Jornadas Literárias: Ler (n)o Douro Escola Básica e Secundária de Vale de Ovil – Baião
Calcorrear, hoje, o caminho de Jacinto!
Autoria: Carla Mourão Cecília Torres
Índice 1.
Nota introdutória
2. Vida e obra de Eça de Queirós 2.1 Contextualização – o tempo de Eça de Queirós 3. À descoberta do conto Civilização: 3.1 Ação 3.2 Personagens
3.3 Espaço 3.4 Tempo 3.5 Narrador
4. Estrutura/ Síntese 4.1 Ficha de verificação de leitura 4.2 Tópicos de leitura por capítulo 5. A prosa queirosiana: 5.1 Humor/ Ironia 5.2 Linguagem e estilo 6. Curiosidades/ Intertextualidade
3.6 Modos de representação/ expressão do discurso
6.1 Oposição campo/ cidade
3.7 Gastronomia
6.2 Cesário Verde
6.3 Cartoons 6.4 A Cidade e as Serras 7. Bibliografia
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1.Nota Introdutória Eça de Queirós é, sem dúvida, um dos grandes vultos da literatura portuguesa. Dono de um talento invulgar, é considerado um dos maiores romancistas do século XIX, tendo sido autor de inúmeros contos e romances. A vasta obra de Eça de Queirós conquistou várias gerações que se renderam aos encantos da prosa queirosiana, muitas vezes, descoberta pela primeira vez na sala de aula. Dada a riqueza de toda a sua obra, os Programas de Português do Ensino Básico e Secundário abriram um leque de opções, fazendo com que, atualmente, qualquer conto ou romance possa ser lido e analisado no âmbito da disciplina de Português. Ao longo deste livro será apresentada uma análise do conto Civilização que possui a estrutura embrionária do romance A Cidade e as Serras. Este conto foi trabalhado nas turmas do décimo ano de escolaridade do ensino regular e na turma do 11ºG do ensino profissional. Os alunos, em sala de aula, procederam em trabalho de grupo à realização de pesquisa e criação de atividades em função do tema/ categoria da narrativa atribuída. Desta forma, pretendia-se analisar o conto em várias vertentes não só no que diz respeito ao estudo das categorias da narrativa ou à linguagem e estilo, mas também a outros temas/ tipos de texto relacionados com a obra. Por exemplo, ao longo deste livro, são apresentadas outras características como o Humor e a Ironia presentes na escrita queirosiana, assim como uma relação intertextual entre o conto Civilização, o romance A Cidade e as Serras e a obra poética de Cesário Verde que retrata, também, uma das dicotomias aqui presentes: a oposição entre o campo e a cidade. Esperamos que este trabalho possa ser uma ajuda preciosa para alunos, professores e apreciadores da obra de Eça de Queirós, na descoberta do caminho de Jacinto.
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“A Civilização é um sentimento e não uma construção: há mais civilização num beco de Paris do que em toda a vasta New York.” Eça de Queirós, Correspondências
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2.Vida e obra de Eça de Queirós – atividade realizada pelos alunos Cronologia Biobibliográfica 1845 1855 1861 1866 1867 1869 1870 1871 1872 1873 1874 1875 1876
Nasce José Maria de Eça de Queirós, na Póvoa de Varzim. É matriculado no Colégio da Lapa, na cidade do Porto. Matricula-se no primeiro ano da Faculdade de Direito de Coimbra. Forma-se em Direito. Inicia a publicação de folhetins no jornal “Gazeta de Portugal”. Inicia a sua atividade como advogado. São publicados no jornal “Revolução de Setembro” os primeiros versos de Carlos Fradique Mendes, "poeta satânico", criação conjunta de Eça, Antero e Batalha Reis. Publicação no mesmo jornal de O Mistério da Estrada de Sintra. É publicado o primeiro número d'As Farpas. Realizam-se as Conferências Democráticas do Casino Lisbonense. É nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas. Viagem pelo Canadá, Estados Unidos e América Central. Publicação do conto Singularidades de Uma Rapariga Loura. Publicação da primeira versão de O Crime do Padre Amaro. Primeira edição em livro de O Crime do Padre Amaro.
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Vida e obra de Eça de Queirós (cont.) – atividade realizada pelos alunos 1877 Publicação no jornal portuense A Atualidade das crónicas e Cartas de Inglaterra. Inicia a escrita de A Capital, publicada vinte e cinco anos após a sua morte. 1878 Publicação de O Primo Basílio (1.ª e 2.ª ed.) Escreve O Conde de Abranhos. 1880 Segunda edição em livro de O Crime do Padre Amaro. Publicação da novela O Mandarim em folhentins do Diário de Portugal. Publicação dos contos «Um Poeta Lírico» e «No Moinho», em O Atlântico. 1883 Reescreve O Mistério da Estrada de Sintra. 1884 Publicação na Revue universelle internationale da tradução francesa O Mandarim, com um prefácio de Eça, escrito em francês. Segunda edição de O Mistério da Estrada de Sintra. 1885 Visita Zola, em Paris. 1886 Casamento com Emília de Castro Pamplona, oriunda de uma família aristocrática de Resende. 1887 Concorre com A Relíquia ao Prémio D. Luís da Academia Real das Ciências, perdendo a favor de Henrique Lopes de Mendonça com a obra O Duque de Viseu. 1888 Publicação de A Relíquia. Nomeado cônsul em Paris, realizando, assim, a ambição de toda a sua vida. Publicação de Os Maias.
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Vida e obra de Eça de Queirós (cont.) – atividade realizada pelos alunos 1889 1890 1891 1892 1893 1894 1895 1896 1897
Prefacia o livro de poemas Aguarelas de João Dinis. Publicação do primeiro volume de Uma Campanha Alegre. Traduz As Minas de Salomão, de Henry Rider Haggard. Publicação do conto «Civilização», na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro. Publica na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro a Crónica «Tema para Versos», que inclui o conto «A Aia». Escreve A Ilustre Casa de Ramires. Publicação de «O Defunto» na Gazeta de Notícias. Publicação de Antero de Quental - In Memoriam em que Eça colabora com o texto «Um génio que era um santo». Começa a publicação em Paris da Revista Moderna. Nos dois primeiros números publica os contos «A Perfeição» e «José Matias». A Ilustre Casa de Ramires começa a ser publicado na mesma Revista. 1898 Publicação na Revista Moderna do conto «O Suave Milagre». 1899 Prepara, em simultâneo, a publicação de três romances: A Correspondência de Fradique Mendes, A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires. 1900 Morte após prolongada doença a 16 de agosto, em Neuilly. Em setembro, o corpo é trasladado para Portugal, realizando-se o funeral para o cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.
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Vida e obra de Eça de Queirós (cont.) Publicação, em volume, já depois da sua morte, de A Correspondência de Fradique Mendes, A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as Serras (1901), Contos (1902), Prosas Bárbaras (1903), Cartas de Inglaterra e Ecos de Paris (1905), Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1907), A Capital (1925) e O Egipto (1926). Como se pode ver, a sua obra conta com um espólio considerável de publicações, algumas durante a sua vida e outras a título póstumo. É, igualmente, de realçar a sua colaboração em jornais e revistas da época.
