I See Brazil 10 anos

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BRASIL 2006-2016:

UMA DÉCADA DE ALTOS E BAIXOS


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APRESENTAÇÃO........04 PARTE 1: A ECONOMIA.......06 PARTE 2: A POLÍTICA.......18 PARTE 3: A SOCIEDADE.......26 LINHA DO TEMPO.......36 3


APRESENTAÇÃO

Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário.” Charles Dickens, Um Conto de Duas Cidades (1859), trad. Sandra Luzia Couto

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A

referência de Dickens é perfeita quando se pensa na história recente do Brasil. Os dez anos entre as eleições que levaram à manutenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto e o impeachment de sua sucessora Dilma Rousseff podem ser considerados um período único. Em tão pouco tempo, o país iniciou uma trajetória ascendente, na qual assistiu à melhoria de seus indicadores econômicos e sociais, aumentou seu grau de protagonismo na arena mundial e sediou dois eventos esportivos internacionais. E também testemunhou a deterioração desses mesmos indicadores econômicos e sociais, ingressou em uma crise política sem precedentes nas últimas décadas e presenciou pela terceira vez em menos de 30 anos a posse de um vice-presidente no lugar do titular escolhido pelo voto. O que aconteceu? Como foi possível sustentar taxas de crescimento econômico que entusiasmaram observadores estrangeiros – especialmente levando-se em conta que as economias desenvolvidas enfrentaram nesse período a crise do subprime –, conquistar o investment grade e, após alguns anos, reverter a uma situação desfavorável? Sem qualquer pretensão de trazer uma interpretação completa e definitiva sobre o assunto, a Imagem Corporativa pretende, com esta breve publicação, contribuir para o entendimento deste ciclo de crescimento acelerado e declínio também rápido. E apontar para o fato de que, se o país não está mais alinhado com as projeções excessivamente otimistas de alguns anos atrás, também não se encontra em uma situação desesperadora. O Brasil enfrentou crises muito mais severas em sua história recente, e certamente superará as dificuldades atuais – com o benefício das lições aprendidas nesses últimos dez anos. 5


PARTE 1:

A ECONOMIA PARTE 1:

A ECONOMIA

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Ascensão Apesar da estabilização econômica ter ocorrido em meados dos anos 1990, parecia que as condições necessárias para o salto da economia ainda não existiam. E após o défault da Argentina, em 2001, havia o temor de que o mesmo poderia ocorrer no Brasil. O megainvestidor George Soros chegou a afirmar em 2002 que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República levaria o país a declarar uma moratória de R$ 685 bilhões – e que os investidores internacionais, atentos a essa possibilidade, deixariam de injetar dinheiro no país. Contudo, em 2006 o quadro econômico parecia ter deixado tais temores para trás – e a forte expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da China, que levou o país a importar volumes cada vez mais expressivos de commodities, contribuiu para sua consolidação. O Brasil parece estar mais próximo de deixar a constante pecha de “país do futuro” e finalmente realizar seu potencial como economia-líder na América Latina – fortalecendo a ala desenvolvimentista do governo, favorável a que o Estado tivesse papel importante na definição de políticas econômicas. Ao mesmo tempo, foi feita uma escolha pelo modelo de crescimento lastreado na ampla oferta de crédito – o que levou o consumo interno a patamares inéditos nas últimas décadas, quase criando um novo “milagre brasileiro”, jargão usado pela propaganda do regime militar (1964-1985) para vender a ideia de um “país que vai para a frente”. Um símbolo desse novo status quo foi o anúncio, naquele ano, do pagamento das últimas parcelas que o Brasil devia ao Fundo 8


PARTE 1: A ECONOMIA

Monetário Internacional (FMI). Ao lado da alta inflação, a dívida externa brasileira sempre se compôs no imaginário do país como um dos principais obstáculos para o desenvolvimento nacional. Outro componente importante que sinalizava o novo momento econômico do país foi a recomposição das reservas internacionais. Após eventos como maxidesvalorização do real e repentina alta dos juros internos (1999), a crise no fornecimento de energia elétrica, o défault da Argentina e os ataques de 11 de Setembro nos EUA (2001), elas foram encolhendo – e em 2002 não passavam de US$ 16,3 bilhões. A partir daí houve um aumento constante, a ponto de em 2006 se atingir US$ 85,8 bilhões – que aumentariam para US$ 180,3 bilhões no ano seguinte. A crise financeira global deteve o ritmo do crescimento, mas não a sua expansão – o que possibilitaria o nível total das reservas atingir a marca de US$ 378,6 bilhões em 2012. A partir daí não haviam mais altas expressivas – e em julho de 2016 as reservas somavam US$ 377,53 bilhões. O processo de queda da taxa básica de juros, a Selic, que já vinha do final da década de 1990, ganhou velocidade nesse período. Se em janeiro de 2006 a taxa era de 18% a.a., ela atingiria seu 9


