima. No que se refere às administrações municipais, cabe a elas o dever da tutela, da arbitragem, da garantia e da provisão. Portanto, as administrações municipais têm obrigações como garantir a participação dos cidadãos na vida cultural da cidade, garantir que o acesso aos recursos públicos da cultura seja não discriminatório, transparente e participativo, dar suporte às criações artísticas de profissionais e entidades voluntárias, pôr à disposição os equipamentos da cidade para que possam satisfazer as necessidades expressivas e criativas dos cidadãos, bem como meios de comunicação cultural, promover a cultura da cidade por todo o mundo, dar apoio ao ensino de educação artística, comunicação cultural e patrimônio cultural, adoção de medidas fiscais que assegurem a sustentabilidade de projetos e programas e fazer a arbitragem em caso de conflitos culturais. Alfons Martinell (2011, pág. 71) destaca também uma importante tarefa a ser empreendida pelos gestores que é a de sair da teorização dos direitos culturais para uma melhor descrição e mais precisa, traduzindo os conceitos em princípios e metas que possam ser aplicados de forma prática à elaboração de políticas de cultura e à gestão cultural. Sobre isso, ele afirma:


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“No fundo, existe uma reflexão profunda sobre se os direitos culturais podem ser elementos importantes para a gestão de políticas culturais ou simplesmente, uma vez mais, um componente retórico ao qual podemos recorrer com muita facilidade e que não comporte compromissos mais amplos para as instituições que têm o poder efetivo. A não formalização dos direitos culturais, apesar de suas dificuldades e perigos, despoja os cidadãos da capacidade de exigir um direito fundamental. Sem entrar nos aspectos normativos e sua concretização no direito, é importante estabelecer sistemas de garantias e processos de regulação (ou autorregulação) dos problemas culturais entre os cidadãos.”

Nessa mesma direção, Meyer-Bisch (2011, pág. 32) aponta uma necessidade de clarificação dos direitos culturais e dos deveres dos cidadãos. Em relação ao direito de participar da vida cultural, considerado o mais importante dos direitos culturais por Teixeira Coelho (2011, pág. 8), seguido pelo direito de usufruir das conquistas tecnológicas e científicas e do direito moral e patrimonial da propriedade intelectual, sabemos que a cidade é um lugar privilegiado para que esse direito seja atendido de forma plena. Ela propicia o encontro e a convivência, é onde o cotidiano acontece, onde são analisados os problemas e desenvolvidas as soluções, local onde convivem criatividade e expressão das mais variadas expressões artísticas, espaço em que a participação cultural se efetiva, permitindo aos cidadãos e aos grupos sociais que organizem sua vida cultural dentro de seus recursos. Por isso mesmo, deve ser uma das metas mais importantes do gestor cultural garantir a participação do cidadão na vida cultural, removendo os entraves e empecilhos para que essa participação se dê de forma efetiva. Nesse sentido, é de importância estratégica que os gestores envolvam o maior número possível de atores culturais na elaboração de políticas culturais e programas, promovendo o exercício da democracia e da participação po-


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é de importância estratégica que os gestores envolvam o maior número possível de atores culturais na elaboração de políticas culturais e programas.

pular nas decisões públicas, o diálogo com os diversos setores da sociedade civil, bem como a avaliação das políticas públicas implementadas. Deve-se considerar a diversidade cultural como um patrimônio, preservando-a e estimulando a expressão de variadas linguagens, criando um ambiente propício para que elas floresçam, colaborando assim para a construção de um mundo mais democrático, com indivíduos capazes de conviver com o diferente.

REFERÊNCIAS CALABRE, Lia. Políticas culturais: balanço e perspectivas. Disponível em http://www. hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Calabre-politicas_culturais_no_brasil_balanco_e_ perspectivas.pdf Acesso em 6 de junho de 2015. Trabalho apresentado no III Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura - Enecult, realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, Salvador, Faculdade de Comunicação/UFBa. MARTINELL SEMPERE, Alfons. A cidade como espaço privilegiado para os direitos culturais. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC. São Paulo: Itaú Cultural, n. 11, p. 61-72, jan./abr. 2011. MARTINELL SEMPERE, Alfons. Derechos e deberes culturales en la ciudad. 12 fls. Apresentação em Curso de Especialização em Gestão e Políticas Culturais da Universidade de Girona. Itaú Cultural, São Paulo, 2015. Power Point.


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MEYER-BISCH, Patrice. A centralidade dos direitos culturais, pontos de contato entre diversidade e direitos humanos. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC. São Paulo: Itaú Cultural, n. 11, p. 27-42, jan./abr. 2011. MEYER-BISCH, Patrice, (Org.). Afirmar os direitos culturais: comentário à declaração de Friburgo. Tradução: Ana Goldberg. São Paulo: Iluminuras, 2014. Os Direitos Culturais: Declaração de Friburgo. Disponível em www.unifr.ch/iiedh/assets/ files/Declarations/port-declaration2.pdf. Acesso em: 15 de junho de 2015. SHAHEED, Farida. O novo papel dos direitos culturais. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC. São Paulo: Itaú Cultural, n. 11, p. 15-26, jan./abr. 2011. Entrevista concedida a José Teixeira Coelho. TEIXEIRA COELHO, José. Direito cultural no século XXI: expectativa e complexidade. Revista Observatório Itaú Cultural / OIC. São Paulo: Itaú Cultural, n. 11, p. 6-14, jan./abr. 2011.


7 entre o

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CULTURA:

WANDA CAMARGO

GLOBAL e o REGIONAL

Educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.


