A Reinvenção do Livro. Antônio Campos

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A reinvenção do livro 2ª edição


Copyright© 2011 Antônio Campos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização do Autor. Foto da capa (Biblioteca Nacional, Brasil) Mônica Imbuzeiro (Ag. O Globo) Editor Antônio Campos Assessoria Técnico-Administrativa (IMC) Veronika Zydowicz Assessoria de pesquisa Tainah Castelo Branco Projeto gráfico Patrícia Lima Revisão Consultexto

C198r Campos, Antônio A Reinvenção do livro/ Antônio Campos. - Recife: Carpe Diem - Edições e Produções, 2011. 72p. :il ISBN 978-85-62648-16-8 1.Livros – história e contexto atual 2. Futuro dos livros 3. Livros na era digital I. Título. CDU 002 Impresso no Brasil Printed in Brazil

Carpe Diem - Edições e Produções Rua do Chacon, 335, Casa Forte, Recife, PE 55 81 32696134 | www.editoracarpediem.com.br


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SUMÁRIO

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO, 9 O FUTURO DO LIVRO, 9 O LIVRO NO FUTURO, 11 O QUE É O LIVRO?, 12 O LIVRO E AS SUAS DIVERSAS PLATAFORMAS, 13 UMBERTO ECO E O LIVRO, 15 PAULO COELHO, A INTERNET E O LIVRO ELETRÔNICO, 18 O GOOGLE E OS LIVROS PARA ROBERT DARNTON, 18 PARADOXO MODERNO,22 TERAPIA PELOS LIVROS, 24 A OLIMPÍADA DO LIVRO EM 2013, 26 CRIADORES SÃO SERES COLETIVOS, 28 QUAL SERÁ O DESTINO DO PROJETO DE LEI DE ALTERAÇÃO DA LEI DO DIREITO AUTORAL?, 35 O LIVRO DIGITAL E OS DIREITOS AUTORAIS, 37 ERA DIGITAL E A REINVENÇÃO DO LIVRO – O IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA LEITURA, 41 A REVOLUÇÃO DOS E-READERS, 44 TENDÊNCIAS DO LIVRO – NOVOS PARADIGMAS, 45 O MUNDO DIGITAL X MATERIAL, 53 INTERNET: O QUE NÃO ESTÁ NA WEB NÃO EXISTE, 55 INTERNET E REDES SOCIAIS, 56 O GOOGLE BOOKS E O FUTURO DO LIVRO, 60 A ANTIGA E A NOVA BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA, 62 CONSTRUIR UM PAÍS LEITOR: CONECTAR A POLÍTICA DO LIVRO, 63 O LIVRO COMO RESISTÊNCIA E REEXISTÊNCIA, 67 5


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DIA INTERNACIONAL DO LIVRO No mês de abril, é comemorado o Dia Internacional do Livro e do Direito Autoral, data oficializada pela Unesco e que é festejada em mais de cem países. Na Espanha, por exemplo, a data é celebrada desde o ano de 1926, em homenagem ao aniversário de morte de Miguel de Cervantes. Na região da Catalunha, comemora-se ainda o Dia de São Jorge, da Rosa e do Livro. Na festa para o padroeiro do amor e da cultura, segundo a tradição, os homens devem dar uma rosa às mulheres, que simboliza o sangue derramado pelo dragão ao ser vencido por São Jorge e transformado em rosas ao tocar o chão; enquanto as mulheres devem presentear um livro a um homem. O livro representa para a raça humana uma possibilidade de registrar tudo o que acontece em nossa vida. É uma maneira de passar adiante todas as experiências vivenciadas por nós ao longo dos anos.

O FUTURO DO LIVRO Há mais de 3 mil anos, na China, os livros eram feitos com chapas de madeira e bambu ligadas por barbantes de seda ou couro, com letras pintadas à mão. Certamente, uma realidade completamente diferente da que temos hoje com nossos produtos eletrônicos como os audiobooks ou os e-books.


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Esses equipamentos, já indispensáveis para alguns, ganham cada vez mais espaço de utilização e discussão. Diante dessas novas plataformas de leitura, escritores e editoras estão preocupados com o futuro do livro impresso, com o qual estamos acostumados. Após o surgimento dessas novas tecnologias, o processo de produção, edição e impressão de livros na forma convencional se tornou motivo de debate. As novas tecnologias estão impactando a educação, a forma de aprender.

O livro no futuro Vejamos a sala de aula do futuro na visão de Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo: Estamos no ano de 2050, na metade do século 21. Com surpresa, um grupo de crianças numa escola escuta o seguinte relato: “No passado”, descreve o professor, “os homens usavam extensas porções de terra para plantar florestas. Após sete anos — mas esse prazo poderia ser três ou quatro vezes maior —, a mata nesses locais era derrubada, e suas toras, transportadas por centenas de caminhões até grandes usinas. Ali, produzia-se um artigo chamado papel. Disposto em bobinas, esse produto atravessava o mundo em porões de navios. A viagem só terminava em amplos parques gráficos, onde, embebido em toneladas de tinta, era usado para a produção de jornais, revistas e livros. Essas 11


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publicações também passeavam bastante. Impressas, embarcavam em aviões, caminhões, peruas, bicicletas ou mesmo em sacolas até a porta da casa dos consumidores. E um detalhe: no caso dos jornais, toda essa imensa engrenagem era movida para a divulgação de notícias do dia anterior. Era como continuar a erguer um palácio mesmo enquanto o rei era deposto. No dia seguinte, tudo recomeçava”. Revista Época Negócios, nº 37, março/2010.

O que é o livro? O livro é o maior amigo do homem. O maior inimigo do livro é a falta de leitor. O livro é um elemento civilizador.

Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas. Mário Quintana

O documentalista Edson Nery da Fonseca nos afirma parafraseando Mallarmé, para quem tudo existe para acabar em livro, que tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro.

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Se tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro — ou em documento, ou em informação, ou em dado —, é evidente que tudo acaba em arquivo, biblioteca, serviço de documentação e/ou banco de dados. Culto é quem tem sempre um bom livro ao alcance das mãos. Edson Nery da Fonseca

Jorge Luis Borges disse: Dos instrumentos do homem, o livro é, sem dúvida, o mais assombroso. Os demais são extensões do corpo. O microscópio, o telescópio são extensões da sua vista; o telefone é a extensão da sua voz; depois temos o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é extensão da memória e da imaginação.

O LIVRO E AS SUAS DIVERSAS PLATAFORMAS Não podemos confundir o futuro do livro com o futuro do papel. Nunca tantas ideias foram escritas como na era digital. As plataformas impressas e digitais não são excludentes, mas complementares. O rádio não matou o teatro, o cinema não acabou com o rádio, a televisão não extinguiu o cinema, e a internet não prejudicou a televisão. Cada meio de comunicação encontrou seu lugar na sociedade, e, como resultado, temos uma indústria cultural cada vez maior e mais desenvolvida. Com os livros, será a mesma coisa.

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Ao lado do livro impresso, já temos o livro digital. Na internet, está a maior biblioteca do mundo. Vivemos então numa era de reinvenção do livro ante o mundo digital, com novos paradigmas no mercado editorial e da linguagem, pois tudo que é novo gera dúvidas, medo, questionamentos e curiosidade. Contudo, em qualquer uma de suas formas, o livro não foi só uma celebração do conhecimento e um registro da memória da espécie humana, mas uma celebração da vida. O livro já foi oral. A Ilíada, a Odisseia e As mil e uma noites foram obras contadas de gerações a gerações e que, pelo medo de perdê-las por meio do esquecimento, foram registradas no papel. A memória da escrita mostra registros em obeliscos e tijolos de argila. Muito se questiona sobre os benefícios dos e-readers, que representam a possibilidade de reunir em um pequeno aparelho eletrônico milhares de livros. É uma espécie de biblioteca virtual, pois permite o acesso aos mais variados títulos a qualquer momento. Como outras vantagens dos e-readers, temos: • Possibilidade de adicionar mais livros à coleção já existente. • Retiradas, devoluções e recolocações automáticas nas prateleiras digitais. • Proteção contra roubos e danificação em documentos. • Mecanismo de busca através de apenas uma palavra em um livro ou na coleção inteira. 14


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• Suporte por meio das ferramentas de anotações, registros e pesquisa. As bibliotecas no futuro serão em nuvens, em um provedor. E o livro virou rede e a aprendizagem jogo.

