Jornal Ponto Final

PONTO FINAL. •

Universidade Feevale • Novo Hamburgo • 2018/01 • Edição 1 •

ARTE NA

TERCEIRA IDADE Artista de origem alemã, humilde e modesto. No seu ateliê, em Morro Reuter, expressa memórias e ideias em telas e inscrições nas paredes. Em uma delas está emoldurada uma carta um tanto curiosa, recebida de forma inusitada, um mês antes de seu aniversário de 65 anos.

MORGANA SCHNECK

Cultura • 10 e 11

Entrevista com Patrício, ex-lateral do Grêmio Esporte • 9

V I DA CADERNO

As vovós do Lar Santa Ana

Onde viver depois de se aposentar Geral • 5

PÁGINA 2 • PONTO FINAL • 2018/01

EDITORIAL

PONTO FINAL.

por HENRIQUE TERNUS

É isso e Ponto Final

U

m jornal para abordar a aposentadoria em todos os seus aspectos: como se aposentar, quais os benefícios e quem os aproveita, como é aqui no Brasil e no resto do mundo.

Relatos de quem já se retirou do trabalho mas continua em atividade. De quem ajuda os aposentados. De quem convive com eles. Sonhos de infância que se rea­lizam após uma vida que seguiu por rumos completamente diferentes. Como é a aposentadoria de quem fisicamente não pode continuar exercendo sua pai­xão? E o que faz quem leva para o túmulo o maior amor de suas vidas, a arte?

Estes são alguns exemplos dos conteúdos que serão abordados nesta pu­blicação, desenvolvida especialmente para a disciplina de Projeto III – Jorna­ lismo Gráfico, como parte do curso de Jornalismo da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo (RS). O desafio, proposto pelos professores Marcos Santuario e Álisson Coelho, é construir um jornal do zero com o tema aposentadoria, abordando os estilos e gêneros de um jornal como qualquer outro.

O desafio, aceito pe­

los acadêmicos que realizam este projeto (Arthur Fortes, Bruno Wingert, Henrique Ternus, Jonathan Selistre e Morgana Schneck), será cumprido entregando ao leitor uma publicação repleta de histó­ rias e informações importantes sobre o assunto proposto, com um visual limpo e direto, que possa atrair a atenção do público mais jovem para um tema que é tão relevante e tão pouco abordado.

Agora, a nossa proposta é fazer com que o público compreenda o conteúdo de forma clara, precisa e que possam finalizar a leitura com mais interesse sobre a aposentadoria. É curioso observar, especialmente através daquilo que os aposentados nos contam, a falta de preocupação com este período mais avançado das nossas vidas, em que diversas pessoas largam tudo para correr atrás de vontades e realizações que sonharam em obter durante anos, enquanto poderiam(os) ser mais preparados para atingir a terceira idade com a tranquilidade de quem alcançou aquilo que sempre quis durante uma vida bem vivida. É isso.

Ponto Final.

Produzido para o Projeto III - Jornalismo Gráfico, do curso de Jornalismo da Universidade Feevale SEMESTRALIDADE: 2018/01 • PROFESSORES: Álisson Coelho e Marcos Santuário EDIÇÃO GERAL E DIAGRAMAÇÃO: Henrique Ternus Lamb PRODUÇÃO TEXTUAL: Arthur Fortes Pereira, Bruno Weber Wingert, Henrique Ternus Lamb, Jonathan Selistre Machado e Morgana Sofia Baum Schneck

Opinião dos leitores

O que você pretende fazer após a aposentadoria?

“

Sou graduanda em jornalismo e, após a formatura, gostaria de investir dinheiro em uma poupança para quando me aposentar, pois não há uma precisão sobre valores que irei receber, além disso possuo pouco tempo de contribuição. Acredito que seja uma forma de pensar no futuro.

E como terei mais tempo para viajar e descansar, quero poder usufruir desse investimento.

Andressa Thais Lima dos Santos, 25 anos

“

”

Não possuo dinheiro guardado para a aposentadoria, mas estou me organizando para começar neste ano. Meu sonho, desde pequeno, foi o de ter uma fazenda. Quero conquistar isso quando me aposentar, poder cuidar dos animais e ter dinheiro para investir nisso.

Geison Rodrigo Franken, 23 anos

“

”

Tenho como meta ir acumulando dinheiro de maneira que quando minha aposentadoria chegar eu não precise mais me preocupar com a aposentadoria. Quando chegar esse período, quero poder viajar e aproveitar essa economia.

Matheus Henrique Schmokel, 18 anos

”

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RURAL

MUDANÇA DE VIDA

Do campo para a cidade

Unindo o útil ao

agradável

MORGANA SCHNECK

A

costumados com a vida no meio rural, o casal de aposentados, Márcia Maria Franken e Carlos Benno Franken, continua com a rotina de acordar cedo.

- A gente acordava bem cedo, bem antes do sol nascer. Tinha que sair pra tirar leite, depois levava o leite pra cozinha. Soltava as vaca, colocava o pasto no potreiro e trabalhava na roça até o meio dia (sic). - relata a mulher.

Nos dias de hoje, ambos continuam trabalhando, mesmo com a aposentaO jornal e o chimarrão são parte fundamental no dia-a-dia dos dois aposentados doria garantida.

- A gente não ia poder comprar o que a gente compra hoje, ter Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010. A pesquisa, um sofá bom, uma TV, fazer churrasco pra segundo os responsáveis, procura mostrar que, muitas vezes, as pofamília, se não continuasse empregado. - líticas públicas desenvolvidas para quem vive em cidades não são explica Benno. adequadas para quem vive no campo. Para eles, o estilo de vida desMárcia nasceu em São Lourenço do sas pessoas é mais ligado à natureza, e as suas relações sociais são Oeste, em Santa Catarina, no ano de 1960. diferentes.

Ela conta que se mudou para o interior de Santa Catarina, na cidade de Cunhataí, quando era criança, mesma cidade em que seu marido tinha nascido dois antes dela.

Em 1979 eles se casaram e permaneceram trabalhando no campo. Porém, após dez anos, decidiram buscar uma qualidade de vida melhor, que encontraram em uma cidade, também pequena, no Rio Grande do Sul. - Nos mudamos para Ivoti. Eu trabalhei Requisitos, possibilidades e impedimentos em fábrica de calçados e ele com laticínios.

O regime geral da Previdência Social oferece um tratamento di- conta Márcia. ferenciado aos trabalhadores que exercem atividade rural, em regime Carlos relata que, na fábrica onde traba- de economia familiar e sem empregados permanentes. Todo trabalhava, ficou sabendo que poderia se aposen- lhador que comprove o exercício da atividade rural ou de pescador, tar com o tempo em que trabalhou na roça. de forma individual ou com auxílio da família, por 15 anos, além da Prontamente, ele e sua esposa buscaram idade mínima (55 anos para mulher e 60 para homem), tem direito ajuda legal para iniciar o processo de apo- de solicitar o benefício, que é de um salário mínimo. sentadoria. O casal precisou comprovar o trabalho no meio rural desde seus 12 anos, Trabalho infantil o que, segundo eles, foi fácil.