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m paradoxo de nosso tempo é vivermos a homogeneização da cultura, chamada jocosamente de McDonaldização Cultural, e com igual intensidade os valores locais. A oferta imediata e tantalizante de tudo que parece estar sendo pensado ou criado expande a consciência que temos do mundo, torna-o grande e perigoso demais, e uma tendência defensiva é o insulamento, a busca de realidades que se possa controlar, determinando certa nostalgia de tempos e costumes aparentemente mais simples e salutares. Se isto é valioso na preservação cultural, é fator também de fundamentalismos, como provam as diversas intolerâncias religiosas e ideológicas, os racismos agressivos, as posturas contrárias ao direito de asilo a refugiados, e a aprovação recente do Brexit. O crescente processo de compartilhamento cultural exige maior capacitação de todos, pois a complexidade requer especialização, aumentando as exigências de formação para o mundo do trabalho e melhoria nos processos de relacionamento interpessoal. No entanto, à melhora que este acréscimo cultural produz na riqueza dos países contrapõe-se a possibilidade de aumento no processo de exclusão social. A tecnologia impacta carreiras, que duram normalmente 30 ou 35 anos, com várias revoluções técnicas, exigindo atualização constante em processo de educação continuada, formal e não formal, e também demanda necessidade de atenção permanente às mudanças culturais. Cultura não implica apenas crescimento exponencial da produção científica, mas também preservação do patrimônio, convivência, formas de lazer, diversidades sociais crescentes e mudanças aceleradas. Já em publicações dos anos 1970, Alvin Tofler afirmava que tecnologia e sociedade estavam em íntima conexão.

Quanto maior é a rapidez de transformação de uma sociedade, mais temporárias são as necessidades individuais. Essas flutuações tornam ainda mais acelerado o senso de turbilhão da sociedade.

Alvin Tofler


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Impactos sociais constituem assim o aspecto mais relevante das chamadas sociedades informacionais, dado que economias heterogêneas acarretam distribuições culturais e educativas irregulares, extremamente dependentes da geografia do poder. Por isso, as exportações culturais do Ocidente, tecnologicamente mais desenvolvido em função de seu sistema educacional, tradição cultural e organização socioeconômica, muitas vezes acabam por obscurecer as sociedades ditas emergentes em vários aspectos, desde velocidade de desenvolvimento até ao próprio modo de vida, incluindo aí moda, tipo de alimentação, formas de entretenimento e outras. Com frequência alarmante a concepção de cultura adquire um aspecto elitista, especializado, como se uma pessoa culta fosse aquela que possuísse conhecimentos ou habilidades que não estivessem ao alcance dos demais, que constituíssem privilégios. Tal ideia fundamenta-se num princípio equivocado de separação entre cultura erudita e popular. Num sentido lato, cultura é o “conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes que distinguem um grupo social” (Houaiss). Ocorre que há interesses diversos dentro de uma mesma sociedade, formando subgrupos mais voltados a determinadas linguagens artísticas, literárias, e de todas as representações materiais e imateriais da cultura, com inúmeros níveis de especialização, mas jamais devendo ser hierarquizados por especialidade. Diferente de inteligência, associada muitas vezes a características congênitas, cultura é, em síntese, o empenho em compreender o mundo em que se vive. Nas escolas e fora delas, quem se interessar genuinamente pelos jovens pode observar a sua riquíssima vida cultural, geralmente não convencional e não percebida até pelos próprios pais e demais adultos. Escrevem boa e má poesia, compõe rock e pagode, tocam guitarra ou piano, batucam em rodas de capoeira, mantém blogs interessantes, mantém blogs chatos, discutem filosofia, pintam, bordam, gostam de política, detestam política, leem bons livros, leem péssimos livros, grafitam ou picham, fazem teatro, curtem quadrinhos, querem fazer cinema, alguns cantam como anjos, outros desafinam como demônios, dançam. Produzem cultura, cada um a seu modo, e o que


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tem em comum é que são curiosos, atentos, ligados. Muitos são ruidosos, pois quando o coração e a mente estão fervendo costumam fazer barulho; outros são muito quietos, o pensamento exige silêncio. Dificilmente serão indiferentes, mornos, desinteressantes. Alguns superam grandes desafios, precisam encontrar tempo e disposição em meio a dificuldades para desenvolver talentos, satisfazer curiosidades. Outros têm a sorte de possuir pessoas próximas que leem, conversam, praticam alguma forma de arte, dão o melhor dos exemplos, prodigalizam atenção. Notícias do dia a dia quando discutidas entre pais e filhos levam a uma prática de discernimento do fato relevante, da interveniência de atos e discursos públicos na vida privada dos cidadãos, da possibilidade de distinção entre o essencial e o supérfluo. O exercício da capacidade crítica, a transmissão dos valores familiares, a compreensão do meio, é construção coletiva durante o simples bate papo, e sem grande esforço os pais estão na verdade propiciando o desenvolvimento das funções cognitivas e a ampliação cultural de seus filhos, auxiliando também os professores, os quais, embora responsáveis por conteúdos formais, geralmente não tem grande alcance na formação holística de seus alunos. A solução de conflitos, salvo raras exceções, é uma questão de mudar a forma como as pessoas fazem as coisas, ou como encaram o mundo e os relacionamentos, muitos dos graves problemas sociais dependem de mudanças nas atitudes ou concepções dos envolvidos. Adquirir mais conhecimento certamente demanda esforço pessoal, o que é compensado pela melhora da capacidade de convívio e autoconhecimento, pois nos torna pessoas mais focadas, sensatas e solidárias. É urgente que as culturas regionais valorizem diferenças para prosperarem, ou até mesmo apenas para converterem-se em produtos culturais para o mercado mundial, como ocorre com tendências gastronômicas. Este sincretismo, tanto nos aspectos ideológicos, filosóficos, religiosos ou profanos, pode manter características do velho sem trocá-lo pelo novo, criando


