há quarenta e seis pés

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Este projeto foi financiado com Recursos da Lei Aldir Blanc

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Editor, diagramador e coordenador do projeto Febraro de Oliveira Ilustração e capa Kim Matos Editor de Vídeo Reginaldo Borges Designer Gráfico Vini Willian Produtor Executivo Marcos Mattos Performance Jackeline Mourão Ariane Nogueira Febraro de Oliveira

Copyright © 2021 Todos os direitos reservados Vinicius Febraro de Oliveira


uma

palinha

com

o

organizador


à margem começar um livro, começar um curso: abrir a roda do indizível. essa antologia é um acidente entre poetas de mais de vinte estados, um atentado, uma produção feita em estado de emergência e calamidade pública. durante dois meses, vinte e três poetas se encontraram para discutir, organizar e criar com minha supervisão e orientação no curso abrindo brechas no cotidiano: deixar o poema fruir. desse encontro, nasce há quarenta e seis pés. o mesmo chão rachado, diferentes danças. dançar sobre o chão rachado, entender a singularidade no coletivo, respeitar cada subjetividade: criar sem cerimônias. febraro de oliveira


das margens


para escrever um poema em mim caneta para dançar mãos entregar sem camadas meus choros e gozos deixo uma mensagem no espelho para lembrar de quando eu estava ao [lado dela relembrar o dia em que deixamos de ser fazer crescer em si pedras de lágrimas terça à noite criar formigas tirar a poeira das coisas tirar o gosto ruim da mesa dar sabor ao amarelo ser o único, um sequer, um mínimo [obstáculo pro beijo desnudar o corpo da vergonha de ser [quebrado


aproximar quem queira desvelo gravar as memórias em k7s nunca ouvidas cortar a luz destruir as noites em margens chamar teu nome alto pra que todos me digam que você não está mais aqui

Poetas: Anthony Gama, Beatriz Nascimento, Brunno Vianna, Claudinei M., Gabriela Porto Alegre, Gabrielle Valentim, Geovanna Bragante, Inaiê Lopes, Kelly Ezaki, Marcela Alferes, Sayra Tavares, Thais Litchy, Vini Duarte, Victória Carrer, Vitória Alves. Curadoria, edição e criação: Gabriela Porto Alegre e Kelly Ezaki *poema feito a partir dos versos de 15 poetas em um dos exercícios de escrita criativa do curso “abrindo brechas no cotidiano: deixar o poema fruir”



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izabella camati, curitiba, 2006.

15 anos. acorda sentindo como se sempre estivesse à procura de algo. acredita na lenda chinesa do fio vermelho. izabella camati ainda não sabe quem é. instagram: @palavramaisbella e-mail: izabellacamati@gmail.com



adquiri o costume de morder a tampa da caneta enquanto te ouvia às 16 horas e 22 minutos do dia 20 de janeiro, quarta-feira andei encaixando os pés em espaços de chão livre pensei em flutuar sou o mais pesado que carrego apesar de quilos de ração para dois cachorros, do estacionamento até o portão e a primeira vez que escrevi eu nem estava pensando em você pensei na pressão que a mim foi proposta naqueles 10 minutos pensei no extra e estranho um eu estrangeiro me concentrei em um uso de palavras incorreto mas que me soava bobo, então eu ria do que eu tentava esquecer


sou o mais pesado que carrego mas me questiono sobre medidas por maioria, distâncias cavar um buraco até o outro lado não me parece absurdo até saber do que se trata se bem que dançar entre tecidos e uma bala ali perdida talvez seja entretenimento bárbaro/besta um tanto tentador descobrir se sentimentos são medidos a metro e se são árvores por abraço explorar o peso de minhas unhas antes de racionalizar cada palavra caindo sobre o erro do poema e me fazendo afundar


[3/19, 9:31 PM] iza: sempre um sonho diferente mas ele igual em todos. distante, como se o sonho fosse uma sala e ele sempre no canto com olhar cansado. parecia tinha tanta informação rolando na cabeça dele que confundia os endereços de cada pensamento e precisava refazer o percurso. no sonho de terça-feira, [?] estava sentado na minha frente em uma sala vazia. o piso de quartzo verde, a cadeira de madeira. vestia uma camiseta branca. fiquei de pé roendo as unhas esperando ele falar algo. faz meses que deixo minhas unhas crescerem cortei elas hoje


essa noite eu vi um campo enorme e algo parecido com um rio no meio. estávamos em um grupo de pessoas que eu não me lembro quem. nosso objetivo ali era recolher o excesso de tinta que quem pintou o lugar deixou.. algumas misturas erradas. a parte que lembro mais nitidamente é quando eu estava limpando uma folha pata de vaca cheia de pigmentos rosa [?] estava sentado em um tronco embaixo da única árvore no centro do campo no de quarta-feira, cheguei em uma recepção qualquer que tinha um espelho enorme. perguntei ao porteiro quando o jornal do dia chegaria sentei em um sofá confortável


vi [?] do lado de fora da janela. ele tava atrasado para algo levantei andei até o largo. era dia de feira


nãotecompreinad amedodealimentar suascoresdestudard maisficarburrademimaté essesdiastinhafei ranãovouteacumularpelomenosc omoeupensava porqualquercoisa prenderdemai sconhecimentos ememurchar aocaseirodeixed eletarfiqueinasnotas perdipalavradif ícilnãoincluíd anomeuvocabulá riojorraralgo+1(323)c omalegriaré veremosintermináv elcoloridosgrã osdeviveremaqui deagorante(s) mão


[10/20/2019, 7:04 PM] maria elizabeth: sim luftal duas caixas de comprimido e a calcinha? quanto? carregador, sucrafilme sacuda a internet cookies? onde estão? venha aqui


suspeito que me cheira os pensamentos rodeia o gramado extenso me sinto embalada a vácuo granola veio sem castanhas reclamarei da pressão em 2segundos103807


preciso de algo me doendo ao respirar olhos cor d’água em regiões profundas um não escrito à minha parede pregado em papel transparente talvez uma des-vontade mergulhar em vidas errantes abusar de trocar lugar


Gabrielle Valentim, São Paulo, 2000.

escorpiana. terra vermelha, água & luz. apaixonada pela vida, latino-americana com sangue originário que corre as veias enquanto observo a maior metrópole do país se movimentar. São Paulo/ZS - Grajaú. das ruas de barro pro mundo, em constante construção lírica e elementar. agradeço as que vieram antes de mim, em breve estaremos juntas. agradeço quem se dispôr a ler e que o amor te acompanhe sempre. "Só Isso", Emicida (2009) Instagram: @oisgabs



1. por tão pouco meus olhos desfizeram-se em rios, alheia do mundo em devaneios janela. Obinrin no rádio. talvez meu corpo seja composto de ondas e eu só percebi agora dos cabelos, barriga & as que escorrem opacas dos olhos-rios. voltei a fumar. talvez todo esse sofrimento cabocla, seja tua alma clamando por floresta & essa ânsia por largar berros aos quatro cantos seja tua pele reivindicando o amor que cê depositou no outro.


lá fora chove. olhos-rios-janela.


2. certa adrenalina que flui e desatina homeopatia, 30ml florais & incensos. tropeço na minha língua e piso em falso vitórias-régias, afogo lento em devaneio cárcere. o pensamento cria mas também destrói. cê é meu porto ao mesmo tempo que é a cidade violenta que arrasta meus joelhos asfalto quente.


a psico disse que eu preciso permitir mas quando me abro vulnerável asas frágeis despedaço. sertralina, fluoxetina, sufoco ancestral & galhos queimados.


4. ¿looping? movimento & repetição. repetição & movimento. movimento. movimento. movimento. volta, repete última vez pra onde? óh minha vida, cê pode vir pra home da gatinha ou só ficar.


caracóis auroras sóis e amêndoas sempre vão.


5. 26 de junho, 19. Procurando por uma incógnita, talvez; Se pá, calar uma saudade.


6. eu descobri que dá. teu corpo esculpido machado. curvas-planícies terra vermelha cântico ancestral; chamado da argila. se amar é gostoso feito breja geladinha & sol que arde a pele.


descobri a existência mais bonita espelho. espelho-me 1995 & rexpeita minha boceta {ou faço uma na tua cara}. eu descobri que dá, os pixels ensolarados pertencem a mim & só.


Kelly Ezaki, São Paulo, 1982.

psicanalista, poeta e publicitária. atua e pesquisa a intersecção entre Arte e Psicanálise (poesia, linguagem, artes plásticas, curadoria e crítica de arte). começou a escrever em blogs e manteve por anos, o tumblr, Tua Filha Gosta. participou da exposição '1941’ curada por Hélvio Benício, com a instalação poética 'Anti\Musa a Sair do Armário’ (2019), exibindo alguns de seus poemas, cadernos originais e objetos-poéticos pela primeira vez. tem sete tatuagens, talvez dez. pinta a unha com bolinhas; também os olhos. pesquisa a plástica da linguagem. acaba de publicar ANTI\MUSA A SAIR DO ARMÁRIO (Editora Urutau, 2021), seu primeiro livro de poemas. instagram: @tuafilhagosta | email: ke.ezaki@gmail.com



QUARENTENA DE CINZAS [com um beijo para Adília Lopes, Luana Carvalho e Patricia Palumbo] 365 dias, dentro. casas iguais quartos iguais meninas iguais dias e dias iguais-iguais. acordar e encontrar algum motivo pra passar o glitter.


INTERDITO toda noite envia msgs recheadas de emojis me ex\cita carinhos virtuais detalhados enquanto penso o que significa o emoji por que o coração roxo e não o vermelho? de onde ela vem, meia-noite toca o sino da igreja. meia-noite e 1 é impreterivelmente o seu limite ela desliga o wi-fi no meio do eu te am,,,.


NEM procuro tuas migalhas na internet uma foto na timeline 15 segundos de stories 140 caracteres num tweet os likes nos posts em que você chegou primeiro teus escritos num blog antigo você online no whatsapp é pouco, muito pouco mas você é fofa, demasiadamente fofa nem sei se você existe ou se é só um avatar da Pixar nem sei se te amo,


AS HORAS 09h05 acordei. não tem msg sua. 10h10 tomei café preto com uma tigelinha de amoras. você me deixou com vontade. 11h30 ouvi Chet Baker. queria te mandar a música "ALMOST BLUE". um solo de 4min e 59seg até Chet cantar os primeiros versos: almost blue almost doing things we used to do there's a girl here and she's almost you almost 12h45 fumei um cigarro sentada na grama no meio do jardim pós-almoço. imaginei você chegando e me abraçando por trás dando um beijinho na nuca.


