IE em Foco 2

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Editorial

Em nossa reunião de Itaipava em 2011, entendemos ser necessária a formação de um grupo de trabalho para elaborar um diagnóstico sobre as condições de infraestrutura do IE e delimitar as possibilidades e perspectivas de longo prazo. O GT Infra teve sua composição indicada por esta Direção e aprovada pelo Conselho Deliberativo. Os professores Julia Paranhos, Rudi Rocha e Luiz Carlos Prado, o servidor Guilherme Aguiar e as alunas Julia Bustamante e Vitória Tebyriçá se debruçaram sobre os problemas de infraestrutura e apresentaram um relatório que deve servir de base para a discussão de longo prazo sobre os problemas representados por nossas instalações. O relatório apresenta o estado da arte da normatização universitária presente no Plano Diretor e de decisões correlatas do Conselho Universitário, relaciona nosso projeto acadêmico a demandas de infraestrutura e propõe encaminhamentos de soluções de curto e longo prazo. Trata-se de uma peça central para o planejamento e a reflexão sobre os destinos do IE e soluções associadas à permanência no Palácio Universitário ou à mudança para outro prédio. O relatório foi apresentado e discutido pela comunidade do IE em plenária que teve lugar no salão Pedro Calmon no dia 26 de abril de 2013. As posições foram expostas com clareza e a discussão ocorreu de forma objetiva e madura, aprofundando o conhecimento sobre consensos e divergências. O relatório está disponível no blog dos professores do IE e em nosso portal, seção de publicações, link relatório.

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Essa iniciativa abre um processo de discussão que deveremos travar no segundo semestre deste ano, a partir da oferta feita pela Universidade de construção de um prédio de 14 mil m2, em frente ao Centro de Tecnologia, para abrigar o IE. Assim, a Direção pretende chamar o reitor, que já aceitou e aguarda a marcação de uma data, para apresentar à comunidade do IE a proposta da Universidade. A partir dessa apresentação, promoveremos discussões internas com o objetivo de debruçarmonos sobre esse tema, que é central para o futuro deste Instituto. A Direção estimula a leitura do relatório apresentado e propõe o debate.

Equipe da Direção Carlos Frederico Leão Rocha Diretor Geral Edmar Luiz Fagundes de Almeida Diretor de Pesquisa João Bosco Mesquita Machado Diretor Administrativo Lia Hasenclever Diretora de Pós-Graduação Maria Silvia Possas Diretora de Graduação


SUMÁRIO

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EDITORIAL Plenária

IE em Foco NÚMERO 2 ABRIL - JULHO 2013

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GRADUAÇÃO As cotas deram certo no Brasil?

Publicação do Instituto de Economia da UFRJ

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EMERÊNCIA Professor Fernando Cardim

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HISTÓRIA Professor Jacob Frenkel

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DESPEDIDA Dona Odalea

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CAPA 75 anos do Ensino de Economia no Brasil

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ALUNOS Monitores

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Conselho Editorial Carlos Frederico Leão Rocha Edmar Luiz Fagundes de Almeida João Bosco Mesquita Machado Lia Hasenclever Maria Silvia Possas Edição e Reportagem Rafael Barcellos DRT 38.510/2008 Jornalista responsável Revisão Sonja Cavalcanti Programação visual Danilo Silva Fotos Edmar Almeida Felipe Camargo Madalena Carvalho Capa Nickolas Lago Danilo Silva Gráfica Stamppa Gráfica Elogios, sugestões e críticas devem ser enviados para comunicacao@ie.ufrj.br