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alternativas híbridas, que abarquem ambos, o que já vem ocorrendo em todo o mundo em funções de migrações, tanto as decorrentes de guerras quanto as provocadas pela miséria, ou mesmo pela abertura de novos mercados. Tudo isso transforma a educação, e o modo de vida das pessoas, por mudar a cultura cotidiana, trazendo profissões impensáveis poucos anos atrás: “analista de dados”, “expert em tendências”, “gerente de relacionamentos”..., assim como o declínio de muitas atividades relacionadas à indústria e o crescimento de outras ocupações com A centralidade da cultura digital atrela novos estilos de riscos ou recompensas, nossos hábitos aos do restante do mundo, inovações no lazer, as perspectivas do fim enquanto tentamos a sobrevivência de nossas características pessoais e regionais, dos empregos vitalícios – que podem sigproduzindo melancolia por outra vida nificar desemprego em massa, para o qual apenas imaginada, por uma época que nem sempre estaremos preparados – as parece melhor, e que provavelmente não mudanças familiares em função de outros passa de nostalgia de algo que jamais arranjos estruturais, o envelhecimento proaconteceu como lembramos. gressivo causando impactos nos sistemas de saúde, a redução do sentimento religioso tradicional, até sua substituição pelo consumismo hedonista, e muitos outros deslocamentos provocados pelas mudanças culturais. Ao mesmo tempo, problemas tradicionais persistem, como a questão da violência contra as mulheres e homossexuais - em que pese o maior número de trabalhos acadêmicos e maior divulgação midiática sobre a questão de gênero -, a comunidade negra ter o dobro da taxa de desemprego que a branca, a oposição entre cidades e campo nos modos de consumo e produção de bens, mesmo que estes dependam um pouco das múltiplas localidades geográficas, inclusive nas várias metrópoles com suas diferenças brutais de tamanho e populações. Como nunca antes, a raça humana está exposta a mudar seu cotidiano por exposição aos veículos de mídia, dos quais recebemos milhares de mensagens, convites, ofertas, que criam novas necessidades tanto ao dia-a-dia quanto ao sistema educacional; e começamos a nos sentir vítimas, e não controladores destas mudanças.


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A centralidade da cultura digital atrela nossos hábitos aos do restante do mundo, enquanto tentamos a sobrevivência de nossas características pessoais e regionais, produzindo melancolia por outra vida apenas imaginada, pelo modo de vida dos avós, por uma época que parece melhor, e que provavelmente não passa de projeção de um desejo, nostalgia possivelmente de algo que jamais aconteceu. Esperamos em breve assumir nossa ciberidentidade, pois interações reais são difíceis, complicadas, e requerem um tempo que já não estamos dispostos a investir, num planeta onde proliferam as câmeras de vigilância, os sites que investigam nossos hábitos de consumo – podendo até nos sugerir leituras! – e conhecem todas as nossas preferências, do vestuário à alimentação. Fazemos valer o escrito de Karl Marx, cujo pensamento, entre erros e acertos, permanece atual, especificamente sobre a modernidade:

...é o permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos ... Todas as relações fixas e congeladas, com seu cortejo de vetustas representações e concepções, são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que é sólido se desmancha no ar... Karl Marx

Enquanto nas comunidades tradicionais o passado tem um valor intrínseco, é cultuado como repositório das experiências de várias gerações, como a própria transmissão dos usos e costumes, mas também para histórias, verdadeiras ou lendárias, da memória coletiva, hoje valorizamos o novo, o espontâneo, lidando de forma original com o tempo e o espaço. Na escola, mudamos a forma de ensinar e aprender? Nem sempre. É forte a discussão a respeito da possível sobrevida das instituições escolares,


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instaladas ainda hoje quase que nos mesmos moldes do começo do século passado, já que não desconhecemos que a qualidade que mais permitiu a sobrevivência de nossa espécie é a adaptabilidade. Sobrevivemos a predadores mais fortes, a mudanças climáticas, a desastres naturais, sempre mudando como foi necessário para responder a uma natureza implacável. Conseguimos até o prodígio de sobreviver a nós mesmos, a nossas estúpidas guerras e genocídios. Os povos que não conseguiram mudar hábitos demasiadamente arraigados já sem real motivo de existir, ou relutaram demais em deixar lugares que se tornaram inóspitos a ponto de não prover seu sustento, provavelmente pereceram deixando apenas uma lembrança na História. A evolução tecnológica e de modos de produção apresentam um dos maiores desafios que enfrentamos, novas técnicas e novas ideias são sempre ameaçadoras para quem cultiva velhos hábitos e sente-se seguro neles. Praticamente sem nenhuma exceção, as propostas inovadoras em qualquer área foram recebidas como sacrilégio, pecado, conduta antissocial, diversionismo, fascismo (ou qualquer de suas variantes), comunismo (idem), fauvismo e o rótulo que se queira; atualmente vogam os rótulos vinculados ao ambientalismo e ao politicamente correto. Toda forma de inconformismo enfrentou e enfrenta proibições obsequiosas, ou não; desde as heresias religiosas da Idade Média, às heresias políticas atuais, passando por propostas filosóficas, científicas, artísticas, ou quaisquer outras que não se enquadrem no oficialismo formal ou informal. Os grandes balizadores de nosso tempo são o conhecimento e o aprendizado, e seus paradigmas já mudaram e parecemos não ter percebido. Muitas escolas e professores lamentam que seus alunos não pareçam estar interessados no que têm a lhes oferecer, como se os antigos valores educacionais e a antiga promessa da educação já não tivessem mais encanto.