Apesar de a maioria dos trabalhadores rurais começar a trabalhar - Nós precisava trabaiá desde pequeno ainda na infância, não é todo o período que pode ser usado para o e nós sempre tava junto na roça (sic). - cálculo dos 15 anos exigidos. De acordo com a jurisprudência do conta a aposentada.

STJ, “comprovada a atividade rural do trabalhador menor de 14 anos, Quando questionados sobre a mudança em regime de economia familiar, esse tempo deve ser computado de vida, afirmam ter sido positiva. para fins previdenciários. ” - A gente não sente falta do trabalho na roça. Já fizemos a nossa parte e agora viveAposentadoria híbrida mos na cidade. - finaliza Carlos.

A aposentadoria rural híbrida é o benefício que considera tanto o Uma pesquisa de 2015, apoiada pelo tempo de trabalho urbano quanto o tempo rural. No Brasil, são inúMinistério do Desenvolvimento Agrário meros os casos de segurados da Previdência Social que trabalharam calcula que 36% da população brasileira no meio rural por longo tempo e, posteriormente, buscam melhores é rural, diferentemente dos cerca de 16% condições de vida na área urbana. apontados pelo último censo do Instituto

Aposentadoria do trabalhador rural

por ARTHUR FORTES Para complementar a renda, muitos aposentados continuam no mercado de trabalho depois de conseguirem o benefício. É o caso do seu Nelson Lambrecht, 54 anos, morador de Dois Irmãos. Natural da cidade catarinense de Tunápolis, ele veio para o Rio Grande do Sul muito jovem, onde começou a trabalhar como caminhoneiro, profissão que manteve por quase trinta anos.

Vivendo a rotina cansativa e agitada da profissão, ele sempre teve o sonho de viver na tranquilidade do campo.

Depois de se aposentar, há quatros, Lambrecht percebeu a necessidade de continuar trabalhando, mas sem estar subordinado a alguém, queria ele mesmo ser seu próprio patrão. Percebeu, então, a possibilidade de juntar seu antigo sonho com a sua necessidade de continuar em atividade, e assim comprou uma chácara em Dois Irmãos, onde trabalho é o que não falta.

- Eu planto alface, tomate, cenoura, de tudo um pouco.

Tenho os porcos e as galinhas também - diz. É com a venda dos legumes, das galinhas e, principalmente, dos ovos, que ele tira boa parte do seu sustento.

Morando na chácara, Lambrecht se afastou um pouco da esposa, a Dona Lucinda, e dos filhos, Cissa e Douglas, mas nada que tire a alegria que o antigo caminhoneiro conseguiu tendo esse novo estilo de vida.

- O pessoal vem aqui quase todo final de semana, e eu também estou sempre indo lá quando posso. A relação não prejudicou em nada. Quando eles vêm aqui todo mundo ajuda. O Douglas gosta bastante de tratar os bichos. Eu fico feliz com isso que está acontecendo agora, porque pra mim não tem nada melhor do que viver das coisas que eu mesmo planto e crio e saber que meu sustento vem do meu próprio esforço - destaca.

ARTHUR FORTES

Mesmo vivendo no meio urbano, o casal acorda às 5 horas da manhã para começar sua rotina

Nelson agora vive diariamente no seu sítio em Dois Irmãos

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GERAL

APOSENTADORIA

A vida de um coronel aposentado YASMIM SEADI/ACERVO PESSOAL

O tenente-coronel Seadi, da reserva da Brigada Militar, se aposentou há 12 anos para viver na tranquilidade

O tenente-coronel Seadi no pátio de sua casa, onde mora com a esposa e a filha

por HENRIQUE TERNUS

L

uiz Felipe passou 30 anos na Brigada Militar antes de se aposentar. Atingiu todos os postos possíveis até encerrar sua carreira como tenente-coronel. A maior parte do seu período na ativa foi trabalhando em Porto Alegre, mas passou também

por Viamão e Novo Hamburgo, onde deu o fim à sua carreira de policial. Hoje na reserva da Brigada, fora da vida de trabalho há 12 anos, o coronel Seadi vive em Novo Hamburgo desde então, no bairro Alpes do Vale, mais reservado da área urbana da cidade.

Luiz conta que não encontrou uma burocracia tão grande na época em que ini-

ciou seu processo de aposentadoria. Ele justifica explicando que a Brigada Militar possui uma organização melhor do que as demais entidades públicas, e por isso o processo para aposentadoria não é tão complicado quanto o que é feito no serviço público em geral.

- Na Brigada, o banco de dados possui todas as informações completas de cada um dos profissionais, como o histórico médico, de férias, quais os direitos que o militar estadual possui, e demais informações, todas estão documentadas. No meu caso, o processo inteiro de aposentadoria levou oito dias, do dia que entrei com o requerimento até a publicação no Diário Oficial do Estado - conta Seadi.

Saindo da Brigada, Luiz Felipe passou por um momento de grande alívio na sua vida. Ele conta que o oficial passa por toda a sua carreira na polícia enfrentando e resolvendo problemas, e, quando para, consegue dormir mais tranquilo e até mesmo aproveitar momentos mais simples, como beber cerveja, uma das atuais atividades favoritas do coronel.

- Quando eu parei, logo iniciei a obra da nossa casa nova, então passava o dia em volta disso: arranjar material, acompanhar os serviços, por aí vai. O problema é quando a pessoa para e não exerce nenhuma atividade - explicou Seadi.

Além disso, ele duvida que haveriam

tantos interessados na carreira de oficial da Brigada Militar, se fosse explicado para cada um dos que entram o que irão enfrentar durante a carreira.

- Nem todo mundo que entra se forma, pois tem gente que não aguenta a pressão.

Na academia nós somos preparados para lidar com isso durante a carreira. Não tem como chegar em uma ocorrência e brigar com as pessoas que podem te hostilizar.

Além disso, não tem como não enfrentar ocasionalmente pessoas mortas, sangue e coisas desse tipo.

No bairro onde mora atualmente, Luiz encontrou uma ocupação que pudesse servir à comunidade após a aposentadoria: foi presidente da Associação de Moradores do Alpes do Vale (ACORVALE) durante cinco anos, na qual participava de audiências na Prefeitura e Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, sempre em busca de melhorias para o lugar em que reside.

Atualmente, Seadi passa a maior parte dos seus dias em casa, onde pode cuidar dos seus oito cachorros, fazer os reparos necessários na casa e no pátio, e rachar lenha para seus churrascos e para a lareira. E foi pensando em seus dois netos que Luiz construiu até uma casa na árvore, com a ajuda de seu vizinho, para que as crianças possam brincar quando vêm visitar. Dessa forma, ele pode viver sua vida tranquilamente, sem mais problemas.