PESQUISA I Prêmio de Publicação Discente

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As cotas deram Em meio a polêmicas e protestos, as cotas são hoje uma realidade no país. Segundo reportagem publicada na revista ISTOÉ, edição do dia 5 de abril deste ano, “as cotas deram certo porque seus beneficiados são, sim, competentes”.* Os repórteres Amauri Segalla, Mariana Brugger e Rodrigo Cardoso analisaram as notas de corte do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o curso de Medicina e pediram a opinião de especialistas sobre a diferença entre cotistas e não cotistas. A conclusão é que a distância entre eles é praticamente irrisória, cerca de 3%. Outra característica observada durante as entrevistas com estudantes e professores de universidades públicas é a força de vontade do aluno cotista. Ele se agarra com todas as forças à oportunidade que teve de realizar um curso superior numa universidade pública. Outro ponto positivo propiciado pelo sistema de cotas é a maior inserção dos negros no mercado de trabalho. Há dez anos, o primeiro aluno negro ingressava em uma universidade pública pelo sistema de cotas. De lá para cá, os maiores opositores do sistema alegavam que o processo de cotas rebaixaria o nível de ensino e que os cotistas não conseguiriam acompanhar o ritmo dos não cotistas. Para os mais pessimistas, ocorreria ainda um agravamento do racismo dentro das universidades. Entretanto, segundo o professor Ricardo Vieiralves de Castro, reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), “até agora, nenhuma das justificativas das pessoas contrárias às cotas se mostrou verdadeira”. Quanto à opinião pública, quase dois em cada três brasileiros são a favor das cotas tanto para negros quanto para pobres como para alunos de escolas públicas. Pesquisa nacional do Ibope feita a pedido do jornal O Estado de S. Paulo mostra que 62% da população apoia a implementação dos três tipos de cotas. Entretanto, os números variam conforme a região, a classe social, a cor da pele e o grau de escolaridade. Interessante notar que há um apoio maior da população às cotas que levam em conta a renda familiar (77%) e/ou a origem escolar (77%) que às cotas baseadas só na cor autodeclarada do aluno (64%). Mesmo assim, 16% dos entrevistados são contra qualquer uma delas, segundo o Ibope. Os restantes

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não souberam responder (5%) ou são a favor de um ou dois tipos de cotas, mas contra o terceiro: 12%, por exemplo, defendem cotas para alunos pobres e para alunos da rede pública, mas são contrários às cotas para alunos negros. A pesquisa Ibope foi feita entre os dias 17 e 21 de janeiro deste ano. Foram realizadas 2.002 entrevistas

Entenda a distribuição das vagas

80 vagas

Total

56 vagas

Ampla concorrência


certo no Brasil? em todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais. A UFRJ começou a adotar um sistema de cotas já em 2010, antes da lei sancionada pelo governo federal. A professora Silvia Possas, diretora de Graduação do IE/UFRJ, aborda o histórico do processo de cotas na UFRJ e esclarece algumas questões.

Quando a UFRJ começou a utilizar as cotas? O processo de cotas teve início em 2011, utilizando as notas do Enem de 2010. Que críticas processo?

podem

ser

feitas

a

esse

O Sisu não prevê uma separação entre as escolas, porque existem instituições públicas de boa qualidade. Acabou virando reserva de mercado para o Colégio Pedro II. Em 2012, colocou-se a cláusula da renda, só que não havia controle. Controlar esse processo é muito difícil e quase inviável. Outra questão também é a idade. Ninguém pensou nisso. Há alguns anos, a escola pública era boa. Existem pessoas na idade adulta que estão sendo beneficiadas pelas cotas tendo estudado em boas escolas.

na seleção 2012/2013

5 vagas

outros cotistas

12 vagas

7 vagas

autodeclarados (negros, pardos ou indígenas)

Renda familiar ≤ 1,5 salário mínimo per capita

Quais as diferenças entre os alunos cotistas e os não cotistas? Parece que os alunos cotistas levam o curso mais a sério. Mas as diferenças não são significativas. O Enem não consegue avaliar direito. A prova de matemática, por exemplo, exige muito pouco, exige noções apenas, coisas que são aprendidas no ensino fundamental. Em que medida a Universidade precisa se adaptar para receber melhor os alunos?

5 vagas

outros cotistas

12 vagas

7 vagas

autodeclarados (negros, pardos ou indígenas)

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Renda familiar > 1,5 salário mínimo per capita

É preciso que haja alojamento para todos os que precisem, ainda mais com os altos preços de aluguéis praticados hoje no Rio de Janeiro. Muitas vezes, os alunos deixam de estudar, abandonam os cursos porque precisam trabalhar, ajudar a família, enfim, uma série de coisas acontece. Não basta apenas dar acesso ao ensino superior, é preciso também pensar na permanência desses alunos.

vagas

Cotas

* Revista ISTOÉ, edição de 5 de abril de 2013, “Por que as cotas raciais deram certo no Brasil”.

