Revista do IHGP - Vol. 5

Page 79

Luiz Carlos Prestes e os comunistas. Plínio Salgado e os IIHcgralistas. parecem lcr~lhe sido estranhos. excênlricos. Pouquíssimas $,io. assim. as referências de Getúlio a Luiz Carlos Prcs(cs, como se, apesar de repugnar-sc da idCia comunista, visse Prestes com olhares condescendentes. É como Se Prestes fosse um equivocado, diante do Brasjl que Getulio idealizava. Luiz Carlos Prestes, no emanto, responsabilizou Getúlio Vargas pelos espancamentos de que foi vítima na prisão, num histórico depoi~ mento à Câmara dos Deputados, em ! 946 e 1947, diante da comissão de inquérito sobre alO$ da ditadura, que Hugo Baldessaríni registra em Cróni~ co de umo época, da 1850 ao alentado comra Carlos Lacerda: "Quanto aos responsáveis por esses ratos, penso que não é somente o capitão chefe de policia da época, mas também o próprio PresidelHe da República ou DiladoL porque este tinha conhecimento de tudo o que se passava." Mas teria sido Getúlio Vargas um fascista, como os adversári~ os o rotularam? Quase tudo, em seu diário intimo, parece negá~lo. Ge~ túlio Vargas revelõ-se apenas "getUIiSla", um messiânico crédulo em sua própria predestinação. Maomé caboclo, um Já gaúcho, fiel e con~ rormado com um destino profético. Nele, víslumbra~se uma visão pró­ pl'la do Estado Hu!oritãrio que tenlava construir para o Brasil, COfi\O que fcito à sua imagem e semelhança. É um gcopolitico, muito antes de se falar numa Geopolitica Bt'as[leira.

MORALISTA E PROMíscuo? o EX-PRESIDENTE REPRESENTA A PRÓPRIA FIGURA DO PATRIARCA, NOS MOLDES DO MACHISMO BRASILEIRO IMPERANTE NA ÉPOCA

o unlverso poJi!ico tem sua moralidade própria, quase sempre conflitante com moralidade das pessoas em seu cotidiano. Maquiavcl, com sua Teoria do Poder. e Webcr, analisando a política como uma ética de resultado, acabam, pelo menos neste século, parecendo ter mais razão ou sendo mais realistas do que a visão aristotélico-tomista da Política, utopia de uma arte e ciência de servir. Quase sempre - c, pelo menos. é isso o que diz a experiência dos jornalistas políticos acabam vivendo uma duplicidadc moral: austeros e pautados por com­ pOrtaliiCrHOS cristãos. em sua vida pessoal e familiar: maqulavé!ícos, inescrupulosos. na vida pública. rascinados por essa ética do resulta­ do. Ao mesmo lelllpo, como sem perceber, eles acabam perdendo-sc nessa duplicidade IllOral. tornando-se elásticos. Ninguém OllSOU dizer. por cxe!nplo, que Gelúlio Vargas foi um político desonesto, Era um homem pessoalmente austerO, considerado assim ate mcsmo por seus adversnrios. Mas maquiavélico quanto a05 resultados. Leôncio Basbaum - ainda que se alegue suspeição de sua opção ideológica - admitindo as exçepcíonaís de Getulio, estabelece um paralelo cruel: ·'Divide e reinarás. diz o código de MaquiaveL Ge­ túlio emendava: divide e corrompe, e o mundo será teu." Em seu diário pessoal. Getúlio Vargas - com os seus imensos parece revelar uma faceta silêncios, com suas rcticêndas e hiatos


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.