Umberto Eco e o livro A obra Não contem com o fim dos livros é o um livro de Umberto Eco, em coautoria com o francês Jean Claude Carrière. O livro, que está nas livrarias de todo o País desde maio de 2010, é uma espécie de esclarecimento sobre as possíveis diretrizes que a literatura pode tomar com os novos formatos do livro. Em magistral palestra na Biblioteca de Alexandria — reconstruída no Egito —, Eco defende que a expansão da internet não ameaça a existência dos livros e que nós temos três tipos de memória: O primeiro é orgânico, que é a memória feita de carne e de sangue e administrada pelo nosso cérebro. O segundo é mineral, e, nesse sentido, a humanidade conheceu dois tipos de memória mineral: milênios atrás foi essa a memória representada por tijolos de argila e por obeliscos, muito conhecidos neste país, nos quais as pessoas entalhavam seus textos. Porém, esse segundo tipo é também a memória eletrônica dos computadores de hoje, que têm por base o silício. Conhecemos também outro tipo de memória, a memória vegetal, representa15


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da pelos primeiros papiros, de novo muito conhecidos neste país, e posteriormente pelos livros, feitos de papel. [...] Este local foi, no passado, e será, no futuro, dedicado à conservação de livros; portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber coletivo. [...] Se me permitirem usar essa metáfora, uma biblioteca é a melhor imitação possível, por meios humanos, de uma mente divina, onde o universo inteiro é visto e compreendido ao mesmo tempo.

As variações em torno do livro enquanto objeto não modificam sua função nem sua construção gramatical. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Não é possível que uma colher seja melhor que outra. Segundo Eco, quando imaginamos ter ingressado na civilização das imagens, surgiu o computador, que nos reintroduziu na galáxia de Gutenberg, na era alfabética. Com o advento das novas tecnologias, estamos predestinados a ler de uma maneira nova. A biblioteca foi no passado e será no futuro dedicada à conservação de livros e, portanto, é e será um templo da memória vegetal. As bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar o nosso saber coletivo. Contudo, as bibliotecas, no futuro, serão em nuvens, em provedores.

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Paulo coelho, a internet e o livro eletrÔnico Vejamos a opinião de Paulo Coelho, que conseguiu a façanha de ter mais de 100 milhões de títulos vendidos, sobre a internet e os livros: Em 1999, eu descobri que a edição de O alquimista publicada na Rússia estava disponível na internet. Então, decidi enfrentar a pirataria no campo dela e passei eu mesmo, em primeira mão, a colocar meus livros na web. Em vez de cair, a vendagem nas livrarias aumentou. Está comprovado que, se as pessoas lerem os primeiros capítulos na internet e gostarem, elas sairão e comprarão o livro.

O GOOGLE E OS LIVROS PARA ROBERT DARNTON Depois do Orkut e do e-mail que nunca está cheio (o Gmail), um dos últimos projetos do Google é a ferramenta Google Book Search, inaugurada em novembro de 2005. Outro projeto é a venda de livros eletrônicos (e-books) através do Google Editions, que começa em breve. Assim, o Google está fazendo a maior biblioteca e o maior negócio livreiro do mundo. A maior companhia da internet tem uma meta nada modesta nesse ramo: quer digitalizar praticamente todos os livros do planeta. Segundo dados do Online Computer Library Center 18


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dos 55 milhões de títulos existentes no mundo, 10% representam o catálogo ativo das editoras, 15% caíram em domínio público e 75% — ou 40 milhões — são livros não mais comercializados, mas que ainda não estão em domínio público. O foco inicial do Google são esses dois últimos grupos. No fim de 2009, o total de exemplares convertidos em bits pela empresa já havia alcançado os 10 milhões. Os engenheiros do Google criaram um método específico de digitalização, em que mil páginas são escaneadas por hora. O Google Book investe em parcerias com bibliotecas no sentido de digitalizá-las. Tal iniciativa gerou uma demanda judicial nos Estados Unidos que acabou em acordo sujeito à aprovação do Tribunal Distrital dos Estados Unidos pelo Distrito Sul de Nova York. Recentemente, está sendo objeto de novo recurso judicial. O modelo de negócio do Google tem gerado controvérsias relacionadas a infração de direitos autorais, questões de monopólio e privacidade. O historiador e estudioso dos livros Robert Darnton, autor da obra A questão dos livros – passado, presente e futuro, fala do papel das bibliotecas e da iniciativa do Google de digitalização de livros: O Google tem feito um trabalho maravilhoso de digitalização do acervo dessas bibliotecas. Mas, como toda empresa privada, tem por objetivo dar lucro a seus acionistas. Os objetivos das bibliotecas são distintos — entre eles, oferecer conhecimento público. Esse conhecimento não pode ser detido por uma em-

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presa só. O acordo sobre direitos autorais do Google configura uma situação de monopólio.

Darnton também explicita a falta de critérios da digitalização realizada pelo Google, que não tem bibliógrafos no seu quadro funcional: O Google emprega milhares de engenheiros, mas, até onde sei, não tem nenhum bibliógrafo em sua equipe. Seu descaso com qualquer preocupação bibliográfica visível é particularmente lamentável, tendo em vista que a maioria dos textos, como acabo de argumentar, foram instáveis por boa parte da história da imprensa.

O Google está criando um comunicador universal com o seu tradutor de línguas. Atualmente, traduz 52 línguas. E mais: no Google, estão sendo armazenadas as biografias das pessoas no mundo contemporâneo. O livro Google: o fim do mundo como o conhecemos, de Ken Auletta, merece ser lido. É preocupante que uma empresa comercial detenha o controle de tanta informação. O Google já está sabendo mais a nosso respeito que a Receita Federal, por exemplo. Precisamos que a sociedade da informação na qual vivemos seja a mais democrática possível e que não seja monopólio de ninguém. Vamos cobrar do Google que siga fielmente seu lema formal — “Organizar a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil” — e informal — “Não faça maldade”.

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PARADOXO MODERNO O livro atravessou eras de guerras e perseguições, sobreviveu e, mais ainda, saiu fortalecido. Nesta época de contradições e incertezas, a cultura e o livro são as armas para se manterem os valores básicos do homem acima dos conflitos econômicos e de credo. Precisamos valorizar a literatura e os que a fazem, independentemente do formato que venha ter. Como disse o jornalista e escritor Ziraldo é a palavra que identifica o ser humano, é ela seu substrato, sua marca. Aquela que possibilitou a convivência humana e a comunicação total entre os seres dotados de inteligência. Ela é a menor partícula do entendimento das coisas. A palavra é o átomo da alma.

Robert Darnton, em sua obra A questão dos livros, defendeu a explosão dos modos eletrônicos de comunicação como sendo tão revolucionária quanto a invenção da impressão com tipos móveis. Estamos tendo até mais dificuldade de assimilála como os leitores do século XV tiveram ao se depararem com os textos impressos pela imprensa de Gutenberg. O filme O leitor é um bom exemplo disso, pois nos mostra que, se existe alguma redenção para o ser humano, ela passa obrigatoriamente pela linguagem. A falta de comunicação ou o erro nela podem ser determinantes na vida das pessoas. Os livros falam e dialogam com os homens. São eles os amigos mais valiosos que podemos ter. O mundo vive um paradoxo:

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na era da internet e do celular, ainda reina a incomunicabilidade, pois as questões essenciais não são ditas. A boa leitura é uma experiência mágica. Nos livros, conhecemos santos, reis, filósofos e homens comuns. Podemos saber o que disseram Jesus Cristo na Palestina e Gautama Buda no continente asiático. No entanto, “Todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra é um instrumento que lhe permite discernir o que, sem ele, não teria visto em si”, afirmava o escritor Marcel Proust, filosofando sobre a leitura. De qualquer modo, precisamos deixar de lado essa ideia de que, com a chegada dos e-readers e dos tablets, os livros de papel vão se extinguir. Até o próprio Bill Gates, criador da Microsoft, afirmou que prefere ler textos impressos a ler na tela do computador. “Ler na tela é uma experiência vastamente inferior à leitura em papel. Prefiro imprimir qualquer coisa que ultrapasse quatro ou cinco páginas. Assim, posso carregar o texto comigo e fazer anotações”. o formato em papel e digital vão conviver. Contudo, no futuro será predominantemente digital.

