Hoje Macau 20 SET 2011 #2457

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Ciclone

Se um funcionário tiver o direito ao seu dever, funciona melhor.

TERÇA-FEIRA 20.9.2011 www.hojemacau.com.mo

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Por Fernando

à f l or d a p el e

Podemos conhecer melhor os governantes? I O que mais pode nobilizar a política - que para além de ciência é arte - será a relação existente entre os pensamentos conhecidos, os seus fundamentos, e as obras feitas e a quem elas se destinam; isto no caso dos governantes, bem entendido. Seria curioso sabermos, com naturalidade, o que pensam os governantes das sociedades que governam; sabermos que cultura literária têm, os clássicos que leram, o livro de cabeceira; que cultura musical adquiriram; que filósofos consultam nas suas dúvidas; que ideia têm das questões religiosas; como observam a chamada “crise financeira internacional”; o que lhes dizem, ao pensamento, os movimentos sociopolíticos não governamentalizados; em que grau está a sua sensibilidade sobre os abismos sociais cada vez mais profundos nesta voragem, neste sugadouro mecanizado pelos mais poderosos. E nas redes sociais, o que pensam delas? E da imprensa livre, como a observam? E no cinema, que realizadores apreciam? E no teatro, a que encenações já assistiram fora do que obriga os protocolos? E nos passeios lúdicos, que locais gostaram de conhecer e porquê? E no núcleo de amigos, se os houver, que conversas mais fluem e são apreciadas? E nas artes plásticas, que correntes preferem, que autores gostam de contemplar ou que obras adquiriram fora do âmbito oficial? E na poesia, que poetas? E nos temas que transversais à sociedade, que opinião têm os governantes sobre o consumo de drogas pesadas e leves? A morte assistida? A adopção de crianças por casais do mesmo sexo? E que hobbies, que inquietações, que sonhos, que correntes de pensamento distinguem? O que verdadeiramente sabemos de quem directamente nos governa? Que razões estranhas existem para sabermos tão pouco ou mesmo nada? Não será interessante os governantes darem-se a conhecer bastante mais? Sobre o que pensam da vida e sobre o que fazem dela? Que palavra têm, nestas questões, os seus principais conselheiros? Terão alguma? Evitar-se-íam muitas dúvidas, várias suspeitas. Os governantes ficariam mais perto dos governados, muito mais do que uma passeata qualquer com jornalistas atrás e donde,

no geral, quase nada sai para além de lugares comuns, clichés déjà vu (passe o pleonasmo), e quase sempre nem isso. Efectivamente, a política é uma ciência e é uma arte. Governantes cultos, de espírito aberto, incentivam comunidades cultas, promovem cidadãos de espírito aberto, muito mais felizes; e não somente em reverentes manifestações de bandeirinha porque tem de ser. Governantes com problemas de personalidade, problemas de comunicação, problemas de indecisão, problemas de ignorância ou gosto por secretismos de sacristia antiga, não estimulam, não animam, não favorecem a população em geral e o dinamismo que se espera principalmente dos mais novos, real e consequente, saudavelmente irreverente e construtivo. Só assim se constrói uma “sociedade harmoniosa”, culta e desenvolvida. A tal sociedade diferente de que fala o slogan “a diferença é Macau”. Comecem por não acabar com as verdadeiras diferenças - que não são propriamente fazer de Macau uma outra coisa qualquer de pretensos exotismos e modernices pimba, na mão de uma dúzia de personalidades poderosas, as mesmas que gostam tanto desta terra como o prezado leitor gosta de ser esmagado quando actualmente tenta caminhar a pé pelo coração da cidade. II Necessária pesquisa para recolher informações para outro trabalho, constato que há exactamente 735 anos foi coroado, depois de eleito em conclave uns dias antes, o único Papa português, João XXI. Lisboeta, médico e teólogo, condiscípulo de São Tomás de Aquino, chegou a ser arcebispo de Braga. João XXI foi um Papa breve, por pouco mais de oito meses, tentando reconciliar tudo e todos, a chamada Igreja Grega à denominada Igreja Ocidental, bem como a França, a Alemanha e Castela através de um pretendido “espírito de unidade cristã”. Bom, a França e a Alemanha, formam hoje uma efémera aliança creio que muito pouco cristã. Talvez o melhor deste Papa fosse a sua rara simplicidade, segundo os historiadores ele recebia tanto ricos como pobres. Boa alma, elos vistos. A ponto de na célebre “Divina Comédia”, do italiano Dante (Alighieri), seu

Helder Fernando

O que verdadeiramente sabemos de quem directamente nos governa? Que razões estranhas existem para sabermos tão pouco ou mesmo nada? Não será interessante os governantes darem-se a conhecer bastante mais? Sobre o que pensam da vida e sobre o que fazem dela? Que palavra têm, nestas questões, os seus principais conselheiros? Terão alguma? contemporâneo, obra dividida em “Inferno, Purgatório e Paraíso”, o ilustre religioso português ter sido colocado na última parte, no “Paraíso”. Como se sabe, Dante, como poeta e como político, não terá sido uma “pêra doce”. E lá está, para quem quiser consultar. No Canto XII, 133-135, como Dante fala do português João XXI (atenção que esta hipotética menção a este Papa, anteriormente conhecido por Pedro Hispânico, continua suscitando polémica entre historiadores): Ugo da San Vittore è qui con elli, e Pietro Mangiadore e Pietro Spano, lo qual giù luce in dodici libelli;

Mas há mais à volta do dia 20 de Setembro. Alexandre, o Grande, Rei da Macedónia três séculos e meio antes de Cristo, inciava grande travessia do Rio Tigre com o objectivo de enfrentar o que é comum chamar-se Império Persa - ao fim e ao cabo a Dinastia Aqueménida, do Rei da Pérsia Aqueménes. E ainda a 20 de Setembro, neste caso de 1519, o navegador português Fernão de Magalhães iniciava em Espanha, e ao serviço daquela Coroa, a primeira viagem marítima à volta do planeta. Tantas vidas os calendários efeméricos nos trazem; tantos cenários, tantas exclusões e inclusões, tantas reflexões possíveis.

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Lia Coelho; Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos M. Cordeiro; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


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