nível mais baixo em janeiro de 2013 – quando foi fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 7,12% a.a. As possibilidades abertas pela utilização do etanol como combustível e a descoberta de um megacampo de petróleo na camada do pré-sal da Bacia de Campos aumentaram o nível de entusiasmo com relação à economia brasileira – que receberia, no início de 2008, o grau de investimento (“investment grade”) da agência classificadora internacional Standard & Poor’s. Ao lado do fortalecimento dos indicadores econômicos “LÁ, A CRISE É UM TSUNAMI. em um momento no qual AQUI, SE CHEGAR, VAI SER as economias centrais UMA MAROLINHA, QUE NÃO DÁ NEM PARA ESQUIAR.” passavam por sérias PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA dificuldades, as empresas DA SILVA, 04.10.08 multinacionais brasileiras passaram a conquistar mais espaço no exterior – o que se deveu não apenas ao enfraquecimento de seus concorrentes globais, mas à política de “campeões nacionais” adotada pelo governo brasileiro, que destinava a essas empresas empréstimos vantajosos via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Ranking das Multinacionais Brasileiras elaborado pela Fundação Dom Cabral para o ano de 2012 apontou JBS, Gerdau, Stefanini, Magnesita e Marfrig como as cinco mais destacadas. O capitalismo brasileiro ganhava espaço no mundo – e internamente era simbolizado pelo dinamismo com o qual se via a ascensão do empresário Eike Batista.

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PARTE 1: A ECONOMIA

Queda O fim do “boom das commodities”, o esgotamento do modelo de crescimento baseado no crédito, a situação externa e o forte intervencionismo do governo na economia acabaram levando, aos poucos, a uma reversão desse quadro. Em 2013 já era perceptível uma situação de estagnação econômica, especialmente na comparação com outros países emergentes – que também foram afetados negativamente pela queda na demanda por commodities. A persistência de problemas históricos que não foram enfrentados, como a alta carga tributária, os gargalos de infraestrutura, o baixo nível de investimentos e a retomada da alta das taxas de juros, eram questões que reduziam o grau de ação dos governos, cada vez mais comprometidos com déficits orçamentários. Tanto que a necessidade de reajuste nas tarifas de transporte urbano foi o estopim para manifestações de rua em todo o país em junho daquele ano, mostrando que havia uma ampla insatisfação popular relacionada a expectativas não atendidas em diferentes dimensões da vida nacional.

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Já no primeiro trimestre de 2014 se associava o Brasil a um novo grupo de países, o “quinteto frágil” (“fragile five”), ao lado de Índia, África do Sul, Turquia e Indonésia. Esses emergentes teriam assistido à queda dos investimentos estrangeiros para financiar seu crescimento econômico, e poderiam ter sérias dificuldades no futuro. No caso brasileiro, esse quadro começou a ficar mais nítido no segundo semestre daquele ano – o que levou a reeleita presidente Dilma Rousseff a chamar Joaquim Levy a comandar o Ministério da Fazenda. A ideia era tentar reanimar a economia por meio de políticas mais alinhadas às expectativas do mercado – o que acabou não sendo levado adiante no ano seguinte, diante da crise política que incluía a falta de apoio do partido do governo ao novo ministro, a crescente oposição do Legislativo às iniciativas do Planalto, e da própria realidade de uma economia que já então desagradava a diferentes segmentos da população, de boa parte dos trabalhadores à maioria dos empresários, passando por significativas camadas da sempre influente classe média. E 2015 foi um ano difícil – com a perda do grau de investimento, a disparada do dólar e a alta da inflação e do desemprego. O país perdeu 1,5 milhão de empregos com carteira assinada, o pior resultado desde 1985. Se a crise política levou a agravamento da crise econômica, esta piorou a situação do governo – em um ciclo vicioso que tinha como pano de fundo as revelações de corrução O BRASIL, UM GIGANTE ECONÔMICO E CULTURAL, CONTINUA A SER UM ANÃO DIPLOMÁTICO.” YIGAL PALMOR, EX-PORTA-VOZ DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ISRAEL, 24.07.14