Curiosidades biográficas Filho ilegítimo, Eça foi levado, assim que nasceu, a casa de uma ama, em Vila do Conde, onde permaneceu durante quatro anos. A separação da mãe ocorreu por causa do pai, que, temendo as reações da sociedade – e para evitar problemas na sua carreira de magistrado -, tentou ocultar o nascimento da criança. Os seus pais casaram-se apenas quatro anos depois do seu nascimento, mas nunca o assumiram como filho. Em 1870, no início da carreira diplomática, Eça de Queirós alcançou o primeiro lugar no concurso para o posto de cônsul na Bahia, mas, por razões políticas, foi preterido em favor do segundo colocado.
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Vida e obra de Eça de Queirós (cont.) – atividade realizada pelos alunos
http://flipquiz.me/quiz/17384
Turma 10ºB
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Vida e obra de Eça de Queirós – colaboração Paula Mota Vida e obra de Eça de Queirós em Banda Desenhada
http://www.toondoo.com/toonbooks/576450
Turma 10ºD 10
2.1 Contextualização – o tempo de Eça de Queirós Eça de Queirós viveu no século XIX, época rica em acontecimentos que agitaram a política, a economia e a cultura e influenciaram, inevitavelmente, a sua criação literária. O cenário político-social encontrava-se desgastado pela herança das guerras que culminaram com a implementação do Liberalismo e pelas vicissitudes resultantes dos processos de mudança visados pela Regeneração. Este facto explica, em parte, o desencontro entre os ideais de progresso e de modernização e a realidade do país, repleta de desigualdades e de contrastes económicos, sociais e culturais. Por um lado, este foi um século marcado pelo progresso tecnológico, por invenções e descobertas nas múltiplas vertentes do conhecimento científico. Por outro, foi uma época conturbada por sucessivos golpes políticos bem como por sublevações das classes trabalhadoras, que mergulharam o país numa crise económica e social difícil de superar. As populações tendiam a concentrar-se nos aglomerados citadinos, que cresciam desordenadamente, e a burguesia urbana prosperava numa conjuntura favorável devido ao desenvolvimento industrial e ao espólio colonial. O contexto internacional era marcado por conflitos militares emergentes, designadamente a guerra entre a Áustria e a Prússia, bem como pela hegemonia mundial inglesa, sob o reinado da rainha Vitória. No entanto, a influência do estrangeiro fazia sentir-se em Portugal sobretudo no desejo de imitação dos modelos civilizacionais mais avançados da época, como era o caso de Inglaterra e de França, com os quais muitos intelectuais mantinham estreitas ligações, tal como aconteceu com Eça devido à sua atividade diplomática.
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Contextualização – o tempo de Eça de Queirós (cont.)
Do mesmo modo, fazia-se sentir uma forte influência de grandes pensadores que abalaram as conceções religiosas e filosóficas vigentes, como Darwin, Comte e Marx, precursores das teorias da evolução e seleção natural das espécies, do positivismo e do materialismo dialético histórico, respetivamente. Vários escritores que se demarcavam pela inovação da sua escrita, afastada das fantasias românticas e centrada na análise rigorosa e crítica da realidade, como Flaubert, Balzac e Zola, também inspiravam um leque de seguidores desejosos de renovar a arte e a mentalidade dos portugueses.
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3. À descoberta do conto Civilização 3.1 Ação O conto em análise tem uma estrutura bipartida. Na primeira parte verifica-se uma crítica à civilização que ganhou um ingrediente inesperado de comicidade, justamente, porque o que se considerava as fantásticas novidades do progresso ali satirizadas, para nós não passam de velharias datadas ou de coisas que já estão integradas na nossa vida quotidiana. Contempla, igualmente, a vida sofisticada de Jacinto, desde o palácio, à alimentação e vestimentas até ao usufruir de toda a tecnologia inovadora. Na segunda parte, estamos perante o ecologismo dos nossos dias, atitude corrente de valorização da natureza e da vida natural: um verdadeiro manifesto ecológico, que exalta o campo, sede das fontes de vida, em detrimento da cidade artificial e nociva. Essa valorização do campo contra a cidade constitui uma particularidade tanto neste conto de Eça de Queirós como no romance A Cidade e as Serras que se caracterizava por ser urbano e progressista. Constata-se a revigorização completa de Jacinto, dado o seu contacto direto com a vida campestre. O plantio e a criação de animais, por exemplo, possibilitarão a cura do “lixo da civilização” presente no protagonista. Este, conquistado pelas virtudes simples e sadias da vida que antes desprezava, transferirá todo o seu horror à cidade, devido à sua artificialidade doentia, os seus excessos e à sua falsidade.
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos 1. Resolva a seguinte sopa de letras, onde poderá encontrar 15 palavras acerca do conto Civilização. Estas podem encontrar-se na horizontal, vertical ou diagonal e da esquerda para a direita e vice-versa. E I C I A S O R V I L V R
S N E C L E S I A S T E S
A C C I I D G A E C Q U A
L Z R I R A T I N H E F J
E B J S V D A S U O S R A
A E D A D I C I L P M I S
H F Z S C L L U O E I Q M
F L A E R I H I O N R U I
S Q A G A C N A Z H E E N
U R I R C A R T N A D Z E
H A R O R F F T O U Ç A I
Abril
Civilização
Eclesiastes
Facilidades
Fonógrafo
Jacinto
Jasmineiro
Livros
Riqueza
Schopenhauer
Serra
Simplicidade
Sousa
Teatrofone
Torges
T E A T R O F O N E E Ã R
S A R S F O N Ó G R A F O
Turma 10ºB
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos 2. Complete o crucigrama, seguindo as indicações:
Horizontal 1. Conjunto dos acontecimentos e realizações das sociedades humanas mais evoluídas, marcadas pelo desenvolvimento intelectual económico tecnológico. Nome do conto. 2. Cidade onde o conto decorre. 1. 2. 3. 4. 5.
Vertical Nome do palácio do conto. Sinónimo de avanços. Aparelho que, por meio de um microfone e utilização da rede telefónica, permitia ouvir em casa, ou noutro local, as peças ou músicas que se iam representando nalgum teatro. Personagem principal do conto. Terrenos acidentados com fortes níveis, frequentemente aplicados a escarpas assimétricas, possuindo uma vertente e outra menos inclinada.
Turma 10ºA
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos 3. Complete o crucigrama, seguindo as indicações:
1 – Aldeia; 2 – Conjunto das instituições, técnicas, costumes, crenças, que caracterizam uma sociedade; 3 – Aparelho que transmite mensagens à distância, por meio de códigos; 4 – Qualidade ou estado de feliz; 5 – Grande centro urbano caracterizado por um grande número de habitantes e por diversas atividades comerciais, industriais, culturais e financeiras; 6 – Grande extensão de montanhas ligadas umas às outras; 7 – Desânimo, tristeza; 8 – Aparelho que transmite a voz ou som à distância; 9 – Edificio grandioso, normalmente habitado por alguém grandioso.
Turma 10ºA
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos 4. Atente no seguinte acróstico sobre o conto Civilização. Comente-o, tendo em conta a leitura da obra.
Civilização é um conto de Eça de Queirós que tem como protagonista Jacinto. Ainda que este tivesse tudo o que queria, vivia Muito triste. Jacinto dedicava-se às suas invenções, Porém, também se dedicava muito à leitura. Ora Jacinto, aborrecido, decidiu mudar-se para o campo. Então, durante 7 semanas, preparou a sua viagem, Chegando a Torges. Aqui apercebeu-se de que não era o que tinha Idealizado. De início, Jacinto não se habituara aos costumes campestres. A certa altura, começou a dar valor ao campo e à natureza e assim se passaram 4 anos. Do ponto de vista dos leitores dá para perceber que Jacinto mudou Efetivamente de vida, encontrando, finalmente, o seu equilíbrio interior.