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E é verdade pela metade, como as melhores verdades: os jovens são curiosos, querem aprender, a maioria deles sabe que terá melhores oportunidades na vida se tiver um diploma e o conhecimento por ele atestado. Infelizmente, muitos parecem esperar da escola apenas o certificado, talvez porque não lhes seja oferecido nada realmente significativo a seus valores e expectativas além disso. Os torturantes métodos pedagógicos fundados em decorar tabuadas, tabelas infindáveis de logaritmos, funções algébricas e trigonométricas, estão superados pelas calculadoras simples que podem armazenar todos esses dados. A grande questão não é o acúmulo de informações facilmente acessadas, e sim seu uso correto. Segundo o pesquisador Boaventura de Souza Santos, as instituições escolares “passam por uma crise motivada principalmente por três dimensões: a hegemonia, a legitimidade e a cidadania”. Isso aconteceria porque escolas não são mais a fonte exclusiva de conhecimento e validação social. Os tablets e smartphones, bolas de cristal de nossos dias, contêm toda a informação, a diversão e a comunicação que interessa aos jovens; que, aparentemente, não perguntam de onde vem tanta sabedoria. Talvez a escola deva se repensar no papel de lhes contar, utilizar as novas tecnologias para aquilo a que se prestam, ou pelo menos para o qual foram criadas, que é melhorar as condições de vida, aprendizagem e sobrevivência das pessoas. A escola do século XXI tem o dever de mudar porque o mundo mudou, as sociedades evoluíram, e seus alunos precisam dela como sempre precisaram, porém em consonância com novas demandas. A única resposta eficaz às mudanças é a própria mudança. O imobilismo leva à morte do pensamento, já que a curva da evolução tecnológica aponta para cima quase verticalmente. Há pouco mais de cem anos não havia luz elétrica, motores a explosão, telefones, aviões, penicilina, nem bombas atômicas. Há pouco mais de trinta anos não havia telefonia celular, computadores pessoais, televisores de led, e os games chamavam-se Pacman e Tetris. Gostemos ou não, a tecnologia e a cultura dela decorrente são parte de nossa vida e de nossa sociedade.


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Os celulares cada vez mais rápidos tornam-se onipresentes em salas de aula, mesmo em regiões mais pobres. Tornam-se competidores dos professores pela atenção dos alunos, e são usados frequentemente para obter informações sobre os temas desenvolvidos em classe, até para contestar o mestre como adolescentes gostam de fazer. A forma dos jovens da geração Z se comunicarem entre eles e com o mundo é totalmente nova, não somente nos aparelhos e sistemas usados, mas principalmente nos conteúdos, interesses e códigos. A maneira de aprender também é mutante, e implica em transformações nas maneiras de educar. Muitos professores, principalmente os mais jovens e também aficionados de tecnologias de informação, já perceberam o enorme potencial desse fato para a educação, e o usam. Buscam adaptar-se e adaptar seus métodos de ensino à realidade de seus alunos, usam as vantagens da nova geração a favor dela, e obtém resultados surpreendentes. Mas é importante lembrar sempre que o aprendizado, em qualquer contexto, exige também persistência, dedicação e esforço; requer tempo, renúncia a várias formas mais imediatas de prazer e, principalmente, quebrar a casca da “zona de conforto” oferecida pelas habilidades já dominadas. E nisso, a orientação segura daquele que aprende novas formas de ensinar porque ama a sua função de professor é insubstituível. A escola reflete e refrata a sociedade, constrói o pensamento e é por ele construída, agora que o mundo parece ter crescido de repente, a importância da educação e da cultura local aumenta de modo exponencial. E a visão de Tolstoi nos ilumina:

Se queres ser universal, começa por cantar a tua aldeia.

Leon Tolstoi


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8 Progama

CURITIBA Lê O INCENTIVO À LEITURA COMO PRÁTICA CULTURA L EM DIVERSOS AMBIENTE S


Mariane Filipak Torres

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é Coordenadora de Literatura da FCC, respondendo pela coordenação geral do Programa Curitiba Lê e do projeto Tubotecas. É Vice-presidente da Comissão de Elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de Curitiba. Licenciada em Educação Artística com habilitação em Música, Especialista em Produção Editorial, pós-graduanda em Gestão e Política Cultural.

é Mediadora de Leitura na Casa da Leitura Osman Lins. Tem Bacharelado e licenciatura em filosofia pela UFPR e licenciatura em Artes Plásticas no Instituto Claretiano

é Mediadora de Leitura na Casa da Leitura Maria Nicolas. Licenciada em Educação Artística/ Teatro, pela Faculdade de Artes do Paraná e estudante de Bacharelado em Artes Cênicas pela mesma instituição.

DANIELLE CAMPOS

murilo coelho é Mediador de Leitura na Casa da Leitura Dario Vellozo. É graduado em Letras - Português (UFPR) e Mestrando em Estudos Literários (UFPR).

KELY medeiros

Ana Paula Remingio Vaz

COAUTORES: é Mediadora de Leitura na Casa da Leitura Walmor Marcelino. É graduada em Artes Cênicas, licenciada em Teatro, Especialista em Contação de Histórias e Especialista em História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

Samuel Rodrigues Teixeira é Mediador de Leitura da Casa da Leitura Marcos Prado. É graduado em História pela UFPR, especialista em Literatura Brasileira e História Nacional pela UTFPR, atualmente em fase de conclusão da graduação em Letras Francês – Bacharelado com ênfase em estudos literários – também pela UFPR.


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Ler por Envolver os moradores Leitura prazer.

solidária. Aproximar ações de leitura. as pessoas dos Aumentar os índices de l i v ro s . leitura da comunidade. Só um l e i t o r da cidade em

forma outro leitor.