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PARTE 1: A ECONOMIA

na Petrobras, os avanços da Operação Lava-Jato que nele respingaram fortemente e a contínua dificuldade do Planalto em dialogar com a sociedade. Empresas adiaram ou abandonaram seus projetos de expansão, e investidores ficaram mais cautelosos. Em 2013, ocorreu o desmonte das empresas de Eike Batista, que chegara a ser o brasileiro mais rico e respeitado no cenário internacional por alguns anos graças a investimentos nos setores de óleo e gás, infraestrutura e logística que, ao final, se mostraram inconsistentes. Esse desmonte sugeria simbolicamente que o momento positivo do capitalismo brasileiro havia passado. Apesar da força simbólica da compra do Gherkin – um dos mais icônicos edifícios da City londrina – pelo Grupo Safra, no final de 2014, já se percebia uma inversão completa de cenário – que só pioria dali em diante. A então chamada “nova matriz econômica” deixava claro ali as inconsistências que o governo Dilma Rousseff jamais admitiu. 13


PIB (em US$ correntes) 90.000.000.000.000,00

80.000.000.000.000,00

70.000.000.000.000,00

60.000.000.000.000,00

50.000.000.000.000,00

40.000.000.000.000,00

30.000.000.000.000,00

20.000.000.000.000,00

10.000.000.000.000,00

0,00 2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2014

2015

Fonte: Banco Mundial

Mundo

Brasil

2013

PIB (crescimento anual, em %) 8%

6%

4%

2%

0% 2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

- 2%

- 4%

- 6%

Mundo

Brasil

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Fonte: Banco Mundial


Fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (em US$ correntes) 3.500.000.000.000,00 3.000.000.000.000,00 2.500.000.000.000,00 2.000.000.000.000,00 1.500.000.000.000,00 1.000.000.000.000,00

500.000.000.000,00 0,00 2005

2006

2007

2009

2008

2010

2011

2012

2015

Fonte: Banco Mundial

Mundo

Brasil

2014

2013

Inflação anualizada em julho*

9,56%

6,57%

8,74%

6,87%

6,37%

6,27% 6,5%

3,97%

2005

2006

3,74%

2007

2008

4,5%

2009

4,6%

2010

2011

* Variação do IPCA acumulado nos últimos doze meses.

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5,2%

2012

2013

2014

2015

2016

Fonte: IBGE


Taxa de juros (Selic) (em %)

17,26% 14,15% 13,19% 11,18%

12,17%

12,17% 11,16%

14,15%

10,66%

12,65%

10,9% 9,65%

8,9%

8,65% 7,14%

JAN 2006

NOV 2006

SET 2007

JUN 2008

MAR 2009

DEZ 2009

SET 2010

JUN 2011

MAR 2012

NOV 2012

AGO 2013

MAI 2014

MAR 2015

NOV 2015

AGO 2016

Fonte: Banco Central

Reservas internacionais* (em US$ milhões) 400.000 350.000 300.000 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 2006

2007

2008

2009

2011

2010

2012

*Reservas no conceito liquidez, que inclui o saldo de linhas com recompra e operações de empréstimo em moedas estrangeiras.

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2013

2014

2015

2016

Fonte: Banco Central


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PARTE 2:

A POLÍTICA

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Governo popular Acossado pela denúncia do Mensalão, o Planalto iniciou 2006 com temores de que não seria possível garantir a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, o bom momento da economia, somado à divisão do campo oposicionista, levaram o ex-sindicalista a conquistar seu segundo mandato presidencial no final do ano. A continuidade das políticas de distribuição de renda (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida) e o bom cenário econômico continuaram possibilitando altos índices de popularidade ao presidente. Um ponto importante desse período foi o fato de o governo brasileiro ser visto no exterior – especialmente pelos EUA, tanto de George W. Bush quanto de Barack Obama – como

ESSE É O CARA.” PRESIDENTE BARACK OBAMA SOBRE LULA, 02.04.09

um contraponto ao bolivarianismo mais aguerrido de Hugo Chávez, na Venezuela, ou ao neoperonismo de Nestor e Cristina Kirchner na Argentina. Diante da popularidade crescente de Lula – cuja avaliação positiva atingia 80,5% em agosto de 2010, de acordo com 20


PARTE 2: A POLÍTICA

pesquisa CNT-Sensus – não foi difícil para o governo emplacar um sucessor. Ou, no caso, uma sucessora – a ex-ministra de Minas e Energia e então responsável pela Casa Civil, Dilma Rousseff. Virtual desconhecida nacionalmente, ela amealhou 56,05% dos votos, superando o oposicionista José Serra (PSDB) e se tornando a primeira mulher a ocupar a Presidência no Brasil. Em seu primeiro mandato, Dilma conquistou uma percepção positiva – tendo sua imagem associada no imaginário popular à “gerente” que faz executar as tarefas, como no caso das obras de um Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), iniciativa que se funcionou como peça importante da propaganda política do governo por outro lado mostrou grandes fragilidades na prática.