"Não podia ficar com as histórias guardadas" O aposentado Jorge Hansen conta como escreveu um livro sobre suas viagens e histórias Existe um ditado que diz: todo homem deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro antes de morrer. Em 2009, o empresário e corretor de imóveis aposentado, Jorge Hansen, completou esse ditado.

Após uma viagem que realizou à Itália, Vaticano, Terra Santa e Palestina, ele percebeu estar cheio de ideias e com o desejo de transmitir suas pequenas aventuras a quem quisesse ler. O resultado disso foi “Uma viagem Inesquecível”, livro publicado em 2009, que, de acordo com ele mesmo, foi “maravilhosamente recebido”.

- Eu tinha o depoimento de muitos peregrinos que visitaram aqueles locais e também consegui muitas fotos, não podia ficar com essas histórias guardadas em uma gaveta - diz.

O lançamento desse livro lhe rendeu um convite para ingressar na Associação Literária do Vale dos Sinos, a ALVALES, que integra desde 2011. Administrador formado na

ACERVO PESSOAL

por ARTHUR FORTES

Aspeur-Feevale em 1974, Hansen sempre foi muito dedicado aos estudos e começou a trabalhar muito jovem, atuando em diversas frentes durante sua vida, inclusive sendo taxado como presidiário devido à localização de um dos seus trabalhos.

- Meu primeiro emprego foi na Fundação São Dimas, uma fábrica de calçados que funcionava dentro do presídio de Novo Hamburgo. Nos primeiros dois anos eu era aprendiz e não tinha carteira assinada, entrava até na contagem dos detentos. Fiquei

lá por 11 anos, até que consegui fundar minha própria fábrica de sapatos. Logo depois ingressei no ramo dos imóveis e fundei minha imobiliária - relata.

Trabalhando nessas áreas até hoje, Hansen não se considera um escritor, mas conta que sempre teve uma grande atração por leitura e escrita.

- Sem dúvida foram coisas que me acompanharam durante a vida toda, sempre que eu podia estava lendo.

Acostumado à vida profissional desde jovem, Hansen não parou, mesmo depois de se aposentar. Por isso avalia que sua vida não sofreu tantas mudanças depois desse processo. O ritmo de trabalho diminuiu naturalmente, mas ele continua.

- Continuei administrando as lojas e a fábrica de calçados. Claro que ficou mais light, mas para quem na tenra idade já trabalhava assim como toda vida, não tem como parar. - avalia.

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GERAL

PLANEJAMENTO

Onde viver depois da aposentadoria “O que vou fazer quando me aposentar? Onde vou viver?” Essas são perguntas comuns para quem sonha em ter uma vida diferente após a aguardada aposentadoria.

Todos os anos, a revista norte-americana International Living, especializada em investimentos imobiliários ao redor do mundo, publica o Annual Global Retirement Index, uma ranking que reúne os melhores destinos no mundo para viver aposentado. Para escolher os vencedores, a revista reuniu dados de 24 países, atribuindo a eles notas de zero a cem por categoria. A média obtida no final determina a posição de cada um dos destinos no ranking. No ano de 2018, a International Living avaliou os destinos em doze categorias, entre elas: saúde, clima, entretenimento, custo de vida, aluguel, desenvolvimento econômico, entre outras. Em quarto lugar no ano anterior, a Costa Rica, recebeu o título de melhor destino para viver a aposentadoria. Confira a lista dos 10 primeiros e escolha o seu destino:

8° lugar: NICARÁGUA

Está entre os destinos mais acessíveis do ranking e é uma ótima opção para quem busca um estilo de vida mais saudável. A região, além de oportunizar atividades ao ar livre, como o surf, possui uma culinária baseada em alimentos frescos. Um casal que decide alugar uma casa em Nicarágua gasta em média US$1,500 por mês.

6° lugar: COLÔMBIA A Colômbia é o segundo país mais rico em questão de biodiversidade, portanto não é difícil encontrar um clima e ambiente que satisfaça os seus objetivos. De acordo com a revista, os colombianos são anfitriões natos e muito acolhedores. O custo de vida para um casal aposentado viver no país é de aproximadamente US$ 2,000 por mês, em média.

7° lugar: PORTUGAL

Eleito o terceiro país mais seguro do mundo no Índice Global da Paz em 2017, é reconhecido pelo seu estilo de vida acessível. É um destino especial, principalmente para brasileiros, pois o idioma é muito parecido. O país é rico em cultura e portugueses receptivos.

4° lugar: EQUADOR

É o destino preferido de aposentados norte-americanos, por conta de seu custo de vida. Uma família de quatro pessoas consegue viver no país com aproximadamente US$1,200 por mês, sem aluguel, de acordo com a pesquisa. E sem a necessidade de possuir veículo próprio, pois o transporte público é eficiente e barato.

2° lugar: MÉXICO

Com apenas 1 ponto de diferença do primeiro colocado, (que teve uma pontuação final de 91,3), o México é lembrado pela sua cultura exótica. A assistência médica é de boa qualidade e quem opta pela rede privada costuma pagar bem menos do que nos Estados Unidos, por exemplo. É possível viver com conforto na região com uma quantia de U$1,500 a US$3,000, dependendo da cidade, incluindo aluguel e assistência médica.

Texto: Morgana Schneck Arte: Henrique Ternus

5° lugar: MALÁSIA Para quem sempre sonha em viver na praia, este é o destino ideal. O país do sudeste asiático possui mais de 878 ilhas paradisíacas, além de ser um país de primeiro mundo.

De acordo com o International Living, a comida de rua da região é considerada “a melhor da Ásia”. Na cidade de Kuala Lumpur, dá para viver confortavelmente com US$1,500 por mês, incluindo aluguel.

3° lugar: PANAMÁ

Apesar de ter caído de posição em relação ao ano passado, quando figurou em segundo lugar no ranking, Panamá continua sendo um dos melhores destinos para viver aposentado. O país conta com muitos serviços de descontos para idosos. Morando na Cidade do Panamá, principal centro econômico do país, gasta-se aproximadamente US$2,500 por mês. Saindo da cidade, o gasto é ainda menor, cerca de US$1,500 ou menos por mês.

1° lugar: COSTA RICA

O clima tropical, o custo de vida baixo, o atendimento médico acessível e de alta qualidade e as belezas naturais locais foram as principais razões que colocaram o destino no topo do ranking. Além disso, o país possui uma taxa de criminalidade muito baixa, o que, de acordo com a International Living, garante a segurança do indivíduo em todos os lugares. Um casal aposentado consegue viver confortavelmente na região com aproximadamente US$2,500 por mês.