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Emerência do professor Fernando Cardim

Trabalho no IBGE (até 1982) Nasce Thiago (filho) Funcionário do Banco Central (até 1976)

1973

1974

1975

1976

1977

Nasce Carolina (neta)

Torna-se professor da UFRJ

Doutor (Rutgers University)

1992

Professor da UFF (até 1994)

1978

Economista (USP)

Casa-se com Fernanda

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Professor da PUC Campinas

Foto: Madalena Carvalho

Bem-humorado e de bem com a vida. É assim que parece viver o professor Cardim. Feliz com a homenagem que receberá em breve e prestes a embarcar para Portugal, ele sugere que, de dois em dois anos, o Instituto promova alguma emerência para que todos possam se sentir tão felizes e queridos quanto ele está se sentindo neste momento. Economista formado pela Universidade de São Paulo, trabalhou no Banco Central, mas sempre teve vontade de seguir carreira acadêmica. Descobriu sua vocação ainda durante a graduação. Ficou receoso de largar o emprego no Banco Central, mas, com o incentivo de sua mulher, Fernanda Carvalho, com quem é casado há quarenta anos, seguiu em frente e ingressou no mestrado na Unicamp. Posteriormente, foi para os Estados Unidos realizar o doutorado na Rutgers, The State University of New Jersey (1986). Em 1994, tornou-se professor titular do Instituto de Economia da UFRJ. Sobre a carreira acadêmica, afirma que há muitas coisas gratificantes. “A primeira delas é ter uma carreira livre. Sou livre para pesquisar e expressar minhas opiniões. Se eu estivesse num banco ou no governo, não poderia me expressar desta forma. Acho que, para ter sucesso, o professor precisa ter criatividade e liberdade de pensamento e opinião. É uma das opções que fiz na vida das quais não me arrependo” — conta com espírito tranquilo de quem cumpriu sua missão. Sobre a situação econômica do Brasil, afirma que “estamos, relativamente, bem”. Segundo ele, a Europa vive a sua pior crise em oitenta anos e está sem rumo. “Se olharmos para a época da hiperinflação aqui no Brasil, nós podemos olhar para o cenário atual com certa tranquilidade. É claro que não somos a Suíça, temos muito o que resolver.”

1981

Mestre (Unicamp)

1986

Conselheiro do Ibase

2008 1994 Secretário Executivo da Anpec (até 1994)

2012

2010

Nasce Daniel (neto)

Pesquisador CNPq nível 1A


Professor Jacob Frenkel

“Sinto uma grande satisfação de ter criado uma nova instituição durante a ditadura”

Casado há 43 anos com a mulher que lhe fez largar o movimento estudantil em 1968, pai de três filhos e avô. Esse é Jacob Frenkel, que agora se aposenta compulsoriamente. “Estou produtivo e ótimo! Pareço ter 70 anos?” Frenkel concluiu a sua graduação na Universidade de São Paulo (USP). Tinha vontade de fazer pósgraduação que, no Brasil, naquela época, ainda não existia. A vontade dele era ir para a Universidade de Columbia, mas o governo dos Estados Unidos não estava aceitando latino-americanos, pois a universidade era palco frequente de protestos contra a Guerra no Vietnã. Foi então que acabou indo para a Universidade de Nova York, que, por ter um convênio com a Universidade de Princeton, possuía excelentes acadêmicos na área de Economia. Dois dos maiores expoentes da Microeconomia da segunda metade do século XX foram seus professores: William Baumol e Fritz Machlup. Teve aulas também com Wassily Leontief, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1973. A história do professor se confunde com a do próprio Instituto de Economia da UFRJ. Ele fez parte do grupo que criou o antigo Instituto de Economia Industrial (IEI). Em outubro de 1975, ele foi convidado pelo professor Luis Otavio Façanha para trabalhar em um grupo de estudos sobre tecnologia e competição, que estava se organizando na Finep. O grupo de pesquisa estava conseguindo reunir vários economistas que voltavam do exterior — como Maria da Conceição Tavares e Carlos Lessa — formando o maior e melhor conjunto de estudiosos sobre economia da tecnologia do país. Dadas a dimensão numérica e a qualidade dos pesquisadores, começou a germinar a ideia de que talvez fosse mais adequado reimplantar o grupo num ambiente acadêmico. Assim, surgia o sonho de se criar uma nova pósgraduação no Brasil com uma visão mais heterodoxa em termos macroeconômicos e focada na economia da tecnologia e na economia industrial. A ideia germinou no grupo de pesquisa, à época chefiado por Marcelo de Paiva Abreu. Já existia um curso sobre o tema na Coppe, e um dos professores deste curso, Winston Fritsch tinha sido seu colega na Universidade de Cambridge. Foi feito um contato inicial, que foi favorável, evoluindo para um contato com o diretor da Coppe, Paulo Alcantara Gomes, que posteriormente se tornou reitor da Universidade. Adicionalmente, ocorreu um fato fortuito que acabou acelerando o processo. A gráfica da Faculdade de Economia e Administração da UFRJ (FEA) pegou