13h27 será que você pensa em mim com o seu coração? será que já tremeu ao pensar em mim? 14h14 ouvindo “TRY A LITTLE TENDERNESS”. é a música mais linda de todos os tempos, não importa a versão de quem canta. 15h34 queria te contar dos meus estudos em Poesia&Psicanálise. 15h51 será que hoje nos falaremos? 16h54 queria lamber os teus dedos. 17h39 no banho, pensando: ela será dada ao calor ou prefere frio? morno, nem cogito.


18h34 queria fumar um cigarro com você. 19h07 entrei na live da Heloísa Buarque de Hollanda. você não está. 20h08 OSESP ao vivo no youtube direto da Sala São Paulo. certeza que você também não vai assistir. 21h30 perdi a fome; como chocolate e me transporto pra perto de você – não há mais metafísica no mundo senão chocolates... disse o tal do Pessoa. 22h00 último cigarro do dia pensando em você.


22h30 hesito diante da pilha de livros: • Irmã Outsider (Audre Lorde) • Orlando (Virginia Woolf) • O Primeiro Homem Mau (Miranda July) • Tipos de Perturbação (Lydia Davis) • A Fúria (Silvina Ocampo) • Mugido (Marília Floôr Kosby) • Um Apartamento em Urano (Paul Beatriz Preciado) qual você escolheria? 23h05 você está on: , mas não fala comigo. 00h01 tenho quase certeza, você foi dormir; 02h30 não nos falamos. nem 1 emoji.


NO CENTRO debruçada na janela, ouço a vizinha da direita gritando impropérios contra as feministas e a vizinha da esquerda fazendo amor com duas minas.


DENTRO DO ARMÁRIO o monstro dentro do armário não me deixa dormir. me fita de um jeito, mas não me bota medo. não durmo, mais por curiosidade. o que ele quer? quem ele é? como foi parar ali? será que tem medo de mim? saberá que sou uma monstra?


A PALAVRA GRUNHIDO dita no seu sotaque é um poema lindo.


CHOCOLATE AERADO a cada amor um buraquinho a marcar o coração tipo chocolate suflair. o coração esburacado fica assim ventilado com espaço pra circulação do ar impedindo a formação de bolhas & angústias.


ESSE É O POEMA um beija-flor depois mais um beija-flor e ainda um outro beija-flor três beija-flores bem na minha frente 6 pares de asas batendo 80 vezes por segundo 480 batidas de asas sincronizadas e [ininterruptas


INSTRUÇÕES Nº 26 experimente acordar às 4 da manhã passar um café e olhar a lua. experimente beijar sua menina no breu total não veja, só sinta. experimente pronunciar alguns nomes de pessoas que você não conhece - nome e sobrenome. experimente não falar de si numa conversa. experimente sonhar um céu 100% branco e dois sóis cor-de-rosa um em cada canto. experimente amar sem tocar. experimente sofrer sem reclamar. experimente o tesão da solidão. experimente sonhar um céu 100% preto e dois sóis cor-de-rosa lado a lado. experimente fumar um trago do seu cigarro de olhos fechados. experimente andar de mãos dadas com um novo amor até sincronizar os passos.


experimente deixar o seu deus descansar confie em você. experimente o silêncio quebrado pela voz do amor invadindo o quarto apenas em pensamento. experimente as sílabas de qual_quer pa_la_vra. experimente a seiva de uma árvore desconhecida com a ponta da língua. experimente a geografia do seu bairro à pé. experimente o calor da pedra pise descalço também pode deitar. experimente segurar o olhar com uma pessoa estranha. experimente tomar um banho de chuva fantasiado com seus amigos após o bloquinho de Carnaval. experimente ficar quieto mesmo que breve mesmo que pese.


experimente dançar sem música pra acompanhar. experimente a luz do sol todos os dias nem que seja por 1 minuto. experimente correr num museu de mãos dadas com sua paixão. experimente novos vinhos tentando buscar a singularidade de cada uva. experimente olhar para a sua mãe como uma mulher qualquer em quem lateja desejos e sonhos experimente olhar para si mesmo seja qual for a situação seja qual for a situação como se fosse um outro e tudo terá menos importância.


GRANDIOSIDADE quero escrever poemas com palavras grandiosas falar de névoa, estoicismo, mixórdia topografia, topologia, torrente inconsciente, ululante psicanálise citar Freud explicar nó borromeano opísculos, anfíbios, tímpanos sibilante, Kandinsky, Gávea Beauvoir, Godard, mar citar os filmes todos os livros vários faísca, átomo, atmosfera migalha batuque, feitiço, alucinógeno chakra, néon, translúcido


silêncio micróbio mu pio miau poeta, libélula, flanco Sá Carneiro, Bishop, Szymborska saber de cor o nome das constelações sussurro matiz meandros bicha, miocárdio suspiro fastio languidez, abstração papilas


pupilas proteus buceta, estrondo, ternura o primeiro amor da vida meticulosidade cutícula, existencialismo nervo, carvão calcificação, abismo magnetismo, cubismo lufada Picasso, Kahlo, Remedios Varo fendas, brechas, bruxas fofo sucedâneo, contemporâneo, ecrã romã dopamina, metafísica, lantejoulas Caetano e Pina Bausch na Bahia ascensão, exceção, emulação ímã


eco, efemeridade, travessia Paul Beatriz Preciado urano, filosofia, serotonina testosterona, adrenalina da maior importância entrelinha, plantinha mas só sei rimar eu & você com palavras cotidianas e qualquer coisa pequenininha.


Gabriela Porto Alegre, Rio Grande, 1998.

Sou reles serva de toda letra que queira ser gestada. Sou mulher. Tenho 22 anos. A única constante na minha vida é a poesia. Não há outra escolha senão estar aqui, tal qual um castelo de cacos. Os versos que seguem são sonhos feridos. Também são uma expressão da troca com dois outros poetas desta rota, deste vão, desta selvageria em tubo de ensaio: a criação conjunta. À leitora e ao leitor, meu acanhado (e xucro) agradecimento. Instagram: @portoalegregabi



eu não sirva talvez pra este troço de escrever e não queira saber a quantos graus surge a paixão qual a mais cáustica do catálogo de dores pra que lado dormem os mortos descrever o cheiro dos milharais e definitivamente não queira diagramar cada página do teu adeus eu não saiba talvez desenhar a translação dos teus olhos emprestar a saudade pra palavra ressuscitar numa carta meus avós esconder um defunto no parágrafo rugir pro vazio alvejá-lo com alguma voz decalcá-la por sobre o corpo e ser-me de novo eu não seja talvez tudo tanto que tento ser e eu não sirva pra este troço é ele que me serve e transvaza de mim


ma(d)re fogos de artemísia-erva uma embarcação de mármore-olhos um devaneio abana do cais coloco as mãos na lateral de cada olho quando num intervalo de fala há silêncio e por um átimo me sinto sozinha no planeta entregue estamos no alto mar pacífico e uma tempestade no meu estômago encharca a boca a desinteria dos recomeços é a mais doce um corpo de bruços no boreste sincopando um desmaio e canhões nos meus olhos não pode ser que de tanta morte que há pra morrer meu pai mãe irmãos e filho morram de desmaio [pro mar o ar sobrando na boca indo devagar embora


uma vara fincada no chão do oceano me arrebato do barco e nela trepo vento, lado, salgado e ânsia um clarão vê minha família na costa raspo o corpo na tensão da água engulo uma onda e devasto os membros tão longe tanto nado a me convencer que posso engolir sal não respirar por um tempo

eu

chegará um ponto em que se me tirarem daqui ficarei me debatendo no anzol da tua saliva e primeiro finalmente há mãos que me seguram


o que é feminilidade? o que define uma mulher? como as mulheres são tratadas? e o que o jeito que nos tratam imprime no nosso comportamento? você é linda de rosto podia perder uns quilinhos ter um nariz mais fino um cabelo mais grosso poderia ter sido mais educada falado mais baixo feito menos sujeira diminuído o tom gorda! deselegante! esquisita!piranha! feia! feia , feia… isso repete, ecoa: feia, feia e algum tempo depois aparecemos sem peso sem cabelo


sem rosto tudo alisado, harmonizado, amputado onde não tem nada não tem incômodo cada vez menos eu cada vez menos eu cada vez menos eu pronto agora sim cumpri meu papel social como mulher me cegar o bastante com a ilusão criada pra que roam os cantos da imensidão que sou e eu sinta incrustado em mim esse delírio esse julgamento esse encaixotamento esse borramento corpo cifrão, corpo cifrão, corpo cifrão um antiofídico na veia uma gaiola pendurada um plano o país pioneiro em vaginoplastia 13 mulheres mortas por dia


plástica e aborto clandestino você que está aí sabe o que faz sinto brotar do chão as raízes do seu destrono nós geraremos de novo a vida que nos tiraram e a pariremos gritando a cabra-cega acabou estamos bem acordadas

(direção para videopoema)


de cócoras no banheiro de nosso quarto no interior do rio grande do sul às 13 minha mãe acha que estás pronta pra escola? de cócoras no banheiro da nossa casa em Dourados às 8, antes do sinal esperando gostarem de mim até botei brinco sangrou pra pôr de cócoras no banheiro do nosso apartamento minúsculo na região dos lagos às dez, sangrando. entendendo o que fazer com os tufos de cabelo caindo de cócoras no banheiro de um apartamento maior, eu também, às 9 depois da academia, bato na minha culote. scorpions no mp4


toca música de amor perdido eu nunca tinha tido amor ou toca quem era o amor perdido de cócoras na salle de bain de uma casa em Annecy, neve na claraboia é dia sendo noite. meu átrio bate no vidro. ventreloco .vão se estragando no estômago as palavras que só eu sei num raio de 50 kms. marcapassio de cócoras no banheiro de uma kitnet no centro histérico, serena como nunca, espelho 3D 4, livre gozo e compleição, eu… eu… eu. eu? eu. eu?! eu!!! eu de cócoras no banheiro dele. debulho um gemido. tenho prurido nas palmas das mãos. o prazer eu engulo e me regurgita. um casco a menos. atrito e escoriação


de cócoras no banheiro dela. pranto e sabão. já morreu pela outra pele e sabe rezar o ecumênico racionamento da energia do desafeto. cinco felinos. para entrar três lances de escada a baixo. dorme aqui. vou cozinhar. respira. sou tua varanda esta noite. de cócoras no banheiro do nosso quarto no interior do rio grande de mim à uma da manhã, um relógio dissolve sobrevulto. a rua Dalí é perigosa, não posso mais ficar de cócoras fora de mim. água fervente no pescoço trançado. clausura e remediação. um piano chora no celular. uma gota sobe de volta pelo dorso no curvar das costas no chão. luz gelada e pranto. de joelhos.