Crise política A polarização observada na campanha presidencial não se dissipou no início de 2015 – mas acabou ganhando contornos cada vez mais fortes junto à sociedade por conta do escândalo da existência de um esquema de corrupção na Petrobras envolvendo autoridades do governo. Esse estado de coisas se complicou em fevereiro, quando o governo insistiu em indicar Arlindo Chinaglia do PT à Presidência da Câmara dos Deputados, repelindo composição com forças políticas que uma vez atraídas poderiam facilmente levar à vitória do candidato do Planalto. Esse isolamento acabou custando a derrota e a ascensão do então poderoso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência. Apesar de pertencer a um partido da base aliada, Cunha havia se declarado independente do Executivo e iniciou uma relação cada vez mais conturbada com a presidente Dilma Rousseff - afinal, 21


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PARTE 2: A POLÍTICA

era por ele que passaria um eventual pedido de impeachment, possibilidade que no momento circulava apenas entre os integrantes mais exaltados da oposição derrotada nas eleições de 2014. Em março de 2015 as revelações sucessivas das investigações do Ministério Público Federal na Operação Lava-Jato, somadas à deterioração da economia, levaram diversas cidades a protagonizar panelaços durante o discurso de Dilma Rousseff em cadeia de rádio e TV no Dia da Mulher. O mal-estar continuaria nos meses seguintes, levando Cunha a romper oficialmente com o Planalto. Em outubro a presidente promoveu uma reforma ministerial, com a finalidade de dar mais espaço ao PMDB na Esplanada – e contar com o apoio mais enérgico do partido, que nominalmente integrava a base aliada do Planalto. Mas foi em vão. Os problemas se acumulavam na medida em que ganhavam relevância novas variáveis. De um lado, o envolvimento com as denúncias da Operação Lava-Jato de diversos caciques do PMDB que por muito tempo deram sustentação à base do governo e que dele agora se afastavam, bem como o crescente protagonismo do então vice-presidente Michel Temer ao se colocar como alternativa de diálogo com setores insatisfeitos da sociedade. Ao mesmo tempo, também impactavam o governo “O VILÃO NÃO É UNICAMENTE O PODER PÚBLICO. A CORRUPÇÃO ENVOLVE QUEM PAGA E QUEM RECEBE.“ JUIZ SÉRGIO MORO, 11.05.16

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sua baixa credibilidade na gestão da economia e a descoberta de novas conexões de desvios de recursos públicos que beneficiariam elos de suporte ao governo do PT. Um momento emblemático ocorreu em março de 2016 – quando, acuada pela possibilidade de abertura de um processo de impeachment, Dilma Rousseff realizou uma nova minirreforma ministerial, e desta vez chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar a Casa Civil. O movimento foi interpretado como uma forma de transformar Lula no governante de fato (aproveitando sua experiência

“É HORA DE PACIFICAR O BRASIL.” MICHEL TEMER EM ENTREVISTA À REVISTA ÉPOCA, 31.08.16

em articulações políticas para se ressuscitar o governo) e, mais do que isso, uma manobra para garantir o foro privilegiado de que gozam ministros de Estado visando blindar o ex-presidente da República das ações do juiz Sérgio Moro. Este, por sinal, fez vazar trechos de conversas entre Dilma e Lula, que poderiam ser interpretados como um acerto entre ambos. Tal ação provocou críticas a Moro, feitas por defensores da ideia de que as conversas deveriam ter sido encaminhadas em sigilo ao Supremo Tribunal Federal (STF). A partir desse momento, a ideia de se iniciar um processo para o 24