TERAPIA PELOS LIVROS Em 2008, uma escola formada por escritores, em Londres, conhecida como Escola da Vida, criou a inovadora biblioterapia, através da qual leituras eram indicadas de acordo com o perfil de cada aluno/cliente. É uma verdadeira terapia através dos livros. Em uma época em que um livro é publicado a cada 24


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30 segundos — o que significa que seriam necessárias 163 pessoas para ler todos os livros oferecidos apenas pelo site Amazon (como bem lembra o site de escola) —, as sessões de biblioterapia podem ser um guia para quem está perdido.

A olimpíada do livro em 2013 Em junho de 2010, o então ministro da Cultura do Brasil, Juca Ferreira, e o diretor da Feira do Livro de Frankfurt (Frankfurt Book Fair), na Alemanha, Jüergen Boos assinaram, com o apoio da Câmara Brasileira do Livro, o Protocolo de Intenção que firma o Brasil como país homenageado do evento em 2013. A Feira do livro de Frankfurt, a maior em venda de direitos de reprodução de livros no mundo, recebe cerca de 2 milhões de pessoas interessadas em lançamentos literários e no mundo editorial em geral. Com essa homenagem ao Brasil pela Feira de Frankfurt, teremos, além do diálogo entre países, uma grande oportunidade de vender os livros de autores brasileiros. Editoras dos quatro cantos do País poderão lançar seus autores e suas publicações para um público realmente interessado no assunto. Entretanto, devido à dimensão do evento, é preciso mover esforços para que haja uma preparação para essa verdadeira olimpíada do livro e dos direitos de reprodução para o Brasil em 2013. As autoridades brasileiras, juntamente com a Câmara Brasileira do Livro, seus afiliados e o Ministério da Cultura, devem 26


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investir fortemente nesse evento. Vivemos um momento importante no cenário mundial, pois em breve as atenções de todo o planeta estarão voltadas para o nosso país. Eventos como as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014 estão na pauta do Brasil e do mundo.

CRIADORES SÃO SERES COLETIVOS Certa vez, o escritor alemão Goethe afirmou que suas obras foram nutridas por incontáveis indivíduos, inocentes e sábios, brilhantes e estúpidos. Como ele mesmo disse, colheu o que os outros plantaram, e assim suas obras são de um ser coletivo que carrega o nome de Goethe. A discussão aflora em torno da questão dos direitos autorais direcionados aos artistas do Brasil, inclusive no momento em que se discute a reforma da Lei do Direito Autoral. Afinal, quanto custa e a quem se dirige, por exemplo, o trabalho intelectual de um escritor? Em contraposição, discute-se a importância da gratuidade da arte a partir da possibilidade de torná-la acessível a todos e, assim, propagar a cultura. Como disse o ensaísta e músico José Miguel Wisnik, a arte só tem graça se for de graça. Isto é, se tiver sido feita graças à força da vida que é investida nela mesma e se destinar a gerar, multiplicar e diversificar esse impulso que a gerou, não esperando nada mais do que isso.

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Wisnik destaca a necessidade de manter o direito autoral como um estímulo para o surgimento e a manutenção de artistas, mas sem se esquecer do sentido real da arte, no qual podemos pagar para tê-la, mas não podemos tê-la se não nos entregarmos a ela. Em nossa sociedade, surgem diariamente novas formas de comunicação e, por consequência, novas maneiras de se fazer arte. A internet é o maior acervo de informações de todos os tempos. Ela veio para consolidar de uma vez por todas o mundo virtual e a cultura digital. Apesar de ter transformado a realidade humana, a globalização e a internet ainda não mudaram as leis voltadas para os direitos autorais no Brasil. Em entrevista à revista Panorâmica Editorial, o presidente da Feira do Livro de Frankfurt, Jüergen Boos, fez uma análise do atual cenário do setor editorial com o crescimento dos leitores digitais e novos e-books. Segundo ele, ainda estamos nos primeiros estágios de um novo empreendimento, mas é preciso estabelecer parâmetros básicos como, por exemplo, resolver as questões sobre direitos autorais, desenvolver novos e sustentáveis modelos de negócio que sejam aceitos igualmente por editoras, autores e pelo público. Temos hoje três maneiras de transmissão de informações: conteúdos escritos manualmente, impressos e no meio eletrônico.

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Redes sociais, sites e blogs são transmissores de fatos preanunciados pelas mídias tradicionais. Cada matéria de jornal, por exemplo, é reproduzida sem autorização, em média, cinco vezes na internet. As mídias digitais são indiscutivelmente benéficas em se tratando de conectividade com os mais diversos lugares do mundo. O problema é que, nesse mercado, as notícias surgem com uma velocidade feroz, tendo que ser reproduzidas o quanto antes. Produzir informações inovadoras com seriedade, independência e qualidade custa caro. Por isso, muitos veículos digitais trabalham com a mera reprodução das informações originais, sem o menor respeito pelos direitos autorais das fontes. A coletividade da arte produzida pelos artistas não deve se limitar às cifras, levando em consideração, também, que se trata de obras artísticas, o que traz à tona a problemática da precificação de uma arte. Ainda nas palavras de José Miguel Wisnik, “quem calcula o preço da Odisseia, o custo humano da sua confecção, o seu impacto através dos milênios? O mercado não teria dinheiro capaz de pagá-lo”. Pensar em novas maneiras de difundir o trabalho na indústria cultural e entre os consumidores da arte é uma saída estratégica encontrada pelos artistas. Na internet, prepondera a lógica de ganhar centavos muitas vezes em vez de milhões de uma vez. Uma das opções encontradas é entrar na era virtual e viabilizar o acesso ao conteúdo artístico através da internet, 30


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o que pode findar o conflito entre o que é propriedade intelectual e propriedade comum. É evidente que a tecnologia digital, atrelada ao crescimento cada vez mais acelerado da internet, gera uma maior violação dos direitos autorais. No entanto, algumas ações e projetos legalizados pelos produtores de conteúdo são de impressionar. O Google Art Project, que foi recentemente lançado, é um exemplo disso. No site, comandado pela grande potência de buscas e conteúdo da web, é possível literalmente viajar pelos principais museus do planeta. Obras de mais de vinte grandes museus no mundo foram digitalizadas e disponibilizadas como quadros virtuais em alta resolução. O pesquisador da Universidade de Harvard Lewis Hyde, em sua obra A dádiva, defende que: Qualquer objeto, qualquer item passível de ser negociado torna-se, de uma forma ou de outra, uma propriedade. Mesmo quando uma obra de arte contém o espírito do dom do artista, isso, por si só, não confere a ela a qualidade de doação. O que fazemos dela é o que assegura essa natureza. [...] Uma obra de arte [...] pode ser vendida no mercado e continuar a ser uma obra de arte. Porém, é verdade que, no comércio essencial da arte, uma doação se efetua entre o artista e o público. Por outro lado, se é possível dizer que, quando não há doação, não há arte, é verdade também que se pode destruir uma obra de arte ao convertê-la em mera commodity ou 31


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mercadoria. É assim que penso. Não digo que uma obra de arte não possa ser vendida ou comprada; o que afirmo é que seu componente de pura doação não se enquadra no conceito de mercado.

