Carlos Castaneda - A erva do diabo

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focalizasse minha atenção em certos elementos constituintes do estado de realidade comum anterior. Os itens que ele focalizava aparentemente eram escolhidos ao acaso, pois o importante era o ato de aperfeiçoar a forma adotada. O aspecto final da supervisão era devolver-me à realidade comum. Era implícito que essa operação também exigia um máximo de supervisão da parte de Dom Juan, embora não me lembre do processo exato. A supervisão necessária para os estados provocados pela Lophophora williamsii era um misto das duas outras. Dom Juan permanecia a meu lado pelo tempo que podia, e no entanto não tentava de modo algum dirigir-me para dentro ou para fora da realidade não comum. O segundo nível de ordem diferenciativa na realidade não comum eram os padrões aparentemente internos ou a organização aparentemente interna de seus elementos constituintes. Denominei isso de “nível intrínseco”, e supus aqui que os elementos componentes eram sujeitos a três processos gerais, que pareciam ser o produto da orientação de Dom Juan: (1) um progresso para o específico; (2) um progresso para um âmbito mais extenso de apreciação; e (3) um progresso para uma utilização mais pragmática da realidade não comum. O progresso para o específico era o avanço aparente dos elementos constituintes de cada estado sucessivo de realidade não comum no sentido de tornar-se mais preciso, mais específico. Acarretava dois aspectos distintos: (1) um progresso para formas individuais específicas; e (2) um progresso para resultados totais específicos. O progresso para formas individuais específicas implicava que os elementos constituintes eram amorfamente conhecidos nos primeiros estados de realidade não comum e se tornavam específicos e desconhecidos nos últimos estados. O progresso parecia abranger dois níveis de modificação nos elementos constituintes da realidade não comum: (1) uma complexidade progressiva de detalhes percebidos; e (2) um progresso das formas conhecidas para as desconhecidas. Uma crescente complexidade de detalhes significava que em cada estado sucessivo de realidade não comum, os mínimos detalhes que eu percebia como integrando os elementos constituintes tornavam-se mais complexos. Eu avaliava a complexidade em termos de estar ciente de que a estrutura dos elementos constituintes tornava-se mais complicada, e no entanto os detalhes não se tornavam excessivamente ou desconcertantemente emaranhados. A maior complexidade referia-se antes ao aumento harmonioso


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