Com Claudinei M., Busquei saber se você já tinha uma nova ocupação enquanto a minha resquiciava em ti. Três vezes passei na frente do bar do Antônio pra ver de perto tua reação no agora. Nuncarreação, ração, racionamento. Rato. Un ratito por favor. Espasmo. A sorte é que sem mim uma parte morre e fênix. Dois cães presos no sótão só fazem diferença pra quem está dentro da casa se não tem gritos que os abafem. Guardo três gostos no palato: amargo parco, forte hálito rebatido da máscara de pano e o terceiro... Se nele falo já me abandona. Certas coisas só têm razão esquecidas. Escrevo defronte a pinga que me ofereceste dez dias antes da corda. Destilo. Acordar e tu não existindo. A pinga ainda embriaga teu corpo independente de tudo existir. Árvore levanta asfalto da estrada na região fluminense. Gozo, gozo gozo, gozo. Se


não for por ti vai ser por mim. Se não for por mim, exército manicomial camisa de força e tranquilizante. Numa seringa um pó líquido um sininho que sugo... lábios, ah, lábios e tudo. Lábios e teso. Um ar etéreo nos atravessa e leva: já não somos mais, já não somos tudo que poderíamos ter sido se o ser comportasse o foi, o será. Levando as noites até Notredame onde possam dormir perfuradas e corcundas. Giro uma moeda em tuas mãos digo: decidirá nossa sorte. Mais justo o acaso mandar. Já sabia que seria assim desde o fim. Tem muitos cheiros a serem paridos por palavra. Na verdade só és quando te tornas um arquivo no word. Só cabe um quarto entre quatro paredes. Os cômodos podem ser organizados de milhares de formas, mas somente em algumas ele ainda é funcional a cama em cima da mesa em cima do armário eu de pé no meio com certeza uma madeira cravada na costela e um


travesseiro na garganta. Pra caber eu tem que não caber mais alguém. Quem? Não tomo mais café, amo café mas ele botava o baú em cima da cabeça na hora de dormir pressão traumatismo satírica insônia. Sucuri emergindo do sinteko e vindo cavucar minha carne cinzenta. Não dorme não olha não come. Mesmo sem comer nada, engulo tanto ar... Preciso da fala ( a própria palavra fala - ffffffala!- já alivia, tenta) .Algumas maçãs num balde d’água cada um em seu turno bota as mãos nas costas e tenta mordê-las. Quem pecar vence. Me preocupo com minha mãe. Esse dizer cabe na víscera de qualquer palavra dita. Despejo em você porque você lê. Agradeço. Ainda tem doce na rua Salitre e chicletes que corroem a língua no dia das bruxas. Eu quero jambu na boca assim vai arder mais ainda quando eu disser te odeio. Teu suor teu suor teu suor não sei o que fazer com ele, porr• Claudinei...


Tem tinta pra acalmar o quarto, me disseram: indigo esfumaçado com raiz de valeriana macerada. Quem sabe uma xilogravura de carne vermelha no quarto: a última expressão que cunhaste em meu rosto pintarei de preto e esfregarei na parede. Bato em retirada. Há tantos asteroides pulsando no raio de visão… Me vou. Condução número 344, pego. reviro todo domingo pra rir e pintar. Jogo café no teto, ele acorda, lua nova rompe a bolsa, dilúvio e decido: adeus.


2-00 vide página 137 com Vitória A. torrencia no antecílio a chuva dos enterrados subo a marquise pela barricada, fecundo queda d’água, oiço teu abraço quase veludo nas ranhuras da carne fibras vibram. me ocupa frenesi. escrevo na antessala do desolo. sou antes. o erotismo molha os dedos num perfex de mercado, o mundo quica entre quatro paredes os bicos tem peçonha que me punge. prenso a manga ela escorre e implode. extrato de macunaíma. cordas afinadas em romaria


quem perdeu o sono não fica teso de inexistir Eu sei que você caminha pela casa rezando pro sol nascer


Claudinei M., São José dos Pinhais, 1997.

Se fosse como um conto, seria ponto. E ponto! É pouco mas é tudo, e etc, etc e etc.



caído no canto do muro tinha sarna sei lá, engraçado cruelmente engraçado… se morrer o Cachorro, ele ainda é cão. dezessete e cinquenta e cinco, cinco horas. vêm aqui quero muito ir vêm a sarna continua sarna, olhei de perto, quem morreu foi o cachorro que continua cachorro eu acho. eu acho? se o ponto tivesse um banco eu vou, vou dar um jeito de ir vou de bicicleta tenho medo de morrer


? como assim? por causa das sequelas do Covid mas pode? é figurado, falamos: Morreu o vira-lata. mas não dessarniou é sarnento, morto, podre e infestado. o canto que sepultou o cachorro hospedou a sarna, gelado. Se eu tenho medo? sim fibrose? eu queria você aqui, mas não é bom sair de casa eu te espero vc me espera, ninguém pode morrer. sarna é coisa séria. talvez. vai ver ninguém ajudou, e agora nem querem tirar ele dali. eles não querem pegar sarna! Sarna é coisa séria!


fibrose? não eu tive asma problema nos ossos eles infeccionaeam sei lá, agr estou com um cansaço horrível cada vez mais fraca sem foco talvez eu ligue para a prefeitura, talvez eles tirem com uma pá, coisa assim vai saber. se eu falar do banco também? ossinhos podres já aparecem suco preto marrom, comem cachorro e sarna… meu ônibus. talvez eu volte outro dia, com uma pá. eu te espero, vc me espera, ninguém pode morrer. kkkk queria que fosse assim…


se morro hoje, você apodrece num canto? numa rua. que passa gente minha sarna, podre de canto e de tanto passar não para. eles te dariam pelo menos uma pá? eles me dariam que fosse uma pá?


Com Gabi Porto Alegre Parte que lido? sei lá, ela tinha esse fusca branco com ferrugem na porta, tentamos lidar sem gastar. A ração do gato subiu, porra, e não é? São energias fuzilando paredes, controlando nuvens, pintando bolsas de sangue B, AB, B, essas coisas, meio que eu faltei nas aulas de biologia. Vai ficar por isso mesmo, não consigo entender estes átomos de carbono. Aí só me restou isso, sentei na calçada meio cinza e rachada e ferida, ontem eu estava entregue para um curso de jornalismo, engraçado, não aprendi a fazer coluna, mas aprendi um pouco de como falar bonito, e foi isso mesmo, mim veio muito esguia, me veio, me vai, mim vai, tanto faz, eu gosto da língua, sabida, magrela, rápida, bonita, cabocla, tudo isso que você carrega no seu fusca, sabida como a ferrugem que escolheu a melhor porta da


cidade para fazer casa. Sei que ela tenta alçapar pelo papel qualquer que seja seu toque, aquele que vem cheio de barro e folha, mão de avô que lida com a terra? Tira leite da vaca, puxa feno, sabe? Ranhuras, rachada e ferida, me isca, fisga, chega lambe dedos cicuta, carrego na minha xícara veneno extraído assim mesmo, da erva, é que minha saliva, boca seca, taquicardia, paralisia, tremor, resta esperar, resta-me. Inventei de tentar encontrar alguns sentidos que perdi, talvez naquela viagem que fiz quando tinha onze anos, e foi quando senti o gosto dessa ração que acaba mais rápido do que o preço. Complicado… eu até aprendi a miar, são dois, então agora eu escuto e entendo, sei qual é qual pelo tom do miado, eu entendo tanta coisa, sem nenhuma variante incógnita, não, não é


amar, é miar mesmo, tipo bruxo de capa e chapéu. E por miado eu entendo que um quebra-cabeça pode unir cabeças. Quando eu levantei cedo não lembrei do pouco que me veio durante a noite, o chá que pesa minha chaleira cheira como peça perdida, camomila, erva-cidreira, cicuta, talvez eu prove e descubra, e mesmo com todas juntas ninguém resolve, é como conhecimento místico, antigo, só sol passarinho, calçada, grama, rachadura, o leite da vaca, o arame farpado que corta as costas, e o sangue vira um só com o pó da estrada/ infortúnio disparatado 2021/ assim como artéria rompida mas sem escorrer uma gota, que porcaria de quebra cabeça é esse? sol e passarinho, erva daninha, milho, amendoim, jabuticaba, nem sei de onde essas lembranças aparecem, é que eu ainda estou pensando no preço daquela ração.


