HISTÓRIAS DAS MINHAS RAIZES

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Recolhia a procissão e principiava o arraial, com música de filarmónica, enquanto se procedia às arrematações das ofertas. Os mais afoitos lá iam picando e cobrindo o último lanço. Era uma forma de ajudar a receita da igreja e sempre se levava qualquer coisa para casa. Afinal, eram dias de festa. Alguns aproveitavam também a oportunidade para exibir as suas posses. Na semana seguinte, era o Fim do Ano. Ano Novo e novamente os seus “ranchinhos”, agora com novos versos desejando um FELIZ ANO NOVO. Contavam-se os dias com esperança e alegria. Normalmente, para as coisas da igreja, não faltava tempo. Minha mãe tinha sempre tudo controlado, para que, ninguém lá de casa faltasse a novenas ou qualquer devoção que houvesse na igreja de São Caetano. Havia uma época do ano que me impunha muito respeito. Era o mês de Novembro, o chamado mês das almas. No altar esquerdo da igreja de São Caetano eram colocados quadros do purgatório e do inferno, com figuras tão feias que não lembrava ao diabo. Era o Diabo com cornos enormes, dentes a condizer, garras de leão, todas num ar de grande sofrimento, para lembrar o Inferno. Para o Purgatório, eram as alminhas também em sofrimento e em lume, espiando as suas penas. Hoje, não sei que voltas lhe deram que não ouço falar nessas cenas. Havia missa pelas alminhas do purgatório às sete horas da manhã, noite escura e, novamente, devoção às sete da noite. Os sinos dobravam como se estivessem anunciando a morte de alguém na freguesia ou por altura dos funerais. 159


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