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ECONOMIA

POUPANÇA

Jovem x Dinheiro por MORGANA SCHNECK

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ECONOMIA

INFOGRÁFICO

por DENISE KERN*

De acordo com dados do Banco Mundial (Bird), o Brasil é o único país que possui uma população considerada jovem, e mesmo assim o gasto com aposentadoria pública é elevado. Além disso, a previdência brasileira é considerada insustentável por parte da população e alguns especialistas. Por isso, os brasileiros discutem um novo modelo para o sistema, alterando as regras de contribuição e prazos para se aposentarem. No mundo inteiro, os sistemas de previdência tradicionais passaram a ser reformados a partir dos anos 1980, para que pudessem se manter sustentáveis ou para corrigir problemas econômicos. Abaixo, você confere um comparativo de dados e atuais regras dos sistemas previdenciários de diferentes países:

Orçamento familiar

N

o final dos anos 1990 começa uma forte preocupação por parte de consultores financeiros em ajudar as pessoas a se organizarem financeiramente.

Desde 2002, incluo o tema planejamento orçamentário no currículo escolar, trabalhando não somente as questões orçamentárias, mas também, aquelas que envolvem o mundo financeiro.

Fazer um planejamento doméstico é apenas uma questão de hábito, que ajudará a conhecer sua vida financeira, possibilitando visualizar e gerenciar excessos a fim de cortá-los, para que depois passe a economizar a quantia que deixou de gastar. Hábitos e atitudes começam a ser aprendidos já na primeira infância, por isso é tão importante o reforço pelos pais na educação de seus filhos. Muitas vezes, aprendemos a lidar com essas questões da pior forma, quando enfrentamos um problema financeiro. Um planejamento duradouro e com bons resultados deve ser uma tarefa feita em conjunto no grupo familiar.

Destaco alguns aspectos necessários para organizar e

realizar esse planejamento, contando com o apoio de todo o seu grupo familiar.

• Gastar apenas o que ganha e conhecer quanto ganha.

• Relacionar todas as despesas da família, indicando as fixas do mês e as eventuais. Deve existir um controle.

• Filhos menores devem participar do planejamento.

Assuntos como gastos com luz, água, telefone, alimentação e internet devem ser compartilhados para que a criança aprenda a utilizar de forma responsável.

• Elencar as despesas que poder ser cortadas ou reduzidas (pacto familiar).

• Discutir o destino dos valores economizados com o corte de excessos e desperdícios, priorizando guardar para investir em poupança para que sejam revertidos em qualidade de vida.

• Conter impulsos, não oferecendo aos filhos coisas das quais eles ainda não necessitam.

• Evitar gastos desnecessários.

*Professora, autora dos livros “Uma turma diferente - aprendendo a poupar” e “Quanto pago de impostos?”, integrante da banca avaliadora do Curso de Matemática da FACCAT e vice-diretora da EEEB Professor Mathias Schütz, de Ivoti.

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ESPORTE

SAÚDE

Os velhinhos também praticam Para se manter saudáveis, muitos idosos praticam exercícios físicos e são exemplos de superação

MORGANA SCHNECK

Nelsa: sou mulher e sou forte BRUNO WINGERT

João: um estilo de vida saudável

João exibe com orgulho a camiseta de uma de suas caminhadas pela Serra Gaúcha

por BRUNO WINGERT

M

anter um estilo de vida saudável é sempre importante, e na terceira idade isso não é diferente. Existem várias coisas que o ser humano pode fazer para melhorar a qualidade de vida, uma delas é a prática de atividade física. A atividade é fundamental para um estado de vida mais saudável.

Ao envelhecer, o corpo exige mais esforço para realizar atividades diariamente, os músculos enfraquecem, aumentam as dores e as pessoas tornam-se vulneráveis a sofrerem lesões e quedas, por isso muitas pessoas não fazem exercício.

No caso do aposentado João Grawer, de 74 anos, a atividade física segue sendo uma das coisas mais importantes em sua vida. Ex-membro do corpo de bombeiros de Dois Irmãos, João sempre conseguiu levar o espírito esportivo junto de si.

João tem uma história curiosa: antes de sua filha Juliana nascer, ele pesava 130kg, sofria com pressão alta e problemas na coluna. Com o nascimento da menina, ele percebeu que não poderia acompanhar a filha nas brincadeiras do dia-a-dia por causa de seu peso, então resolveu que, a partir daquele momento, teria uma forma de vida mais saudável.

Nelsa (esq.) e seu filho, Geovane, na Geo Gym, espaço onde praticam CrossFit

por MORGANA SCHNECK Para ter uma vida mais saudável, João começou a andar de bicicleta. No começo, o aposentado encontrou algumas dificuldade, aumentando o percurso pouco a pouco e então acostumando seu corpo às pedaladas. Logo em seguida, ele partiu para as caminhadas.

Atualmente, João participa todo ano do evento “Desdobrando Nova Petrópolis”, tradicional caminhada pelo interior do município na qual os participantes percorrem mais de 50km de subida ao longo do trajeto.

- Não ligo se o percurso seja longo, o importante é se divertir e caminhar. - comenta.

João conta que faz diariamente caminhadas de duas horas para exercitar seu corpo e não ficar parado. De acordo com ele, desde que começou a prática de exercícios, sua saúde melhorou bastante, e fala ainda que, mesmo com a idade avançada, não precisa de nenhuma medicação.

- Outro ponto importante é ter uma alimentação saudável. - destaca.

João é um exemplo que atividade física é fundamental na terceira idade. Mas, antes de iniciar qualquer exercício, a pessoa idosa necessita passar por uma avaliação clínica, de forma que o médico possa orientar na escolha e acompanhar o programa de exercício a ser seguido.

U

ma pesquisa divulgada em 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que 60% dos brasileiros com mais de 15 anos não praticam nenhum tipo de atividade física. A porcentagem equivale a mais de 100 milhões de pessoas sedentárias. A faixa etária mais ativa é a de adolescentes (entre 15 e 17 anos), com quase metade (44%) realizando algum tipo de exercício. Por outro lado, as que menos se exercitam são pessoas com mais de 60 anos. Apenas 13,4% praticam alguma atividade física.

Para Nelsa Gomes, a realidade é diferente: praticar exercícios faz parte de sua rotina semanal. A atividade física funciona como uma ferramenta para mantê-la disposta todos os dias.

A maioria da população opta por começar com algo mais leve, como a yoga ou o pilates.

Foi onde a aposentada começou.

- Comecei com o pilates em 2011, pois meu filho era professor da modalidade. Hoje, ele possui um espaço de condicionamento físico, onde praticamos a modalidade de crossfit - conta.

No auge de seus 60 anos, Nelsa surpreende quem a vê treinando na academia.

- Eu adoro fazer exercício, e me canso bem menos do que fazendo faxina na casa. Eu não quero mais parar de fazer academia, porque gosto muito e me sinto bem. Se fico sem me exercitar, eu me sinto estranha - conta, em meio a risadas.