Acho, pesa/dispareunia e é foda, eu lembro do seu fusca, da sua ferrugem, da sua unha aquarela lascada, e lembro de tanta porcaria também, dói peito é duro, pesa/dispareunia lembra quanto você me contou? Lacera sem importância sem vírgulas, sem porra nenhuma, não é a ranhura da mão do avô que tira o leite da vaca, porcaria de história/ Interpenetrar dói, vela, apagar, queime comigo, sutura e costura. A gente dá um jeito nessa ferrugem da sua porta, por mais que eu a ache charmosa. Pode ser que esse espaço deseje que as coisas caminhem e, apenas desejem, eu quero tanta coisa também. Se eu entro naquela memória de novo, não, não aquela dos onze, a outra que você me contou na calçada aquele dia, lembra? Quando esperamos sua mãe. lacera./ eu sei que o amor é vão, e eu vão, você vã, é tanto vão que a gente pensa e quer tapar


cada um deles, mas a ranhura da calçada ainda está lá, é um cubo de cristal furado nas arestas, é uma zarabatana carregada com a mais pesada subjugação da realidade, vã, é onde segurar barriga, é índio, como meu tio caboclo do norte, que mói o café toda manhã, senta, puxa o palheiro e aí volta e senta naquela calçada, come amendoim, joga milho para as galinhas, tudo vão, essas pernas, esse ventríloquo pendura minha mão decepada, entre nervo, veia, vaso e tudo, mudo, minha mão pendurada assumindo posto, retiro, corto nervo, corto veia, no dente, encosto na ferrugem e pego tétano/ peixescorpião bixo que mergulha, bixo que corre, bixo grilo, bixo que é bixo, me pede ração, me pede e eu nem sei o que eu quero e acabo precisando entender cada pedido, é que a gente se importa né? Arde, rói, resmunga, bate pó,


corta, enfia, cafeína, busca engole e soluça. beira sabe? beira qualquer coisa que não sei, fica perdida nas fumaças dessas porcarias que a gente carrega. é que no fundo de mim tem um oráculo, drogado, perdido e induzido na fila da internação, se deu uma previsão certeira, olha, foi a única que eu não segui. do desmembramento, não me sobra nada, o tétano já me tritura/ campainha, chão estrela, fora Via-Láctea, caminho, caminho da anta, anta albina, anta póstuma, via e leite, deve ser um pouco daquela porcaria que meu oráculo usa, mas eu já penso em tanta coisa que o pouco que não pensa está ficando esquizofrênico/ tem multiverso/ feche os olhos respire fundo, inala essa poeira batida com sangue de arame farpado, migalha, milho, solta multiverso, e aquela maldita ração desumana, vibra tanto, pelo


menos bilhões/ na verdade é só 2 e cinquenta e 5/ deus/ que /me/ desce/ proteja/ a espinha. aquele fusca branco, protege minha ferrugem, seu gosto de ferrugem, protege seu sangue B, AB, O que não sei e nem você… ou esquece tudo isso, senta aqui e conversa comigo na calçada rasgada.


Maria Emanuelle G. C., montes claros, 2000.

Diaspórica, Sul-Americana, Mineira, Montes Clarense, Maria. Acadêmica de Biologia, apreciadora das artes, escritora de histórias e poesias desde pequena. Instagram: @el___maria E-mail: marimiriam.53@gmail.com



Pulmão mecânico Com sua cara de velho sabido e cigarros entre seus dedos Olhos de alvorada serena, castanha, heroica Caveiras em chamas, sua camisa púrpura voltando dos papéis Um passo lento, tão lento Uma dança etérea Boina e jeans desgastados, mãos de broquéis Quando estava em seu sofá azul não havia miséria Comprou um livro em meu aniversário Preciso aprender a ler Macacote e Porco Pança Eu gosto das imagens, mas não entendo as palavras Também trouxe leite, quiabo, frutas Uma garrafa de pimenta Malagueta para o arroz Café com farinha de mandioca Suco de maracujá sintético na hora de fechar os olhos Que horas são? Nove horas Que horas são? Nove horas Que horas são? Nove horas Que horas são? Nove e um E que dia é hoje? 14 de novembro Não, dia da semana Sexta-feira Que dia é hoje? 14 de novembro, sexta-feira


Antes da faculdade de Biologia Antes do SARS-CoV-2 Antes dos cigarros Antes de mim As chuvas de verão eram as senhoras da rua em dezembro Nas águas que costumam banhar Montes Claros O hospital do outro lado da cidade, na avenida Apenas uma confusão de rostos, dores, choros Peles, sinapses, rezas, algodões Eterna espera, nascente rubra, olhos, mãos Imensidão branca sem fim Após afluentes lamuriosos No final do corredor a Santíssima Virgem Rosa dos Ventos, pélago anil diáfano Ursa menor dos valetudinários Em seu quarto outros doentes Um com a urina púrpura em sacos sintéticos A pia jorrando, a porta do banheiro aberta Ninguém fechou O sangue daquela mulher corria em fios alheios no lugar de suas veias A canela doutra pendia no leito corrompida por algo Nunca mais os mesmos Algo longínquo soava como café, por volta das cinco


Sofá azul e fumaça pouco depois Com seu pulmão mecânico Noticiário, livros, copo de vidro marrom Mas o oceano em sua pleura continuava a te afogar Dispneia Retornou a branquidade hospitalar Ainda com seu pulmão mecânico Ave Maria abençoe o zéfiro Barco de papel gráfico Mas no último dia No último dia Rosa, traremos ele de volta Nós vamos trazer ele de volta Dança eterna, etérea Ao seu lar, tapeçaria azul Jornal, cerâmica, café, cigarro Saxofone, inglês, proletariado Latim, caveira púrpura, Macacote e Porco Pança Nós vamos trazer ele de volta Eu sei que o seu espírito dança Púrpura como a sua blusa era a sua pele Seu corpo magro e preto estava tão inchado Naquele quarto restou o pulmão mecânico Não me importei em ficar debaixo do guarda-chuva durante a ida para o cemitério Na esperança de que talvez a chuva Acorde, sangre, desintegre a minha pele e a leve com ela para o seu cadáver


Estava com uma cacharrel rosa-claro e uma calça jeans azul Rosa atirou-se ao caixão, chorava incontrolavelmente Naquele dia não derramei lágrima Tudo que é vivo morre, precisamos ir Sua pele estava rígida como o seu antigo pulmão mecânico De pé ao seu lado por seis horas Quero te apoiar caso levante Você não levantou De pé ao seu lado por seis horas Finco a minha unha em sua testa Uma meia lua na noite de formol Você não sente dor? De pé ao seu lado por seis horas Seis dias, seis anos, seis décadas, seis séculos, seis milênios, seis grandes explosões Quero fincar a unha no verme que comerá a sua pele roxa e inchada Saldar o fungo em seu pulmão Uma última coreografia com a bactéria de suas antigas veias Naquele dia permiti que nuvens de chumbo levassem o drama


Uma semana depois Chegando com a janta Dormindo no sofá Discutindo com ela Falando suas lições de inglês Do tempo que foi preso na ditadura Do seu jornal Gazeta do Norte Do boletim Boca do Povo Do saxofone Da cerâmica Do piano que queria comprar para mim De todas as coisas que eu não entendia Mas passa tudo passa Em mim Em minha pele preta Em meu nariz largo Em meu cabelo crespo Em meu corpo magro e longo Eu ainda não sabia o que era morte Quer dizer, sabia o que era morte, mas não sabia o que era morrer Você estaria como os outros velhinhos, querendo sair durante a pandemia? Ainda lembro daquele papel do dia dos pais que te dei na gráfica era eu, você ela e um obrigada em letras garrafais


É que a gente tem essa mania de querer que os nossos avós durem para sempre Convido todo o drama para o café da tarde Proseamos Nada passa, tudo é eterno Devolvemos o pulmão mecânico para o governo Após a dança eterna, etérea A queda do céu em mim




música dos ventos no teto do quarto meu ecoam risadasmãe


véu amarelo quente verde azul azul cinza nebuloso branco me atravessa vento cheiro vivo não só mim sinto bom dia


eleito discurso bostejado referência do que sim exatamente do que não


moça atravessa oceano para reencontrar namorado na mesma semana em que repensei sobre encontrar com o @ me deparei com 275.105 flutuantes nos jornais um ano da quarta de cinzas onde viramos pó conjunto arrepios ainda aqui veiculados por mensagens

tô com muita vontade de você não aguento mais por celular perde contato saudades vacina


quero tanto 275.105 vidas não mais leito estamos entrando na fase vermelharoxaemergencial caralho seria tão bom sentir um toque além do meu um carinho abraço não posso, posso? não poderia passar pegar essa desgraça passar morte pai irmã ele mas quero quero tanto as chances da gente se contaminar são mínimas ele também tá em isolamento essa porra pode não ter sintomas e se eu estiver sem sintomas e transmitir não conseguiria conviver com esse peso mas quero quero muito tanto digito águas escorrem desejos barrados


23 horas e 43 minutos acaba não por favor sim socorro foi já já foi meiasemana um infinito

março 2021 quarta-feira


faíscas vivas em profusão transpassam corpo meu peles ecoam risos pulsos miocárdicos corposolhos incendeiam em tela


(G)e[n]ocid[a]: 1.relativ[o] a genocídio. 2.adjetivo e [s]ubstantivo de d[o]is gêne(r)os q[u]e ou quem /p/erpetra ou orden/a/ um genoc(í)dio. Genoc/í/dio: 1. exter{mí}nio deliberado, (p)ar[c]ial [o]u total, de uma co{m}un{i}dade, grupo étn(i)co, racial ou religio(s)o. 2. POR EXTEN/S/ÃO /de/stru(i)ção de populações ou po[v]os. 3.a(n)iquila/m/[e]nto de grupos (h)um/a/nos, o qual, sem chega/r/ ao assass[í]n/i/o em massa, inclui outras fo[r]mas de exter{mí}ni[o], como a prevenção de nascimentos, o sequestro sistemático de /c/rianças dentro de um determinado grupo étnico, a submissão a condições insuport/á/vei/s/ de vid(a) etc. dicionário google


no tempo teu sinto mãe.


Inaiê Lopes, São Paulo, 1998.

Transbordando entre os detalhes. Sou tanto que não me caibo. Águia, planando em busca de saber quem sou e o que me tornei. Estou Inaiê.



Sexta-feira de Janeiro Nas entrelinhas da vida carrego meus fardos fadados de saudade suas. É difícil sentir falta de quem não se lembra da gente.

Ainda te amo vó.


Olhos semicerrados cabelos espessos alaranjados se enlaçam sob meus dedos quero colorir seu corpo misturar em você se achegue mulher, sem medo vem se perder no meu braço Juntas incendiamos.


Uni-Verso Hoje as palavras dedicadas a você se esvai pelo u n i verso.


Cigarro Meia luz à meia noite Eu e você E eu desejando estar entre seus lábios como o cigarro que você fuma nua sob a janela desatentamente.