Turma 10ºA
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos
Turma 10º B
https://www.powtoon.com/show/bL4h1w9qmEN/civilizacao/#/
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3. À descoberta do conto Civilização Ação – atividade realizada pelos alunos
Turma 10º B
https://www.youtube.com/watch?v=NNYdEE6Exj4 19
3. À descoberta do conto Civilização 3.2 Personagens – atividade realizada pelos alunos Civilização é um conto de Eça de Queirós onde é narrada a vida de Jacinto, um homem novo e culto que vivia luxuosamente, rodeado dos mais sofisticados e recentes inventos e das mais belas obras-primas da literatura. Inicialmente desmoralizado e ainda mais pessimista com tamanha "tragédia", Jacinto é, subitamente, invadido e transformado pela beleza e simplicidade da vida campestre. E vai ser assim, longe da civilização, dispensando os exageros do luxo, que Jacinto redescobre o prazer e a alegria de viver. Segue-se a classificação e caracterização das personagens.
Personagens
Relevo/ Papel
Composição
Caracterização (processo)
Jacinto
Personagem Principal
Personagem Modelada
Caracterização mista: é um homem supercivilizado, possuidor de hábitos metódicos, milionário, apreciador de inovações modernas, dotado de desânimo em relação à vida, tinha uma saúde resistente e era leitor de Schopenhauer e do Eclesiastes.
Zé Brás
Personagem Secundária
Personagem Plana
Caracterização indireta: bondoso, educado, camarada, tímido e doce.
Personagem Plana
Caracterização indireta: social, respeitável e fiel.
Personagem Plana Personagem Plana
___________ ___________
Personagem Plana
___________
Personagem Plana
Caracterização direta: gordo, redondo, com as cores de maçã camoesa.
Procurador Senhor Sousa Grilo Mulher do Zé Brás Cozinheiro Chefe da Estação
Personagem Secundária Figurante Figurante Figurante
Personagem Secundária
Turma 10ºA 20
3. À descoberta do conto Civilização Personagens – atividade realizada pelos alunos Turma 10ºA
http://flipquiz.me/quiz/19034 21
3. À descoberta do conto Civilização Personagens – atividade realizada pelos alunos
http://issuu.com/hmarques/docs/personagens_10b
Turma 10ºB 22
3. À descoberta do conto Civilização Personagens – atividade realizada pelos alunos
Turma 10ºD
https://prezi.com/vy_2iplvbmue/copy-of-untitled-prezi/?utm_campaign=share&utm_medium=copy
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3. À descoberta do conto Civilização 3.3 Espaço – atividade realizada pelos alunos O espaço indica o(s) local(ais) onde se desenrolam os factos e divide-se em espaço exterior e interior. No conto predomina a descrição do espaço interior.
Turma 10ºC Espaço Palácio (1ª parte)
Biblioteca Gabinete de trabalho
Sala de jantar
Quarto
Segmento Textual “Eu possuo… num palácio… floridamente chamado Jasmineiro” (pág.67) (…) “casa do séc. XVII” (p.68) “A biblioteca que em duas salas, amplas e claras como praças, forrava as paredes, inteiramente, desde os tapetes Caramânia até ao teto (…) continha vinte e cinco mil volumes, instalados em ébano, magnificamente revestidos de marroquim escarlate.”.” (pág.68) “Ao fundo… sua mesa, recoberta toda de sagazes e subtis instrumentos…os trinta e cinco dicionários, e os manuais…os grandes aparelhos, facilitadores dos pensamento…” (pág.68-69) “arranjo compreensível, fácil e íntimo. À mesa (…), entre as tapeçarias de Arrás, representando colinas, pomares e pórticos da Ática, cheia de classicismo e de luz,… a cada talher correspondiam seis garfos, todos de feitios dissemelhantes e astuciosos …Os copos, pela diversidade de contornos e das cores…As travessas ( de prata) subiam da cozinha e da copa por dois ascensores, um para as iguarias quentes, forrada de tubos onde a água subia; outro, mais lento, para as iguarias frias, forrado de zinco, amónio e sal”(pág.71) “… respirava o frescor e aroma do jardim por duas vastas janelas, providas magnificamente de uma vidraça exterior de cristal inteiro, de uma vidraça interior de cristais miúdos…” (pág.73)
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – atividade realizada pelos alunos (cont.) Espaços exteriores e interiores Espaço
Turma 10ºC
Segmento Textual
Jardim
“Por trás do jardim da estação, todo florido também de rosas e margaridas…” (pág.77)
Serra
“Mas passada uma trémula ponte de pau que galga um ribeiro todo quebrado por fragas…a grandeza era tanta como a graça...” (pág.78) “a rude casa solarenga, onde ainda resta uma torre do século XV…os telhados ainda estavam sem telhas e as janelas sem vidraças…” (pág.76)
Casa da Quinta
“na casa nenhuma obra começara…os telhados ainda sem telhas e as janelas sem vidraças…” (pág.80)
“A escadaria nobre conduzia a uma varanda, toda coberta, em alpendre, acompanhando a fachada do casarão e ornada, entre os seus grossos pilares de granito por caixotes cheios de terra, em que floriam cravos” (pág.80) Cozinha na quinta
“A cozinha era uma espessa massa de tons e formas negras de fuligem…” (pág.82)
Palácio (2ª parte)
“ Quis lavar as mãos, maculadas pelo contacto com estes detritos de conhecimentos humanos. Mas os maravilhosos aparelhos do lavatório, da sala de banho, enferrujados, perros, dessoldados, não largavam uma gota de água;…outros aparelhos, tombados das suas peanhas, sórdidos, desfeitos sob a poeira dos anos” (pág.92)
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – atividade realizada por uma aluna Poesia com o espaço Jacinto vivia num palácio Palácio com o nome de Jasmineiro Jasmineiro que ficava situado junto de um lindo rio Rio murmuroso e transparente, com o leito muito liso Liso e de areia muito branca, refletindo pedaços lustrosos de um céu Céu de verão refletido no rio Rio límpido e tranquilo Tranquilo como a saúde de Jacinto Jacinto vivia no Jasmineiro Jasmineiro que seu pai construíra Construíra sobre uma honesta casa Casa que possuia uma biblioteca Biblioteca com duas salas Salas forradas inteiramente desde os tapetes Tapetes de caramânia, até ao teto Teto de onde saá luz para a biblioteca Biblioteca com 25 mil volumes
Volumes instalados em ébano, magnificamente revestidos Revestidos de marroquim escarlate Escarlate estavam os 1817 livros Livros que podiam ser sustentados pelas finas pranchas Pranchas das poltronas Poltronas muito confortáveis Confortável era a sala de jantar Sala de jantar para apenas seis amigos Amigos de Jacinto Jacinto possuía um fresco e aromático quarto Quarto com duas grandes janelas Janelas que serviam para graduar a luz e o ar Ar analisado por vários aparelhos Aparelhos numerosos eram os da sua higiene Higiene que fazia na sua mesa de toilette Toilette em que demorava imenso tempo Tempo demorou Jacinto a preparar a viagem Viagem para a quinta de Torges
Torges situava-se na serra Serra que possuía uma estação Estação em que Jacinto desembarcou Desembarcou perto de um cais branco e fresco Fresco era o ar da serra Serra onde ficava a casa solarenga de Jacinto Jacinto passou por uma trémula ponte de pau Ponte de pau que galga um ribeiro Ribeiro situada entre a beleza serra Serra com vales fofos de verdura Verdura e bosques quase sacros Sacros eram os pomares cheirosos e em flor Flor que cintrastava com a frescura das águas Águas cantantes com musgosas rochas Rochas, mesmo elas eram de grande beleza Beleza que espantara Jacinto Jacinto ficou desiludido Desiludido com o rústico da casa Casa que no final lhe capta a atenção Atenção que lhe faz perceber Perceber como a serra tem beleza Beleza que o faz apaixonar. Susana nº24, 10ºD
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – atividade realizada pelos alunos
Turma 10ºD
http://issuu.com/hmarques/docs/espa__o_10__d
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – colaboração David Sousa E no presente, que características físicas e humanas se poderão encontrar no espaço percorrido por Jacinto, no concelho de Baião? Eis a resposta.