A

s frases acima condensam princípios e objetivos do Programa Curitiba Lê: um conjunto de ações, desenvolvidas pela Fundação Cultural de Curitiba e parceiros, que leva atividades de promoção da leitura à população curitibana. Lançado em 16 de abril de 2010, o programa aglutinou experiências anteriores e novas propostas de ações, com uma intenção clara e um objetivo ousado, em um país com índices de leitura tão baixos como são os do Brasil: mostrar às pessoas que ler pode ser prazeroso, buscando formar uma comunidade cada vez mais ampla de leitores em nossa cidade. As ações são realizadas de maneira descentralizada, a partir das 15 Casas da Leitura ligadas ao programa, além do Bondinho da Leitura. Esses espaços estão distribuídos pelas dez ReLançado em 16 de abril de 2010, o gionais Administrativas de Curitiba e programa aglutinou experiências anteriores contam com equipes de funcionários e novas propostas de ações, com uma do Instituto Curitiba de Arte e Cultura, intenção clara e um objetivo ousado, em designados para o Programa Curitiba um país com índices de leitura tão baixos Lê, ficando sob a supervisão direta da como são os do Brasil: mostrar às pessoas Coordenação de Literatura da Fundaque ler pode ser prazeroso, buscando ção Cultural de Curitiba, que gerencia formar uma comunidade cada vez mais os espaços, funcionários e suas ativiampla de leitores em nossa cidade. dades. A descentralização das ações é fundamental para o sucesso e capilaridade do Programa e um de seus pilares, pois cada Casa da Leitura é responsável por desenvolver ações na comunidade de seu entorno, atingindo todos os bairros da Regional à qual pertence. Assim, são realizadas ações tanto no espaço das Casas da Leitura quanto em escolas, CRAS, CAPS, ONGs, associações de moradores e diversas instituições.


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O carro-chefe das atividades do Programa Curitiba Lê é a Roda de Leitura, que demanda pouquíssimos recursos e possui um formato simples, apesar da grande preparação exigida de quem vai executá-la. Funciona assim: um mediador de leitura – que é, antes de tudo, um leitor apaixonado e experiente – compartilha com os participantes das Rodas de Leitura um texto literário escolhido por ele, por meio de uma cuidadosa leitura em voz alta. Após a leitura, o público é convidado a falar suas impressões sobre o texto, abrindo um espaço no qual a voz de cada leitor pode ser ouvida, sem uma hierarquia de saberes, em que a multiplicidade de leituras é colocada em pauta. Também freqüentes são as contações de histórias realizadas pelos mediadores como processo de incentivo à leitura. Com a potência das narrativas orais os ouvintes mergulham nas histórias que são, ao mesmo tempo, universais e de cada um. A leitura em múltiplas linguagens artísticas vem sendo levada ao público das atividades, que participa de rodas de leitura de artes visuais, cinema, música, dança... As Casas da Leitura ampliam sua função, de espaços de leitura de acervos literários para espaços de apreciação também de outras linguagens da arte, ampliando o conceito de leitura.

Passando por cada grupo de leitores, de adultos ou crianças, jovens ou idosos, em cada bairro da cidade, as ações de incentivo à leitura promovidas pelo Curitiba Lê provocam reflexões individuais e coletivas, instigam trocas de fala e escuta entre os participantes, aguçam a vontade por novos textos, novas ideias, novas janelas para a imaginação e o conhecimento.

Passando por cada grupo de leitores, de adultos ou crianças, jovens ou idosos, em cada bairro da cidade, as ações de incentivo à leitura promovidas pelo Curitiba Lê provocam reflexões individuais e coletivas, instigam trocas de fala e escuta entre os participantes, aguçam a vontade por novos textos, novas ideias, novas janelas para a imaginação e o conhecimento. Os excelentes acervos de literatura de diversos gêneros e épocas, disponíveis à população nas Casas da Leitura, dão o suporte a essa busca dos leitores.


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É um trabalho que cresce a cada ano, com o reconhecimento dado pelos participantes das ações do programa: em 2015, foram cerca de 60.000 pessoas que estiveram nas Rodas de Leitura e nas Contações de História, ou ainda em outras atividades do Programa Curitiba Lê, como a formação de mediadores, que são os multiplicadores de ações de incentivo à leitura; também nas oficinas de criação literária, que subsidiam os escritores em seu trabalho artístico. Em seus seis anos O Programa Curitiba Lê se consolida de funcionamento, as ações do programa tiveram um público de aproximadamente como política pública de cultura, com reconhecimento nacional. No ano 368 mil pessoas. de 2012, o Programa Curitiba Lê foi O Programa Curitiba Lê se consolida incluído no Observatório de Políticas como política pública de cultura, com rePúblicas de Leitura na América Latina, conhecimento nacional. No ano de 2012, da Cátedra UNESCO de Leitura (PUC – o Curitiba Lê foi incluído no Observatório Rio) como exemplo de programa que de Políticas Públicas de Leitura na Américontribui para a transformação social ca Latina, da Cátedra UNESCO de Leitura por meio da formação de leitores. (PUC – Rio) como exemplo de programa que contribui para a transformação social por meio da formação de leitores, e um de seus projetos de mediação de leitura foi finalista do prêmio nacional promovido pelo MinC, o Vivaleitura 2014. O Programa também já foi objeto de dissertação de mestrado na UFPR, defendida em fevereiro de 2016, tendo também divulgação internacional através de apresentação em colóquio de escritores, na França, em 2014 e em artigo publicado em revista acadêmica da Venezuela em 2015. Os desafios constantes são garantir as conquistas e possibilitar a ampliação das ações do Curitiba Lê, tendo como premissa que o acesso do público à leitura, à literatura e às várias expressões artísticas é um direito humano e de cada cidadão, para usufruir dos bens culturais e simbólicos produzidos pela humanidade ao longo de sua história.


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Leitu ra em t o do lugar: Relatos dos mediadores de leitura O Programa Curitiba Lê acumulou inúmeras experiências relevantes de incentivo à leitura como prática cultural, nos mais diversos ambientes, ampliando a questão da leitura para além das práticas escolares ou instrumentais, que são comumente associadas a esse assunto. Um dos objetivos deste texto é apresentar

relatos de mediadores de leitura do programa, narrando algumas dessas experiências ocorridas dentro e fora das Casas da Leitura e das escolas, no intuito de compartilhar práticas e saberes que demonstram as variadas possibilidades da promoção da leitura e da arte.