Olhos pretos feito jabuticabas colhidas no pé, não tinha tamanho sequer para ir nesses brinquedos dos parques nos bairros da cidade. Frente a frente com o espelho me sinto suja, como um depósito de lixo, onde jogamos os restos, as cascas, seus restos que escorreram sobre mim, ainda marcam. Corpo Mente Alma Culpa

Penetrou corpo frágil. Me matou. Por que eu?


Durante a semana passo batido, ninguém ouve, enxerga ou vê. a caminho do trabalho com o balanço do trem, entre o abrir e fechar das portas a cada estação, percebo a invisibilidade inerente ao humano. através da janela deparo com a solidão de me sentir só mais uma insuficiência, cansaço, a vontade que o final de semana chegue. Segunda-feira inferno recomeça outra vez o sistema faz isso com gentes.


no telhado nas ruas nas casas entram e saem quando querem donos de si do mundo são deuses olhos de esfinge traz boa sorte protege do ronronar ao zanzar entre as pernas amigo companheiro de Pande Mia.


Facetas mistérios que en(canta) sabe chegar e ir. Vai à luta todo dia ora pelo caminho baixinho pela volta sã e salva. Vagabunda safada puta não vale o que come apontada chora sozinha segura no peito a fim de que não ouçam nem todo mundo entende Mulher.


Thaís Gazzola, Varginha, 1998.

Sujeita subjetiva fluída abstrata Oriunda do verbo a(mar) Ser Mulher No estado bruto.




[20:26, 10/03/2021] +55 32 980x-19x8: continentesoceanosabismosexpostas-terras-férteis livresabertas aos des brava mento t-eu rasgada nua no c.éu demim veiovocê me atingiu feito um apocalipse de proporções meteóricas


Primavera deserta me sabe sedenta asperezacacto desmancha grão a grão fica. Afoita devora minhas flores famintas quando vêm.


Ariel, te escrevo pra contar que não sobrevivi e acredito que você também não. Percorri distâncias, várias e amei, amei quase tudo e depois desses atropelamentos tantos, eu sangro sobre tudo. Tenho uma coleção de perdas, cartas não enviadas, despedidas e você sabe, eu nunca fui boa em me despedir... Eu passo por tudo, tudo me transpassa, muda de forma, eu mudo de forma e nos vãos que ficam, eu jamais disse adeus a algo, alguém ou sequer a mim. Onde você acha que mora o adeus que a gente não diz? Ontem cozinhei sozinha. Eu chorei um pouco quando percebi que só tenho talheres, panelas, uma mesa farta e eu. Passei as mãos pelo meu rosto e apalpei minha vulnerabilidade líquida, o estado permanente de inércia das multidões que me habitam.


Logo depois, eu cortei as batatas e eu ri, porque eu sempre corto de forma tão irregular quanto escrevo, danço e existo. Abro as janelas, respiro e é aí que você entra, você é um respiro, você é o que você respira, você respira comigo. Você se afeta, Ariel, ama, morre de amor e sobrevive como se habitasse simultaneamente o território de si e do outro, você me afeta. Atônita, olho em volta e percebo que não há sobreviventes, ninguém saiu intacto, nenhum eu resistiu ao acidente fatal nós. Obrigada!


Passado corpobarracorevirado estado alerta intensidade adolescente Fim da faculdade saudade antecipada dividas mercado vida adulta abraço acidez verbal Voltei a fumar 277.102 m o r t e s facismosequelanegacionista ódio destilado friezaparalisia danos irreversíveis medotrago-fantasia respiração serena.


Escrita mulher vida vaga folha em branco poesia acidente Ferida mulher a berta re virada a vessa t r a n s p a s s a d a Atravessa o mundo.


Tô escrevendo à caneta, qualquer marca deixada sobre o papel nunca mais vai sumir. 16 Ninfetadelicia sococarinho penetras penetram Dorentranha corpossorriso borrado Eu só Só eu Só? Eu? Nóselas As digitais estão indo pelo ralo, em poucos anos terei um corpo novo, intacto, livre de fluidos clandestinos. Minha matéria inédita pele-rasura, corretivo sobre a marcassentença caneta Ele(s) Silencio eunada GRITO Euelanóselas borboletas-pólen




Vitória Alves, Brasília, 1998.

Brasiliense perdida em meio ao cerrado e seus jatobás, barus e mangabas, vez ou outra um lobo-guará que se aproxima da cidade. Em constante flerte com a farsa de tentar produzir algo, gosta de escrever como forma de dar fim – ou início – ao caos que são as suas inúmeras dúvidas acerca da própria existência. Quase nunca dá certo.



arrebata peito-cruz auxilia aquele deus-nos-acuda forjo embargo sob lençol encontro naquele gozo doído a ruína do meu castelo testemunho sutil loucura me preenche de sal me cospe na terra no princípio havia: dedos gestos matérias tinha tamanha saudade me queixava tudo jeito de veludo asmático perseguindo teu ar


me suga letargia, amor entrega essa porra no quinto andar do prédio comercial da av. central 1993 eu não quero amar tua versão de mim aquela lata de coca diet amassou estripou minhas digitais tornando-as permanentes no teu quadril às três e uma da manhã


deve haver lugar onde não caiba esperança. onde a tratem como anomalia da sociedade tão patética quanto uma bomba que desaba sobre a cabeça de crianças que um dia ousaram nascer certas de que o céu lhes pertencia


se silencio alto, tu escutas? cerne batido peito cavado /mas também munido/ preso em mil novecentos e alguns pés da altura, não cai somente céu arria tua-minha grande tormenta sinuosa & espalhafatosa sou insuficiência de palavras saudade flutua feito amargor naquela encruzilhada de dejávu que conecta duas dissimetrias saudade esmurra de boca aberta saudade propõe silêncio ruído canhestro afinal, tu me escutas?


volúpia bate à porta onze horas antes do verdadeiro encontro que, programado deveria subverter espaços de um sistema solitário inveja experimentei do carlton estacionado no teu sorriso petulância debalde querer viver tanto tempo patético procurar você nas cinzas de um doce sândalo & entre as notas de patti smith (take me now baby here as I am)


sobre a mesa há um pedaço de maresia batizado coração selvagem


de susto te cato solta carbono percorre corpo mutila consciência e some amarga, desce meu calcanhar apunhala pele fina diz amar reduz, desce e beija o que há sussurra na boca do âmago palavras desconexas caju, perfume, perigo cumulonimbus, cobre prata e ouro não concebem teu tom de voz hoy se queda en el pecho mas só vê de longe dentro costas olhos fechados ouvidos assíduos


talvez por respirar demais algazarra batimento cardíaco nem o sol aguentou minha grande cicatriz-automotiva chamada você


2-00 vide página 71 com Gabriela P. A. ave-maria, se o leito me suga numa membrana nova, entra comigo? - se configura abandono, sim alumiar regime fechado é honraria maior que gradear o céu psicografo uma contagem regressiva, acendo num buraco vela do tamanho do teu nome no meio, escorria uma tinta branca tua 33ª vértebra fraturava te ver pela metade é me ver pelo dobro querer que o outro sofra é transbordar um bote no baço do oceano a água naufraga no meu diafragma


eu trouxe o doce que você gosta mas daquele tipo que escorre coxas?


Brunno Vianna, Rio de Janeiro, 1988

Historiador, escritor de verso, prosa e dramaturgia. Nasceu no Rio de Janeiro, possui três livros publicados e algumas vírgulas. Prêmios, antologias e outras sílabas. É quase. Quase entrada, quase saída, quase gente, quase porta. Quase saudade. Pretérito quase perfeito. Quase reticências, mas para num ponto, para num conto. É quase verbo, quase entrada, quase saída, quase nada. Instagram: @brunnoviannarj



A Margarida Árido mar sem querer deixou de ser a margarida tão amarga iria deixar de remar des pe ta lan do arremessar-se, então, iria ao ar e uma árvore-lar abraçaria no aterro e seria entre as sereias um pedaço de flor que morre e rema sem enterro.


Ecoloria Ouvi na rua o ar que sorria de uma boca distante desta árvore que comigo corria sorri flores como resposta que diante de mim crescia ecoloria.


Janela Vejo na tela a janela Planta, pele, luz Márcio dança intenso, imenso Mar, homem, criança E deságua a poesia em movimento Vejo na tela o barro, o berro e o hino Vejo o homem, a arte, o menino O corpo que sai de cena e volta para o debate Em carne e poema Como se nada tivesse acontecido Como se tudo tivesse acontecido.


...Vazio Escrever é testemunhar o tempo. Desenhar é criar memórias. O rosto no papel é o mesmo. O resto é...


Pintura Pinto a cor na palavra Sinto a palavra na cor Respiro a ausência Inspiro a presença Acordo sem acorde Acordo sem cor E vou corroendo aos poucos A palavra que me diz. E Correndo dos meus poucos Riscos de giz.


Rabiscos Rabiscos de sol Rasgam a manhã Tímidos poemas desenham Memórias de um mar Amando, amarelou o céu Feito romã E chove no papel, meu talismã Úmidos olhos escorrem A história que há No poema da cor De quem se lê Escarram e espalham Pele na tinta Exploram e espelham Tinta no poema Espalham tanto O pranto na dor O canto na cor Que o papel não mais sabe Dizer quem sou.


Beatriz Nascimento, São Paulo, 2001.

Poeta sabor banana na comida. Instagram: @mechamebeatriz



O metrô está sujo. No banco, Sentou-se um homem De pés sujos. Sujos: O Pé, O Homem, O brasil.


Pô, e(u), tá? Eu, movimento, Urgido por força oculta, Força sólida. Solidez, soledade, Sol. Eu, inerte, Erosão sentimental; Imenso monólito. Monótono, monomania, monogamia. Um eu só, tão somente meu, Balança em desequilíbrio. O lírico pesa E o Eu fica no ar.


GRAMÁTICAOS Estória de eros: um Erro. Erro pó-ético: verso. Poesia é socorro, É amar deus pelo Avesso.