http://issuu.com/hmarques/docs/caracterizacao_geografica_baiao
http://issuu.com/hmarques/docs/trabalho_de_geografia
Turma 10ºC
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – colaboração David Sousa (cont.)
Turma 10ºC
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3. À descoberta do conto Civilização Espaço – colaboração Joana Freitas Mas no passado, este foi o espaço percorrido por Jacinto, no concelho de Baião.
Turma 10ºD
https://www.youtube.com/watch?v=3NxKaesUgQU
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3. À descoberta do conto Civilização 3.4 Tempo – atividade realizada pelos alunos O tempo marca a sucessão cronológica dos acontecimentos e contextualiza-os histórica, cultural e socialmente. Este divide-se em tempo cronológico, psicológico e histórico. Seguem-se algumas referências ao tempo cronológico:
“E todavia desde os…vinte e oito anos…” (pág.67); “… de outros pessimistas menores, e três quatro vezes por dia...” (págs. 67/68); “Pois, numa doce noite de João…” (pág.70); “Era de madrugada.” (pág.70); “Uma tarde que eu desejava copiar…” (pág.68); “…todas as semanas, verificar a precisão” (pág.73); “E deste modo…durante catorze minutos.” (pág.74); “Aos trinta anos Jacinto…” (pág.74); “E …desde janeiro a março…” (pág.75); “Depois…duas semanas de montanha…” (pág.76); “Por fim largamos numa manhã de junho…” (pág.77); “Era domingo de imensa poeira e sol…” (pág.77); “Para aquele … tarde arraial…” (pág.77); “Três semanas antes jogaram…” (pág.78); “O procurador… desde maio…” (pág.79); “ contava com Sua Excelência, em setembro, para a vindima.” (pág.80); “Depois por uma abraçada manhã de agosto…” (pág.80); “À noite, depois de um cabrito sistema…” (pág.89) O tempo psicológico é exposto em forma de idades, pois Jacinto, no início do conto, aparece com vinte e oito anos e com o seu desenvolvimento, Jacinto aparece com trinta anos, demonstrando um transcorrer de tempo da narrativa, também se percebe da existência pelo facto da história estar sendo narrada por uma personagem que já viveu “o acontecimento” e tem conhecimento de todos os detalhes e factos narrados. O título “Civilização” mostra a classe burguesa e a época em que este se desenrola – tempo histórico.
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3. À descoberta do conto Civilização Tempo – atividade realizada pelos alunos (cont.) Assistimos, também, a uma prolepse, com a existência de uma previsão do futuro, onde estas invenções, que estavam no auge, não passariam de futilidades: “Através das ruas mais frescas, eu ia pensando que este nosso magnifico século XIX se assemelharia, um dia aquele jasmineiro abandonado e que outros homens, com uma certeza mais pura do que é a vida e a felicidade, daria, como eu com o pé de lixo da civilização e, como eu, ririam alegremente da grande ilusão que hindara, inútil coberta de ferrugem.” (pág.67).
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3. À descoberta do conto Civilização Tempo – atividade realizada pelos alunos (cont.) Turma 10ºA
http://flipquiz.me/quiz/18414 33
3. À descoberta do conto Civilização 3.5 Narrador – atividade realizada pelos alunos Classificação do narrador:
Quanto à presença: narrador participante e homodiegético. exs. “... eu possuo...” (p.67); “... de novo os seus olhos (...) procuravam os meus.” (p.83); “... através da porta aberta que nos separava...” (p.91)
Quanto à focalização: focalização interna. exs. “...e três, quatro vezes ao dia, bocejava...” (p.68); “...do amor só experimentara o mel (...) Ambição, sentira somente a de compreender bem as ideia gerais...” (p.67).
Quanto à posição: posição subjetiva. exs. “por isso o meu pobre amigo...” (p.75); “...era doloroso testemunhar o fastio com que ele (…)” (p.75); “...e o meu pobre Jacinto contemplou, enfim, as salas do seu solar!” (p.80).
Turma 10ºA
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3. À descoberta do conto Civilização 3.5 Narrador, linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos
Turma 10ºB http://issuu.com/hmarques/docs/narrador_ling_estilo_10b
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3. À descoberta do conto Civilização 3.5 Narrador, linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos
Turma 10ºD http://issuu.com/hmarques/docs/narrador_linguagem_e_estilo_10__d
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3. À descoberta do conto Civilização 3.5 Narrador, linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos Turma 10ºA
http://flipquiz.me/quiz/18927 37
3. À descoberta do conto Civilização 3.6 Modos de representação/ expressão do discurso Atividade realizada pelos alunos – Turma 10ºB
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3. À descoberta do conto Civilização Modos de representação/ expressão do discurso Atividade realizada pelos alunos – Turma 10ºB
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3. À descoberta do conto Civilização Modos de representação/ vida e obra Atividade realizada pelos alunos – Turma 10ºB
http://issuu.com/hmarques/docs/modos_de_representa____o_e_vida_e_o
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3. À descoberta do conto Civilização 3.8 Gastronomia – colaboração Luísa Leal
Turma 11ºG
http://issuu.com/hmarques/docs/luisa_leal_civilizacao
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4. Estrutura/ Síntese 4.1 Ficha de verificação de leitura Tendo em conta o estudo realizado sobre o conto Civilização de Eça de Queirós, complete o seguinte texto: O conto ____________ de Eça de Queirós tem como protagonista ___________ um homem muito ___________ que nasceu num ____________ rodeado por paisagens maravilhosas, nunca padeceu, possuía uma saúde __________, sempre teve __________ amizades e do amor só experimentara o ______________. Mas, apesar de toda essa vida cheia de ____________, ___________ sentia-se ___________ e pessimista e com _______________ anos já lia Schopenhauer e o _____________, vivia ____________, sem prazer em viver. “ (…) a vida era para ____________ um cansaço – ou por laboriosa e difícil, ou por desinteressante e oca. Por isso, o meu pobre procurava constantemente juntar à vida nova _____________, novas _____________.” Essas novas facilidades referem-se a inovações ____________ que ____________ possuía como: a máquina de ____________, os autocopistas, o fo_________, o t__________, o telégrafo, etc. Aí percebe-se uma forte influência progressista e ao mesmo tempo uma contradição que a civilização materialista ao invés de proporcionar grandes emoções causa _____________. Na primeira parte do conto, o narrador vai descrevendo todo o ____________ de Jacinto, cercado de glamour, bons ___________ e ____________ de sedas, enfim, um exemplar de homem ____________, mas sempre tedioso dando ___________ mais calvos. Na segunda parte, inicia uma valorização à ____________e à vida natural. Essa valorização do ____________ contra a ____________ constitui uma particularidade, tanto neste conto do Eça, como no romance A Cidade e as Serras. ___________ preparou-se, durante __________ semanas, para ir para ____________, uma cidadezinha na ____________ onde a personagem principal tinha uma casa __________, do século ___________ habitada por ___________.