fogo, e seu diretor, Américo Cury, recorreu à Finep para ajudar na reconstrução das instalações, recebendo apoio da Maria da Conceição Tavares, que já era professora da FEA. Por coincidência, o presidente da Finep era José Pelúcio Ferreira, que tinha trabalhado com Américo Cury no BNDES, e aceitou ajudar a FEA na sua recuperação. Desta forma, formou-se a constelação de fatores que permitiu a criação do Instituto de Economia Industrial: a absorção do curso existente na Coppe, a abertura de concursos na UFRJ para absorção dos pesquisadores da Finep e o apoio financeiro da Finep. Adicionalmente, como a área tecnológica interessava aos militares, não houve impedimentos à criação do curso, apesar de vários professores serem considerados de esquerda. Cabe lembrar que, na época, só existiam duas pósgraduações em Economia no país: a da FGV e a da USP. Assim, em apenas seis meses, em janeiro de 1979, o IEI começava a funcionar. “O nosso início foi exuberante. Era o que uma universidade tem que ser. Isso atraiu muita gente. Chegamos a ser considerados a melhor pós-graduação do Brasil. Foram os melhores anos profissionais da minha vida [de 1977 a 1981].” Para tornar a instituição mais ágil, o IEI foi criado separado da FEA, que, na época, além do Departamento de Economia, agregava o de Administração e de Contabilidade. No primeiro momento, os professores fundadores assumiram os principais cargos administrativos do IEI. O professor Américo Cury era o diretor do IEI; o professor Winston Fritsch era o diretor da FEA; e Jacob Frenkel, o chefe de departamento da FEA. O processo de arregimentaçao inicial de professores foi muito aberto, cada professor que veio trabalhar trouxe outros. Na hora da eleição começaram os problemas. Em 1981, quando da primeira eleição formal para a escolha dos dirigentes da instituição, surgiram diferenças quanto à forma de encaminhamento das eleições, culminando com uma divisão no grupo fundador. Uma parte ficou ligada ao professor Américo Cury, enquanto outra esteve ao lado da professora Maria da Conceição Tavares. O professor Cury pediu demissão, o que também foi feito por outros professores que o apoiavam, entre eles o professor Jacob. Marcelo Abreu e Winston Fritsch acabaram saindo e foram fazer carreira na PUC-Rio. Jacob voltou para a Finep em 1981, permanecendo em tempo parcial na FEA, para onde havia feito concurso em 1977. Em 1990, a questão tecnológica já não tinha

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mais tanta importância para o governo e ele decidiu voltar em tempo integral para o IEI. O IEI passou a ser uma instituiçao separada da FEA, com alguns de seus professores ministrando aulas no Departamento de Economia, e outro da FEA ministrando aulas no IEI, mas com um relacionamento interinstitucional restrito. No final da década de 1980 e inicio da década de 1990, a FEA tinha de novo um volume de professores de prestígio, que fez ressurgir a ideia de um curso de mestrado próprio. Nesta época, o professor Alcino Camara e o professor Jacob foram eleitos, respectivamente, chefe de departamento e coordenador de curso, e começaram os procedimentos para a criaçao de um novo curso de mestrado na FEA, que foi devidamente aprovado. Diante desta aprovaçao, e fruto de várias negociações que já estavam em curso, o IEI e o Departamento de Economia resolveram se fundir no atual Instituto de Economia. O professor Jacob, pelo Departamento de Economia e o professor Paulo Tigre comandaram o grupo de professores que elaborou o novo estatuto do Instituto que vigora até hoje. Em 1988, criou-se o primeiro núcleo de pesquisas da FEA: o núcleo de estudos de Economia de Empresas (NEE), forma de organizaçao informal da pesquisa que depois se generalizou no Instituto. Os envolvimentos na criaçao do IEI fizeram com que o professor Jacob perdesse o prazo para apresentação