Precisamos buscar o equilíbrio entre preservar os direitos autorais e possibilitar um maior acesso do público às artes. Em 1998, quando a Lei dos Direitos Autorais foi promulgada, o Brasil vivia um cenário completamente diferente do que temos agora. As novas formas de mídias sociais, sites de compartilhamento de arquivos e todas as novidades tecnológicas fizeram dos dias de hoje diferentes dos que vimos há cerca de dez anos. Ferramentas como a internet, pen drives, MP3, iPods, leitores digitais, CDs e DVDs modificam as maneiras mais tradicionais de disseminar conteúdos e produções artísticas. Nesse descompasso entre a atual lei autoral brasileira e a nova realidade do mundo digital é que a Lei dos Direitos Autorais é considerada a quarta pior lei do mundo pela ONG Consumers International IP Watch List. Ela limita excessivamente o acesso do consumidor para o uso privado e não comercial, conhecido nos Estados Unidos como uso justo. Na lei atual, não há permissão, por exemplo, para cópias de livros didáticos cujas edições já se esgotaram. Violações do direito autoral devem ser avaliadas e punidas de maneira igual. Independentemente de se darem no meio físico ou virtual, são crime. A internet, ao contrário do que muitos pensam, não é um território sem lei. Existem regras 32


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e limites que devem ser seguidos. Obras como CDs, livros, filmes e fotos não perdem sua proteção quando digitalizadas. Apesar de adquirirem um novo formato, continua sendo proibido o seu uso indevido e sem autorização. Atento a essa nova realidade, o Ministério da Cultura (MinC) discute, desde 2005, a possibilidade de revisar a Lei nº 9.610/98, que disciplina o direito autoral, tendo ficado em audiência pública por um bom tempo. A busca por mais estabilidade entre o direito do autor e os direitos do cidadão comum para acessar educação, cultura, informação e conhecimento; o aperfeiçoamento do trato legal entre o autor e editoras/gravadoras; e a regulação/fiscalização eficaz do direito autoral foram apontados pelo exdiretor de Direitos Intelectuais do MinC Marcos Souza como as principais razões para a reforma. O desequilíbrio nos contratos entre gravadoras e compositores, que privilegia demasiadamente a livre negociação contratual, merece mais atenção. São necessárias uma regulação e supervisão mais eficazes das sociedades de gestão coletiva a fim de criar critérios mais justos e transparentes na distribuição de direitos autorais. É fato que a lei dos direitos autorais precisa se moldar às novas tendências e ao formato do mundo globalizado. Afinal, essas mudanças não têm volta. Uma lei que proteja os direitos do autor, mas que crie mecanismos que permitam uma 33


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maior democratização do acesso ao conhecimento do cidadão comum e o desenvolvimento da economia criativa, é o que precisamos. Arnaldo Jabor, em artigo publicado no Jornal do Commercio intitulado Saudades do futuro, faz a seguinte reflexão: Sempre falávamos da democratização da cultura, das artes... Pois ela está aí... e não foi o Estado, nem o Ministério, nem anseios neorromânticos. Ela está aí... Bill Gates, Jobs, as redes, os microchips mudaram o mundo... Quem diria? E agora a mutação é mais intrincada porque não há “uma” ideia nova, uma escola, uma tendência. A mutação atual é a “contribuição milionária” de todos os desejos expressivos. Mudaram todos os suportes, as formas se multiplicam sem parar criando novas significações. Sabíamos que a era digital mudaria tudo, desde o mundo árabe até a poesia de Shakespeare? Mais uma vez, as coisas criam os homens... Todo mundo pode fazer arte, poesia, e a internet é o novo Parnaso digital. Reação romântica: como fazer arte sem futuro, sem finalidade? Sem a ideia de “eterno”? Que será do artista demiurgo, aqueles “poucos falando para muitos”, como dialogam Hermano Vianna e José M. Wisnik? Agora, em que todos criam para todos, o que é “importante”, como dizíamos? O que teria hoje ou amanhã o prefixo “ur” (alemão) — as coisas fundadoras? Onde está a totalidade? 34


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Há uma revolução de meios sem uma clareza de fins. Como será o mundo árabe? Como será a grande arte? Ainda haverá? Os meios justificam fins desconhecidos. E vamos combinar que, mesmo na louvação das irrelevâncias, ainda dorme talvez o desejo de um sentido. Olha a encrenca... A própria ideia de um debate sobre essa dúvida já é antiga. Se fosse proposta a um jovem blogueiro, ele diria: “Pra quê”?.

QUAL SERÁ O DESTINO DO PROJETO DE LEI DE ALTERAÇÃO DA LEI DO DIREITO AUTORAL? A reforma da Lei nº 9.610 de 1998 foi uma das principais bandeiras das gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira à frente do MinC. Por isso, de 2007 a 2010, o governo realizou congressos e reuniões com o setor, até chegar à versão do texto que foi enviado para consulta pública. Durante o processo, o MinC recebeu mais de 8 mil sugestões de alterações. Mas, ao assumir a pasta, a ministra Ana de Hollanda afirmou que reveria o processo, intenção que é reiterada hoje pela responsável pela Diretoria de Direitos Autorais do MinC, Márcia Regina Barbosa. Ela não confirma, mas fala-se, dentro do ministério, que o texto pode, inclusive, ser posto mais uma vez em consulta pública.

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A posição atual é a de que o projeto pode ser aperfeiçoado e que, por isso, deve ser revisado. Diz Márcia: “Nós vamos disponibilizar um cronograma indicando as ações a serem realizadas para a conclusão do processo de revisão”. A ministra Ana de Hollanda, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, respondeu duas perguntas da seguinte forma: Qual foi sua primeira impressão ao ler o projeto de lei do ex-ministro Juca Ferreira, que pede mudanças na atual Lei dos Direitos Autorais? Aquela proposta me assustou um pouco. O direito do autor está previsto na Constituição, é uma cláusula pétrea. Ele tem que ser respeitado. Comentava-se muito no meio cultural que as mudanças estavam deixando o autor em uma situação frágil em vários aspectos. A internet foi o paraíso para muita gente, já que o preço de um CD se tornou inacessível para muitos. Como fazer com que esse consumo continue sem prejuízo para os autores? Essa é uma questão, sim, que tem de ser estudada nos próximos passos que vamos dar. Agora há pouco, vi um estudo no Canadá que sugere cobrança dos direitos de provedores. Estamos nesse impasse entre a proibição absoluta — que é quase impossível, já que as pessoas estão baixando — e uma liberação que não prevê o pagamento de direitos. O projeto vai ser arquivado ou revisto pelo MinC? O Brasil não quer retrocesso nesse assunto, embora ele requeira o cuidado necessário para preservar os di36


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reitos criativos. Não é admissível interferência americana nesse assunto. O Copyright americano protege mais a indústria cultural do que os criadores.

Depois de tudo o que já foi citado aqui, chego à conclusão de que a internet ainda é algo bastante novo. Entretanto, novidades trazem novos problemas e, consequentemente, a necessidade de soluções inovadoras. A tecnologia não deve ser vista como uma inimiga, e sim como uma nova forma de ver o mundo à nossa volta. Algumas editoras e produtores de conteúdos já veem o mundo digital como um aliado, tanto é que vêm disponibilizando versões digitais e audiobooks de suas obras, bem como apoiando a profusão dos e-books. Precisamos nos unir à tecnologia em busca de um futuro mais desenvolvido e que democratize ainda mais o acesso às artes. Esse é um caminho sem volta e um admirável mundo novo.

O LIVRO DIGITAL E OS DIREITOS AUTORAIS Aplicam-se aos livros digitais os dispositivos da atual Lei de Direitos Autorais. Eventualmente, podem-se aplicar também dispositivos do Código Civil, especialmente quanto a cláusulas contratuais. Por outro lado, a maioria dos contratos de direitos autorais, por não preverem a versão digital, terá que ser revista para possibilitar a publicação por esse meio, através de uma nova negociação com o autor.

