Revista Coniunctio - nº 2

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46| A assimilação psicológica do mal | Ana Luisa Testa | 41 - 49 consciente: superação dos instintos; extinção das

mados de fobias, obsessões e todo tipo de sinto-

Para que isso ocorra, vale frisar a condição in-

inconsciente coletivo se tornaram doenças em

projeções psíquicas e a retomada da vitalidade. dispensável de se compreender os símbolos, já que são eles o elo entre os opostos. Dessa forma

a unidade psíquica é retomada, pois consciente

e inconsciente já não precisariam se contrapor. Sendo assim, para que essa unidade seja reconstituída, é fundamental que o bem e o mal possam ser reconhecidos e integrados ao ego, já que constituem um dos principais par de opostos.

Também vale a pena ressaltar que negar a

existência ou a influência do mal não fará com que sua ação cesse, além do que sua projeção pode criar situações perigosas. Se a consciência

ma neurótico. Além de deuses, os conteúdos do psiques dissociadas ( JUNG, 2007).

Negar e desconhecer a existência do mal e

de toda a vida simbólica só acentua a dissociação

psíquica, que é exatamente o oposto da meta da unificação.

As tendências à dissociação caracterizam a psi-

que humana e são inerentes a ela; sem isso, os

sistemas psíquicos parciais não teriam cindido, não teriam gerado espíritos ou deuses. A dessa-

cralização de nossa época tão profana é devida ao nosso desconhecimento da psique inconsciente, e ao culto exclusivo da consciência. [...]

reconhece apenas o bem, o mal certamente será

Isso representa um grande perigo psíquico, pois

que deve ser temido ou combatido no outro. O

quer outros conteúdos reprimidos: induzem

experimentado como algo autônomo e externo

os sistemas parciais se comportam como quais-

homem dito civilizado considera-se bem acima

forçosamente a atitudes falsas, uma vez que os

dessas coisas metafísicas e misteriosas. No entanto, passa grande parte da vida influenciado

magicamente por outros seres humanos ou for-

elementos reprimidos reaparecem na consciência sob uma forma inadequada ( JUNG, 2007, p. 49).

Os elementos reprimidos são incapazes

ças perturbadoras, justamente por não diferen-

de se desenvolverem enquanto não forem tra-

de seus conteúdos inconscientes ( JUNG, 2007).

reprimido é capaz de impor às criaturas as mais

ciar-se dos objetos, em consequência da projeção

As imagens atribuídas a essas forças in-

conscientes são equivalentes àquelas atribuí-

das às mais diversas divindades. Quando o ego experiencia tais conteúdos sente-os como se fossem forças poderosíssimas, de caráter numi-

noso e subjugante. Tais experiências têm uma influência maligna ou benigna no homem – são como se fossem seus anjos e demônios – e ele não pode evitá-las, pois sua vontade de nada vale ( JUNG, 2006).

A única coisa que o homem pode fazer é

aprender a reconhecer em si essas forças psíqui-

cas antes que elas se transformem em patologias ou sintomas desagradáveis, que lhe mostrem que

ele não é o único senhor em sua própria casa. Jung diz que o homem ocidental está tão alheio

aos conteúdos do inconsciente coletivo que os

trata como se estes fossem deuses ou demônios. E afirma que hoje esses deuses são também chaAno 2 | número 2 | 2013

balhados e assimilados pela consciência. O mal diversas barbáries. E resgatá-lo das profunde-

zas do inconsciente para que ele se desenvolva equivale a resgatar as projeções psíquicas que o homem faz no mundo concreto e devolvê-las ao seu domínio de direito. Quando o homem se re-

laciona com seu mundo interior – que já não está mais projetado no meio externo – sua persona-

lidade está caminhando em direção à unificação. Ignorar o mal ou vê-lo apenas projetado

não diminui sua ação. O homem não pode mais fechar os olhos para o perigo do mal que está à

espreita dentro dele mesmo. Esse perigo é concreto, e a psicologia deve insistir em afirmar sua

realidade. Como poderia haver o “elevado” se não existisse o “abissal”? Um é tão real quanto o outro! ( JUNG, 2000).

Mas o reconhecimento em si daquilo que

é considerado mal não se constitui num trabalho prazeroso. Sem a adequada compreensão

CONIUNCTIO Revista Científica de Psicologia e Religião | Ichthys Instituto | Curitiba - PR


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