O CrossFit é uma modalidade de atividades físicas que tem aparecido com muita intensidade nas mídias e nas grandes academias. Com a promessa de trazer de forma rápida e eficaz o emagrecimento e um corpo definido, ele tem ganhado cada vez mais adeptos. Geovane Gomes, filho de Nelsa, é professor na área de educação física há 15 anos. Para ele, a prática de exercícios é muito importante em qualquer idade.

- O propósito da academia é possibilitar aos alunos o acesso a uma vida mais saudável em todos os aspectos, pois o CrossFit desenvolve flexibilidade, resistência, força, equilíbrio, coordenação motora, entre outras capacidades físicas.

Para o professor, as habilidades possibilitam que sua mãe tenha a disposição e força necessárias para brincar e cuidar de seu neto, ir ao supermercado caminhando e cuidar da casa sozinha.

- Ela treina pelo menos três vezes por semana e vai até a academia caminhando. Existem jovens que não fazem tudo o que ela faz - finaliza.

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ESPORTE

ENTREVISTA

"Não me preparei para a aposentadoria" Hoje professor de escolinha de futebol, o ex-jogador Patrício Boques falou sobre sua aposentadoria

"

Sinto falta da adrenalina.

PF - Como foi a ideia de se aposentar?

PB - Nunca me preparei para a aposentadoria, cheguei aos 36 anos e pensei que iria parar de jogar. Mas foram surgindo outros clubes, e fui seguindo um pouco mais.

Eu tive uma fratura na perna, e falei que iria parar de jogar futebol. Com 38 anos o Caxias me fez uma proposta e decidi que seria meu último clube na carreira. Não foi pensar em se aposentar e sim parar de jogar futebol, porque quem gosta de futebol vai jogar até os 60 anos.

PF - O que faz agora, logo depois de parar de jogar futebol?

PB - Quando parei de jogar surgiu a oportunidade de abrir uma escolinha do Grêmio aqui no River Center, em Nova Hartz. Hoje atendemos 120 alunos e sou basicamente o coordenador da escolinha. Buscamos o melhor aperfeiçoamento, os meninos que se destacam, a gente procura levar para clubes maiores, com prioridade para o Grêmio. Trabalho também como auxiliar técnico com o Bolivar, estamos procurando uma equipe aqui na região para ficar mais perto da família.

"

Patrício pode passar adiante seu conhecimento no futebol para as crianças que querem se tornar profissionais um dia BRUNO WINGERT

PONTO FINAL - Como foi seu início no futebol?

PATRÍCIO BOQUES - Comecei a jogar futebol da mesma maneira do que todos jogadores começam, iniciei em uma escolinha. Depois tive que parar de jogar para começar a trabalhar e ajudar a família em casa.

Mais tarde comecei a jogar os campeonatos de várzea, e uma pessoa me viu jogar com 24 anos de idade, e disse que tinha condições para jogar, disputei o campeonato da segunda divisão de Santa Catarina sendo destaque, onde tudo começou.

PF - Como o atleta fica logo após se aposentar?

PB - No começo é difícil, era viciado em futebol, acordar de manhã e não ter aquela rotina de treinamentos de todo dia, estava acostumado a fazer, e de uma hora para outra não fazer mais é complicada. O jogador não deve se iludir com os salários altos, procurar fazer investimentos durante sua carreira, para logo depois de se aposentar e não passar necessidades na vida

No começo (da aposentadoria) é difícil, era viciado em futebol.

A fachada da escolinha River Center, em Nova Hartz, onde Patrício é coordenador

PF - Com tua experiência no futebol, quais ensinamentos passa para esses meninos?

PB - A gente tenta passar para eles essa vivencia de 15 anos dentro futebol, saber conviver com os elogios e as críticas, muitas vezes tem pessoas que vão ao estádio para te xingar e outras que vão para te apoiar. Futebol hoje não tem mais espaço para o atleta que não treina o seu corpo.

PF - O que mais sente falta no futebol?

PB - Sinto falta da adrenalina, aquela coisa gostosa de entrar no estádio lotado, ver a torcida gritar o teu nome, principalmente no Grêmio onde foi a minha passagem mais marcante.

BRUNO WINGERT

P

ara qualquer jogador que tenha dedicado a vida ao futebol, o momento de "pendurar as chuteiras" pode ser bem complicado. Já dizia o ex-jogador Paulo Roberto Falcão, “o jogador morre duas vezes, a primeira é quando para de jogar”. É uma frase que ilustra bem a aposentadoria do jogador de futebol.

Patrício Antônio Boques, natural de Aratiba (RS), hoje com 43 anos, experimentou o mesmo sentimento. Aposentado há oito anos, hoje professor de escolinha de futebol, Patrício tem uma história curiosa em sua carreira: começou a jogar somente aos 24 anos, após o convite de um amigo que o viu jogando uma partida na várzea. Durante os 12 anos de carreira, Patrício passou por 13 clubes, se destacando na segunda passagem pelo Grêmio, sendo um dos personagens da famosa Batalha dos Aflitos e um dos líderes do time no vice-campeonato da Libertadores em 2007.

BRUNO WINGERT

por BRUNO WINGERT

As crianças desde cedo podem aprender e aprimomrar suas habilidades no futebol

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CULTURA

ARTE NA TERCEIRA IDADE

Artista não se aposenta

MORGANA SCHNECK

“A internet é deus pai; Google, o espírito santo; e filho o computador. Somos os primatas do universo. Como alguém vai se aposentar em uma situação dessas, sendo um artista?”

por MORGANA SCHNECK

O

artista plástico Flávio Scholles, conta que houve épocas em que ele nem se preocupava com uma possível aposentadoria, nem pagava o INSS porque tinha dinheiro somente para sua sobrevivência. Acostumado com uma vida simples decorrente do contexto da colônia, não almejava conquistar status financeiro, pintava por necessidade vital e para suprir o seu sustento básico. A medida em que se inseriu no mercado de obras e ampliou sua visão sobre arte como trabalho, percebeu e decidiu por seu futuro como artista, permanecendo fiel às suas origens, sem se deixar corromper pelo capitalismo.

Por volta de seus 50 anos de idade, o relacionamento com uma advogada portuguesa, o acordou para o direito à uma aposentadoria digna.

- Vida de artista é uma coisa muito instável financeiramente. Ela abriu meus olhos para esse assunto, disse que eu poderia me aposentar se começasse a contribuir sobre o máximo possível explica.

Prontamente, ela o orientou sobre como proceder para que nos próximos

anos pudesse viver de forma mais tranquila e obter o benefício de aposentado no tempo oportuno. Ele decidiu contribuir mais, e anos depois foi surpreendido com uma carta do INSS que dizia: no próximo mês, os senhor atingirá a idade mínima necessária, definida em lei, para requerer a Aposentadoria por Idade. A Previdência Social comunica que, de acordo com os dados constantes do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), as suas contribuições são suficientes para requerer o benefício.

Para o artista, receber o contato do INSS foi algo inesperado, já que pensava que, devido a suas falhas nos pagamentos da Previdência, nunca iria se aposentar integralmente.