Hanna Vinte e quatro/quatro/dois mil e dezessete. Nove/seis/dois mil e dezessete, Cincozerocinco, Zeroquatrosetecincodois-zerozerocinco. Onze: quinze: sessenta e sete, Mil e nove, Zeroquatrosetecincoseis-zerosetesete. Vinte e seis/seis/dois mil e dezessete. Dezesseis/onze/dois mil e dezoito. Vinte e quatro/três/dois mil e vinte e um Treze:quarenta e sete


Versinho para a mocinha Gabriela, Ela/Dela. Eu sou Dela, Sou Rosa e sou Ela Se for tu a Gabriela. De: Rosa Para: Gabriela


Jaqueline Afago sem fago, Coragem Cor ferrugem, Tácita, Fino fio, Vil. Pulso do peito, Corrente, Contrafluxo. Do avesso, Mulher crua, Paixão ávida. Rosa dos ventos. Maria Bethânia, "Please send me a letter I wish to know things are getting better." Sinto você, Por isso, Sinto falta.


20 QUARENTENAS Se enganam os que pensam que coisa com coisa é coisa nenhuma, pois coisa é tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea. Portanto, aquilo que ultrapassa o rótulo. Como o homem, criador das coisas, não se apropria da coisa alguma? Mas se a ignorância é também coisa, aí a coisa muda. Disse coisa 9 vezes e não disse coisa nenhuma. Misteriosamente, uma mulher se levanta e levanta consigo mil coisas e quando se deita, mil coisas a sustentam e ainda sim sente-se agoniada por pensar: na vida não tenho coisa alguma.


Será que temos a coisa ou a coisa que nos tem? Se não fossem os homens, quem teria a coisa? Quem a seria? Então coisa é isso! Coisa com coisa: coisa alguma.


victória carrer, criciúma, 2001.

165cm de pé direito construção em movimento

instagram: @viccarrer e-mail: victoria_carrer@outlook.com



estive pensando eles dizem é doido como antes de pensar sabemos tentativas de nos convencer do contrário não é! estranho? eu sabia antes de saber assim como sei depois de ter sabido coisa outra ainda assim nunca soube de nada


andei trocando os pés (165cm o direito o esquerdo provavelmente mais?) pelas mãos andei trocando os passos direita na esquerda e vice-versa destroquei as sandálias aos avessos devolvi cada lado a si próprio troca justa devolver um produto por outro do mesmo se bem que o mesmo nunca é se eu der meu pé esquerdo pelo seu direito não sei dançar, tenho dois pés esquerdos viu só? cada qual com seu caos ainda que os dois 36 um espelho do outro se o direito avança esquerda cambaleio andei trocando pés


lanço lança sobre asfalto alcanço peito sob as fibras quarenta e seis pés transversos tu me atravessou com os teus e os sujeitos na faixa: vidas atropeladas.


rota para cerne de mim: dissecar meio do círculo isolar sustentação fortalecê-la desabar todo o resto


saudade tem sido sobre(nome)

saudade ter sido tecido torcido destorcido retorcido nós


não sei manter lar nunca aprendi como funciona uma máquina de lavar (exceto na física) sequer cogitei esvaziar o aspirador de pó alguma vez na vida como poderia então desfrutar de espaços que não cultivei? como poderia abrigar-me em cantos sem marca? e se tem, por que um arranhão? com quais olhos retomar esses locais abandonados? com qual intimidade invadir esses outros nunca antes tocados e fazer neles uma faxina? se não sei quais produtos decompõem o malestar no chão da sala e tampouco há tapete para empurrar o pó debaixo na máquina, vertigem em força centrífuga


quando eu não mais estiver a quem pertencerá o direito ao corpo que antes fora meu?


e se o perigo não for iminente a necessidade de abrigo também não é?


Jéssica Vitória, Campo Grande, 1998.

Nasci no dia 28 de fevereiro, às 11h da manhã. Essa é a primeira certeza que tenho sobre mim, a segunda é que amo escrever. A poesia entrou na minha vida há tempo demais para eu lembrar data, hora, máxima e mínima da previsão do tempo. Não sei se ela que veio até mim ou o contrário, mas fico feliz por esse encontro ter acontecido. A terceira certeza que tenho sobre mim é que toda a minha existência confusa seria mais confusa ainda se eu não tivesse a poesia. Meu nome é Jéssica Vitória, tenho 23 anos, cinco gatos e três cachorras. Instagram: jesss_fernandes



Leia a bula Nutri sonhos infantis Deixei a carne esfomeada Sonhos desejam por mais uma Dose extra forte Modafinila manipulada 200 mg


Notícia de jornal Às vezes penso nele, o menino que beijei aos 13 Não foi meu primeiro beijo, mas foi o primeiro beijo, beijo mesmo, sabe? Faz uma década, mas não esqueço nosso primeiro e único beijo Às vezes penso ele era mais velho agora sou eu para sempre


Isócrono 30 minutos para meia-noite Tuas palavras vazias ecos dentro de mim 20 minutos param minha noite Nossos silêncios abismos sem fim 15 minutos param sua noite O diálogo de brinquedo querendo ser menino de verdade


10 minutos quase meia-noite A sinceridade ensaiada A língua ardilosa 5 minutos falta meia-noite


Escolhe sua cadeira, leva o guarda-chuva, compra alface pra mim Esperando atravessar você Nas calçadas do centro Na faixa de pedestre Esperando esbarrar você Nos vãos que dividem as fileiras do cinema No curto espaço entre a fila do bar e o banheiro Esperando ver você Nos dias úteis e inúteis Na cadeira da minha mesa


Esperando questionar você Sobre a previsão do tempo Sobre a janta de mais tarde Esperando conhecer você


Citrullus lanatus Planejo a 72.846º fuga de mim quinta-feira apática no mês infinito sabor mirra casa 211, lado esquerdo, às 17h05 questionamento tom certeza essa alma deve ter sido uma filha da puta na outra vida boa, ruim, deixa isso lá reencarnação, discussão cármica, alinhamento planetário dúvidas sabor melancia você engole ou cospe a semente lisa? criança fareja questão existencialista será que nasce pé de melancia em mim? crescer é tão previsível, nada performático resolver assuntos teus, de outros, da vida esquecida qualquer frame bobo queria voltar ao instante sublime a 30 mil pés de altura quando achei que ia crescer pé de melancia na barriga


Toka viagem não tive de trem bala, bala, bala te amo sente chão caralhooooooo minha mão leve arranca flutua longe te amo, te amo, te amo ele diz inspiro transpirooooooo excesso cerveja


quente vamo sentar silêncio psiu,psiu,psiu fala mais sempre faço psiuuuuuuuu pros gatos na rua vivi muita viva sabe bebe, bebe, bebe elemento água pisciana hahahaaaaaaa 12º signo te amo muito


Me falta pulmão Sou fadiga todo tempo porque existo de excessos sinto além da conta se é faz de conta mais ainda


2006 Amigo imaginário da infância sem nome humor adjetivo Esquecido lá atrás hoje sozinho brinca


Anthony Gama, Rio de Janeiro, 2000.

anthony gama é nascido em bangu, zona oeste do rio de janeiro, tem 21 anos, é estudante de geografia, escreve já tem um tempinho, vendia zine na rua pra tirar uma graninha, já teve projeto de poesia, já fez sarau, já tocou música, reprovou muito no ensino médio e desde sempre sente muito sono



corpo tato abrigo eu ainda vou me banhar no teu delírio vou trocar de roupa e arrumar a minha cama e do meu quarto ouvir teu som me chamando tudo que é azul tudo tudo que é feroz vou pedir pra ser um pássaro virar um albatroz mesmo se estiver nublado eu vou ficar sobrevoando como quem assiste de longe a pessoa que se ama como se você tivesse ali encarando tudo que é azul tudo tudo que é presente tudo tudo que é vivo dentro do meu continente


uma foto da gente perdidos no tempo uma foto da gente olhando pro nada só postergando a nossa vida bagunçada uma foto sua na praça tomando vento uma foto nossa estudando pra prova minha nota baixa reprovando no colégio te olho me olhando caindo de tédio uma foto sua fingindo ser eu tudo que um dia a nossa memória perdeu imaginando o que teria acontecido no passado de um futuro desconhecido uma foto nossa sorrindo sorriso :)


eu já fui coisa eu já fui meio cinco dez quarenta partes de um inteiro tudo o que eu vivo é só saudade sempre fico nessa sem saber do paradeiro dos meus sentimentos com prazo de validade eu já fui isso fui aquilo sem saber quem fui [primeiro sem saber meu nome todo sem lembrar meu [endereço minha imagem no espelho ontem à noite [reclamando - mano, vem cá, te conheço?


ainda bem que sim que sim que isso tudo se dissipa ainda bem que eu sinto ainda que doa ainda que sinta sem saber se é a ânsia que sinto quando me sinto à deriva sinto sendo solto sendo solo sendo surdo sinto sendo a sobra sendo soco sendo samba sinto sendo grito sendo choro e a vontade de sorrir mesmo que eu ainda sinta medo de sentir


tudo tudo nesse mundo sempre passa num segundo e dentro desse segundo é tudo meio esquisito sigo nessa meio aflito observando o tempo escasso observando a vida breve dentro dentro desse mundo tudo tudo nesse mundo passa meio acelerado o dia descompassado e a vida me sacaneando não tenho grana no banco e nem tempo pra perder não tenho alma que me caiba dentro dentro desse mundo dentro dentro desse instante falo falo ofegante vivo vivo vivo vivo xoxo e deselegante canto canto canto canto para que o mundo ouça o que se passa em um segundo dentro dentro desse mundo


o mar que não se escuta de onde o galo canta o galo que não se escuta de onde o mar se [quebra e quando se quebra continua por debaixo da terra inundando o solo debaixo da cidade das avenidas minando pelos túneis sem seguir linhas ramais endereço sem plano [diretor sem ouvir as ordens da milícia sem assinatura do governador o mar que não se escuta do meu quintal vizinho do quintal de onde o galo canta penetra a minha rua a minha casa inunda minha cama meu cobertor o mar azul espelho do céu que reflete sua luz nesta cidade esquecida nesse corpo que se carrega cansado nesse continente sólido de ruas vazias


o mar que não se escuta do chuveiro suas ondas se quebrando no meu travesseiro


eu sou tudo isso tudo isso que sinto quando digo que sou tudo [isso tudo isso que digo quando rio e fico omisso tudo bem dizer que me contradigo e sempre fico nisso digo aqui tudo aquilo que digo quando falto um compromisso e repito tudo isso aterrisso nessa minha dúvida nesse riso fronteiriço nessa minha imagem que reflete a minha cara nesse meu olhar de super homem submisso na fragilidade do meu corpo quebradiço como se me olhar no espelho já não fosse o [bastante leio em cada linha de cada livro da minha [estante que dentro dessa prisão eu sou só um viajante


esperando a hora certa pra poder dar um [sumiço e dizer tudo isso que sinto quando digo que [sou tudo isso


Adriano Chastel, Campo Grande, 1973.