PARTE 2: A POLÍTICA

afastamento da presidente, sob a justificativa de que cometera irregularidades na condução das contas do país – as chamadas “pedaladas fiscais” – ganhou novamente ímpeto. O pedido de afastamento da presidente da República foi formalizado e entregue à Câmara dos Deputados em abril. No dia 17 daquele mês o plenário decidiu autorizar o Senado a iniciar o processo. Em uma sessão tumultuada – que ficou no anedotário político nacional pelos posicionamentos nonsense dos deputados ao proferirem seus votos – 367 parlamentares se posicionaram favoráveis ao impeachment. No mês seguinte, a Casa Alta do Congresso decidiu por iniciar o julgamento – e Dilma Rousseff foi afastada temporariamente, sendo substituída pelo vicepresidente Michel Temer. Com a decisão tomada no final de agosto pelo Senado, Dilma foi definitivamente afastada da Presidência, e Michel Temer tornou-se presidente efetivo. “NÃO EXISTE NENHUM ATO ILÍCITO PRATICADO POR MIM, NÃO PAIRA CONTRA MIM NENHUMA SUSPEITA DE DESVIO DE DINHEIRO PÚBLICO.” PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF, EM PRONUNCIAMENTO, 02.12.15

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PARTE 3:

A SOCIEDADE

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A nova classe média O principal fato ocorrido ao longo da década foi a transformação da pirâmide social do país – com a ascensão da Classe C, que passou a consumir mais, ter mais acesso a viagens ou compras a crédito, e se tornou o grande motor da economia brasileira até o início desta década. O fenômeno, que já havia sido estudado em 2011 no livro Nova Classe Média, de Marcelo Neri, foi examinado também em pesquisa feita pelo Instituto DataPopular no início de 2014 – segundo a qual havia um universo de 108 milhões de pessoas, que teriam gasto mais de R$ 1,17 trilhão em 2013. A própria dinâmica de ascensão social dessa classe, somada à insatisfação da classe média tradicional, acabaram levando aos protestos de rua de junho de 2013. Deflagrados inicialmente por conta do anúncio de reajuste nas tarifas de ônibus, essas manifestações logo se tornaram momentos de crítica difusa ao status quo – com ênfase na corrupção dos políticos e nas lacunas da atuação do governo. A repressão da Polícia Militar do estado de São Paulo – controlada pelo governo do PSDB, opositor ao Planalto – deu aos protestos o apoio popular que eles não tinham.

Mundos do trabalho Combativos durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, os sindicatos assistiram a um arrefecimento de suas atividades com a chegada do PT no poder. Além de uma certa convergência ideológica, contribuiu para esse quadro a melhoria do quadro econômico – que foi aos poucos revertendo o cenário de alta do desemprego da década de 1990. Representantes de 28


PARTE 3: A SOCIEDADE

centrais sindicais foram chamados a integrar o primeiro governo de Lula, e movimentos sociais – como o Movimentos dos Sem Terra (MST) – ganharam livre trânsito no Planalto. Como resultado, pôdese observar uma certa contenção dos sindicatos pelo governo, que levou a um arrefecimento do movimento trabalhista. A deterioração da economia – e a virada do segundo governo Dilma, que acenou no sentido de desmontar a “nova matriz econômica” – levaram os sindicatos a adotar posições mais assertivas. O ápice desse processo foi o anúncio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores (UGT), em janeiro de 2016, de que só continuaram apoiando o Planalto caso fossem adotadas mudanças na política econômica, com o fim do ajuste fiscal. Mas, no final, nem a intervenção de Lula posicionou os sindicatos a favor da presidente contra o impeachment.

Crises corporativas Esta última década também assistiu à ocorrência de crises corporativas decorrentes do envolvimento - comprovado ou não - de executivos ou representantes de grandes empresas com iniciativas de tráfico de influência ou mesmo em esquemas ilegais de desvio de recursos de órgãos ou empresas das diversas esferas de governo. A situação mais emblemática vivida no Brasil nos últimos anos a esse respeito é o Caso Petrobras. No decurso das investigações da Operação Lava-Jato, diversas empreiteiras foram implicadas e ex-executivos aceitaram efetuar acordos de delação premiada 29


para, em troca de reduções em suas penas, apontar a extensão dos esquemas de irregularidades e seus participantes. Dois momentos simbólicos ocorreram no final de 2015, quando Marcelo Odebrecht, presidente da construtora Odebrecht (parte do grupo do mesmo nome com atuação também nas áreas de químicos e petroquímicos, energia e saneamento) e o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, foram detidos por suposto envolvimento em atos ilícitos na Petrobras. Outro caso que chamou a atenção nos últimos anos se tornou público em 2013 - quando o jornal Folha de S. Paulo noticiou a existência de um cartel de empresas, que combinava entre si os resultados dos processos de licitação para fornecimento de material metro-ferroviário a esferas da administração pública. O grupo atuava em processos de escolha de fornecedores do Metrô de São Paulo e do Distrito Federal, e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Em março de 2016, a Justiça de São Paulo aceitou uma denúncia contra sete executivos da francesa Alstom e da espanhola CAF. No início de setembro deste ano, nova denúncia, desta vez relativa a irregularidades em quatro dos maiores fundos de pensão do país, todos pertencentes a empresas estatais: Funcef (Caixa Econômica Federal, Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Postalis (Correio). Neste caso, recursos estariam sendo aplicados de forma tendenciosa e por vários anos em um grupo específico de empresas com boas relações com o governo