- Eu sou muito grato a este país que, primeiramente recebeu os meus antepassados e deu estadia a eles. E, além de me proporcionar uma bolsa de estudos quando era adolescente, agora está me garantindo desfrutar da aposentadoria. Em troca, eu já fiz mais de oito mil quadros para pagar por esse favor que o país está me fazendo.

Scholles acredita que o sujeito que ama o que faz se dedica ao máxi-

mo ao seu trabalho, esperando colher os frutos. Porém, grande parte da população vê o trabalho como uma condenação, algo pelo qual somos obrigados a passar para depois viver a nossa vida.

- Assim como a Bíblia diz: tu vais ganhar o pão do suor do teu rosto, o trabalho se torna um castigo. Para o artista, esse suor é uma grande alegria. Eu, como descendente de alemães, sempre gostei muito de trabalhar, pois vejo na arte meu trabalho. Dessa forma, a aposentadoria se tornou um alívio financeiro para que eu possa continuar executando a minha obra.

A arte pelo prazer de fazê-la Quando pinta, o artista expressa seus sentimentos, suas dores, seus amores, suas crenças, mitos e histórias. Os quadros de Scholles, falam: “estamos na pré-história do homem no Universo.

Assim, o meu trabalho é uma ‘Literatura de Cordel’, com temática sobre o Vale dos Sinos, fazendo uma interferência no planeta Terra, desde 1976, através de uma instalação com milhares de quadros espalhados nas paredes das

CONHEÇA O ARTISTA Flávio Scholles nasceu no dia 15 de fevereiro de 1950, em São José do Herval, atualmente localidade do município de Morro Reuter. Quando criança, falava somente dialeto alemão e, desde cedo, se interessou pela história dos antepassados. Ele lembra que, aos quatro anos de idade, admirava os vitrais das Igrejas e, apropriando-se dessa experiência que compôs um estilo pessoal de pintar, marcando com intensidade, objetos e personagens de suas composições a partir de traços pretos.

Durante o período de estudos de Arte em São Paulo, ele definiu o foco de seu trabalho, optando por uma arte ligada à sua história de vida na colônia. Em seus trabalhos não ignorou a situação de exclusão em que viviam os colonos e, ao mesmo tempo, não ficou passivo diante do impacto que o capitalismo gerava nas comunidades interioranas.

No início da década de 90, definiu os eixos temáticos principais de sua obra: Colônia, Êxodo, Cidade e Origens. Atualmente, dedica uma atenção especial aos “Quadros que falam”.

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nanceira, mas sim, por uma necessidade psicológica, de continuar vivo. Tu tem que fazer alguma coisa, senão tu morre.

Fazer minha arte é base pra viver.

Para ele, a morte psicológica é muito mais perigosa do que a morte física, pois significa a morte da alma. Ressalta que o ócio não mantém ninguém de pé e que sua meta é pintar até o seu último momento de vida.

MORGANA SCHNECK

CULTURA

"

As pessoas estudam para ganhar dinheiro, quando deveriam estudar para se tornarem gente.

Alguns artistas famosos, mesmo após se tornarem muito ricos, continuaram produzindo e expressando suas ideias. Um exemplo é Picasso, que já em seus 80 anos, pintou 900 obras em um ano. Scholles continua pintando 300 por ano, mesmo com oito mil quadros espalhados pelo mundo.

- Eu sigo trabalhando, porque a gente não pinta por uma necessidade fi-

MORGANA SCHNECK

cavernas contemporâneas (casas e apartamentos) numa tentativa de enfeitar a nossa aldeia global e emitir os primeiros sinais para uma comunicação universal, através dos quadros que falam”.

Nunca se preocupou em enriquecer através de sua arte.

- Vejo que as pessoas estudam para ganhar mais dinheiro, quando deveriam estudar para se tornarem mais gente.

Ele cita mais um trecho da Bíblia, que diz que tu não deves te preocupar com o dia de amanhã, porque se fizeres tua parte no dia de hoje, o alimento vem.

- Talvez não seja caviar e uísque, mas o teu pão vem. Infelizmente, a maioria da população está presa no discurso capitalista, onde tu nasce para ser o mais bonito, o mais famoso, o mais rico, ter o melhor carro, a melhor casa e não pode errar nunca. Mas o erro faz parte da condição humana! No capitalismo o homem sempre está infeliz, pois sempre existe alguém que tem mais, te tornando eternamente insatisfeito.

Desde jovem, Scholles sofreu muito com suas origens, fosse por falar com sotaque carregado e até o modo simples de se vestir. A dificuldade em se comunicar verbalmente o motivou mais ainda a comunicação visual. Nasceu na colônia alemã, descendente de franceses e alemães. Em sua obra retrata, além da dura realidade da vida do colono, outras peculiaridades de seu contexto social, e são suas vivências infantis e familiares que o mobilizam a criar um repertório artístico e cultural autêntico. Desde sempre criou com pouco material e muita sensibilidade, aproveitando todas oportunidades do cotidiano para produzir arte. Ao optar por esse caminho, passou a compreender e interpretar o mundo a partir do seu contexto social, trazendo visibilidade a sua terra e sua gente, a sua aldeia, sem perder de vista as problemáticas universais.

- Atualmente, todo o quadro que eu pinto tem, através da internet, um alcance muito grande. A minha arte torna-se não mais um ato individual e sim, um ato social. E dessa forma temos condições de salvar o mundo.

Com essa afirmação, ele se refere a série de quadros intitulada “Cuzinhos Doce” ou “Omissão”, que criou quando se deparou com uma mudança drástica em sua vida, nos anos 90, quando expôs nos Estados Unidos. Lá, o artista agregou novos estilos de pintar, especialmente o da Op-Art, que tem como princípio composições com fileiras permutativas. Ao retornar para o Brasil, recebeu a visita de um empresário do Vale dos Sinos que, reconhecendo o estilo diferenciado, adquiriu grande parte da coleção lançada nos EUA, oferecendo como pagamento um imóvel equipado com diversos eletroeletrônicos. Em um de seus primeiro dias no apartamento, Scholles pôs-se a brincar com os controles remotos que comandavam os aparelhos. Bastava acionar um botão para que algo novo acontecesse. A brincadeira resultou em uma reflexão sobre o império do poder, que o levou a transformar em arte o que ali estava vivenciando.

- Com a informatização, os computadores, os controles-remotos, os interfones, os porteiros eletrônicos, os caixas eletrônicos e tudo mais, trazido pela automação, os botões ganharam cada vez mais importância. Percebi que comandaria o mundo quem estivesse sentado atrás dos botões, operando-os. E só não salvaria o mundo se não quisesse, porque faria “cuzinho-doce”.

MORGANA SCHNECK

Quem comanda o mundo?