Me encanta no café da manhã. Escabeche Ou bolo simples e molho de tomate Tenho origem, vasta, de preta alforriada, de índia em talhão de cana, de um belga ou francês exilado, de um português ferroviário, de um economista bugre, de uma irmã de sete homens. Tenho procedência, várias, sou paulista, cuiabano, mato grossense do sul, já fui japonês, sou campo, cidade, de indústrias, do trânsito, do desemprego, autônomo. Tenho sonhos e pesadelos, ainda alguns preconceitos, tenho amores, família, inimigos e desafetos, tenho a esquerda apesar de destro, paciência ainda que pouca, muita sede de justiça e pouca de vingança. Sou palavra, estórias, rimas, contos, versos, verbos, lágrimas, poucas vitórias, muita luta. Aprecio, beijo, cerveja, Raul, rock, biografias e orégano. Não leio poesia, admiro poetas e poetas e rimadores e repentistas. E tudo que ainda não sei sobre quem sou, está no restante do caminho.



Pintura Algodoada A dureza do aço Nos olhos águas pisadas O doce ácido Nas grutas e cavernas O vento cinza O ar retesado e gélido O caminhar amarelo pálido Um destino amarrotado Dias de cores apagadas Há uma chuva no martelo Há uma fuga, E o que ressoa.


O homem paga a dor Não chames de bom o homem Não sabes seus passos todos À vista atravessam os de doze horas E os das horas vadias? Os dos temporais? Sorrateiros, notívagos, conheceste? Se pensas que é anjo Anjo não te afirmo que é Mas não creias que caminha sobre a terra A distribuir benesses e alegrias Emissário de algum deus infinito Esse homem sem asas e auréola Está a vagar por essa terra A pagar o que lhe pesa. Ainda que ande mais cem anos Dívidas hão de lhe seguir Nem um homem é santo, anjo ou bom Esse então, de seu satanás quebrou um chifre Para cada gota de alegria Há um lago triste de lágrimas Deixas que siga ao destino


Sem aplausos, sem sorrisos É só um velhote torto Tentando achar seu menino.


De domingo Nenhum lugar é algum lugar Lá fora paira uma felicidade Entre lágrimas secas e dores macias Camas arrumadas Manhãs de domingos frios Cafés solitários Fazem companhia à poesia derramada O açúcar amarga O sol brilha cacos de vidros Algum lugar é lugar nenhum Ninguém sabe onde está E o que importa?


365 sóis Era 17 de março Em dois mil e vinte Ainda é 17 Ainda é março Depois de 365 sóis Ainda 2020 Morreram 100 Morreram 1200 Mil e novecentos 3 mil? já foi… Foi 17 em 18 e era outubro. Mas agora não tem mais vagas Agora morrem esperando O dinheiro não compra um leito Ostentar ou tentar o ar Em casa seguros? E a fome na sala? E vai a avó e foi a filha, agora o neto também. É quarta feira Tem futebol Depois tem a gelada


Tem rapiauer Tem fila no ponto E pronto socorro No ônibus não tem lugar No hospital também Logo o cemitério vai faltar Tem festa na mansão dos 6 milhões Tem festa na birosca da esquina Tem culto, sem máscara e sem fé Tem luto sem adeus Tem luto sem morte Depois do pórtico hospitalar Tem genocidas históricos Tem o histérico negacionista do Brasil E ainda não tem fim.


Marcela Alferes, São Paulo, 2002.

A poeta delibera o termo venerável as artes, ciência e tudo o que a faz transitar na própria autenticidade. Trilhando agora o que seria a sua primeira antologia publicada, observa o essencial com mais clareza na sua escrita e busca vasculhar um desejo adormecido de compor poesias. Desfruta da expectativa de uma leitura leve e espontânea dos leitores, suas palavras vindas de vivências e aguardos. “Não deixes ninguém dizer-te que a poesia é um disparate. Não deixes ninguém dizer-te que a poesia não vale um caracol.” Lawrence Ferlinghetti, A POESIA COMO ARTE INSURGENTE. Instagram: @marcela.alferes



Cinema Paradiso delataram o mistério se fez fundo embaraço compacto foi receio com começo abater o aberto raspar do côncavo prematuro a insensatez da seguridade ecoaram de todos os sítios fizeram do pré, pré maré de uma ocasião alforriada

sussurrei a alguém o meu zarpar, tornar insolente recolher, orar nas molas que se tornou chão viverei pessoa absoluta.


Psique Absentismo em face de cessação esmolei por um poema, defensor honorário a um dia estrangeiro ao pé do ouvido tocava qualquer coisa [benigna, Gal emoldurava suas felicitações ao resplendor do momento aferir pregar algo na madeira estranhamente tal feito foi registrado contabilizei em conjunto um período considerável da última chateação


lidei com a caligrafia agradável e no buraco risquei a minha, um acidente os papéis destinados foram de encontro à [reciclagem contagiei-me com seu aroma embalado e o engoli, permiti 6 borrifadas de perfume nas [entrelinhas enganei-me pobremente sem embargo, as réplicas na qual se delineou minhas imagens consenti, pertence meu pousei o retrato na beira do quarto lá parado, recitando um incômodo não é apropriado ter medo de se encarar, honrei um espelho de mesa para gradação de tal lema


fez-se incompatível, tinha que ir e eu não fui nem por um segundo nossos campus sem os indesejados encontros, não poderiam mais, formei outro molde um recomeço comparecido da metade, restou o indispensável.


Serventia Abstrata esse forno se fez errado quase perfeito pois o certo tornou-se inventor precisa de fôlego para o suspiro ser e fazer o avesso, errôneo o salvador esperado até fora da casa tediosamente o escritor foi seu filho, debruçado um tom a mais pelo sonho resplendente raro sabido pelas brechas


sua falada falida, nome desconhecia grande era o sobrenome cheio de consoantes profundamente frio, conhecimento dado pelo vizinho colega de banda id homem sem unha, bastardo foi em uma indistinta estação, pertencia ao mundo recorrendo a um ambiente, pleno disse que viveu e não fez o menor sentido olhou para o relógio e entregou suas verdades.


Monte Ruço por fim olhou algo além da cidade, corajoso muito transformou todos os cenários captou todos seus reflexos pintor controlador ciumento de sua obra tempo, que não foi presente carregou ele nas costas e lhe fez uma refeição, uma memória ao menos do hálito daquela tarde exclamou ao reparar o céu urgência, âmbitos e moças a atmosfera caiu por terra e cumpriu seu protagonismo, vi maior do que a palma da minha mão a aventura sensível contestada pelo fim humano com a avenida, renascia beleza


esbarrou com suas poças de constrangimento, é algo a se pensar, admirar dizer nada o curto e correto, desejo de toda a angústia palpável em um hóspede que viajou até o outro lado do mundo para? (fazer barulho) se pensa que sabe.


Testemunho Mal-amanhado colori o meu rio, destino a me inspirar a um ponto desejado em direção a ser a única coisa completa, tocou de servir de espelho com propósito acordar, transformar-se na chateação simulando o amigo perdido, a jeito de ser incômodo contra o absurdo de um lar foram queimadas circunstâncias, o asfalto de um álcool para além do resguardo miserável, benefício definido, uma ilha.


Sayra Tavares, Fortaleza, 2000.

exagero e subjetividade, movida pela arte dos (des)encontros e em constante mudança. Instagram: @sayracavalcante E-mail: say_ra2000@hotmail.com



A mobília se foi parte do que sou nada me preenche mais costumava ocupar esse lugar com outro alguém pessoas e hoje vazios ajeito a mobília compro 1 cento de salgado trago minha canção favorita volta - o terno, então digo levam a mobília tiram meu piso roubam meus livros pegam o colchão me tomo aqui para dançar nesse quarto escuro nessa música e outra me despeço de uma só vez


sou filha da natureza nasci e renasço nas fontes dos rios cantando com os pássaros livre como um sou filha, irmã nascente e poente sou quem digo ser sou quem nasci pra ser por amor vim por amor vou por amor sou


(eu) calmaria, devaneio, inconstância humanista, piadista, extravagante regida pela lua, sol em câncer passado, presente, imperfeita livros, cicatrizes, corações partidos, tantas conexões


eu ainda te amo eu ainda te amo, suspirei eu ainda te amo, pág 98, cem sonetos de [amor do pablo neruda eu ainda te amo, saturno, marte e júpiter eu ainda te amo, o desastre dos nossos [signos juntos eu ainda te amo, seu cabelo cacheado eu ainda te amo, volta pra mim? eu ainda te amo, não, me amo mais eu ainda te amo, 11640 horas sem você eu ainda te amo, adeus.


coração caneta amo como quem fica amo também como quem vai amo principalmente permanente ardente, intenso, coração acelerado, dois cigarros, corpos entrelaçados, pupilas dilatadas e conjunção astral


poeta me fiz mutável, cronista, inefável primeiro e último verso corpo-fala paixão, coração pulsante desventura meu nome o instante se vai nada se mede se cria, materializa, se contrapõe morte


me olho e não me reconheço me olho e até me esqueço me olho entre o tempo me olho pelo medo


a infância corrompida quando eu era criança lembro de ser [ensinada ao medo ensinaram a me calar ao invés de me [posicionar ou quem sabe revidar ensinaram a levar na brincadeira e deixar pra lá porque “são só garotos” bom, eu era só uma garota também isso nunca foi motivo de tamanha covardia constrangida pelo medo cresci como tímida rompida desde tão cedo pelo abuso e as dores que carrego em mim


Thais Litchy, Campo Grande, 1987.