da sua tese na New York University. Posteriormente, com o surgimento do doutorado no Instituto, não havia um clima muito favorável a sua participação, além de que, como introdutor da área de economia industrial, não havia quem lhe pudesse orientar: “Quem ia me dar aula? Meus ex-alunos?”. Jacob foi o primeiro bolsista em Economia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Sua área de pesquisa é a economia industrial, com foco principal no setor farmacêutico. Trabalhou na Finep durante 16 anos, até 1990, chegando a chefe da Divisão de Indústrias de Processo. Participou, pela Finep, do grupo executivo que implantou a indústria químico-farmacêutica no país na década de 1980. Tornou-se consultor de laboratórios farmacêuticos nacionais. Em 1998, participou de um novo tipo de empresa que surgia no país — a PBM — que administra programas de medicamentos para planos de saúde. Chegou a ter participação como sócio e foi diretor até 2008 nesta empresa pioneira no país. Em 2013, ganhou uma comenda Cândido Fontoura do Sindicato da Indústria Farmacêutica do Estado de São Paulo, pelos serviços prestados à indústria farmacêutica brasileira. Frenkel é um pesquisadores mais citados sobre indústria farmacêutica no país. “Mesmo tendo essas atividades fora, sempre cumpri a minha carga horária no Instituto, publiquei e dei aulas. Eu me considero um bom professor.”

Dona Odalea Odalea Alvares de Azevedo Rocha, chefe da Secretaria Acadêmica de Graduação até 1990, faleceu no dia 16 de novembro de 2012. Segundo Gilbran Menezes, atual gerente de Informática do Instituto de Economia da UFRJ, ela era “linha-dura” com relação à cobrança de horários dos funcionários que trabalhavam com ela, mas, por outro lado, era também “mãezona”. Era “odiada por alguns e temida por muitos”. Ainda segundo Menezes, a servidora tinha grande influência na instituição. Já para Anna Lucia Salles, gerente da Secretaria Acadêmica de Graduação do IE/UFRJ, ela “era o terror de alunos, funcionários e professores”. Curiosamente, dona Odalea, como era conhecida, dava tratamento diferenciado a alunos do sexo masculino. “Todo mundo falava que os meninos eram muito bem atendidos. Já as meninas...” Com cerca de um metro e meio de altura, cabelo curto acaju e óculos, estava sempre muito bem arrumada, era muito vaidosa. Fazia caminhada e preocupava-se em manter um estilo de vida saudável. Dona Odalea tinha dois filhos. Um deles, Martinho da Rocha, também trabalhava na UFRJ, e o outro é professor de educação física e ator, o famoso Paulo

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Cintura da eterna Escolinha do Professor Raimundo. Segundo Paulo Cesar Rocha, verdadeiro nome de Paulo Cintura, dona Odalea era uma pessoa carinhosa: “Sempre comprava coisas para as amigas e para a empregada, ajudava os filhos e o neto”. Com relação ao trabalho na UFRJ, segundo Rocha, “ela protegia e escondia muitos estudantes do Dops na época da ditadura para que não fossem presos, pois entendia que eram apenas garotos com sua ideias políticas. Até debaixo da mesa, ela escondeu alunos. Acredito que, de fato, muitos devem suas vidas a ela”. Segundo ele, todos gostavam dela na faculdade. O segredo para ser bem tratado por dona Odalea era falar sobre Paulo Cintura: “Bastava dizer que era meu amigo e me elogiar que ela se derretia toda”. Entretanto, ele reconhece a fama de “durona” de dona Odalea: “Ela brigava com os alunos por causa das suas atitudes com relação à política, não pela postura, mas sim pelo risco que eles corriam. Ela não tinha meias-palavras com quem quer que fosse — reitor, professor, diretor ou aluno —, todos a respeitavam e a admiravam, pois ela nunca prejudicou ninguém”. E por que a chamavam de dona? “Pelo medo que se tinha dela”, conta Anna Lucia Salles.