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Ficha de verificação de leitura (cont.) Cuidadosamente, Jacinto escrevera ao seu procurador ___________ que ordenasse a arrumação da casa para que ela ficasse com todos os confortos dignos de uma pessoa civilizada: compor os ____________, caiar os ____________, envidraçar as _____________. Ao partir para ____________ com as suas trinta e sete ___________, Jacinto e o seu amigo passaram por uma verdadeira aventura, ____________ as malas, montando num ___________, percorrendo caminhos agrestes e, no final, a casa ________ _________ arrumada, permanecia _____________, rústica como dantes. No princípio, há uma certa ____________ à simplicidade daquele lugar com os móveis, talheres simples e suas roupas grosseiras. Entretanto, ao perceber o ____________ do campo e das comidas deliciosas, Jacinto vai recuperando o ____________ de viver e reconhece as virtudes simples e sadias que antes desprezava. No final do conto, o narrador mostra-nos a morte da ____________, descrevendo um lugar muito diferente do que fora noutros tempos o palácio _____________ “quis lavar as mãos, maculadas pelo contato com estes detritos de conhecimentos humanos. Mas os maravilhosos aparelhos do lavatório, da sala de banho, enferrujados, perros, dessoldados, não largaram uma _____________; e, como chovia nessa tarde de _____________, tive de sair à varanda, pedir ao Céu que me lavasse.” No final do conto, verifica-se a ____________ da civilização, quando o narrador, ao ir à casa ____________ de ___________ a fim de pegar alguns ______________, mostra que o protagonista está ____________ consigo mesmo e com o _____________. Só se poderia alcançar a _______________ plena e total, se cada um vivesse longe da ____________, tal como Jacinto que agora vive “ na ___________ em _____________, sem _____________ e sem ______________ reentrado na ____________, vendo, sob a ______________ calma «a boiada recolher-se entre o canto dos boeiros ao tremeluzir da primeira estrela»”. Ficha realizada pela docente a partir de recolha em diferentes fontes
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4.2 Tópicos de leitura de Civilização por capítulo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Raízes de Jacinto Hábitos culturais de Jacinto Palácio de Jacinto – influência da civilização: biblioteca gabinete de trabalho – episódio do fonógrafo sala de jantar – avaria no ascensor Palácio de Jacinto (continuação) – quarto – casa de banho Sinais de tédio / cansaço: pré-soluções Decisão de partir para Torges Contacto, via carta, com Torges Preparativos para a viagem Chegada à estação de Godim Perda da bagagem e solução encontrada Jornada até Torges e chegada ao solar de surpresa Descrição do solar Tomada de consciência da ausência da civilização Descrição da cozinha: 1ª ceia e respetiva reação Vantagem da vida no campo em detrimento da cidade Reflexão sobre o «eu» Consequência da falta da «civilização» A mudança de Jacinto e consequente equilíbrio encontrado Constatação da mudança de Jacinto Jacinto, rendido à nova vida, longe da civilização Falência da civilização – “Lixo do engenho do homem” Atividade realizada pelas docentes
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5. A prosa queirosiana: 5.1Humor/ Ironia – atividade realizada pelos alunos O humor e a ironia são dois dos traços característicos da escrita de Eça de Queirós que em muito contribuem para a atualidade da sua obra. Dele, disse Vergílio Ferreira: “O seu humorismo é intelectualizado e define-se pela observação subtil de traços e situações ridículas.” (“Humorismo”, in Dicionário de Eça de Queiroz, 2ª ed., Caminho, 1988)
Humor O humor é uma característica bastante comum nas obras de Eça de Queirós. Civilização não é exceção. Neste conto, o escritor utiliza-o ao referir-se, por exemplo, no capítulo II, ao ritual tedioso de Jacinto ao levantar-se, onde eram precisos seis tipos de escovas para se pentear, caracterizando cada uma e comparando-a com algo. “Começava pelo cabelo... Com uma escova chata, redonda e dura, acamava o cabelo, corredio e louro, no alto, aos lados da risca; com uma escova estreita e recurva, à maneira do alfange de um persa, ondeava o cabelo sobre a orelha; com uma escova côncava, em forma de telha, empastava o cabelo, por trás, sobre a nuca... Respirava e sorria. Depois, com uma escova de longas cerdas, fixava o bigode; com uma escova leve e flácida acurvava as sobrancelhas; com uma escova feita de penugem regularizava as pestanas. E deste modo Jacinto ficava diante do espelho, passando pelos sobre o seu pelo, durante catorze minutos.” (p. 73-74)
No capítulo I, ao referir-se ao bibliotecário, utiliza também o humor. ““Só sistemas filosóficos (e, com justa prudência, para poupar espaço, o bibliotecário apenas colecionara os que irreconciavelmente se contradizem) havia mil oitocentos e dezassete!” (p. 68) Neste conto, a crítica à civilização ganhou, no início, um ingrediente inesperado de humor, porque as fantásticas novidades do progresso ali apresentadas acabam por ser satirizadas, pois não passam, na verdade, de velharias datadas ou de coisas que já estão integradas no quotidiano de todos nós.
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5. A prosa queirosiana: Humor/ Ironia (cont.) Ironia Espirituoso, feroz e anticlerical, Eça possui uma inigualável veia satírica e mordaz, além de ser um hábil caricaturista. A sua ironia chega a ser tão cáustica e demolidora que, segundo Miguel de Unamuno, «poucos souberam, como Eça de Queirós, ensinar “a verdade de cada dia e a ilusão da eternidade”. Ele é, sem dúvida, conhecido como um “demolidor” terrível e irónico da vida portuguesa da sua época.
“A ironia constitui um procedimento de representação estética e ideológica que, só por si, identifica Eça de Queirós, desde sempre associado a um tal procedimento. Pode mesmo dizer-se que, de uma forma às vezes redutora, chega a limitar-se a estética queirosiana ao uso da ironia; o que não impede que se reconheça que esta constitui um poderoso veículo de indagação crítica, clara ou veladamente conjugado com outras atitudes e representações: o sarcasmo, o humor ou mesmo a desilusão. Importa destrinçar em Eça dois tipos de ironia: a ironia como visão do mundo e a ironia como recurso estilístico, podendo ambos aparecer correlacionados. Esta última traduz um processo retórico que tipicamente diz o contrário do que aparenta, sendo esse contrário deduzido do contexto ou, mais amplamente, da relação do texto com o propósito crítico que no escritor se percebe. Num outro plano, que é o da ironia como visão do mundo, ela funciona como elemento representacional estruturante que tempera a agressividade do realismo crítico e instaura o cenário de uma dualidade. Sob o signo de um ceticismo distanciado, a ironia funciona como expressão algo cínica da consciência de antinomias inconciliáveis: por exemplo, as que se evidenciam no romance A Cidade e as Serras.” REIS, Carlos, «Abecedário: Ironia», Eça de Queirós, Lisboa, Edições 70, 2009
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5. A prosa queirosiana: Humor/ Ironia – atividade realizada pelos alunos (cont.) Ironia Eis aqui alguns exemplos de ironia presentes no conto Civilização.