Eu não sou enquanto estiver sendo. Sendo minha, professora e artista de vários caminhos há 33 anos. Poeta secreta do meu caos. Curiosa em busca do sentido da vida. Entusiasta da esperança de dias melhores e sonhos grandes para uma vida de 100 anos. Intagram: @litchys e-mail: litchys@hotmail.com



João e maria Você fez sua escolha ao decidir ir embora Não deixou nenhum fio Nenhum rastro do seu gosto no meu peito Recolheu até a lembrança do beijo Encheu sua mala de certezas erradas PARTIU Me deixou um tapa na cara Me fez cair em queda livre ao infinito Tirou minha roupa em público De vergonha Finquei as unhas na minha carne Até esconder toda a alma Rasguei-me do avesso e no fim O COMEÇO minha carne apodreceu no chão ali fiquei ESPEREI senti o vento lambendo meu corpo podre podre de ódio de um rancor poético


alimentando moscas virtuais mas levantei E fui, andei sem rumo ME PERDI Gostei de me perder dancei ouvindo sua voz dizer “nem tudo é branco no preto Existe a escala de cinza” A boca é preta quando fecha O dente é branco no riso DAÍ me perco entre a saliva Entre gotas de suor Entre toques e brechas


Me perco todo dia Sinto dente no ouvido Nos seios Na fenda escolhi me perder sempre pra sempre desde que o pra sempre acabou o errado virou certo o podre virou doce um doce pra se perder. O doce que derrete embaixo da língua Que amarga enquanto fecho os olhos. Não sei mais o caminho de volta. O preto no branco As escalas de cinza É preto misturado com branco colorido ME ACHO PERDIDA


17 de dezembro Viajei por versos mentais Caçando palavras cabíveis Para velhos cabides Queria vestir a vontade em lhe pertencer. O hoje é muito distante de semana passada. Nem vontade nem contato chegaram nos últimos desembarques Por vias duvidosas sigo no meu silêncio Me mantenho intacta Talvez covarde? Não sei. Maturei em entender as passagens De coisas que passam Mesmo aquelas que deveriam ficar. No fim, o fim é melhor assim: Fechar os olhos e imaginar o que não foi.


Não tem remorso Nem desmemórias É só um romance figurativo Enquanto coleciono momentos que não vivi.


Dri Ela fez uma escolha enquanto arrumava a velha gaveta Não era filha da vó Mas vó era sua mãe Ela era mãe de dois Mas não tinha nenhum dos dois Ela morria de amores E os desamores a matavam Ela achou um cinto na gaveta Ela estava sozinha em casa Cheia de vida e 21 anos na pele morena De tudo ela perdia na vida Resolveu perder a vida também Com um cinto na porta Um cinto colar e um sinto muito no papel Ela se despedia da vida definitivamente A mãe que era vó A irmã que era prima Perdiam a mãe de dois sem filhos


A jovem mulher amorosa sem amor Naquele dia bonito Choveu lágrimas e indagações Descrença da vó que até hoje nega sua ida Ela sempre conta: _alguém fez isso com ela. A irmã que era prima dizia _A Dri, ela era complicada Linda morena, cabelos lisos Ela cheirava sabão de coco A vida que era difícil com ela Mas ela se foi deixando dor Deixando duas partes de si Que hoje estão por aí Nem sei onde eu gostava dela.


A mulher herege Quem definiu Deus como homem? Como poderia ele gostar das mulheres? Se deus é homem Então ele nunca menstruou e nem pariu Diz que ele inventou a mulher A fez com suas mãos Mas primeiro fez o homem E a mulher criada era cópia, era derivado Nem ser único ela era Deus nunca recebeu ordens Nunca foi um enfeite social. Se Deus fosse mulher A religião seria pagã.


Me escreve por extenso Me importa Transporta ao infinito. Facilita meu caos Bebe de meus suspiros Últimas palavras Sob folha verde em branco. Uma chama apagada Gelo já escorre quente. Afundo! Um poço raso Ilusão servida. Me lambuzo Com gosto sem graça Cheiro de nada Eu sou.


Tic-Tum Cada segundo, sinto bater Marco meu tempo no meu pulsar E quando lhe vejo O tempo passa rápido demais.


Vini Duarte, Barueri, 2001.

Nascido em Catarina, no sertão do Ceará. Vini Duarte, se muda aos onze dias de nascido para São Paulo. Filho de Antonia e Adalberto, Vini se busca. instagram: @meesvazio @viniduart.e e-mail: trabalhosviniduarte@gmail.com



Com o chinelo mãe no portão, sapateando fugia da surra. Afobado nos móveis, perco três dentes, pisa meus cadarços. Desesperados os olhos correm pelo vasto pano de cama, uma tontura que por si só, se esconde nos escombros. Tingiu-se minha, navegando como se fosse estrela. Dirigiu-se ao mar encarcerada, era silêncio, insuportável duvidava da própria existência. Engajada na própria falta, dormitaram as pupilas que volta e meia riam. Restaram-se no tempo, patrocinando minha amiga, os pedaços á fronta.


Desaponta imaginar o peso da saia. Mamãe quantos silêncios cabiam? Qual o peso de pentear o cabelo mamãe? Com onze dias mamãe foi dura, branca mamãe em terra de si mesma, em sua jornada abraçou escondida. Solando a boca dos pés, mamãe ainda enxergava, diferente de papai, não era surda, ouvia muito mais do que falava. Ando a dormir tarde, a lembrar que mamãe fumava onde fumo hoje, que choro no mesmo quarto, que compartilhamos da mesma louça, que senti o seu único grosso.


Olha-me, como se o fogo te cobrisse as mãos, como se o medo se fizesse casa, como se deitasse com a morte.


Teu corpo escárnio, abre pés de céu


Atenção ao ruído, como ao silêncio. Com sua miséria, jamais havia imaginado o peso de ser outro, de ter outro nome, cabelo roxo. Em sua jornada, roía as unhas dos dentes, pisava em pés de céu tentava dar dar sabor ao amarelo, queria outro rosto.


Açucena Ketily, Recife, 2000.

20 anos. não quero pender para o minimalismo humano. mas modelando 1,58 de altitude, me descobri miniatura, latino-americana.



para todas as crianças com nome de velho a boneca de pano nova caça do araçá ronco de esteira panela de milho pés sujos de chão terra e barro corram na liberdade para qual nasceram joelho a gente conserta depois chuta bola no portão e corre.


como todas as peças do tabuleiro atravesso a via larga mato a mão que me beija vomito um bispo.


é assimétrico todo aperto de mão apático unindo-se em suor e café cheiro de proposta e trapaça utopia quentinha na xícara e estala o gelo sem açúcar e tirania genocidóxio de carbono.


uma palavra mestiça para fora rodopiava a cidade, embora tivesse passo próprio, rendeu-se às línguas. só uma bastava-me, bastava-te, bastava a vós o verbo. o resto de vento era prosa que sobrava. era por isso, vontade de matar. estava escrito frente e verso. fim. pois fim assim foi. prendeu-se só, em perfume floral amadeirado. sem parentes, amigos, só um padre. redendo reza de vários pontos em nós. freiras tecem um novo tapete.


um incômodo no centro da sala usando casaco ferro e pólvora culpados cabeça com cabeça no sofá direito rezando agonias tão primitivas quanto caim e abel sofá esquerdo o público vestindo vermelho espanto sentindo dúvida.


aqui nós duas antes crime em palacete de silêncio e ninho pro ar vazio longe da cidade fixo roteiro diante aqui aos olhos de alpiste te passo meu dê ene á jaz lamino a mente poda suturo bom medo nova roupa deixo em vista meu labéu sua nova objeção lá mais não pise entre a porta ultrassom mês de abril aguarda aviso


outubro novo fica para trás cor púrpura cama de gato despano puxo em pá a fé ida para sempre mia dor.


para os olhos que batem em tu e revelam à mim: .- ...- .- -. -.-. . / ..- -- .- / -.-. .- ... ..-.-.-


eram vinte e cinco soldados sem vínculo empregatício estourando uvas com os dez dedos dos pés em círculo vindima para outros cascos cheios da liquidez roxa.


Gosto dos olhos que nada sabem e assumem que apara os cílios pois temem o não ver das [coisas marca na parede a lista de espera ou oferece a tíbia como garantia de troca não dorme as inseguranças, nunca marca um encontro leva um casaco que não precisa mas os astrônomos os meteorologistas as avós dizem com toda a convicção do cabível momento isto Se leva o espelho ali sujo de cláusula e letras menores bebe do sugestivo encontro que não se prossegue se prorroga


gasta as pastilhas da noite o chulé e a conversa fina de ontem para hoje o ainda desmantelo vigorosa desculpa amanhã o rosto quinto pensa molha torce estende seca oferece uma flor de tangerina maracujá no prato mulambo de sopa na roda só calça e saia longa que vinga convoca mEus carrapicho


aqui já tíbias inteiras pelos olhos partidas no meio já assumidas se desculpam em meio esperas beijando cílios outros.


há seis

quarenta

e

pés


há seis

quarenta

e

pés


nós 2. Claudinei M., São José dos Pinhais, 1997;

4. Thais Gazzola, Varginha, 1998;

6. Izabella Camati, Curitiba, 2006;

8. Beatriz Nascimento, São Paulo, 2001;

10. Marcela Alferes, São Paulo, 2002;

12. Thais Litchy, Campo Grande, 1987;

14. Adriano Chastel, Campo Grande, 1973;

16. Geovanna Bragante, Campinas, 1996;

17. Victória Carrer, Criciúma, 2001;

18. Sayra Tavares, Fortaleza, 2000;

19. Vitória Alves, Brasília, 1998;

20. Brunno Vianna, Rio de Janeiro, 1988;


22. Gabriela Porto Alegre, Rio Grande, 1998;

24. Açucena Ketily, RECIFE, 2000;

26.

Maria

Emanuelle

G.

C.,

Montes

Claros,

2000;

28. Inaiê Lopes, São Paulo, 1998;

30. Gabrielle Valentim

(Gaia), São Paulo, 2000;

32. Jéssica Vitória, Campo Grande, 1998;

34. Anthony Gama, Rio de Janeiro, 2000;

36. Kelly Ezaki, São Paulo, 1982;

38. Vini duarte, Barueri, 2001;

40. kim matos, CAMPO GRANDE, 1997;

42. Jackeline mourão, cuiabá, 1983;

44. ariane nogueira, campo grande, 1989;

46. febraro de oliveira, campo grande, 1998.


há seis

quarenta

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pés


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