Revista do IHGP - Vol. 4

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Jardim, Jardim Europa e outros, só surgiriam alguns anos depois. Não havia arranha-céus. Quadrava-se o jardim, nas noites de sábado e de domingo e, às vezes, nas quintas, até o horário de começar a segunda sessão de cinema. Rapazes rodando de um lado, moças em sentido contrário. Na quadra formada pela praça, ruas São José, Governador e Moraes Barros, circulavam os negros. Defronte ao Politeama, na face que tem hoje os Bancos Itaú e Bradesco como extremos, era a "calçadlnha de ouro", para o desfile das meninas do "society", que passavam pelo bar da esquina (o Nova Aurora) onde se concentravam os cobiçados agricolões. Na praça haviaaíndaabomboniériedo Passarela, o "Snooker" do Jacaré, os sanduíches do Bar Comercial (era no local onde foí construido o Edifício Brasíl), da familia Lescovar, hoje donos da Brasserle, num velho prédio, cujo segundo pavimento serviu de sede a clubes, bem como a um partido político, a U.D.N. Eram dessa época, também, o "Cano Frio" (zona de meretrício, na Rua Silva Jardim), o ponto de charretes, bastante usadas por meretrizes, as serenatas, os famosos trotes nos bichos da Agronomia, e o Nhô Uca, um tipo popular, que catava pedras e pedregulhos, certo de que eram pedras preciosas e que valeriam milhões. Quando reunia algumas, levava-as aos gerentes de banco ou Caixa Econômica para guardá-Ias. Nesse ano de 1948, também houve transformações políticas, com a redemocratização do país; tomava posse como Prefeito, o Sr. Luiz Dias Gonzaga, que já ocupara o cargo outras vezes, e uma cámara compostade31 vereadores, verdadeira colcha de retalhos, se fôssemos analisar os partidos e classes representados. Nem o longo periodo de hibernação político-partidária conseguira fazer desaparecer as velhas facções e eliminar divergências pessoais. Posso ter sido traído pela memória, porém esta foí a Piracicaba que conheci, ainda menino. De lá para cá, já se passaram muitos anos e Piracicaba sofreu os impactos de violentas transformações, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas. Não é mais a mesma, nem poderia ser. O progresso a tem transformado, fazendo-a evoluir e crescer. mas também aumentando 0$ problemas. Precisamos conservá-Ia como cidade ideal para se viver, diante da desumanlzação que oS grandes centros estão conhecendo, sem que Isto signifique abdicação do progresso. Piracicaba está vivendo uma fase de transição, como se fora, com seus 227 anos, ainda adolescente. Não é tão pequena, que não tenha problemas, nem tão grande que os apresente Insolúveis. A hora é a presente. Grande é o desafio. Não sou saudosista, no sentido de querer buscar um retorno ao passado, Impedir o progresso, pois é algo impossível. O mundo de hoje não é pior, nem melhor, que o de ontem. Cada época apresenta dificuldades, problemas e desafios. Quanto mais disposição de enfrentá-los, quanto mais Inteligentes as soluções de melhor qualidade será a vida resultante.


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