Escola e comunidade. Laboratórios de cidadania global

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Susana Gonçalves e Florbela Sousa

3.2.2. Investir no auto-socioconstrutivismo. Co-responsabilização do eu e do outro Os modelos auto-socioconstrutivistas situam-se na interacção da linha do construtivismo pessoal com a do construtivismo social. Atribuem a co-responsabilidade do eu e dos outros na co-construção do saber, do self e do social e têm a particularidade de inserir a construção da autonomia cidadã na construção dos saberes. Aprender a construir-se a si próprio e à sociedade do futuro, ao construir o saber, é, quanto a nós, a grande esperança de uma mediação pedagógica que investe no auto-socioconstrutivismo. Nestes modelos a auto-estruturação dos conhecimentos é entendida como um caminho para a construção da autonomia do cidadão. Essa pretensão não é nova. Já procurou dinamizar discursos e percursos escolares anteriores (movimento da educação nova, pedagogias activas, pedagogias não directivas, pedagogias cooperativas, pedagogias institucionais…). Contudo, a valorização da autonomia foi frequentemente confundida com a valorização do individualismo. A novidade de uma mediação pedagógica que investe no auto-socioconstrutivismo está em propiciar, ao mesmo tempo, meios para a construção do saber e para autênticos debates éticos de ideias e meios para cada um saber decidir sobre o seu próprio destino e sobre o destino da sociedade. Confere ao aprendente, a capacidade para gerir a sua própria aprendizagem e, acima de tudo, meios para viver como um ser autónomo e solidário – como um cidadão. Investir no auto-socioconstrutivismo é relativizar o princípio da não interferência na actividade do sujeito (um princípio curvado a uma relação de equivalência bondade/natureza). Relativiza-o tendo em atenção teorias construtivistas para campos sociais nos quais o aprendente se move. Tem em conta actividades de construção, para campos conceptuais específicos, para espaços públicos concretos e para problemas reais. Requer uma actividade interior que não se manifesta, necessariamente, através de qualidades comportamentais, embora valorize estimulações sociais fomentadoras da mente que activamente constrói. Nestes termos, a conflitualidade – alavanca da actividade – surge como elemento positivo da relação educativa, quer no desenvolvimento concreto dos processos pedagógicos quer tendo em vista princípios antropológicos e éticos. Contextos escolares propícios à auto-reflexão e à educação dialógica também o facilitam. A aprendizagem significativa e a aprendizagem por mudança conceptual favorecem-na enquanto mediação escolar particularmente atenta à lógica dos sujeitos falantes (cf. Santos, 1998 e 1999). Construir, intencio-


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