O Instituto de Economia da UFRJ foi criado em 1996 a partir da fusão entre o Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração (FEA) – responsável pelo ensino de graduação em Ciências Econômicas – e o Instituto de Economia Industrial (IEI) – responsável pela pós-graduação. Essa fusão consolidou a longa trajetória dessa instituição, iniciada com a criação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro (FCEARJ) em 1938, em sua busca pela constituição orgânica de um núcleo universitário para abrigar as atividades de ensino, pesquisa e extensão no campo da economia. A gênese do ensino de economia na UFRJ foi a FCEARJ, criada pela Ordem dos Economistas do Rio de Janeiro e pela Sociedade Brasileira de Economia Política, que reuniam os principais economistas do Brasil, entre eles Eugênio Gudin, Octávio Gouvêa de Bulhões e Daniel Carvalho. Em 1946, a FCEARJ foi incorporada à Universidade do Brasil e passou a ser denominada Faculdade Nacional de Ciências Econômicas (FNCE) até 1965, quando ocorre mais uma alteração em seu nome, passando a ser denominada Faculdade de Economia e Administração (FEA).* Com a FNCE nasceu o primeiro curso de economia integrado a uma estrutura universitária no Brasil e o primeiro currículo mínimo de economia formulado por membros destacados da FCEARJ, que ficou em vigor até 1962. Nesse sentido, a história do Instituto de Economia da UFRJ confunde-se com a própria história do surgimento da profissão e do ensino de economia no Brasil. Setenta e cinco anos depois da criação da FCEARJ, o Instituto de Economia da UFRJ tornouse um dos mais importantes centros brasileiros de

excelência no ensino e pesquisa em economia, desempenhando importante papel na formação de profissionais para instituições públicas e privadas do país e na produção de conhecimento teórico e aplicado, destacadamente em torno das questões (problemas e opções estratégicas) do desenvolvimento brasileiro. Essa excelência do Instituto de Economia da UFRJ foi alcançada por meio da postura plural e crítica de seu ensino de graduação e pós-graduação e de seus projetos de pesquisa. O compromisso do Instituto é apresentar e discutir, de forma aprofundada e crítica, os principais paradigmas que constituem a teoria econômica moderna e suas fronteiras interdisciplinares, bem como aprimorar seus instrumentos analíticos e sua capacidade em explicar a realidade, especialmente a brasileira. Para comemorar os 75 anos do ensino de economia no Brasil, a UFRJ pretende realizar um seminário que tem como objetivo debater o passado e o presente dessa Instituição e de sua visão da economia e, sobretudo, apresentar uma análise plural e crítica a respeito da trajetória atual e futura da economia brasileira. O seminário apresentará três eixos reflexivos: a trajetória histórica do ensino de economia na UFRJ; a atual visão teórica do Instituto de Economia a respeito das grandes áreas econômicas (macroeconomia, economia industrial e da inovação e desenvolvimento socioeconômico); e as perspectivas para o desenvolvimento da economia brasileira num contexto internacional de crise (que será debatida por palestrantes internacionais). Confira a programação completa e atualizada no Portal do IE.

* Nivalde José de Castro. O economista: a história da profissão no Brasil. Rio de Janeiro: Confecon, 2001.

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Alunos Monitores

Quem deseja ter uma boa oportunidade de vivenciar um pouco do mundo acadêmico pode fazer como Mateus Labrunie, estudante de Ciências Econômicas do 5o período, que é monitor de Introdução à Macroeconomia do Instituto de Economia da UFRJ. As atividades consistem em auxiliar os demais alunos, ensinando e tirando dúvidas. Para ele a experiência está sendo muito boa: “Estou gostando muito de ser monitor de Macro, pois sempre gostei mais dessa matéria. Para quem vislumbra uma carreira acadêmica, é bom para ver se a pessoa tem mesmo vocação para ensinar. Também é bom para se preparar para a prova da Anpec e para outros concursos. A gente acaba fazendo uma revisão de assuntos que muitas vezes já esquecemos.” Rafael Westenberger, estudante de Economia do 3o período noturno, também considera a experiência valiosa, pois para ele “ensinando é que se aprende”. Entretanto, o estudante acredita que deveria haver uma adequação maior quanto Fotos: Felipe Camargo

O monitor Mateus Labrunie (5 o período)