“RECESSÃO É QUANDO TEM DESEMPREGO AUMENTANDO E A RENDA CAINDO, AQUI TEMOS O CONTRÁRIO.” MINISTRO GUIDO MANTEGA (FAZENDA), 29.08.14

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PARTE 3: A SOCIEDADE

federal, trazendo grandes prejuízos aos fundos de pensão e seus contribuintes e beneficiários. Por que fatos com esses ocorrem? Alguns especialistas (e eventualmente os envolvidos) - apontam que o Brasil tem um ambiente político e econômico ainda muito dependente de relacionamentos entre os agentes responsáveis por tomadas de decisão (por exemplo, executivos de estatais, órgãos públicos ou autoridades do Executivo) relativas a grandes projetos que por sua vez demandam grande volume de recursos. Haveria assim um certo ambiente propício para empresas operarem fora das regras legais, a fim de não perderem oportunidades de negócios. Atentas a esta realidade, diversas empresas têm estabelecido estruturas administrativas que permitem identificar a ocorrência de casos como pagamento de propinas em seus escalões inferiores, com a finalidade de barrar quaisquer comportamentos irregulares. A Siemens, por exemplo, estabeleceu um sistema interno de compliance em 2007, após assistir a seus representantes envolvidos em casos de corrupção. Foi a denúncia da companhia que permitiu o início das investigações em torno do cartel que atuava nas licitações de material metro-ferroviário no Brasil. Um levantamento divulgado em julho de 2016 pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) indicou que a Operação Lava-Jato e a legislação brasileira de prevenção e combate à corrupção aceleraram a implementação de programas de compliance e gestão de risco nas empresas brasileiras. De 180 companhias consultadas, 73% afirmaram já dispor de um programa formal de compliance. 31


Protagonismo internacional Assim como na economia e na política, a percepção externa em torno do Brasil também teve seus movimentos mais expressivos – positiva e negativamente – ao longo desses dez anos. O ano de 2007 pode ser considerado emblemático: foi quando a FIFA escolheu o Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014, e a Petrobras anunciou ao mundo a descoberta de vastas reservas de petróleo na camada do pré-sal da Bacia de Santos. No ano seguinte, o Brasil conquistaria o investment grade, sendo considerado oficialmente pelo mercado mundial como um país para o qual era seguro direcionar investimentos. O crescimento da economia, que levaria a uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB), também chamou a atenção dos observadores internacionais. Mesmo a chegada da crise

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PARTE 3: A SOCIEDADE

financeira mundial no final de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers, não afetou substancialmente o país – que depois seria visto como um exemplo de resiliência em um momento desafiador. No ano seguinte, mais pontos para a imagem do Brasil no exterior: o Rio de Janeiro é escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, e a revista britânica The Economist lança a emblemática capa do Cristo Redentor decolando. Se os países emergentes eram vistos como o futuro da economia global, o Brasil parecia ocupar uma posição de vanguarda nesse processo. O país também passou a se movimentar nas turbulentas águas da diplomacia internacional. O Itamaraty teve papel importante no caminho que levou ao reconhecimento do Estado palestino, no processo de negociação do programa nuclear do Irã e na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. E passou a comandar a Missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti após o terremoto de 2010. 33


O soft power do país, que sempre se beneficiou da imagem do Brasil como o país das praias e de Pelé, tinha agora no jogador de futebol Neymar e na modelo Gisele Bündchen seus principais símbolos.

Visão negativa Assim como se tornou consensual em pouco tempo, essa imagem positiva do Brasil também foi rapidamente desconstruída. As manifestações de rua de 2013 e o início da deterioração dos indicadores econômicos, ao longo do ano seguinte, acabaram minando o entusiasmo externo – levando a The Economist a inverter sua capa de 2009, mostrando agora um Cristo Redentor em queda livre. É irônico notar que, no momento em que o Brasil exibia um dos pontos altos conquistados na década passada – a realização da Copa do Mundo de Futebol, em junho de 2014 – o país já começava a ser visto com desconfiança lá fora. Esse processo só aumentaria no ano seguinte, alimentado pela conjunção de crises – política e econômica – com o pano de fundo das revelações em torno da existência de um esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propinas na Petrobras, que envolveu políticos e autoridades do governo. A partir desse momento, a visão externa em torno do país ficaria cada vez mais negativa. 34


PARTE 3: A SOCIEDADE

Mesmo a realização dos Jogos Olímpicos trouxe apreensão quanto à capacidade do Brasil promover o evento. Preocupações com a criminalidade no Rio de Janeiro e com a proliferação do vírus zika predominaram no noticiário externo.

