Revista Hebraica - Maio

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HEBRAICA

| MAI | 2014

magazine > fotografia

>> O FOTÓGRAFO SIMAN-TOV JUNTO À CLÁSSICA CENA DA EGÍPCIA HAGAR COM ISMAEL NO DESERTO

peito da violência inata do ser humano e a falta de justiça no mundo. Pergunto ao fotógrafo se há algum toque de humor no trabalho, especialmente quando noto no rosto de Abel, um misto de surpresa e algo de gozação. Mas Siman-Tov recusa este traço, pelo menos de forma consciente. “Não sei, não vejo nenhuma graça ali.” Uma cena seminal da nossa história retratada por SimanTov é o drama da escrava egípcia Hagar e o filho Ismael no deserto. Ambos haviam sido expulsos por Abraão do acampamanto a pedido da estéril Sara, que não podia tolerar o ciúmes que tinha da escrava que havia dado à luz um filho para o patriarca. Na Torá, os dois são salvos da morte no deserto por um anjo que aponta um manancial de água e Ismael acaba se tornando o ancestral do povo árabe. Mas na cena imaginada pelo fotógrafo, mãe e filho morrem de sede. “Bem, neste caso, não haveria hoje nem Hamas nem Hizbolá”, conclui. Siman-Tov também fotografou cenas com final modifica-

do da história mais recente do povo judeu. Talvez a mais tocante da exibição seja de uma senhora de 90 anos, mostrando para a neta diários que escreveu durante a vida. É Anne Frank, imaginada como sobrevivente do Holocausto, e ao seu lado diários escritos nos anos seguintes à guerra. Há também cenas da história do Estado de Israel. Siman-Tov retratou Moshé Dayan, mas pediu que esta foto não fosse publicada na revista Hebraica. Trata da fama de mulherengo e da apropriação indevida de achados arqueológicos – duas características pessoais do genial militar, mas escondidos enquanto estava vivo em razão da fama e influência. Na foto criada por Siman-Tov, Dayan está algemado e detido numa delegacia militar. Mesmo assim, ele lança um olhar sedutor para a jovem soldada que o vigia. “Se tivesse sido punido exemplarmente naquela época, talvez hoje o ex-presidente Moshé Katsav não estivesse na cadeia cumprindo pena”, acredita o fotógrafo. Outra cena de final diferente da história real e que certamente teria modificado o nosso mundo está na foto intitulada “Itzhak e Lea Rabin, Praça Malchei Israel, 4 de Novembro de 1995”. Ali, o assassino Igal Amir aparece rendido pelos seguranças antes de conseguir disparar, e Rabin acende um cigarro ao lado da mulher, aliviado. Curiosamente, Siman-Tov teve mais dificuldade em conseguir um ator que representasse Amir, do que alguém que vivenciasse Hitler numa foto da exibição em que o líder nazista aparece liquidado por uma garota judia na entrada de Auschwitz. “O episódio de Rabin está mais fresco na cabeça das pessoas”, diz. Como seria o Oriente Médio se Rabin estivesse vivo ou se todos os outros episódios tivessem acabado de forma diferente? Claro, isto só se pode especular. “Certamente alguns efeitos teriam sido melhores, mas outros seriam piores. Deixo para o espectador pensar o que teria acontecido no nosso mundo. Talvez hoje houvesse paz, quem sabe. Ou não. Talvez.”


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