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ERA DIGITAL E A REINVENÇÃO DO LIVRO – O IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA LEITURA Devemos, de fato, nos organizar a fim de consolidar ainda mais a economia criativa em nosso país, que é a grande economia do século XXI — século esse marcado por uma transição para a era da economia do conhecimento. A riqueza revolucionária da Terceira Onda, defendida por Alvin Toffer, é cada vez mais baseada no conhecimento. Digo mais: não vivemos somente na era do conhecimento, da informação, mas da colaboração, vivendo em rede. O Brasil pode ser o melhor dos Brics através do fortalecimento da economia criativa. Transformar “inventividade” em competitividade. A tendência é aumentar a riqueza gerada pela economia baseada no desenvolvimento das indústrias culturais e de criatividade. O Brasil deveria utilizar “created in Brasil” em vez de “maded in Brazil”. Somos um país empreendedor e criativo. Editoras, autores e produtoras culturais devem se empenhar para que nossas obras sejam expostas de maneira competente para todo o mundo. Através de novas publicações, novas edições de livros já lançados e traduções de obras para idiomas como alemão, espanhol, francês, inglês e o crescente mandarim, poderemos fazer uma bela participação nessa vitrine para o mundo do setor livreiro, que é a Frankfurt Book Fair. É uma oportu41


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nidade única para o país do futebol mostrar que também é o país dos livros. Atualmente, nos Estados Unidos, estão sendo vendidos mais livros digitais que em papel. O avanço tanto na quantidade quanto na qualidade dos leitores digitais não significa necessariamente o fim da era dos livros de papel. O que as editoras têm que prestar atenção é na rapidez com que esses livros estão sendo editados. Na realidade, na era da internet cada um pode ser o seu editor. Além do mais, as livrarias representam hoje comunidades de relacionamento que também vendem livros. A Amazon está trilhando para contratar diretamente com os autores eliminando editores e livrarias. A distribuidora DLD de livros digitais estima que no Brasil serão vendidos em 2015 cerca de 8 milhões de livros digitais, o que representaria aproximadamente 7% do mercado brasileiro de livros. De qualquer maneira, pesquisas afirmam que o leitor médio ainda prefere ler no formato tradicional. Tocando, sentindo e vendo o livro de papel nas mãos. Talvez isso se deva à comodidade, à familiaridade e até mesmo ao preço, pois os e-readers ainda têm um alto custo se comparados ao formato habitual. O livro digital ainda está caro no Brasil. “A edição do livro não é mais um setor isolado, agora estamos dentro do negócio do conteúdo. O livro se torna uma ideia que pode servir para a criação de filmes e até jogos”, diz Jüergen Boos. 43


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“Os editores têm que levar em consideração o público com quem estão se comunicando. Quando isso acontecer, vamos nos preocupar mais com conteúdo, e não com o veículo”, diz Jeff Gomez.

A REVOLUÇÃO DOS E-READERS Nos últimos anos, a tecnologia em geral passou por grandes avanços. No que diz respeito à “literatura digital”, dois grandes lançamentos na indústria digital aumentaram a discussão sobre o futuro dos livros no século XXI. Com a chegada do iPad e do Kindle no mercado, os hábitos de leitura do público leitor estão passando por fortes mudanças. Os tablets e pads visam ser o futuro da leitura mundial como forma de ler livros, jornais e revistas. O Kindle é capaz de armazenar cerca de 2 mil livros. Já o iPad tem espaço para mais de 10 mil. Ambos são portáteis e têm baterias com longa duração. O Kindle é um especialista. Lê textos. Ele é dotado de uma tela sem reflexos e permite, além de ler livros, acessar a internet e a loja virtual da sua fabricante, Amazon. Já o iPad possui uma estrutura/tela mais próxima à de um notebook e permite a realização de várias outras atividades. O iPad é um grande generalista. Faz tudo. Reproduz o que se chama de conteúdo multimídia, que combina sons, imagens (vídeos ou fotos) e textos. Só na primeira semana de venda nos Estados Unidos, a Apple vendeu 500 mil iPads. 44


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Tive o prazer de desenvolver, através da Carpe Diem Edições e Produções, o primeiro leitor eletrônico de livros com tecnologia de software 100% nacional, focado em educação. A parceria com a Mix Tecnologia, empresa do polo digital do Recife, gerou a criação do equipamento que tem como diferencial o fato de possibilitar a aquisição de conteúdo no portal próprio e conexão com a internet para que os usuários possam fazer downloads de obras em domínio público ou não na rede, considerada hoje a maior biblioteca do mundo.

TENDÊNCIAS DO LIVRO – NOVOS PARADIGMAS A era digital e os livros digitais trazem novas formas de linguagem. A interatividade é uma das tendências dessas novas linguagens.

VOOK, OU LIVRO 2.0 Junção das palavras inglesas video e book, o vook consiste num livro em que a informação do texto é complementada com vídeo. [...] Aplicação: Útil para livros de receitas culinárias ou de ginástica, em que o leitor poderá ver os movimentos necessários em vídeo. Em ficção, contudo, seu uso é polêmico, por tirar do leitor o prazer de imaginar rostos e cenários. 45


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Títulos: Disponíveis hoje para iPhone e tablets — não para Kindle. Em ficção, Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, e O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson. Há ainda obras exclusivas para o formato, como Promessas, de Jude Deveraux. Interatividade: O leitor pode se conectar com o autor, acessar links úteis e comentar a história com seus amigos ou com outros leitores nas redes sociais, como o Twitter e o Facebook. Fonte: revista Bravo!, nº 4/2010.

REALIDADE AUMENTADA Marcada com um código especial, uma página de livro exibe objetos em 3D na tela do computador quando colocada em frente à webcam. São imagens, sons e textos que acrescentam informações ao conteúdo impresso, numa mistura de mundo virtual e real. Aplicação: Útil para livros infantis e enciclopédias, que poderiam trazer mapas, gráficos e objetos animados e em 3D. Títulos: As crianças que foram à Feira de Frankfurt em 2008 puderam deliciar-se com as experiências da Metaio, uma 46


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empresa de alta tecnologia alemã que apresentou o livro Aliens & UFOs. Este ano, as inglesas Salariya Book Company e Carlton lançaram títulos como O que Lola quer... Lola tem! e Dinossauros vivos!. Interatividade: O que diferencia essa tecnologia dos pop-ups tradicionais (livros de papel em que as ilustrações são montadas em 3D) é que os objetos tridimensionais se mexem e acompanham o leitor, seguindo seus movimentos. Fonte: revista Bravo!, nº 4/2010.

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Novo software AR Lesson está sendo desenvolvido no Recife pelo Centro de Inovação da Microsoft, na Escola Técnica Estadual Prof. Agamenon Magalhães. Projeto com suporte na tecnologia de realidade aumentada — técnica que envolve a sobreposição de imagens virtuais no mundo real —, o programa tem fins educacionais e foi a aposta do grupo para o Imagine Cup 2010. Fonte: Jornal do Commercio, 21 de abril de 2010, Caderno de Informática.

CROWDSOURCING A palavra, que poderia ser traduzida como produção de conhecimento em massa, caracteriza-se pela elaboração dos mais diversos conteúdos de maneira coletiva. O desenvolvimento de ferramentas interativas e o sucesso do Twitter deram um novo fôlego às experiências colaborativas em rede nas áreas acadêmica e literária. Aplicação: A enciclopédia virtual Wikipédia é o maior exemplo de narrativa colaborativa: em vez de especialistas contratados por uma empresa, quem escreve os verbetes são os próprios leitores. Na wikiliteratura, eles também são convidados a contribuir para o desenvolvimento da história. Títulos: De olho no fenômeno, a editora americana Penguin criou o projeto A Million Penguins, que chamou de exer48


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cício de escrita criativa colaborativa com base no Twitter. Nele, todas as contribuições puderam ser editadas, alteradas ou removidas pelos colegas. E a BBC Audiobooks convidou o escritor Neil Gaiman para dar início a um conto com uma frase de 140 caracteres, complementado depois pelos seguidores cadastrados. Interatividade: A interatividade é total, e a ideia de autoria se desfaz nesses projetos baseados no conceito de inteligência coletiva. Veja: www.amillionpenguins.com. Fonte: revista Bravo!, nº 4/2010.