“NÃO FOI UM BOM NEGÓCIO” GRAÇA FOSTER, PRESIDENTE DA PETROBRAS, SOBRE

COMPRA DE REFINARIA Um levantamento da Imagem Corporativa EM PASADENA (EUA) que acompanha a imagem do Brasil no 15.04.14 exterior desde 2009 mostrou que, naquele ano, 80% das reportagens publicadas sobre o país nos principais veículos da imprensa estrangeira eram positivas. Esse percentual passou para 81% no ano seguinte – ponto alto da exposição favorável da mídia estrangeira ao Brasil. A queda começaria em 2013, quando o percentual caiu para 65%. No ano seguinte houve a reversão: 56% das reportagens publicadas sobre o país eram negativas. Tal percentual cresceria para 72% em 2015 – invertendo completamente o quadro observado poucos anos atrás.

E continuou em 2016: nos seis primeiros meses do ano, 85,5% das reportagens sobre o Brasil eram negativas. Essa percepção desfavorável continuou ao longo de julho – sendo interrompida apenas quando os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro contrariaram as expectativas pessimistas que circularam no exterior desde o início do ano. Contudo, o processo de impeachment no Senado, com o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, deu espaço para análises negativas sobre o jogo de forças na política brasileira, a rejeição de Michel Temer por fatias consideráveis da população e as possibilidades de êxito do novo governo no campo econômico. 35


2007

2006

JANEIRO: Governo lança Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

MARÇO: Ministro Antonio Palocci (Fazenda) é afastado por suspeita de violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa - que teria exposto contatos de Palocci com lobistas. Guido Mantega assume a pasta.

OUTUBRO: FIFA anuncia que Brasil sediará Copa do Mundo de Futebol de 2014. NOVEMBRO: Petrobras anuncia descoberta de megacampo de petróleo na camada do pré-sal da Bacia de Santos.

OUTUBRO: Lula supera o oponente Geraldo Alckmin e é reeleito para a Presidência.

DEZEMBRO: Senado derruba cobrança da CPMF.

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2009

2008

OUTUBRO: Rio de Janeiro é escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

ABRIL: Brasil recebe grau de investimento da Standard & Poor’s. SETEMBRO: Começa a crise financeira mundial, com a quebra do banco Lehman Brothers.

NOVEMBRO: A revista britânica The Economist traz capa com o Cristo Redentor “decolando”. Intitulado “Brazil Takes Off”, o editorial afirma que o país parece ter feito sua entrada no cenário mundial.

DEZEMBRO: Fazenda inicia redução de impostos para estimular a economia.

37


2010

2011

ABRIL: A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) deixa cargo para concorrer à Presidência da República.

JANEIRO: Dilma Rousseff assume a Presidência da República. SETEMBRO: O economista Marcelo Neri lança o livro Nova Classe Média, que busca entender o fenômeno dos 12,5 milhões de brasileiros que experimentaram aumento de renda ao longo da década anterior.

MAIO: Negociações brasileiras para acordo sobre programa nuclear do Irã. SETEMBRO: Petrobras conclui capitalização de R$ 120 bi. OUTUBRO: Dilma vence eleições presidenciais.

NOVEMBRO: Vazamento de 3.700 barris de óleo da Chevron na Bacia de Campos.

38


2013 ABRIL: Congresso equipara direitos de empregadas domésticas e babás aos dos demais trabalhadores.

2012

JUNHO: Movimento contrário ao reajuste das tarifas de transporte em algumas capitais do país leva a grandes manifestações de rua ao longo do mês.

FEVEREIRO: STF aprova Lei da Ficha Limpa, bloqueando a candidatura de políticos condenados ou cassados.

JULHO: Planalto lança programa “Mais Médicos”, com a vinda de profissionais de outros países, em especial Cuba, para o Brasil.

MAIO: Planalto instala a Comissão da Verdade para apurar violações dos direitos humanos entre 1946 e 1988.