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ESPAÇO DOS AVÓS

RECEITA DO DIA BROA DE MILHO

INGREDIENTES 1 xícara de margarina 1 xícara de açúcar 2 ovos 1 pitada de sal 2 xícaras farinha de milho média 3 xícaras meia de farinha de trigo 1 pacote de fermento em pó ( 15 ou 20g) 1 colher de chá de erva doce

MODO DE PREPARO • Em uma batedeira, bata a margarina e o açúcar até obter um creme • Sem parar de bater, acrescente os ovos, o sal e a erva doce • Acrescente à massa, alternadamente, a farinha de milho, a farinha de trigo e o fermento • Unte e polvilhe uma assadeira • Faça as broas e leve ao forno pré-aquecido, em temperatura média, por mais ou menos 30 minutos ou até dourar

V I DA

CADERNO

HISTÓRIAS DO LAR SANTA ANA

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EDIÇÃO Henrique Ternus

FOTO DE CAPA Jonathan Selistre

DIAGRAMAÇÃO Henrique Ternus

V I DA CADERNO

SONHOS

que se tornaram realidade ACERVO PESSOAL

A história de pessoas que, após a aposentadoria, correram atrás dos sonhos de uma vida inteira

por MORGANA SCHNECK

Q

uando se aposentou, Luís Donato Dilly decidiu ir atrás de seu sonho: ter uma formação superior. Já tinha iniciado duas faculdades, a de Educação Física e Administração, porém, por falta de tempo e outros fatores, não seguiu com as formações.

- Agora, após me aposentar, com meus filhos já crescidos e minha vida mais encaminhada, tive tempo de pensar novamente em minha formação - conta, antes de acrescentar sobre o curso da sua gradução no qual se formou em 2016, pela Universidade Feevale.

- Escolhi o Turismo porque sempre gostei muito de viajar, e acho importante estudarmos algo que gostamos.

Donato nasceu em 9 de junho de 1959, na cidade de Ivoti, onde mora com esposa e dois de seus três filhos.

- Minha carreira profissional iniciou em 1976, com 17 anos, quando meu pai me registrou como funcionário de seu restaurante - lembra. Ele trabalhou no estabelecimento de seu pai até se formar em eletrotécnica pela Fundação Escola Técnica Liberato Salzano da Cunha, dois anos ais tarde.

Com sua formação técnica, trabalhou em uma empresa de calçados por 24 anos. Após esse período se aposentou por insalubridade.

Em meio a sua vida profissional, ele e sua família sempre foram muito ativos dentro da Igreja Católica. Por conta disso, seus trabalhos de curso sempre estiveram conectados a esta parte de sua vida.

- Grande parte das reformas que foram feitas na Igreja,

surgiram de ideias que tive para trabalhos acadêmicos – relata. O que facilitou a utilização de seus projetos acadêmicos para realizar mudanças reais foi que, durante o período na Universidade, Donato também era o Presidente da Comunidade Católica São Pedro Apóstolo.

Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, ele estudou sobre o turismo religioso ao redor do mundo e também em Ivoti, destacando a história da Igreja Matriz, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAE), nos anos 80. Em seus trabalhos, Donato buscou parcerias para a revitalização desta igreja, que passou por dois incêndios nos últimos 100 anos.

- Conseguimos a autorização do IPHAE para buscar recursos, porém, em frente a crise, não conseguimos auxílio financeiro – afirma. Porém, seu trabalho não parou por aí, a Igreja utilizada pela comunidade nos dias atuais foi completamente reformada.

- Uma das pesquisas que fiz durante a graduação foi sobre os vitrais das igrejas católicas do Vale dos Sinos, e pude utilizá-la para a construção dos vitrais na reforma da Igreja de Ivoti.

Muitos dos trabalhos de Donato receberam grande visibilidade e até mesmo prêmios.

- Fui convidado para expor a pesquisa dos vitrais no Festival de Turismo de Foz do Iguaçu e recebi um prêmio do Inovamundi, premiação promovida pela própria universidade. Quando relembra seus três anos de aprendizado na Universidade, surge um grande sorriso em seu rosto, que demonstra a sensação de dever cumprido.

"Senti falta de aprender mais"

M

e aposentei para acompanhar o crescimento de meus filhos em casa, para poder estar presente nessa fase da vida deles.

Com fome de conhecimento, Maria Renate Grohmann Dilly, após quase 15 anos aposentada, decidiu estudar um novo idioma.

- Quando a gente para de trabalhar, sente falta de ter um convívio fora de casa, com outras pessoas. Senti falta de aprender, de ter alguém me ensinando algo novo - conta Então, escolhi aprender alemão.

Renate possui descendência germânica, e como é costume nessas famílias, seus pais a ensinaram o dialeto alemão desde pequena.

- Nasci em 1961, em Ivoti, que é uma cidade conhecida por sua descendência germânica - relata - É comum os moradores saberem falar alemão e português. Às vezes acabamos até misturando um com o outro.

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Mesmo conhecendo a língua, ela buscou um conhecimento que vai além de formar frases. Há três anos participa de um grupo de estudos de alemão, dentro da Universidade Feevale.

- É um grupo de terceira idade que se encontra uma ou duas vezes por semana para contar histórias e aprender mais sobre a cultura da Alemanha.

Os encontros são ministrados pela Professora Denise Lanz.

Juntamente com o marido e amigos, Renate já visitou diversas cidades da Alemanha.

- Mesmo sabendo falar o dialeto alemão, o curso tem me ajudado a entender outros aspectos da rotina desses moradores - explica - Aprendo como seus filhos são criados, que rotina seguem durante a semana, como planejam uma festa de aniversário e diversos outros momentos que cada cultura celebra de forma diferente.

MORGANA SCHNECK

por MORGANA SCHNECK

V I DA CADERNO

REALIDADES

que acabaram com os sonhos JONATHAN SELISTRE

A prova de que nem sempre a aposentadoria é um ponto final na jornada de trabalho

por JONATHAN SELISTRE

E

para eu me aposentar. Quando descobri que a vaga era minha, foi uma benção.

Depois dos dois anos trabalhados, parecia que estava tudo certo para começar a descansar e tirar um tempo para cuidar de si mesma, depois de todos os anos trabalhados, dedicar-se mais a família e a outros assuntos que fugiriam totalmente da vida profissional, mas não foi isso que aconteceu.

Atualmente, ainda trabalhando na padaria, ela relata alguns motivos pelo qual não parou de trabalhar: - Não tem como parar. Só com o dinheiro da aposentadoria seria impossível manter o padrão de vida, pagar todas as contas e todas as despesas de casa, e também porque eu amo o que faço, acho que se algum dia eu não tiver mais trabalhando, ainda mais aqui na padaria, fico doente.