“...ali jaziam, tão lamentáveis e grotescas, aquelas geniais invenções, que eu saí rindo (...) daquele supercivilizado palácio.” (p.92)
“Assim se achava formidavelmente abastecido o meu amigo Jacinto de todas as obras essenciais da inteligência - e mesmo da estupidez” (p. 68) “Só sistemas filosóficos (e, com justa prudência, para poupar espaço, o bibliotecário apenas colecionara os que irreconciliavelmente se contradizem) havia mil oitocentos e dezassete!” (p. 68)
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5. A prosa queirosiana: 5.2 Linguagem e estilo O texto literário apresenta determinadas particularidades da linguagem que viabilizam e enriquecem a concretização plena dos temas abordados. A expressividade de um texto é tanto mais rica e significativa, quanto maior for a criatividade e a competência linguística e literária do autor, isto é, quanto maior for a predominância de elementos de retórica qua façam sobressair a linguagem literária com vantagem para a apreensão das ideias. Eça de Queirós renovou a linguagem literária portuguesa com as inovações estilísticas que se associam a técnicas literárias a que conferia uma nova vitalidade. Em termos de registo de linguagem, a sua escrita revela-se admiravelmente versátil e maleável. A prosa queirosiana revela originalidade e um trabalho primoroso no domínio de técnicas de expressividade textual, que fazem dele caso notável e singular da literatura portuguesa. Reflete, ainda, a sua forma de pensar e exprime facilmente o seu modo de ver o mundo e a vida. “Eça de Queirós é um dos dois ou três grandes artistas que mais modelaram a língua portuguesa, e pode dizer-se que das suas mãos saíram a técnica e os paradigmas estilísticos ainda hoje mais decorrentes na nossa língua literária. […]” A.J. Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, 17ª ed., Porto Editora
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5. A prosa queirosiana: Linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos (cont.) Como forma de enriquecer a narrativa, Eça de Queirós utilizou, no conto Civilização, um grande número de recursos expressivos, quer para comprovar as suas teses, quer para embelezar todo o conteúdo e base literária. Em baixo encontram-se uma seleção dos mais frequentes na obra. Enumeração: exs. “… para cortar papel, numerar páginas, colar estampilhas, aguçar lápis, raspar emendas, imprimir datas, derreter lacre, cintar documentos, carimbar contas! ” “A máquina de escrever, os autocopistas, o telégrafo Morse, o fonógrafo, o telefone, o teatrofone, outros ainda, todos com matais luzidios, todos com longos fios” “Numa recordo sem assombro a sua mesa, recoberta toda de sagazes e subtis instrumentos para cortar papel…” (p.69)
Comparação: exs. “A biblioteca – que em duas salas, amplas e claras como praças…” (p.68) “…pareciam serpentes adormecidas e suspensas num velho como praças…” (p.68) “Ao fundo, e como um altar-mor, era gabinete de trabalho de Jacinto…” (p.69) “…um homem branco, rapado como um clérigo…” (p.79)
Metáfora: exs. “…o meu supercivilizado amigo palpou a sua enxerga e sentiu nela a rigidez de um granito…” (p.85) “A voz de Pinto Porto lá estava, entre os panos de Arrás, implacável e rotunda:” (p.70) “Toda a quinta de Torges, portanto, é uma massa de urtiga” (p.89)
Turma 10ºC
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5. A prosa queirosiana: Linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos (cont.) Adjetivação Dupla adjetivação: exs. “…senhora gorda e crédula…”(p.67); “Jacinto recolhera no fonógrafo a voz (…) oracular e rotunda…”(p.69) Tripla adjetivação: exs. “Com uma escova chata, redonda e dura…” (p.73); “Um lindo rio, murmuroso e transparente…” (p.67) Adjetivação abundante: exs. “…o saudável, rico, sereno e intelectual Jacinto?” (p.69); “senti uma risada fesca, moça, genuina e consolada” (p.91) Onomatopeias: exs. “Tique, tique, tique!”; “Dlim, dlim, dlim!”; “Craque, craque, craque!”; “Trre, trre, trre!” (p.69) Sinestesia: exs. “Através das janelas desvidraçadas, por onde se avistavam copos de arvoredos e as serras azuis de além-rio, o ar entrava, montesino e largo, circulando plenamente como em um eirado, com aromas de pinheiros bravos, E lá de baixo, dos vales, subia, desgarrada e triste, uma vez da pegueira cantando”; “…uma voz oracular e rotunda…”; “…dizer os vales fofos de verdura, os bosques quase sacros, os pomares cheirosos e em flor, a frescura das águas contentes, as ermidinhas branqueando nos altos, as rochas musgosas, o ar de uma doçura de Paraíso, toda a majestade e toda a lindeza…”; “…todos com matais luzidios, todas com longos fios. Constantemente sons curtos e secos retiniam no ar morno daquele santuário…” (p.78) Turma 10ºC
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5. A prosa queirosiana: Linguagem e estilo – atividade realizada pelos alunos (cont.) Advérbios formados com o sufixo “-mente”: exs. “inevitavelmente” (p.69); “deliciosamente” (p.72); “laboriosamente” (p.74); “risonhamente” (p.78) Diminutivos: exs. “ceiazinha” (p.82); “enxergazinhas” (p.82); “estantezinha” (p.88) Utilização do gerúndio: exs. “silvando” (p. 77); “passando” (p.68); “buscando” (p.68); “respirando” (p.71); “lembrando” (p.71); “arrastando” (p.73); “penetrando” (p.75)
Turma 10ºC
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6. Curiosidades/ Intertextualidade 6.1 Oposição campo/ cidade A oposição cidade/ campo é tradicional na literatura, sendo esta importante na criação do género bucólico cultivado por grandes escritores desde a Antiguidade.
“Enquanto representação idealizada de uma existência ligada à Natureza, o Bucolismo surge ainda como referência latente em toda a produção romântica, contribuindo para a configuração de dicotomias centrais neste código estético como as do Homem Natural versus Homem Social. […] Poderá depois relacionar-se com o Bucolismo toda a tendência para fazer do Campo um espaço natural e regenerador um tanto imune ao Tempo, em claro contraponto com a Cidade moderna, tida invariavelmente como desnaturante.” (Bernardes, José Augusto Cardoso, 1995, “Bucolismo”, in Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. I. Lisboa: Verbo (com supressões))
Em Civilização, esta dicotomia está presente de forma bem vincada. A fuga da cidade para o campo e o consequente contacto direto com a natureza através do plantio, da criação de animais possibilitarão que Jacinto cure o “lixo da civilização”. Conquistado pelas virtudes simples e sadias da vida que antes desprezava, ele irá transferir todo o seu horror para a cidade, com a sua artificialidade doentia, os seus excessos e a sua falsidade. Por outro lado, o campo simbolizará fonte de vida, bem-estar e saúde natural. desta forma, o escritor valoriza a natureza, a vida campestre e natural em detrimento da vida artificial e nociva da cidade. O bucolismo atravessa grande parte da produção literária do século XIX e assinala, de forma particular, a obra de autores variados como Cesário Verde ou Eça de Queirós em A Cidade e as Serras. Esta valorização do campo em detrimento da cidade constitui um núcleo central quer deste conto, quer do romance realista e naturalista A Cidade e as Serras que se caracterizava por ser urbano e progressista.