Rodas de Leitura na Penitenciária Central de Piraquara por

Murilo Coelho

O desejo de realizar um trabalho de mediação de leitura na Penitenciária Central de Piraquara foi estimulado pela Lei de Remissão Penal pela Leitura. Após ter acesso a essa lei e compreender o que a fundamentava – a crença humanística do poder de mudança que a leitura traz para a vida – começamos a alimentar este desejo até ele se tornar um projeto: “A Fase Hieroglífica do Pensamento”. A ideia era ler “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, com os detentos. Esta obra literária fala sobre a infância sob uma ótica especialmente sensível, quase mágica. Escolhemos a temática da infância por ser algo comum a todos e a obra de Rosa pelo potencial de comoção que as suas imagens, descrições e atmosferas possuem. A dúvida maior era: será que os detentos gostariam dessa estória? No meu primeiro dia ali, no inverno rigoroso de 2014, não pude deixar de me sentir apreensivo. Quando entrei na sala de aula, me deparei com uma grade entre eu e eles. Os vi: tatuados, desinteressados, muito fortes, mal-encarados... Diante disso, pensei: ‘eles vão achar ridículo essa estória sobre uma criancinha sensível’. Felizmente, me enganei, e muito!


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O texto foi acatado de braços abertos e durante nossos encontros conversamos sobre toda sorte de assuntos. Sobre o passado, sobre a infância, sobre os pais, sobre a vida no interior, sobre tatuagens, sobre pássaros, sobre a triste e perigosa vida do encarcerado, sobre a força da imaginação, sobre a imensa dificuldade de retomar a vida ‘normal’ depois do estigma social de ex-detento. Conversamos, acima de tudo, sobre literatura e sobre o potencial que a leitura tem de nos fazer viver e reviver experiências existenciais profundas, marcantes! No nosso último encontro, percebi algo que me emocionou muito: eles estavam mais leves, tinham rejuvenescido! Trabalhos dessa natureza não devem cessar nunca! Bem sabemos que a leitura e a literatura não são botes salva-vidas, mas acreditamos, principalmente depois dessa experiência, que ela é perfeitamente capaz de abrir inúmeras portas para o pensamento.

Ação de Leitura no Centro Médico Comunitário Bairro Novo por Kely Medeiros Dentre inúmeras ações de leitura em várias instituições da Regional Bairro Novo, entre CMEIs, Escolas Municipais, Colégios Estaduais, Associação de Moradores, CAPS, CRAS, Farol do Saber, CREAS e a comunidade de modo geral, destaca-se o trabalho que está sendo realizado no Centro Médico Comunitário Bairro Novo (maternidade) desde o ano de 2014. No ano de 2014, a chefe de Núcleo da Regional Bairro Novo Luzia Simplicio da Silva foi procurada pela instituição com uma solicitação de doação de livros, revistas e material de leitura, para deixar na sala de espera do hospital, a qual foi repassada à Casa da Leitura Walmor Marcellino. A mediadora Kely Medeiros arrecadou alguns livros e no primeiro semestre de 2015, após contato com a Sra. Andréia, Chefe de Segurança do Trabalho, propôs as atividades de Roda de Leitura para os funcionários da maternidade, na Semana de Prevenção de Acidentes de Trabalho. O resultado foi positivo e os funcionários demonstraram grande interesse em manter essas atividades.


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Fonte: Gleides Schmidt Soares

Fonte: Kely Medeiros

Juntamente com a equipe administrativa e psicológica do Centro Médico, foi realizado um cronograma para todo o ano de 2016 para a realização das Rodas de Leitura, com o objetivo de atrair funcionários, pacientes e acompanhantes dos turnos da manhã e tarde, de acordo com a possibilidade de cada um e com a rotina do hospital. Sala multiuso Centro Médico Comunitário Bairro Novo. Mediadora Danielle Campos (esq.), mediadora Kely Medeiros (centro) e estagiária Débora Rodrigues (dir.)

Roda de Leitura na sala multiuso Centro Médico Comunitário Bairro Novo

São dois encontros por bimestre, entre 15 e 20 participantes por atividade, nos quais os resultados têm sido visíveis; a procura pelos livros aumentou, assim como a busca por indicações e sugestões de livros com a Casa da Leitura Walmor Marcellino. As discussões sobre os textos lidos tornaram-se abrangentes e ainda, os participantes propuseram para encontros futuros a possibilidade do “Clube da Leitura” e até um maior número de atividades, se houver autorização da instituição. É importante relatar que a maioria dos


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participantes solicita a cópia do texto lido na atividade para compartilhar com familiares, o que deixa evidente que o trabalho de mediação atinge direta e indiretamente as pessoas. Com base no interesse desses participantes pela leitura, a mediadora Kely Medeiros se comprometeu a arrecadar mais livros e organizar o Espaço de Leitura, o qual é utilizado por funcionários, pacientes e acompanhantes, assim como manter as Rodas de Leitura em 2016. Para tanto, a Coordenação de Literatura disponibilizou mais de cem livros para contribuir com a formação do espaço de leitura da maternidade e mais alguns livros foram também arrecadados pela Casa da Leitura Walmor Marcellino. Dia 18 de julho de 2016, após a atividade de Roda de Leitura, a mediadora Kely Medeiros, com a colaboração da Mediadora Danielle Campos (Casa da Leitura Maria Nicolas – Regional Santa Felicidade) e da estagiária Debora Rodrigues da Casa da Leitura Walmor Marcellino (Regional Bairro Novo), organizou o espaço de leitura da maternidade e recebeu a doação de cerca de 130 livros, que ficaram disponíveis a todos. Mais um trabalho realizado pelo Programa Curitiba Lê com resultados positivos e efetivos no incentivo à leitura.