FICÇÃO HIPERTEXTUAL Também chamada de ficção não linear, permite que o texto tome vários caminhos e até que tenha vários finais possíveis. Esse gênero não nasceu na internet, mas ganhou impulso nela pela facilidade de criar hyperlinks, que possibilitam navegar pela história. Aplicação: Tem grande aplicação na literatura, adequada para a criação de novas narrativas não lineares ou para a adaptação de já existentes, como O jogo da amarelinha, de Julio Cortázar, ou O castelo dos destinos cruzados, de Italo Calvino. 49


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Títulos: Alguns dos mais interessantes exemplos podem ser consultados na Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Vale conferir títulos como Condições extremas, de Juan B. Gutierrez. Interatividade: Ela pode ser de dois tipos: explorativa e construtiva. Na primeira, o autor define os rumos da história, mas permite ao leitor decidir seu trajeto de leitura. Na segunda, o leitor pode até mesmo modificar a história. Fonte: revista Bravo!, nº 4/2010.

HIPERMÍDIA Narrativa que faz uso de texto, áudio, animações e vídeo para contar uma história ou desenvolver uma tese. A hipermídia não é a mera reunião das várias mídias, mas, sim, a fusão delas numa nova narrativa. Aplicação: Permite que várias mídias sejam integradas e formem uma nova linguagem, com sua própria gramática. Já imaginou um livro como A volta ao mundo em 80 dias usando o Google Maps? É útil também em ensaios — um livro sobre ópera, por exemplo, pode trazer as imagens e o áudio das encenações. 50


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Títulos: O premiado Alice inanimada, com produção de Kate Pullinger e Chris Joseph, é um romance que utiliza uma combinação das várias mídias. Durante dez episódios, vemos a menina sair de uma região remota da China para se tornar uma designer de jogos. Interatividade: Nem sempre é necessária a interatividade. O leitor pode simplesmente acompanhar a história da forma como ela é narrada. Ou eventualmente jogar com ela. Veja: www.inanimatealice.com. Fonte: revista Bravo!, nº 4/2010.

FAN FICTION Obra de ficção criada por fãs com base em personagens de livros, filmes, mangás e animações consagradas. Sem se importar com direitos autorais, os fãs podem também tomar emprestadas situações das histórias originais. Aplicação: Criado para diversão, o gênero também tem um potencial didático que já foi descoberto por professores de Português. Em sala de aula, podem-se criar fan fictions de obras clássicas — inventando-se mais peripécias, por exemplo, para Leonardo Pataca, protagonista de Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida. 51


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Títulos: Embora os primeiros blogs sejam dedicados a aventuras inspiradas pela série Harry Potter, de J. K. Rowling, há histórias baseadas em O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, e em Eragon, de Christopher Paolini, entre outros. Interatividade: Em sites, blogs, fóruns e redes de e-mail, um “autor” pode controlar um personagem, discutindo com os amigos os rumos da história. Veja: www.fanfiction.nyah.com.br. Fonte: revista Bravo, nº 4/2010.

GAMES Modelo narrativo não linear, baseado nos videogames, leva o leitor a “jogar” uma história, em vez de apenas acompanhar a trama arquitetada por um autor. Aplicação: Atraente especialmente para o público juvenil acostumado a interagir com videogames. Os educadores já estão de olho no potencial do formato para atualizar os livros didáticos. Já pensou estudar Geografia procurando um tesouro nos Andes?

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Títulos: Em 2008, a editora americana Scholastic publicou o primeiro livro da série The 39 quis — lançado recentemente no Brasil pela editora Ática. Escrito por Rick Riordan, autor de Percy Jackson e os olimpianos, o livro entrou imediatamente nas listas de mais vendidos nos Estados Unidos. Interatividade: No caso de The 39 quis, figurinhas colecionáveis, quebracabeças, jogos on-line e um website ajudam o leitorjogador a seguir as pistas que revelam o passado da família Cahill e de personagens históricos, como Benjamin Franklin e Anastasia Romanov. Veja: www.the39clues.com.br. Fonte: revista Bravo!, nº 04/2010.

O MUNDO DIGITAL X MATERIAL O poeta Alberto da Cunha Melo, que trabalhava no Setor de Obras Raras da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, afirmou: Quando menino, o livro me seduziu primeiramente pelos sentidos, ou melhor, pelo sentido do olfato. É difícil reaver pelas lembranças o perfume do primeiro livro que li — Dom Quixote das crianças, de Monteiro Lobato, um exemplar novo em folha. Às vezes tento recuperar no mundo em volta o perfume daquele li53


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vro. Veio do pinheiro de que fizeram o papel? Outros perfumes, os dos gibis, climatizando as fantasias. Nada chega ao intelecto sem antes passar pelos sentidos (nihil est intellectu quod non fuerit in sensu), disse um velho pensador, Tomás de Aquino?.

Vejamos a opinião de Paulo Gustavo, da Consultexto, sobre o que diferencia o mundo digital do material: Como anunciei no início, lanço a hipótese para a longa sobrevivência do papel em companhia do mundo digital. Ele sobreviverá por sua materialidade, já que a materialidade do virtual está como que conectada à dependência das máquinas. Estas são uma espécie de intermediários... Mas adianto, nessa hipótese, que não defendo qualquer fetichização da materialidade por si mesma. O que ocorre é que a materialidade está intimamente ligada, para não dizer ontologicamente constituída, ao sentido do tato. Este, mais do que a visão, é o sentido que constitui o real. É o tato que nos comunica, de forma imediata, ao mundo como ser descolado de nossa própria autoconsciência. É do corpo e das mãos (sem falar numa possível antropologia da pele) que vem a sensação de realidade. E, assim, é nesse sentido que o papel, em sua materialidade, continuará soberano como algo no qual se inscreve, no qual se marca a escrita no seu sentido etimológico e ontológico.

O bibliófilo José Mindlin citou um exemplo sobre esse tema em entrevista que concedeu, no Recife, em agosto de 2005. Na última vez em que Borges veio ao Brasil, nos anos 1980, 54


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já estava cego e ainda assim queria a primeira edição de Os sertões. Como Mindlin tinha mais de um exemplar, deu um deles para Borges. Segundo o próprio, Borges não queria o livro para ler, pois não podia mais fazer isso. Ele queria tocar nele, pegar, sentir o livro. Era o seu fetiche. Sempre haverá alguém que prefira o livro como memória vegetal. Ou melhor, escolha alcançar, dessa maneira, a intimidade com um autor, por meio das páginas que vão cobrando a vida enquanto se abrem. Sempre haverá alguém que vai querer voltar para um livro só na edição em que o conheceu pela primeira vez, às dedicatórias, às recordações e aos passados que ficaram unidos a esse objeto.

Internet: O QUE NÃO ESTÁ NA WEB NÃO EXISTE Conforme os dados divulgados pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), cerca de 1,5 bilhão de pessoas utilizam a internet em todo o mundo. Esse total é resultado de um contínuo e expressivo aumento no número de internautas a cada ano. No Brasil, por exemplo, segundo pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), já em 2007, a venda de computadores no País — que é hoje o quinto maior em número de conexões com a internet — superava a de televisores. Foram 10,5 milhões de computadores contra 10 milhões de televisores. 55


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Diante disso, não podemos ignorar a abrangência e o poder de comunicação da internet na atualidade. No entanto, é necessário interrogar sobre qual tem sido o papel sociocultural desse novo fenômeno de comunicação. A internet torna possível que mais pessoas escrevam. Cria a possibilidade de fazer surgir mais e melhores escritores. Muito menino foi a campo até que surgisse um Pelé ou um Garrincha.