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6. Curiosidades/ Intertextualidade 6.2 Cesário Verde O tema da relação entre o campo e a cidade perspetiva-se na obra poética de Cesário Verde através de um conjunto de antinomias, que é dominado por uma avaliação negativa do espaço urbano e pela valorização positiva do espeço rural. No poema “O Sentimento dum Ocidental”, a vida na cidade é caracterizada como doentia, entediante, opressiva, vazia. Poemas como “Cristalizações” e “Num Bairro Moderno” vêm confirmar esta apreciação. Por outro lado, é no campo que os sujeitos líricos dos poemas de Cesário Verde encontram o equilíbrio, os afetos, a liberdade, a vitalidade e uma forma de harmonia com a Natureza, que restituem ao indivíduo a dimensão humana e natural que a cidade parecia ter-lhe tirado. Estas ideias encontram-se, por exemplo, no poema “Nós”. Eis os principais pontos da oposição entre a cidade e o campo na sua poesia.
CIDADE
CAMPO
Doença, estagnação, morte, ausência de afeto.
Saúde, vitalidade, harmonia, vivência plena de afetos. Vida marcada pela artificialidade e pela Vida marcada pela naturalidade e pelos ciclos desumanidade. biológicos e comunitários do Homem. Progresso industrial e domínio da máquina, do ferro e Agricultura e domínio do Homem e da Natureza. do betão. Aprisionamento e opressão. Liberdade. Exploração, pobreza, injustiça social. Valores tendencialmente igualitários e justiça social. Domínio da burguesia (comercia e industrial). Afirmação do povo e dos valores rurais.
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6. Curiosidades/ Intertextualidade Cesário Verde (cont.) Concluindo, este binómio cidade/ campo é um dos temas fundamentais da sua poesia e revela-nos o seu amor pelo rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere.
A cidade personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida. Ela surge como uma prisão que desperta no sujeito «um desejo absurdo de sofrer». É um foco de infeções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão, de injustiça, de industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida para evocações e divagações. Cesário Verde retrata a cidade com as suas ruas soturnas e melancólicas, com o bulício, o sofrimento, o sacrifício da nova classe social emergente – o proletariado (cf. o poema O Sentimento dum Ocidental).
O campo, por oposição, aparece associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à liberdade, à VIDA. A sua força inspiradora é a terra-mãe, daí surgir o mito de Anteu, uma vez que a terra é fonte de vida e de refúgio. O poeta encontra a energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe saúde, tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a terra-mãe. O campo é uma realidade concreta, observada tão rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo em que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se identifica com o povo (cf. o poema Petiz). É no poema Nós que Cesário Verde revela melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e considerando-o “um salutar refúgio”. A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que lhe cria uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular mas que acaba por aprisioná-lo.
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6. Curiosidades/ Intertextualidade Cesário Verde – poemas com supressões Poema: Nós
Poema: O Sentimento de um Ocidental
Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre E a Cólera também andaram na cidade, Que esta população, com um terror de lebre, Fugiu da capital como da tempestade.
Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas, (Até então nós só tivéramos sarampo) Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas Que ele ganhou por isso um grande amor no campo!
O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba; E os edifícios, com as chaminés, e a turba Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga: O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos; Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.
Batem os carros de aluguer, ao fundo, Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! Ocorrem-me em revista, exposições, países: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! (…)
Na parte mercantil, foco da epidemia, Tum pânico! Nem um navio entrava a barra, A alfândega parou, nenhuma loja abria, E os turbulentos cais cessaram a algazarra. (…) “Sem canalização, em muitos burgos ermos Secavam dejecções cobertas de mosqueiros. E os médicos, ao pé dos padres e coveiros, Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos!”
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6. Curiosidades/ Intertextualidade 6.3 Cartoons – oposição campo/ cidade
Vivemos de forma paradoxal
Esta imagem evidencia a oposição entre a cidade e o campo. Nesta imagem, a cidade é representada através do TGV, como referência a todos os engenhos de que se apropria, enquanto o campo está representado pelos animais transportando bens materiais. Este cartoon apresenta um ambiente natural e rural, em que elementos civilizacionais que podem ser considerados básicos (como pontes de betão armado ou ferro) não chegaram ainda, mas a terra é atravessada, no seu interior, por um comboio de alta velocidade. A intenção crítica subjacente parece estar na invasão e na destruição dos espaços naturais e dos hábitos de povos mais isolados. Turma 10ºB
Vivemos de forma paradoxal: não conseguimos passar sem o maravilhoso mundo do progresso e das novas tecnologias, mas, ao mesmo tempo, sentimos uma incontrolável necessidade de “regresso às origens”, de contacto com o que é “natural”, e uma inexplicável nostalgia do “passado”, de um antes que nunca experimentámos e que só conhecemos de ouvir outros contarem. É destas aparentemente inconciliáveis partes de um mesmo todo que se faz o dia a dia no início do século XXI, que nos põe freneticamente à procura de “atividades” que possam responder a todas estas ansiedades que sentimos e que nos levam da imersão no mundo virtual à corrida pelas matas e florestas para “observar” a natureza. BARROCAS, Sofia, in Notícias Magazine, 21 de setembro de 2008
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6. Curiosidades/ Intertextualidade Cartoons – oposição campo/ cidade (cont.) Outros exemplos de cartoon pesquisados pelos alunos:
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6. Curiosidades/ Intertextualidade Cartoons – oposição campo/ cidade (cont.) Outros exemplos de cartoon pesquisados pelos alunos:
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6. Curiosidades/ Intertextualidade 6.4 A Cidade e as Serras Este romance, publicado a título póstumo, em 1901, é, na verdade, um desenvolvimento do conto Civilização. Nele, o narrador, Zé Fernandes, que abomina a vida citadina, relata a história do protagonista, Jacinto Galião, mostrando-nos como o seu grande amigo, rompendo com o passado rural, se deteriora, física e moralmente, na cidade, devido ao excesso de civilização e de tédio que o leva a experimentar todas as modas filosóficas finisseculares, culminando sempre na desilusão e no pessimismo. Um dia, decide partir para Tormes após a receção da carta de Silvério, e, uma vez regressado às serras portuguesas e após a descoberta das particularidades e encantos da Natureza, acabará por se render aos mesmos, regenerando-se em contacto com a natureza, onde encontra o seu «equilíbrio perfeito», graças à adoção de um estilo de vida mais simples, natural e produtivo. A Cidade e as Serras é, sem dúvida, um romance em que o conceito de bucolismo se verifica pela evolução que acontece com a personagem principal, Jacinto. Depois de mais de trinta anos de vivências citadinas, é no espaço natural de origem dos seus antepassados que se regenera e ultrapassa o abatimento físico e psicológico e o profundo pessimismo em que se vivia. A seguir serão apresentados alguns excertos do romance A Cidade e as Serras onde se comprova a presença desta mesma dicotomia.
