Grupos, redes e manifestações: a emergência dos agrupamentos juvenis nas periferias de São Paulo

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(in)tolerância à diversidade. Neste sentido, pergunta-se: como os grupos culturais periféricos lidaram com a oportunidade histórica de expressão massiva e todos os conflitos que se seguiram? Quais foram as interfaces realizadas e quais os principais pontos de conflito? Estas são indagações que, em que pese não serem aprofundadas por não se configurarem o objeto desta pesquisa, serão abordadas enquanto elementos não previsíveis mas decorrentes do processo histórico.

3.1 Movimentos sociais e grupalidades emergentes

Foi por meio dos movimentos sociais de base popular que a periferia se constituiu e ganhou visibilidade como sujeito político, reivindicando uma concepção ampliada de cidadania que incluía não só o direito de ter direito (que culminou na Constituição Federal de 1988), mas também o direito à cidade, exigindo que a infraestrutura e os serviços urbanos chegassem aos bairros mais distantes. Em estudo realizado por Caldeira em 1984 sobre a participação política dos moradores de São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste da cidade, são identificadas novas formas de organizações, como partidos políticos, associações de moradores e grupos religiosos. Eram bastante populares as SABs – Sociedade de Amigos do Bairro: com mais de 30 postos só na região de São Miguel, lutavam por melhores condições de vida da população local, recorrendo a abaixo-assinados, petições públicas e reivindicações encaminhadas à prefeitura e promoviam diversas atividades de lazer, como campeonatos de futebol e bailes. A presença das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base, também foram marcantes no repertório de lutas políticas nos bairros mais pobres. As CEBs eram coordenadas pela Igreja Católica e parte fundamental do projeto de atuação da Teologia da Libertação, por isso as atividades promovidas eram de cunho religioso e político-social, serviam de ferramenta para a mobilização do que se denominava comunidade, com forte capacidade reivindicativa. Segundo dados apresentados pela pesquisadora, naquele ano o setor de São Miguel contava com 24 comunidades. Na verdade, a forma de atuação das SABs (com nova orientação) e das CEBs é idêntica no que se refere a levantar os problemas urbanos e a organizar a população para fazer abaixo-assinados ou visitas à prefeitura ou à Administração Regional. O que diferencia esses dois tipos de entidade são, em primeiro lugar, as atividades religiosas de uma e as ‘recreativas’ das outras. Em segundo lugar, pode-se perceber uma diferença no âmbito da atuação mais diretamente política: enquanto as SABs 112


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