Sarau das Crianças do Espaço por Tatiane Phauloz e Samuel Teixeira O Sarau das Crianças do Espaço foi um evento literário realizado no Espaço da Leitura Jardim Eucaliptos (atual Casa da Leitura Marcos Prado) situado no Portal do Futuro Boqueirão, um equipamento da Prefeitura Municipal de Curitiba. Este espaço é destinado principalmente às atividades esportivas como balé, natação e judô. Porém, com a presença de um espaço de leitura, a rotina das pessoas que freqüentam o local - especialmente as crianças - costuma incluir visitas à Casa da Leitura para emprestar um livro, participar de uma contação de histórias e/ou roda de leitura.


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Durante o ano de 2015 as contações de histórias – realizadas semanalmente nas segundas ou quintas – tiveram uma grande adesão do público e constituíram sempre um espaço em que as crianças eram incentivadas a participar ativamente, distanciando assim a imagem de que a biblioteca é um local desanimado onde deve-se apenas fazer silêncio e se comportar. Sendo assim, as atividades de leitura passaram a ser regadas a brincadeiras, risadas e principalmente ao diálogo aberto, onde as crianças eram estimuladas a falar, tendo suas opiniões levadas em conta.

Fonte: Samuel Teixeira

“Dançando com o morto”, de Ângela Lago. Reconto feito por Tatiane e Asheley (11 anos)

“Até as princesas soltam pum”, de Ilan Brenman, contado por Giovana (8 anos)

A relação de cumplicidade e afetividade que se instaurou durante esses momentos despertou nas crianças a vontade de também contar histórias. Então, as atividades passaram a ter uma organização diferente. Os mediadores ainda contavam histórias, porém não mais sozinhos. As crianças também eram estimuladas a preparar leituras e dividi-las com os colegas, atitude essa que despertou ainda mais a vontade de ler literatura.


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Diante do êxito das atividades decidimos estender a experiência para outras pessoas. Em dezembro de 2015 foi realizado, pelas crianças, um sarau em que elas se organizaram para apresentar poesias, músicas, danças e principalmente contarem histórias. Ao total dez crianças participaram se apresentando para quarenta e quatro pessoas presentes, entre pais e professores. Acreditamos que aproximando os pais das leituras que os filhos fizeram durante o ano, despertamos a curiosidade e incentivamos todos a realizar novas leituras, enfatizando assim o papel que os familiares têm na promoção da leitura. A realização do Sarau foi uma demonstração tangível da efetividade do trabalho contínuo da contação de histórias. As crianças se apropriaram a tal ponto das obras literárias que passaram também a incentivar a leitura. Elas, ao contar histórias, demonstraram para as outras a importância desta prática.

Curitiba Lê nos Terminais e Ruas da Cidadania Leitura de poesias e varal literário. por Ana Paula Vaz Ler nos ônibus, hoje em dia, é uma prática comum.Por essa razão, o Curitiba Lê ampliou suas ações para os 22 terminais da cidade. Particularmente, realizei ações nos terminais de Santa Felicidade, Capão Raso e Pinheirinho. Nos terminais de Santa Felicidade e Capão Raso ocorreu o varal de poesias e leitura de poesias para os passageiros que aguardavam o transporte. No terminal do Pinheirinho, além das atividades citadas acima, também realizamos a leitura de poesias para os passageiros que estavam dentro do ônibus, aguardando a partida. Essa foi uma atividade muito gratificante, pois as pessoas pediam poesias, perguntavam de onde partia a ação. A segunda atividade selecionada, também envolveu leitura de poesias, mas em outro ambiente.


Fonte: Ana Paula Vaz

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A leitura de poesias e poemas pode instigar a imaginação, permite refletir sobre nossa humanidade, desperta sentimentos diversos, nos leva a apreciar o cotidiano com um olhar diferenciado. Por essa razão, comecei a ler para as pessoas que aguardam a senha do Sine - Agência do trabalhador. Essa foi uma experiência muito gratificante. Como essa ação aconteceu na Rua da Cidadania do Pinheirinho - onde se encontra a Casa da Leitura Osman Lins, na qual eu trabalho - Algumas das pessoas, depois do atendimento do Sine, passavam na Casa da Leitura para conhecê -la e alguns até se inscreveram e emprestaram livros. Portanto, essa ação realmente atingiu o objetivo de atrair novos leitores e despertar o interesse e desejo pela literatura. Curitiba Lê no terminal de Santa Felicidade

Curitiba Lê nos Terminais e Ruas da Cidadania Leitura de poesias e varal literário. por Danielle Campos Como cidadãos pertencentes a uma determinada comunidade, estamos submetidos a constantes adaptações e a certos condicionamentos. Somos ensinados desde muito cedo que há uma postura adequada para cada lugar que ocupamos no corpo social. Desta forma nos habituamos às formalidades do dia a dia respondendo aos impulsos com reações previstas e de certo modo “mecanizadas”. Avcostumados a ocupar os espaços comunitários de maneiras convencionais e esperadas, acabamos carentes de novos tipos de estímulos.


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Curitiba Lê no terminal de Santa Felicidade

Tendo em vista essas peculiaridades das relações entre as pessoas e o âmbito citadino, a equipe da Casa da Leitura Maria Nicolas compreende que as manifestações culturais também devem estar entrelaçadas ao ambiente urbano e não apenas contidas em instituições pré-determinadas. O projeto leva a mediação de Leitura para os percursos da urbe; esses eventos liteFonte: Ana Paula Vaz rários possuem como maior objetivo surpreender a visão cansada, acostumada às mesmas imagens e formas, provocando no indivíduo novas inspirações. Levar a pratica da leitura como uma possibilidade viva e itinerante, possibilita interesse e intimidade com o universo literário. Os eventos consistem na distribuição de textos literários e na leitura de poesias tanto em terminais de ônibus como em algumas Ruas da Cidadania. A distribuição de textos é feita por meio de varais literários; estes são organizados com diferentes contos, poesias e fragmentos de romances. Todos os textos ficaram à disposição do público tanto para leitura local como para doação.