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras (cont.) Cidade:
“Pobre Príncipe da Grã-Ventura, tombado para o sofá de inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio caíra, depois de renovar tão bravamente todo o recheio mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a Força e a Matéria! – e esse fastio não o escondeu mais do seu velho Zé Fernandes, quando recomeçou entre nós a comunhão de vida e de alma a que eu tão torpemente me arrancara, uma tarde, diante da Estação dos ônibus, no charco da Madalena! Não eram certamente confissões enunciadas. O elegante e reservado Jacinto não torcia os braços, gemendo – “Ó vida maldita!” eram apenas expressões saciadas; um gesto de repelir com rancor a importunidade das coisas; pôr vezes uma imobilidade determinada, de protesto, no fundo dum divã, de onde se não desenterrava, como para um repouso que desejasse eterno; depois os bocejos, os ocos bocejos com que sublinhava cada passo, continuado pôr fraqueza ou pôr dever iniludível; e sobretudo aquele murmurar que se tornara perene e natural – “Para que?” – “Não vale a pena!” – “Que maçada!...” Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo: – Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo? O venerando preto declarou com uma certeza imensa: – S. Exª. sofre de fartura. Era fartura!” Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (Cap.V)
Campo: “E agora, entre roseiras que rebentam, e vinhas que se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e a Serra. O meu Príncipe já não é o último Jacinto, Jacinto ponto final – porque naquele solar que decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho, senhor muito da minha amizade. (…) Quando ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, percorria comigo a Quinta, em sólidas palestras agrícolas, prudentes e sem quimeras – eu quase lamentava esse outro Jacinto que colhia uma teoria em cada ramo de árvore, e riscando o ar com a bengala, planejava queijeiras de cristal e porcelana, para fabricar queijinhos que custariam duzentos mil-réis cada um! Também a paternidade lhe despertara a responsabilidade. Jacinto possuía agora um caderno de contas, ainda pequeno, rabiscando a lápis, com falhas, e papeluchos soltos entremeados, mas onde as suas despesas, as suas rendas se alinhavam, como duas hostes disciplinadas. Visitara já as suas propriedades de Montemor, da Beira; e consertava, mobiliava as velhas casas dessas propriedades para que os seus filhos, mais tarde, crescidos, encontrassem “ninhos feitos”. Mas onde eu reconheci que definitivamente um perfeito e ditoso equilíbrio se estabelecera na alma do meu Príncipe, foi quando ele, já saído daquele primeiro e ardente fanatismo da Simplicidade – entreabriu a porta de Tormes à Civilização. Dois meses antes de nascer a Teresinha, uma tarde, entrou pela avenida de plátanos uma chiante e longa fila de carros, requisitados pôr toda a freguesia, e acuculados de caixotes. Eram os famosos caixotes, pôr tanto tempo encalhados em Alba de Tormes, e que chegavam, para despejar a Cidade sobre a Serra. Eu pensei: - Mau! o meu pobre Jacinto teve uma recaída! Mas os confortos mais complicados, que continham aquela caixotaria temerosa, foram, com surpresa minha, desviada para os sótãos imensos, para o pó da inutilidade; e o velho solar apenas se regalou com alguns tapetes sobre os seus soalhos, cortinas pelas janelas desabrigadas, e fundas poltronas, fundos sofás, para que os repousos, pôr que ele suspirara, fossem mais lentos e suaves. Atribuí esta moderação a minha prima Joaninha, que amava Tormes na sua nudez rude. Ela jurou que assim o ordenara o seu Jacinto. Mas, decorridas semanas, tremi. Aparecera, vindo de Lisboa, um contramestre, com operários, e mais caixotes, para instalar um telefone!” Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (Cap.XV)
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – atividade realizada pelos alunos (cont.) Semelhanças entre «Civilização» e A Cidade e as Serras
Turma 10ºA
Está presente em ambas a dicotomia campo/cidade; O Jacinto do conto Civilização assemelha-se ao Jacinto de A Cidade e as Serras, já que ambos são totalmente deslumbrados com a tecnologia, o luxo e a racionalidade que as cidades modernas proporcionam; Esta personagem partilha, nas duas obras referenciadas anteriormente, o mesmo pessimismo pela vida; Em ambas as obras, Jacinto encontra a felicidade no campo, desfrutando e maravilhando o que na cidade não encontrava; Zé Fernandes é narrador de ambas as obras e é adverso ao cenário moderno em que vive e às filosofias de seu melhor amigo Jacinto; Encontra-se presente uma visão irónica da modernidade e do progresso; É notória a consciência dos conflitos que a vida moderna traz aos indivíduos que vivem nas grandes cidades; É focada ao longo das duas obras a mudança progressiva quanto ao modo de valorizar junto à natureza e os benefícios dela decorrente. Civilização A Cidade e as Serras “Torges”
“Tormes”
“Goães”
“Guiães”
“Jacinto”
“Jacinto”
“Estação de Gondim”
“Estação de Aregos”
“XVII”
“XVII”
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – atividade realizada pelos alunos (cont.)
Turma 10ÂşB
http://issuu.com/hmarques/docs/10__bciviliza____o_curiosidades-int
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – atividade realizada pelos alunos (cont.)
Turma 10Âş D
http://issuu.com/hmarques/docs/intertextualidade_com_conto
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – colaboração Paula Mota A Cidade e as Serras em Banda Desenhada “No âmbito desta formação acompanhei os alunos da turma D, do 10º ano à biblioteca da nossa escola. Lá foi possível aprender, juntamente com os alunos a realizar banda desenhada on line (ToonDoo). Foi uma atividade que os alunos consideraram muito importante, pois assim conseguiriam aliar o gosto que possuem pelas novas tecnologias com as aprendizagens que estavam a realizar, nomeadamente na disciplina de Português. Estava a ser lecionado o conto “Civilização” e resolvemos aplicar alguns destes conhecimentos à nova ferramenta. Pensou-se, então, criar algumas BD. Uma retrataria a biografia do autor do conto trabalhado, Eça de Queiroz; outro trabalharia o percurso de Jacinto; outro, o tédio que Jacinto sentia, apesar de viver na grande civilização, a vivência de jacinto no campo e ainda se pensou em caricaturar a personagem Jacinto. Todas estas tarefas eram realizadas aplicando os conhecimentos de língua inglesa. “ (professora Paula Mota)
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – colaboração Paula Mota A Cidade e as Serras em Banda Desenhada
http://www.toondoo.com//ViewBook.toon?bookid=576451
Turma 10ºD 65
6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – colaboração Paula Mota A Cidade e as Serras em Banda Desenhada
Turma 10ºD
http://www.toondoo.com/ViewBook.toon?bookid=576606
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6. Curiosidades/ Intertextualidade A Cidade e as Serras – colaboração Paula Mota A Cidade e as Serras em Banda Desenhada
http://www.toondoo.com/ViewBook.toon?bookid=576605
Turma 10ºD 67
7. Bibliografia COELHO, Jacinto do Prado, Dicionário de Literatura Portuguesa. Porto: Figueirinhas AA.VV. Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa. Lisboa: Verbo COSTA, Luísa, BORGES, Maria João, e CORREIA, Rosa, 2000. Glossário de Termos Literários. Lisboa: Ministério da Educação – Departamento do Ensino Secundário (adaptado e com supressões) REIS, Carlos, «Abecedário: Ironia», Eça de Queirós, Lisboa, Edições 70, 2009 Queirós, Eça, A cidade e as serras, Edição «Livros do Brasil» Lisboa. http://www.cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-cultura -portuguesa.html http://www.infopedia.pt http://www.infoescola.pt
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Turmas e professores participantes Turma 10ยบD
Turma 10ยบB
Turma 10ยบC Turma 11ยบG
Turma 10ยบA
Obrigada! 69