As duas personagens, Geni e o Guri, de Chico Buarque, partilham da marginalização e da discriminação de parte da sociedade. Há indivíduos que acreditam que a maior parcela dos infratores é fruto exclusivamente de uma índole ruim e cidadãos que classificam as prostitutas como cidadãs inferiores, considerando-as como de menor valor. A sede de justiça sentida pela sociedade e representada nas manchetes citadas anteriormente poderia ser associada na releitura abaixo, substituindo a Geni pelo Guri no refrão da música de Chico Buarque.
“
Joga PEDRA no
Joga BOSTA no é feito pra APANHAR é bom de CUSPIR se vende pra QUALQUER um
”
Guri.
Releitura Geni e o Zepelin – Chico Buarque (1978)
Os corpos rebeldes dos adolescentes, fruto de uma segregação socioespacial, privados de políticas públicas de qualidade, se rebelam indevidamente contra a sociedade por meio da banalização da violência e das práticas criminosas, em contra partida, esta mesma população não consegue conduzir o jovem de forma virtuosa a repensar seus atos ilícitos.
Justificativa | 14
Imagem 14 : Marcelo Theobald - Jornal Extra Edição: Soares, 2018
A velha prática de fazer justiça com as próprias mãos também foi retratada por Chico Buarque ao compor Geni e o Zepelin em 1978, retratando a vida de outras pessoas marginalizadas na sociedade, a exemplo da travesti e da prostituta. Figari apud Teixeira (2013) aponta que, mesmo não criminalizando a prostituição, o Código Penal de 1830 classificava as mulheres em categorias, como honestas e públicas, conduzindo o zoneamento dos bordeis às áreas periféricas ao centro das cidades brasileiras. Revela-se o desejo da segregação do que era classificado como ruim ou inadequado para os cidadãos de bem, sendo que a mesma sociedade envolta sobre o manto da moral é aquela que apedreja o corpo da Geni como tentativa de endireitar o comportamento da personagem.