A ascensao do dinheiro niall ferguson

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dentro do seu próprio tempo de existência, mudando radicalmente, a evolução financeira (como a evolução cultural) talvez seja mais lamarckiana do que darwiniana, no seu caráter. Duas outras diferenças importantes serão discutidas a seguir. Todavia, a evolução certamente oferece um modelo melhor para compreender a mudança financeira do que qualquer outro que possuímos. Noventa anos atrás, o socialista alemão Rudolf Hilferding previu um movimento inexorável na direção de uma maior concentração de propriedade no que ele denominou de capital financeiro.28 De fato, a visão convencional do desenvolvimento financeiro enxerga o processo do ponto de vista de uma grande firma de sucesso, e uma sobrevivente. Na árvore de família oficial do Citigroup, parece que, com a passagem do tempo, numerosas pequenas firmas – que datam do City Bank of New York, fundado em 1812 – convergiram para um tronco comum, o atual conglomerado. Entretanto, essa é precisamente a maneira errada de pensar a evolução financeira ao longo do tempo, pois ela começa num tronco comum. Periodicamente, o tronco cria galhos quando novos tipos de bancos e outras instituições financeiras evoluem. O fato de que uma determinada firma tenha devorado com sucesso firmas menores, ao longo do caminho, é mais ou menos irrelevante. No processo evolucionário, os animais comem uns aos outros, mas essa não é a força motora atrás da mutação evolucionária e da emergência de novas espécies e subespécies. O ponto é que as economias de escala e de escopo nem sempre são a força motora na história financeira. Mais frequentemente, os motores reais são o processo de formação de espécies – pelo qual tipos inteiramente novos de firmas são criados – e os processos igualmente recorrentes de destruição criativa, pelos quais as firmas fecham as suas portas. Vamos considerar o caso dos bancos de varejo e comerciais, em que permanece uma considerável biodiversidade. Embora existam gigantes como o Citigroup e o Bank of America, os mercados americanos e europeus ainda possuem setores de atividade bancária de varejo relativamente fragmentados. O setor de bancos cooperativos assistiu a grande parte das mudanças nos anos recentes, com elevados níveis de consolidação (especialmente depois da crise dos Savings and Loans, dos anos 1980), e a maioria das instituições se movimentou na direção da posse com participação acionária. Mas a única espécie que agora está perto da extinção no mundo desenvolvido é o banco estatal, já que a privatização varreu o mundo (embora a nacionalização do Northern Rock sugerira que a espécie pode reaparecer). Em outros aspectos, a história é a do processo de formação das espécies, a proliferação de novos tipos de instituições financeiras, que é o que esperaríamos num sistema verdadeiramente evolucionário. Apareceram muitas novas firmas de serviços financeiros “monolinha”, especialmente no setor de financiamento ao consumidor (por exemplo, a Capital One). Agora existe um número de novas “butiques” para atender o mercado da atividade bancária “private” – para clientes de maior poder financeiro. A atividade bancária direta – por telefone, ou por Internet – é outro fenômeno relativamente recente e crescente. Do mesmo modo, mesmo enquanto gigantes se formaram na esfera dos investimentos, espécies novas e mais ágeis, como


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