Sabendo da situação que o país se encontra e como cada vez mais ficará difícil se aposentar, ela lembrou a importância de se ter uma previdência privada. Assim, é possível garantir um salário e tentar se manter, sem ter que trabalhar praticamente até a morte e depender da aposentadoria pública.

xistem vários casos de trabalhadores que chegam em uma certa idade que não conseguem exercer mais suas atividades e funções nos seus respectivos empregos ou também porque atingiram o tempo de serviço necessário de contribuição, por isso, resolvem parar e finalmente decidem que a melhor solução é se aposentar. Mas essa não é a realidade para muitas pessoas que chegam na idade da aposentadoria e não conseguem largar seus empregos por diversos motivos.

Cristina Adelina, 51 anos, se aposentou por tempo de contribuição, mas ainda continua trabalhando. Reside em Estância Velha e trabalha em Novo Hamburgo, onde exerce a função de encarregada de departamento pessoal em umas das padarias mais conhecidas da cidade, a Padaria Brasil. Trabalha na instituição desde 2011, faltando apenas dois anos para a aposentadoria, em 2013 mesmo aposentada por tempo de serviço, não teve escolha a não ser continuar com suas atividades. Ela fala dos desafios que enfrentou, ainda mais depois que teve que se aposentar: - Eu tinha medo, porque estava concorrendo com pessoas mais jovens que eu, a única coisa que eu tinha era a experiência, ainda mais que faltava pouco tempo

“Quero poder parar e descansar”

C

om tantas mudanças nos últimos tempos, muitas pessoas ficam na dúvida se irão conseguir a aposentadoria. A assistente social Débora Rosinel, 53 anos, natural de Cachoeira do Sul e que trabalha há 17 anos em um abrigo para crianças, em Novo Hamburgo, decidiu tentar... e conseguiu.

- Entrei com o processo em 2016 e ano passado consegui (se aposentar). O processo de aposentadoria foi tranquilo. Eu sempre contribuí certinho, encaminhei a documentação junto ao meu advogado e deu tudo certo – conta.

Assim como muitos outros brasileiros, Débora percebeu que não conseguiria manter o mesmo padrão de vida que construiu durante a carreira apenas com o salário da aposentadoria.

- Com certeza a renda pesou bastante. Não tinha como eu manter a casa só com esse dinheiro. Infelizmente essa é uma realidade nossa aqui, por mais que a gente faça tudo

certo as coisas nem sempre voltam - diz.

O lar no qual Débora trabalha abriga crianças que vêm de casas desestruturadas, nas quais muitas vezes os pais têm envolvimento com drogas. Ela, juntamente com os outros funcionários do local, tentam de todas as formas recuperar as famílias, para que as crianças voltem para os pais biológicos. Caso não seja possível, tentam inserir os jovens em novos lares. Sempre que conseguem, é uma sensação especial.

Então, se a necessidade de trabalhar existe, nada melhor do que fazer aquilo que gosta.

- Eu sou apaixonada pelo meu trabalho. Ver o sorriso de uma criança voltando para família ou entrando para uma nova não tem preço. A alegria deles é a nossa, sabe? Depois de tanto tempo, eu não me enxergo fazendo outra coisa. Daqui alguns anos eu quero poder parar e descansar, mas por enquanto não dá - conta Débora.

ARTHUR FORTES

por ARTHUR FORTES

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V I DA CADERNO

Um lugar para relaxar O Lar Santa Ana, em Novo Hamburgo, abriga uma quantidade enorme de histórias e muitos anos de vida

JONATHAN SELISTRE

Atualmente o Lar tem capacidade para 80 idosos, com alojamentos individuais ou coletivos, respeitando sempre a individualidade de cada um.

Uma instituição sem fins lucrativos, onde a proteção a velhice é um dos seus principais pilares.

Na instituição, foi possível acompanhar uma parte da rotina e algumas atividades realizadas pelos idosos. A enfermeira Patrícia De Oliveira, formada na Universidade Feevale, iniciou suas atividades no asilo em 2015 e, desde então, é responsável por todo o planejamento e atividades que são desenvolvidas dentro da casa. Quando falou sobre as experiências que viveu nesse período, ela salientou que o envolvimento da equipe de trabalho é fundamental para um bom funcionamento da instituição.

- Nós como equipe estamos sempre procurando fazer alguma atividade diferente com eles (idosos), precisamos do empenho de cada um, seja voluntário ou funcionário. Temos o professor de educação física, e duas meninas voluntárias que fazem massa-

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gem. Mas o que eles adoram mesmo são as sessões de cinema, que tem até pipoca - ressalta Patrícia.

Caminhando pelas instalações do lar, chegamos na sala, local preferido da maioria dos hóspedes. Conversamos com a dona Calista Teresinha Dapper, de 80 anos, que falou o quanto se sentiu acolhida desde que chegou na instituição, em função do tratamento recebido.

- Tudo o que a gente precisa eles ajudam, tem uns que precisam de mais cuidados e atenção, porque não conseguem fazer as coisas sozinhos. O que eu mais gosto é quando vem as meninas cantar e dançar para nós.

A atividade física e os exercícios que estimulam a mentalidade dos idosos são fundamentais, ajudando a combater doenças e síndromes muito comuns nessa fase da vida. É o que pensa a aposentada Andradina Fidelis Machado, de 86 anos, moradora do lar há 4 anos.

- O melhor mesmo é a educação física, vem um rapaz muito atencioso, nós até jogamos bola.

Andradina também comentou sobre as sessões de canto, que a deixam mais tranquila.

- Também gosto quando vem as meninas do coral, é muito lindo, lembro da minha juventude, isso me acalma. - afirmou Andradina.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2016 aponta que o número de idosos corresponde a 17% do total da população brasileira, representando 24 milhões de pessoas com mais de 61 anos.

Vale salientar que os idosos merecem tratamento digno. Os asilos e lares não são depósitos, mas sim um lugar onde possam passar o restante da vida relaxando e exercendo as atividades que são compatíveis com a capacidade de cada um, garantindo o bem estar do corpo e mente, para envelhecer com qualidade.

Andradina (foto acima) aproveita os momentos com atividades físicas para se animar, enquanto Calista (abaixo) prefere os momentos com música.

JONATHAN SELISTRE

O

Lar Santa Ana, localizado no bairro Jardim Mauá, em Novo Hamburgo, tem como principal missão a promoção da saúde física e mental dos idosos, buscando a excelência nos serviços prestados, assim solucionando as necessidades especiais de cada um de seus moradores.

Fundado em 20 de outubro de 1979, por alunas do Colégio Santa Catarina, que enxergavam a necessidade de haver um atendimento diferenciado para idosos, com uma administração de qualidade, conseguiram manter a instituição por anos.

O local conta com uma equipe de enfermagem 24 horas, prestando auxílio aos idosos e também todo o suporte para seus familiares. A equipe é coordenada por um enfermeiro devidamente registrado no COREN, que junto com a ajuda dos funcionários e voluntários, realizam um trabalho humanizado, com assistência contínua.

Os serviços de hospedagem e cozinha são realizados por equipes treinadas, com experiência no tratamento específico de idosos.

JONATHAN SELISTRE

por JONATHAN SELISTRE