Internet e redes sociais Não é de hoje que as redes sociais são presentes na vida dos brasileiros. O Brasil, antes considerado país-símbolo do futebol, chama atenção como nação adepta das novas mídias. Aproximadamente 80% dos internautas brasileiros acessam sites de relacionamento e blogs. O Brasil tem 66 milhões de internautas com idade acima de 16 anos. A cada segundo e meio, isto é, entre um gole de café e outro, um blog é criado na web; 360 milhões de internautas frequentam o MySpace, bem como 150 milhões comparecem ao Facebook e mais 60 milhões ao Orkut. Cerca de 70% dos jovens entre 18 e 24 anos, da cidade de São Paulo, são usuários de alguma mídia social em sua rotina diária, percentual que continua alto na população da metrópole, de 45% (Ibope Media, agosto de 2009); 24 milhões de usuários ativos, no Brasil, estão inscritos no Orkut (Nielsen Online); 84% dos usuários brasileiros do Orkut acessam a rede ao menos 56


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uma vez por dia; desses, 63% o fazem várias vezes; em julho de 2010, o Facebook superou 1 milhão de usuários no Brasil.

O GOOGLE BOOKS E O FUTURO DO LIVRO Depois do site de relacionamentos Orkut e do Gmail — inusitado pelo fato de nunca ter sua capacidade de armazenamento esgotada —, alguns dos últimos projetos do Google é a ferramenta Google Book Search, inaugurada em novembro de 2005, e a venda de livros eletrônicos (e-books), através do Google Editions. O objetivo da maior empresa da internet é digitalizar praticamente todos os livros do planeta. Segundo dados do Online Computer Library Center, dos 55 milhões de títulos existentes no mundo, apenas 10% representam o catálogo ativo das editoras, 15% estão em domínio público e 75% — o que equivale a 40 milhões — são livros fora do mercado. O foco inicial do Google é disponibilizar principalmente esses dois últimos grupos. No fim de 2009, o total de exemplares convertidos em bits pela empresa já havia alcançado os 10 milhões. Através do Google Book Search, o internauta acessa o conteúdo de livros, textos e artigos armazenados por algumas das principais bibliotecas do planeta. Apesar de já estar enfrentando inúmeras ações judiciais por parte de editoras e escritores desses conteúdos, o Google entrou em acordo com os reclamantes, que finalmente permitiram o acesso a esses conteúdos. 60


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Os responsáveis pelas bibliotecas de pesquisa, entretanto, concordam e aprovam a ideia do Google de levar os conteúdos de suas prateleiras para o que chamam de biblioteca virtual, pois alegam que o que eles visam é abrir os acervos e torná-los disponíveis a leitores de todos os lugares. O modelo de negócio do Google tem gerado controvérsias relacionadas a infração de direitos autorais, questões de monopólio e privacidade.

A antiga e a nova biblioteca de Alexandria As bibliotecas já existiam muito antes do nascimento de Cristo. Em 331 a.C., o imperador Alexandre, O Grande, fundou na cidade de Alexandria uma das maiores maravilhas de Antiguidade: uma biblioteca que chegou a ter 700 mil rolos de papiro. Segundo O Grande, o mundo para ele era pequeno. Sob sua cabeça, dormiam uma espada e a Ilíada de Homero. Teve como tutor Aristóteles. A Biblioteca de Alexandria é considerada a “mãe” de todas as bibliotecas e, junto com o Museu de Alexandria, abrigou os mais célebres pensadores da Antiguidade, tais como o matemático Euclides e o físico Arquimedes. Posteriormente, assiste-se à desastrosa manobra tática de Júlio César, que incendiou grande parte do porto e da biblioteca; às perseguições religiosas do século III d.C.; e, finalmente, à ocupação da 62


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cidade pelos árabes, em 642 d.C., com a consequente destruição da Biblioteca Real, nome da Biblioteca de Alexandria. Contudo, a Biblioteca de Alexandria foi reconstruída na atualidade (inaugurada em 2002), sendo considerada uma das maiores do mundo. Para sua reconstrução, foram gastos 230 milhões de dólares. Nela, existe a maior sala de leitura do mundo, com capacidade para 20 mil pessoas. Seus corredores abrigam um acervo com aproximadamente 8 milhões de volumes. Diz a tradição que, até o século X, os poucos alfabetizados que existiam liam em voz alta. Podemos imaginar a balbúrdia na Biblioteca de Alexandria. A peça Cleópatra e Julio César, de Bernard Shaw, conta uma história: quando a Biblioteca de Alexandria se incendiava, alguém gritou: “Está queimando a memória da humanidade!”. E outra pessoa retrucou: “Deixa queimar, porque essa memória é insana”. Contudo, o homem reconstruiu a Biblioteca de Alexandria e criou uma outra, dessa vez virtual.

CONSTRUIR um país leitor: conectar a política do livro Precisamos combater uma grande fome do livro no Brasil. Vejamos alguns dados da última pesquisa Retratos da leitura, do Instituto Pró-Livro, sobre o livro no Brasil: • Número de leitores: 95 milhões. 63


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• Número de não leitores: 77 milhões. • Número de livros comprados: 1,2 livro por habitante/ano (que dá 36,2 milhões de compradores de livros). • Número de livros lidos: 4,7 livros por habitante/ano. O primeiro Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais aponta que 21% das cidades não têm biblioteca municipal, conforme pesquisa feita de setembro de 2009 a janeiro de 2010. Dados: Percentual de municípios com bibliotecas abertas • Brasil – 79% • Pernambuco – 85% • Número de bibliotecas para cada 100 mil habitantes • Brasil – 2,67% • Pernambuco – 1,85% • Percentual de bibliotecas com acesso do usuário à internet • Brasil – 29% • Pernambuco – 28% • Percentual de bibliotecas com adaptação para uso de deficientes visuais 64


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• Brasil – 9% • Pernambuco – 7% • Percentual de frequência semanal • Brasil – 1,9% • Pernambuco – 3,7% • Média de empréstimos de livros por mês • Brasil – 292 • Pernambuco – 146,7 • Percentual de uso da biblioteca para lazer • Brasil – 8% • Pernambuco – 1% O Brasil tem hoje cerca de 30 milhões de analfabetos funcionais. Em quase um terço (32%) dos municípios brasileiros, os alunos não conseguem passar mais de quatro anos na escola. São dados do Instituto Ayrton Senna. Precisamos melhorar essas performances. Os direitos culturais são uma das principais vertentes dos direitos sociais previstos na Constituição Federal. O direito à leitura e o acesso ao livro são direitos básicos dos cidadãos. Estamos falando de cidadania. O caminho do desenvolvimento passa pela leitura.

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Destacamos alguns pontos: 1 Combate à fraca distribuição/divulgação do livro regional, tudo para conectar a política do livro: 1.1 O grande gargalo da editoração local é a fraca distribuição. Nossa sugestão é a de que se faça um portal, na internet, de divulgação do livro regional linkado com as livrarias, no intuito de divulgar e vender as obras. 2 Estimular a formação de leitores: 2.1 A formação de leitores não passa hoje necessariamente pela escola. Existe a necessidade de políticas alternativas ou complementares. 2.2 A tecnologia está impactando a forma tradicional de educação. 2.3 Concordamos com o fato de que, para muitas pessoas, as grandes bibliotecas são inacessíveis. Assim sendo, defendemos o incentivo à formação de bibliotecas alternativas ou minibibliotecas. 2.4 Ambientes e meios para instalação de bibliotecas alternativas – minibibliotecas: salas de espera e recepção de consultórios, clínicas e hospitais; agências bancárias (BNB – Biblioteca Express); órgãos públicos; terminais de passageiros, ônibus e metrôs; presídios (Salas de Leitura, Rio de Janeiro), parques de leitura. 2.5 A utilização de bibliotecas virtuais, como as bibliotecas nas nuvens. 66


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O LIVRO COMO RESISTÊNCIA E REEXISTÊNCIA A leitura de um livro não pode parecer uma obrigação, mas deve ser um ato de prazer ou de paixão. Um livro tem que ser uma forma de felicidade. Alguém já disse que o livro é apenas um instrumento para encontrarmos a verdade por nós mesmos. O livro atravessou eras de guerras e perseguições, sobreviveu e, mais ainda, saiu fortalecido. Nesta época de contradições e incertezas, a cultura e o livro são as armas para se manterem os valores básicos do homem acima dos conflitos econômicos e de credo. Desejamos contribuir para que o amor pelos livros seja disseminado em nosso país, o qual ainda precisa conquistar para seu povo o acesso ao livro. O livro é uma forma de resistência e reexistência numa globalização que trouxe mais exclusão social e tensões entre culturas e religiões. Dedico este livro ao inesquecível José Mindlin, homem marcado por um grande amor pelos livros e pela leitura, cujo amor aos livros o imortalizou. Longa vida ao livro! Antônio Campos Advogado, escritor, editor, curador da Fliporto e membro da Academia Pernambucana de Letras camposad@camposadvogados.com.br