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Os monitores Jean Pinheiro (4 o período) e Rodrigo Bazzanella (5 o período)

ao número de monitores conforme cada disciplina: “Em Quantitativas, por exemplo, não seria ruim que a quantidade de monitores fosse maior do que a de outras matérias.” Já o estudante do 5o periodo Rodrigo Bazzanella enfatiza a necessidade de monitores em todas as disciplinas: “É muito melhor quando tem alguém explicando. Sempre tem alguém que precisa de um auxílio. Discordo também que Quantitativas seja mais difícil do que as disciplinas de Humanas. Isso varia de pessoa para pessoa.” A experiência de ser auxiliado por estudantes que já estão há mais tempo na faculdade foi muito boa para Bazzanella. O aluno afirma que o contato que teve com os monitores foi sempre muito bom e que os estudantes foram frequentemente solícitos. Mas, segundo ele, a forma como é realizada a monitoria depende muito do professor que está orientando e da força de vontade do monitor. Opinião que também é compartilhada por Westenberger: “Poderia haver uma reformulação do método, para que os alunos se sentissem incentivados e cativados a frequentar mais as monitorias. Atualmente, o único determinante se a monitoria será produtiva e convidativa aos estudantes é o nível de engajamento do monitor e/ou o nível de cobrança do professor”.


I Prêmio de Publicação Discente Foto: Edmar Almeida

Da esquerda para a direita, os professores do IE/UFRJ: Lia Hasenclever, Eduardo Pinto (marido), Maria Isabel Busato e Denise Gentil. No centro, a filha do casal, Maria Clara Busato Pinto (7 anos)

O prêmio foi criado em 2012 para atender a demanda apresentada por alunos na reunião de Itaipava. O objetivo do prêmio é valorizar e dar mais visibilidade a monografias, dissertações e teses por meio da publicação dos melhores trabalhos. Maria Isabel Busato, que foi aluna do Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE), ganhou na categoria tese com o trabalho Crescimento econômico e restrição externa: um modelo de simulação póskeynesiano, orientado pelo professor Mario Luiz Possas. Na categoria dissertação, o vencedor foi Guilherme Costa Pereira, do Programa de Pósgraduação em Políticas Públicas: Estratégia e Desenvolvimento (PPED), com o trabalho Uma avaliação de impacto do Programa Mais Educação no ensino fundamental, orientado pelos professores Lena Lavinas e Fábio Waltenberg. Na categoria monografia, o prêmio foi para Adir dos Santos Mancebo Júnior, aluno do curso de graduação em Ciências Econômicas, com o trabalho Produto de País Rico: um atalho seguro para o desenvolvimento econômico?, orientado pelo professor Jorge Chami. No dia 21 de dezembro de 2012, aconteceu a cerimônia de entrega das premiações e o lançamento dos livros. Guilherme Pereira explicou que escolheu o seu objeto de pesquisa em função de sua preocupação com o ensino público: “O Brasil não vai conseguir alcançar maiores patamares sem educação, e ela ainda não é de qualidade para todos”. Além disso,

reafirmou a importância da pesquisa no país que “pode e deve influenciar as políticas públicas”. O mestrando Adir Mancebo Júnior também apontou algumas lacunas do ensino superior: “A atividade de pesquisa no Brasil, infelizmente, ainda é muito desvalorizada. Acho que, antes de qualquer coisa, é preciso criar um ambiente favorável à pesquisa em nosso país. A infraestrutura de muitas universidades ainda é precária, falta conservação nos prédios, faltam equipamentos, falta muita coisa. É preciso dar condições para que a pesquisa aconteça. Deve haver mais investimento, planejamento e, principalmente, mais comprometimento por parte das autoridades responsáveis”. Já a doutora Maria Isabel Busato vê a carreira acadêmica como uma grande responsabilidade transformadora. Para ela, “ensinar é transformar, é mudar trajetória, é possibilitar/oportunizar aos alunos que eles possam construir seus caminhos. Ensinar é dar, mas é também receber; é construir reflexão e estimular a construção do ser. Do tripé que constitui a carreira acadêmica – ensino, pesquisa e extensão –, considero o ensino como o mais fundamental e transformador”. Para Maria Isabel Busato, o prêmio teve importância ainda maior. Após receber o reconhecimento pelo seu trabalho acadêmico, muitos alunos e professores ficaram interessados na sua tese e ela foi convidada para ministrar palestras sobre o tema em várias universidades do Brasil.

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