GUIA DOS BENS TOMBADOS IEPHA/MG – Volume 02

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NÚCLEO HISTÓRICO DO DISTRITO DE SANTA RITA DURÃO

Acervo IEPHA/MG

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Assim como vários dos povoados surgidos em razão das bandeiras em busca de metais preciosos na região das Minas Gerais cresceram e se solidificaram como cidades, também foram muitos os povoados que tiveram seu crescimento estancado, sendo integrado à área do município mais desenvolvido em seu entorno. Esse é o caso do distrito mineiro de Santa Rita Durão. Situada na Bacia do Rio Piracicaba e próxima à Serra do Caraça, tal localidade foi povoada, na transição do século XVII para o XVIII, após ser ali descoberto ouro pelo bandeirante paulista Salvador Faria de Albernás1, que explorava o Ribeirão do Carmo. Inicialmente, tal povoado foi conhecido como Arraial do Inficcionado, nome dado, segundo alguns estudiosos, devido aos desordeiros que infestavam a região2, ou à baixa qualidade de seu ouro3. Nessa época, a Fazenda Cata Preta era a grande referência da localidade e, seu proprietário, o sargento-mor de milícias urbanas, Paulo Rodrigues Durão, foi o responsável pela construção da capela que logo se tornou a Igreja Matriz. Em 1718 o arraial tornou-se a freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Inficcionado e, em 1752, tornou-se uma paróquia civil. Foi a partir dessa época que a localidade experimentou seu momento de ascensão e posterior retração econômica, registrado por muitos viajantes que por lá passaram, como José Vieira Couto (1801), Aires de Casal (1817), Johann Pohl (1820), Auguste de SaintHilaire (1820), Saint-Adolphe (1845) e Richard Burton (1860). Bem após esse momento, no ano de 1895, a localidade, então estabelecida como distrito do município de Mariana, recebeu seu nome definitivo, em homenagem a José de Santa Rita Durão (1722-1784).

Figs. 2, 3, e 4 – Vistas da Igreja Matriz: sua fachada, escultura e nave

Quem foi o Frei José de Santa Rita Durão? Filho de Paulo Rodrigues Durão e nascido na Fazenda Cata Preta, José de Santa Rita Durão tornou-se frei e ingressou na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em 1737. Além de ter se tornado Doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra e atuado como professor em Braga e Coimbra e como bibliotecário em Roma, foi seu poema épico “Caramuru”, publicado em 1781, que lhe tornou um autor célebre na literatura brasileira, tendo sido adaptado para o teatro e para o cinema por meio de filmes documentários e de ficção, além de seus personagens terem virado tema para pintores e escultores nacionais. A importância dada a esse poema de Durão se deve à sua capacidade em não apenas simbolizar a lusitanização do País, mas também por acentuar o nativismo. Composto por dez cantos elaborados sob o esquema clássico camoniano, tal poema narra, a partir da relação de seus personagens principais (um navegador português, duas índias e um cacique) as relações gerais estabelecidas entre portugueses e indígenas no Brasil, explicitando fatos da história, do temperamento e das lendas indígenas brasileiras em meio à sua colonização e seus primeiros desdobramentos. A miscigenação e europeização dos costumes 4 ocorridas em terras brasileiras a partir da conquista portuguesa, e que teve seu início tão bem retratado na epopeia brasileira do frei José de Santa Rita Durão, também se expressou no contexto urbano desse distrito. Afinal, como noutros núcleos coloniais portugueses, o cotidiano ali vivido entre a arquitetura militar, civil e religiosa, além de ter estimulado muitas interações culturais, fez, principalmente dos templos religiosos, as expressões culturais mais requintadas esteticamente, mais destacados na paisagem e mais resistentes ao transcorrer do tempo, como é o caso de suas igrejas, edificadas nos outeiros da área onde se desenvolveu seu núcleo urbano, às margens da antiga estrada principal, hoje Rua Santa Rita. A espontaneidade desse arruamento, calçado por seixos rolados entre terra batida e gramas naturais esparsas, tem suas características coloniais ainda mais reforçadas pelo alinhamento do casario de unidades térreas e assobradadas, além de alguns quintais e muros de pedra em meio à vegetação abundante. 1

FERREIRA, Lorene Dutra Moreira e (Org.). As Relíquias de Santa Rita Durão. Ouro Preto: Ed. ETFOP, 2007. p. 22. VASCONCELOS, Diogo. História Antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1904. p. 123. DURÃO, José de Santa Rita. Caramuru: Poema Épico do Descobrimento da Bahia. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1781. p. 15. 4 FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo: Global, 2005. p. 6. 2 3

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