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LISTA DE IMAGENS

Página 5: tela do ipad da Apple Páginas 6 e 7: tela de abertura do ipad da Apple Página 8: tela do ipad da Apple Página 10: dia de São Jorge, do livro e da rosa na Catalunha - foto de Lluis Gene, AFP/Getty Images Página 16: escritor Umberto Eco - foto de Raphael Gaillarde, Gamma-Rapho/Getty Images Página 19: escritor Paulo Coelho - foto de Alexander Hassenstein, Getty Images/Hubert Burda Media Página 23: imagem do gráfico alemão Johannes Gutenberg, inventor da imprensa, Kean Collection/Getty Images Página 25: jovens leitores, Getty Images Página 27: Juerguen Boss, presidente da feira de frankfurt, Antônio Campos e Rosely Boschini, da CBL. Páginas 38 e 39: iPad da Apple - foto de Emmanuel Dunand, AFP/Getty Images Página 40: o Kindle da Amazon - foto de Chris Ratcliffe/Bloomberg, Getty Images Página 42: o Mix Leitor da Mix Tecnologia - foto divulgação Página 47: óculos 3D - foto de Justin Sullivan, Getty Images Página 57: biblioteca de Alexandria, inaugurada em 2002 e localizada próxima ao local da antiga biblioteca de Alexandria. Possui um centro de internet, quatro museus, um planetário, quarto galerias de arte e oito centros de pesquisa, Getty Images. Páginas 58 e 59: imagens da antiga biblioteca de Alexandria (1826-1905, Milão, Itália, Pinacoteca Ambrosiana, 236x350 cm), Getty Images Página 61: livros antigos, Getty Images 69


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DADOS BIOBIBLIOGRÁFICOS

ANTÔNIO Ricardo Accioly CAMPOS nasceu no Recife, Pernambuco, (25/06/1968). Diplomado em Direito pela UFPE. Advogado, especialista em Direito Empresarial e Eleitoral, notadamente nas áreas de Consultoria, Planejamento e Contencioso Tributário e Comercial, como também em Direito Público e Direito do Entretenimento. Associado à Noronha Advogados, com atuação em diversos países. Cofundador do Instituto de Direito Privado da Faculdade de Direito do Recife; membro e sócio benemérito da UBE-PE; conselheiro da AIP; palestrante honorário da Escola Ruy Antunes, da OABPE, na cadeira de Direito Eleitoral; conselheiro titular da 1ª Câmara do 2º Conselho de Contribuintes da Receita Federal; autor de artigos jurídicos e literários publicados em periódicos, revistas e jornais; detentor da comenda Dom Quixote da revista Cidadania e Justiça. Membro das Academias Pernambucana de Letras e de Artes e Letras de Pernambuco. Antônio foi um dos fundadores do Instituto Maximiano Campos (IMC), depositário do acervo literário e artístico do escritor Maximiano Campos, seu pai, prematuramente falecido, e também promotor e divulgador das culturas pernambucana e nordestina. Presidente do IMC, sociedade civil voltada para a valorização da cultura brasileira, especialmente dos valores literários, com ampla atuação em Pernambuco e na região nordestina, já apoiou a publicação de mais de cem livros. O IMC apresenta uma lista considerável de lançamento de livros de outros escritores e produções dele próprio, como a coletânea Pernambuco, Terra da Poesia: um Painel da Poesia Pernambucana dos Séculos XVI ao XXI, organizada 70


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pelo próprio Antônio Campos e por Cláudia Cordeiro, IMC/ Escrituras, São Paulo, 2005; e Panorâmica do Conto em Pernambuco, lançada em 2007 e agora em 2ª edição. Também promove concursos, como o de contos, que classificou dez novos escritores de diferentes estados e resultou no livro O Talento com as Palavras, organizado pelo IMC/ Edições Bagaço, 2006. Além disso, o IMC realiza eventos culturais, como a participação com a Casa das Letras no I Festival de Literatura de Garanhuns, 2006. Antônio Campos assinou contrato para realizar, através do IMC, a Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto). Sob a sua curadoria, a Fliporto aconteceu em Porto de Galinhas, onde foi debatido o tema Integração Cultural da América Latina; seguido de Cultura Africana, Cultura Hispânica. No ano de 2010, em novo cenário, enfocou o tema Cultura Judaica. Como escritor, além dos livros, Antônio Campos é articulista, com coluna no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, e colaborador dos jornais locais, conferencista, contista e poeta. Estou consciente das dificuldades de reduzir uma nota biográfica de Antônio Campos. Dizer o quê do mentor, do dínamo de todos esses acontecimentos? Antônio não limita sua atuação a Pernambuco, pois, como foi noticiado, ele, acompanhado de Arnaldo Niskier, Ivo Pitanguy e Gilberto Freyre Neto, visitou Estocolmo para falar para acadêmicos suecos sobre o nosso país: “O Brasil, que é um país mestiço, marcado pela mistura de raças, deve ser motivo de estudos quanto à tolerância e ao convívio entre raças e culturas, quase uma ‘democracia racial’”. E conclui: “É preciso resistir à tentação fácil da xenofobia e do racismo de toda espécie. Diálogo é a palavra-chave do mundo contemporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas”. Visitar a Academia Sueca de Letras equivale a dizer: o Brasil existe e tem escritores. Antônio Campos traz de berço, no sangue, na alma, o gosto pela literatura e pelas artes transmitido pelo seu pai, o escritor Maximiano Campos, assim como a marca da luta, do desbravamento, da transformação do meio em que vive, herança de uma das maiores figuras políticas deste país, seu avô Miguel Arraes. Sendo este um bem de família, não podemos deixar de citar a figura do irmão, o governador Eduardo Campos, nem a obra que está realizando em Pernambuco. 71


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Bibliografia: Mensagens, seleta de artigos publicada pelas Edições Bagaço, 2ª edição, Recife, 2002; Pense S.A., acerca de planejamento estratégico e melhoria organizacional, Edições Bagaço, Recife, 2002; O Grande Portal, seleta de artigos e ensaios, Edições Bagaço, Recife, 2003; Direito Eleitoral – Eleições 2004, Edições Bagaço, Recife, 2004; A Arte de Advogar, Edições Bagaço, Recife, 2004; Viver É Resistir, Edições Bagaço, Recife, 2005; Pernambuco, Terra da Poesia, coletânea, em parceria com Cláudia Cordeiro, Editora Escrituras, São Paulo, 2005; Território da Palavra, Edições Bagaço, Recife, 2006; Panorâmica do Conto em Pernambuco, em parceria com Cyl Gallindo, Editora Escrituras, São Paulo, 2007; Portal de Sonhos, poesias, Editora Escrituras, São Paulo, 2008; [Em]Canto – A Voz do Poema (leitura de Antônio Campos), poesia em CD, Atração Fonográfica/IMC, s.d.; Clarice Lispector – Uma Geografia Fundadora, palestra proferida na APL quando da comemoração do Dia Internacional da Mulher, em 08/03/2010, Carpe Diem Edições e Produções, Recife, 2010; A Reinvenção do Livro, conferência proferida na UBE-PE, em comemoração ao Dia Internacional do Livro, em 23/04/2010, Carpe Diem Edições e Produções, Recife, 2010; Diálogos Culturais no Mundo Pós-moderno, realizado em Estocolmo, março, 2010, Carpe Diem Edições e Produções, Recife, 2010. Cyl Gallindo, Panorâmica do Conto em Pernambuco, 2010.

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Este livro foi composto e editado eletronicamente na fonte Calibri. Impressão em papel pólen, 90g/m², para o miolo e papel Triplex, 280g/m², para a capa. Recife, novembro de 2011.



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