AGOSTO: Cade investiga cartel para licitações do Metrô de São Paulo e do Distrito Federal, e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Funcionários da Siemens alega que esquema tinha aval do governo paulista do PSDB.

JUNHO: Início da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), no Rio de Janeiro. SETEMBRO: A MP 579 altera as regras do setor elétrico com a finalidade de reduzir as tarifas. Contudo, mudança de regras foi vista como sinal de intervencionismo do governo, ameaçando a segurança jurídica do setor de energia.

NOVEMBRO: Um ano após a condenação do Mensalão, os mandatos de prisão são expedidos, e os réus são recolhidos a presídios. DEZEMBRO: Após 15 anos de análises para a renovação da frota brasileira de jatos militares, o Brasil anuncia a compra de 36 caças supersônicos da empresa sueca Gripen.

NOVEMBRO: Julgamento do Mensalão: ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) é condenado a dez anos e dez meses de prisão.

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2014

2015

FEVEREIRO: Apagão provoca falta de energia elétrica em 11 estados.

FEVEREIRO: Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é eleito para a presidência da Câmara dos Deputados, e anuncia “independência” do Executivo. Câmara instala CPI da Petrobras. Graça Foster deixa o comando da estatal.

MARÇO: Julgamento do Mensalão é concluído, com a condenação de 24 dos 38 réus. Começa a Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga um esquema de corrução na Petrobras. Agência classificadora Standard & Poor’s rebaixa nota de crédito do Brasil.

MARÇO: Pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia da Mulher provoca panelaços em diversas cidades. Dias depois ocorreriam manifestações de rua em diversas cidades do país. ABRIL: Articulação política do Planalto é entregue ao vice Michel Temer.

ABRIL: Planalto sanciona Marco Civil da Internet.

JULHO: Eduardo Cunha anuncia rompimento com o governo Dilma. Contas do governo registram pior resultado semestral desde 1997.

JUNHO: É realizada a Copa do Mundo de Futebol. JULHO: Reunião de cúpula dos Brics em Fortaleza.

AGOSTO: Ex-ministro José Dirceu é preso na Operação Lava-Jato. Brasil entra em recessão técnica.

AGOSTO: Candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB) é morto em desastre de avião. Brasil entra em recessão técnica.

SETEMBRO: Brasil perde o grau de investimento. Dólar ultrapassa barreira dos R$ 4,00.

OUTUBRO: Dilma Roussef é reeleita com 52% dos votos válidos em uma eleição fortemente polarizada.

OUTUBRO: Reforma ministerial dá mais espaço ao PMDB no governo. TCU recomenda ao Congresso rejeitar as contas do governo de 2014.

DEZEMBRO: Comissão Nacional da Verdade conclui seus trabalhos, identificando 377 pessoas como responsáveis por tortura e assassinatos durante a ditadura militar (1964-1985).

NOVEMBRO: Barragem da mineradora Samarco se rompe, causando um grande desastre ambiental na região do município de Mariana (MG). DEZEMBRO: Eduardo Cunha aceita pedido de impeachment. Nelson Barbosa substitui Joaquim Levy na Fazenda. 40


2016 JANEIRO: Divulgadas contas do governo de 2015: déficit de R$ 114,9 bi. MARÇO: Governo anuncia Lula como ministro-chefe da Casa Civil. Divulgação de áudio de grampos mostra conversas entre Dilma e ex-presidente. Posse de Lula é bloqueada pelo STF. ABRIL: Processo de impeachment passa na Câmara e prossegue para o Senado. MAIO: Senado instaura processos de impeachment. Dilma é afastada. Vicepresidente Michel Temer assume em caráter interino. Delações na Operação Lava-Jato derrubam novos ministros do Planejamento e da Transparência. JUNHO: Ministro Henrique Alves (Turismo) cai, acusado de envolvimento no escândalo da Petrobras. JULHO: Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara dos Deputados. AGOSTO: Temer é vaiado na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Senado decide pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

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Teor das reportagens internacionais sobre o Brasil* (em %) 90%

81,1%

85,5%

78%

80%

77,5%

70%

72,4%

64%

50%

43,9%

40%

36%

37,1%

27,6%

30% 20%

62,9%

56,1%

60%

18,9%

22,5% 22%

14,5%

10% 0% 2009

2010

2011

2013

2012

2014

2015

2016

Negativo

Positivo

*Resultados correspondentes ao 2ยบ trimestre de cada ano.

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Fonte: Imagem Corporativa


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www.imagemcorporativa.com.br


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