Fonte: Danielle Campos

Curitiba Lê no terminal de Santa Felicidade


Leitura de poesias na Academia ao Ar Livre no ano de 2015 por Este evento literário acontece duas vezes por mês e é dirigido para os freqüentadores da Academia ao ar livre, do bairro do Guabirotuba. Este espaço comunitário foi idealizado pela Prefeitura Municipal de Curitiba, visando a qualidade de vida e a saúde das pessoas. A Academia em questão está localizada ao lado da Praça Flausina Ribeiro de Loyola (Vó Flau) e em frente à Casa da Leitura Nair de Macedo. Tanto a Praça como a Academia e a Casa da Leitura são opções de lazer, cultura e ponto de encontro entre os moradores e visitantes do bairro.

A atividade tem como objetivo cultural proporcionar aos freqüentadores da academia um momento literário inusitado, promovendo e ampliando o incentivo à leitura. São lidas em voz alta poesias de diferentes autores brasileiros enquanto as pessoas se exercitam nos aparelhos ou descansam nos bancos da praça. São apresentados autores e estilos poéticos diferenciados àqueles que demonstram maior interesse pelas obras. A abordagem é sempre feita com muito respeito e tem sido recebida com simpatia e entusiasmo pela comunidade.

Leitura de poesias na Academia ao Ar Livre

É do interesse da equipe da Nair de Macedo estabelecer contato com a regional Cajuru de um modo geral, seja nas instituições educacionais e de apoio à sociedade, como nos lugares de passagem e de convívio, como: Associação dos moradores, Terminais de ônibus, Praças e agora também a Academia ao ar livre. O intuito da iniciativa é estarmos presentes nos lugares de encontro e circulação de pessoas que coabitam a região, pois estes também são ou ainda poderão ser usuários da Casa da Leitura. Partimos da premissa de que o acesso à cultura, especificamente a literatura, pode e deve fazer parte do cotidiano urba-

Danielle Campos

no, transformando rotinas, espaços e itinerários.

Fonte: Carlos Vinicius Ziolkoski

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FALA...

FALA,

ASSESSORIA...

A diversidade das culturas humanas está atrás de nós, à nossa volta e à nossa frente. A única exigência que podemos fazer a seu respeito é que cada cultura contribua para a generosidade dos outros.

Claude Lévi-Strauss, 1985.


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rabalhar com políticas públicas voltadas para a formação cultural de profissionais da educação, da cultura e da comunidade, pressupõe a articulação de processos acumulativos de formação de novos saberes. Sabemos que esse caminho envolve ressignificação de valores, imersão na diversidade e exercício de transversalidade. Pressupõe ainda, ações efetivas com resultados atingidos principalmente a longo prazo. Pensando assim, norteamos nossa prática, nosso cotidiano e encontramos motivação para organizar esforços em torno do investimento sistemático, ao longo dos quatro anos da gestão que agora se encerra (2013 a 2016) para ampliar o capital artístico - cultural dos cidadãos, dos educadores e dos artistas. A nosso favor, encontramos um momento propício para o fortalecimento da pluralidade cultural. Acreditamos que a diversidade é um elemento central para a reflexão sobre o desenvolvimento humano, lastreado por valores de paz, liberdade, justiça, inclusão e igualdade. O intercâmbio entre escola, produtores culturais, artistas e movimentos de cultura da cidade, ou seja, a integração entre

cultura e educação, continua sendo sem dúvida, uma fórmula excepcional para o desenvolvimento da emancipação humana. Apostamos sobremaneira nessa integração que favorece a perspectivação contextualizada, enriquecendo as vidas das pessoas. Através dessa articulação, por exemplo, foi possível distribuir mais de 245 mil ingressos, para as mais variadas apresentações artístico-culturais, compreendidas e valorizadas em suas mais variadas manifestações, do popular ao erudito, do tradicional ao contemporâneo, do local ao internacional. Foi possível a realização de sete edições de semanas de imersão cultural: quat ro semanas culturais e três semanas culturais literárias. Foi possível estabelecer um grande número de parcerias, estreitar laços, consolidar amizades em torno de ideais em comum. Foi possível e por demais gratificante, ver nosso público alvo, principalmente os profissionais da cultura e da educação, crescer, criar vínculos com os espaços culturais, com os artistas, com novos saberes da cultura e se empoderar de tudo isso. Foi possível dar visibilidade à expressão artística local, trazendo


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geração de trabalho e renda e apoio à estruturação das cadeias produtivas e arranjos produtivos locais da economia da cultura. Foi aberto o espaço para que os profissionais da educação pudessem cumprir o seu papel de efetivos agentes multiplicadores de formação cultural. Esses profissionais que estão em contato diário com crianças, adolescentes, jovens e adultos, ganharam impulso e força para trabalhar de modo cada vez mais transversal os processos de ensino e aprendizagem, ativando significativamente outras dimensões de cidadania. Encerramos esta etapa, com sentimento de gratidão. Pela oportunidade de implantar e fixar essa inovadora experiência de formação de platéia, pelas mudanças positivas que produziu e pelo grande apoio recebido dos profissionais da cultura, da educação e dos nossos imprescindíveis parceiros: as Instituições de Ensino Superior, os produtores, os artistas e em especial a Secretaria Municipal de Educação e o Teatro Guaíra.

Assessoria de Cultura e Educação/FCC


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